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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A protecção dos Anjos da Guarda

- Não é todos os dias que o meu marido entra num bar; mas, quando isto acontece, é só de madrugada que ele volta, e sempre embriagado.

Um sacerdote aconselhou-se rezar muito ao Anjo da Guarda do meu marido e também aos Anjos dos amigos e colegas que na hora estivessem com ele. De um tempo para cá, o meu marido começou a voltar cedo, sempre bem disposto e nunca embriagado.

Há dias, ele me disse: "Preciso consultar um especialista por causa do meu coração. Quando estou com os amigos no bar, sempre às nove e meia, começo a ficar inquieto e angustiado; nada me satisfaz, e tenho inexplicável repugnância por qualquer bebida. Sinto‑me virtualmente impelido a sair, e só em casa é que me acalmo. Deve ser o coração..." 

- Ah! Eu conheço o meu  marido; ele não sofre do coração!
Veja, Sr. padre, sempre que o meu marido sai de noite, eu rezo o Terço em honra dos Anjos da Guarda de todos os que se encontram no bar. Estou convencida de que a tal inquietude ou angústia vem dos santos Anjos...".
(Tirado do livro: Os Anjos, fantasia ou realidade? de frei Severino Gisder).

A melhor abstinência é a da malícia e do orgulho

Os filhos de Nínive fizeram um jejum puro, quando Jonas lhes pregou a conversão. Assim está escrito: "Quando ouviram a pregação de Jonas, decretaram um jejum permanente e uma súplca ininterrupta, sentando-se em cima de sacos e de cinza. Despiram as suas vestes delicadas e, em vez delas, revestiram-se de sacos. Recusaram aos recem-nascidos os seios de suas mães, retiraram o pasto ao gado pequeno e grande" (Jn 3)...
E eis o que está escrito: "Deus viu as suas obras, viu que se afastavam do seu mau caminho. Então desviou deles a cólera e não os aniquilou". Não disse: "Viu uma abstinência de pão e de água, com sacos e cinza" mas, antes, "viu que se convertiam do seu mau caminho e da malícia das suas obras"... Foi um jejum puro e, por isso, foi aceite, aquele jejum que fizeram os Ninivitas, quando se afastaram do seu mau caminho e da avidez das suas mãos...
Porque, meu amigo, quando se jejua, a melhor abstinência é a abstinência da malícia. É melhor do que a do pão e da água, melhor do que... "dobrar o pescoço como um junco e cobrir-se de sacos e de cinzas", como diz Isaías (58,5). Na verdade, quando o homem se abstém de pão, de água ou de qualquer outro alimento, quando se cobre de saco e de cinzas e entra em aflições, ele é amado, belo e reconhecido. Mas o que agrada mais é que se humilhe a si mesmo, que "desfaça as cadeias" da impiedade e "corte os laços" da hipocrisia. Então "a sua luz brilhará como o sol e a sua justiça caminhará diante dele. Será como um pomar bem regado, como uma fonte cuja água nunca cessa" (Is 58, 6 sgg).
Santo Aphraate ( ?- c. 345), monge e bispo em Nínive, perto de Mossul no actual Iraque
As Exposições, nº 3: Acerca do jejum

Actos de humildade

A verdadeira humildade do coração é mais sentida e vivida do que exteriorizada. É certo que devemos mostrar-nos sempre humildes na presença de Deus, mas não com a falsa humildade que conduz ao desencorajamento, ao esmagamento e ao desespero. Temos de ter má impressão de nós mesmos, não colocar os nossos interesses à frente dos interesses dos outros, considerar-nos inferiores ao nosso próximo.
Se precisamos de paciência para suportar as misérias dos outros, de mais paciência precisamos ainda para aprendermos a suportar-nos a nós mesmos. Perante as infidelidades quotidianas, não cesses de fazer actos de humildade. Quando o Senhor te vir assim arrependido, estender-te-á a Sua mão e atrair-te-á a Si.
Neste mundo, ninguém merece coisa alguma; é o Senhor quem nos concede tudo, por pura benevolência e porque, na Sua bondade infinita, nos perdoa tudo.

São [Padre] Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho - AP; CE 47

A visita de Nosso Senhor à nossa alma

Se eu tivesse compreendido como compreendo agora que tão grande Rei habita neste pequeno palácio da minha alma, parece-me que não O teria deixado sozinho tantas vezes. Ter-me-ia apresentado, pelo menos de vez em quando, à Sua presença, e sobretudo teria tido o cuidado de conseguir que o Seu palácio estivesse menos sujo. Que coisa admirável! Aquele que, com a Sua grandeza, encheria mil mundos e muito mais, fechar-Se em habitação tão pequena! Por um lado, é verdade que, sendo o soberano Senhor, traz consigo a liberdade; e, por outro, que, estando cheio de amor por nós, Se faz à nossa medida!
Bem ciente de que uma alma principiante poderia perturbar-se ao ver-se - sendo tão pequena - destinada a conter tanta grandeza, não Se dá a conhecer imediatamente; a pouco e pouco, contudo, vai-lhe aumentando a capacidade, à medida dos dons que Se propõe colocar nela. É o poder que Ele tem de aumentar este palácio da nossa alma que me leva a dizer que traz consigo a liberdade. O essencial é fazer desse palácio um dom absoluto, esvaziando-o por completo, a fim de que Ele possa adorná-lo e desadorná-lo a Seu bel-prazer, como se de uma morada Sua se tratasse. Nosso Senhor tem razão em querer que assim seja; não lho recusemos, pois. Ele não pretende forçar a nossa vontade, antes recebe o que ela Lhe dá. Mas só se dá por inteiro quando nós também nos damos por inteiro.
É certo que é assim, e se vo-lo repito com tanta frequência é porque se trata de uma coisa muito importante. Enquanto a alma não Lhe pertencer por completo, liberta de tudo, Ele não age nela. Aliás, nem vejo bem como poderia fazê-lo, Ele que tanto ama a ordem perfeita. Se enchemos o palácio de gente comum e de todo o género de bugigangas, como poderá o Soberano encontrar lugar nele, juntamente com a Sua corte? Já é de espantar que queira deter-se uns momentos no meio de tantos obstáculos.

Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita, Doutora da Igreja - Caminho de Perfeção, cap. 28

Cristo, o grão e a árvore

"Um homem tomou um grão de mostarda e lançou-a no seu jardim; ela desenvolveu-se e tornou-se uma árvore, e os pássaros do céu abrigam-se nos seus ramos". Procuremos a quem se aplica tudo isto...Penso que a comparação se aplica muito justamente a Cristo nosso Senhor que, nascendo na humildade da condição humana, como um grão, sobe finalmente ao céu como uma árvore. Ele é grão, o Cristo esmagado na Paixão; ele torna-se uma árvore na ressurreição. Sim, ele é uma semente quando, esfomeado, ele sofre por faltar o alimento; ele é uma árvore quando, com cinco pães, sacia cinco mil pessoas (Mt 14,13s). Lá ele sofre a carência da sua condição de homem, aqui ele derrama a saciedade pela força da sua divindade.

Eu diria que o Senhor é grão assim que ele é batido, desprezado, injuriado; ele é árvore quando dá a vista aos cegos, quando ressuscita os mortos e perdoa os pecados. Ele próprio reconhece que é grão: "Se o grão de trigo lançado na terra não morrer..."(Jo 12,24).


S. Máximo de Turim (? - cerca 420), bispo - Sermão 25

O testemunho de Lucas

Que Lucas tenha sido o inseparável companheiro de Paulo, e seu colaborador no Evangelho, o próprio o mostra com evidência, não por gloríola, mas pela força da própria Verdade. Escreve ele: «Depois de Barnabé e João, também chamado Marco, se terem separado de Paulo e embarcado para Chipre, fomos para Tróade» (Act 16, 11); após o que descreve em pormenor toda a viagem, a sua ida a Filipos e o primeiro discurso que fizeram. [...] E relata também, pela mesma ordem, toda a viagem que fez com Paulo, referindo com grande cuidado as circunstâncias precisas desta [...]. Porque em todas elas Lucas estava de facto presente, tendo-as registado com cuidado - não surpreendemos nos seus relatos mentira nem vaidade, porque aqueles factos aconteceram realmente [...].
Que Lucas tenha sido não só o companheiro, mas ainda o colaborador dos apóstolos, de Paulo sobretudo, di-lo claramente o próprio Paulo nas suas epístolas: «Demas abandonou-me e foi para Tessalónica. Crescente foi para a Galácia, Tito para a Dalmácia. Apenas Lucas está comigo» (2 Tm 4, 11). O que prova que Lucas esteve sempre unido a Paulo e de maneira inseparável. Também na epístola aos Colossenses se lê: «Lucas, o médico bem-amado, saúda-vos» (Col 4, 14).
Lucas, por outro lado, deu-nos a conhecer muitos episódios do Evangelho, e dos mais importantes [...]. Quem sabe, aliás, se Deus não fez de maneira a que muitos acontecimentos do Evangelho tivessem sido revelados só por Lucas, precisamente para que todos aquiescecessem no testemunho que ele dá em seguida sobre os actos e a doutrina dos apóstolos e para que, ficando assim inalterada a regra da verdade, todos pudessem ser salvos. O testemunho de Lucas é pois verdadeiro: os ensinamentos dos apóstolos são claros, sólidos e não escondem nada [...]. Tais são as vozes da Igreja, nas quais a Igreja encontra a sua origem.
Santo Ireneu de Lião (c.130-c.208), bispo, teólogo e mártir - Contra as Heresias, III,14

A parábola da porta que se abre

A pergunta feita a Nosso Senhor Jesus Cristo, no Evangelho, é repetida ao longo de todos os tempos, desde as escolas rabínicas de então até ao inseguro homem de hoje. Em vez de responder directamente, Jesus começa por entusiasmar os ouvintes: "Esforcai-vos por entrar pela porta estreira, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão". Na parábola, há a porta que se fecha para alguns, impedindo o acesso ao banquete celestial, enquanto se abre para outros, que vêm de todas as partes do mundo. Com esta conclusão, Ele desvaloriza a falsa segurança da salvação fundada na pertença ao povo israelita (ou à Igreja, diríamos hoje). A mensagem contida neste Evangelho, mais do que o número dos que se salvam ou a própria dificuldade para alcançar a salvação, como poderia sugerir a porta estreita, é a grande oferta da salvação por parte Deus, que se nos apresenta, simbolizada no banquete messiânico.
Os excluídos da mesa do Reino são aqueles que conhecem e chamam "Senhor" a Jesus e se têm por amigos seus, porque comeram com ele, são, em primeiro lugar, os seus próprios concidadãos. Eles, de fato, ouviram Jesus nas suas praças, mas Eles desconhece-os porque não converteram o seu coração à boa nova. Em segundo lugar, também os cristãos de todos os tempos que, tendo participado na mesa do Senhor, tendo ouvido a sua palavra e tendo-o proclamado Senhor na sua prece, não foram cumpridores da palavra ouvida, dos mandamentos de sua Lei. Jesus ignorá-los-á e ficarão fora da porta. O seu lugar será ocupado por outros, vindos de todos os lados, talvez do esquecido submundo da fome e da marginalização, mas que cumpriram a sua Lei, com coração sincero.
A parábola da porta que se abre para uns e se fecha para outros é, acima de tudo, um convite universal de Jesus à conversão radical do coração, a fim de conquistar o reino de Deus, antes que se feche a porta. Amanhã, pode ser tarde, porque a morte talvez nos colha subitamente. Que mal se sente alguém quando perde uma viagem, planejada previamente com toda a ilusão. E se chegamos tarde ao Reino de Deus, por nos entretivemos com o que não valia a pena?

Interrogar-se pela salvação e desejar alcançar a vida eterna é conseqüência lógica da nossa fé e da nossa esperança cristãs. Imitemos S. Paulo, que na Epístola aos Romanos (8; 27-28), aconselha que confiemos no Espírito Santo: "Irmãos, também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis.
E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos. Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus."

Devemos saber a quem servimos, em quem confiámos e em que mãos está nossa recompensa. Apliquemo-nos generosamente na tarefa de amar a Deus e aos irmãos, e o Senhor fará o resto, abrindo-nos a porta da vida a seu tempo.

Cantemos o refrão do Salmo: "Senhor, eu confiei e confio na vossa graça".

O difícil virtude da humildade

Aquele que a si próprio se preza não pode amar a Deus; mas aquele que a si não se preza, devido às riquezas superiores da caridade divina, esse ama a Deus. É por isso que tal homem nunca procura a própria glória, mas a de Deus; porque o que a si mesmo se preza procura a glória própria. Aquele que preza a Deus ama a glória do seu Criador. É, de facto, próprio das almas profundas e amigas de Deus procurar constantemente a glória de Deus em todos os mandamentos cumpridos, e ter regozijo na própria humilhação. Porque a Deus convém a glória em razão da Sua grandeza, e ao homem, a humilhação; deste modo torna-se o homem próximo de Deus. Se assim agirmos, regozijando-nos com a glória do Senhor, a exemplo do santo João Baptista, pôr-nos-emos então a dizer continuamente: «É preciso que ele cresça e que eu diminua» (Jo 3,30).

Conheço alguém que ama tanto a Deus, ainda que muito se lamente por não O amar como quereria, que a alma lhe arde ininterruptamente no desejo de em si próprio e nos seus gestos ver Deus glorificado, e de se ver a si mesmo como não tendo existência própria. Esse homem não sabe o que é, ainda que o elogiemos, em palavras; porque no seu grande desejo de humilhação não pensa na dignidade própria. Executa os serviços divinos como fazem os padres, mas na sua extrema disposição de amor para com Deus aniquila a recordação da sua própria dignidade no mais profundo da sua caridade para com Deus, enterrando em pensamentos humildes a glória que daí tiraria. Assume-se sempre como um mero servo inútil; o seu desejo de humilhação de alguma maneira lhe exclui a dignidade própria. Eis o que devemos fazer, nós também, de forma a nos afastarmos de toda a honra, de toda a glória, fazendo jus à riqueza transbordante do amor dAquele que tanto nos amou.

Diácono de Foticeia (c. 400-?), bispo - Sobre a perfeição espiritual, 12-15

"Quem procurará a misericórdia e a verdade do Senhor?"

"Todos os caminhos do Senhor são graça e verdade para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos" (Sl 24, 10). O que este salmo diz acerca do amor e da verdade é da maior importância. [...] Fala do amor, porque Deus não olha aos nossos méritos, mas à sua bondade, a fim de nos perdoar os nossos pecados e de nos prometer a vida eterna. E fala igualmente da verdade, porque Deus nunca falta às suas promessas. Reconheçamos este modelo divino e imitemos a Deus, que nos manifestou o Seu amor e a Sua verdade. [...] Tal como Ele, realizemos neste mundo obras cheias de amor e de verdade. Sejamos bons para com os fracos, os pobres, e mesmo para com os nossos inimigos.
Vivamos na verdade evitando fazer o mal. Não multipliquemos os pecados, porque aquele que presume da bondade de Deus está a permitir que nele se introduza a vontade de tornar Deus injusto. Imagina esse que, mesmo que se obstine nos seus pecados e se recuse a arrepender-se deles, Deus lhe há-de conceder um lugar entre os seus fiéis servidores. Mas seria justo Deus colocar-te no mesmo lugar que aqueles que renunciaram aos seus pecados, quando tu perseveras nos teus? [...] Por que pretendes, então, dobrá-lo à tua vontade? Sê tu a submeter-te à Sua.

A este propósito diz justamente o salmista: "Quem procurará a misericórdia e a verdade do Senhor junto Dele?" (Sl 60, 8). [...] E por que dirá "junto Dele"? Porque são muitos os que procuram instruir-se acerca do amor do Senhor e da Sua verdade nos Livros sagrados. Porém, uma vez aí chegados, vivem para si próprios e não para Ele. Procuram os seus próprios interesses, e não os interesses de Jesus Cristo. Apregoam o amor e a verdade, mas não os praticam. Já aquele que ama a Deus e a Cristo, quando prega a verdade e o amor divinos, é para Deus que os procura, e não no seu próprio interesse. Não prega para daí retirar vantagens materiais, mas para o bem dos membros de Cristo, ou seja, dos seus fiéis. Distribui-lhes aquilo que aprendeu em espírito de verdade, de tal maneira que "os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Cor 5, 15). "Quem procurará a misericórdia e a verdade do Senhor?"

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja - Discursos sobre os Salmos, Sl 60, 9

Estender a mão aos que naufragam

Não há nada em que o homem seja tão parecido com Deus como na capacidade de fazer o bem; e, mesmo tendo nós esta capacidade numa medida completamente diferente da de Deus, façamos pelo menos tudo o que podemos. Deus criou o homem e reergueu-o depois da queda. Não desprezes, pois, aquele que caiu na miséria. Comovido pelo enorme sofrimento do homem, deu-lhe a Lei e os profetas, depois de lhe ter dado a lei não escrita da natureza. Teve o cuidado de nos conduzir, de nos aconselhar, de nos corrigir. Finalmente, deu-Se a Si mesmo em resgate pela vida do mundo. [...]

Quando navegas de vento em popa, estende a mão aos que naufragam. Quando tens saúde e vives na abundância, socorre os infelizes. Não esperes aprender à tua custa o mal que é o egoísmo e como é bom abrir o coração àqueles que têm necessidade. Presta atenção porque a mão de Deus corrige os presunçosos que se esquecem dos pobres. Aprende com os males dos outros e prodigaliza ao indigente o auxílio que estiver ao teu alcance, por pequeno que seja. Para ele, a quem tudo falta, será alguma coisa.

Como o será para Deus, se tiveres feito tudo o que podes. Que a tua disponibilidade para dar aumente a insignificância do dom. E, se nada tens, oferece-lhe as tuas lágrimas. A piedade que brota do coração é um grande reconforto para o infeliz, e a compaixão sincera adoça a amargura do sofrimento.

São Gregório de Nazianzo (330-390), Bispo, Doutor da Igreja - Sobre o amor aos pobres, 27-28

Cânticos de glória ao Senhor de São Francisco


Dois anos antes da sua morte, o bem-aventurado Francisco estava já muito doente, sofrendo especialmente dos olhos... Esteve mais de cinquenta dias sem poder suportar durante o dia a luz do sol, nem durante a noite a claridade do lume. Ficava sempre na obscuridade do interior da casa, na sua cela... Uma noite, como reflectisse acerca das tribulações que sofria, teve pena de si mesmo e disse: « Senhor, socorre-me nas minhas enfermidades, para que eu tenha a força de as suportar pacientemente!». E, de repente, ouviu em espírito uma voz: «Diz-me, irmão: se, como compensação dos teus sofrimentos e tribulações, te dessem um imenso e precioso tesouro... não te alegrarias?... Compraz-te e vive na alegria no meio das tuas enfermidades e tribulações: a partir de agora vive em paz como se participasses já do meu Reino».

No dia seguinte disse aos seus companheiros...: «Deus deu-me uma tal graça e bênção que, na sua misericórdia, se dignou assegurar-me, a mim, seu indigno servo vivendo ainda aqui em baixo, que participasse do seu Reino. Assim, para sua glória, para minha consolação e edificação do próximo, quero compor um novo «louvor ao Senhor» pelas suas criaturas. Todos o dias estas atendem às nossas necessidades, sem elas não poderíamos viver, e por elas o género humano ofende muito o Criador. Todos os dias também ignoramos um tão grande bem, não louvando como deveríamos o Criador e Dispensador de todos este dons»...

A esses «Louvores do Senhor», que começam por: «Altíssimo, todo poderoso e bom Senhor», chamou-lhes «Cântico do irmão Sol». Com efeito, essa é a mais bela das criaturas, a que podemos, mais que qualquer outra, comparar a Deus. E ele dizia: «Ao nascer do Sol todo o homem deveria louvar a Deus por ter criado esse astro que durante o dia dá aos olhos a sua luz; à tardinha, quando cai a noite, todo o homem deveria louvar a Deus por esta outra criatura, o nosso irmão fogo que, nas trevas, permite que os nossos olhos vejam claro. Somos todos como cegos, e é por estas duas criaturas que Deus nos dá a luz. Por isso, por estas criaturas e pelas outras que nos servem diariamente, devemos louvar muito particularmente o seu glorioso Criador.»

Ele próprio o fazia de todo o coração, estivesse doente ou saudável, e de boa vontade incitava os outros a cantar a glória do Senhor. Quando foi derrubado pela doença, entoava muitas vezes este cântico e fazia-o continuar pelos seus companheiros; esquecia, deste modo, considerando a glória do Senhor, a violência das suas dores e dos seus males. Procedeu assim até ao dia da sua morte.

Vida de S. Francisco de Assis dita «Compilation de Pérouse» (c. 1311) - §43

Põe a tua confiança no Senhor!

“O Reino de Deus está dentro de vós”, diz o Senhor. [...] Apressa-te portanto a preparar o coração para este Esposo, a fim de que Ele se digne vir a ti e habitar em ti. Porque Ele disse: «Quem me ama guardará a minha palavra; então viremos até ele e nele estabeleceremos a nossa morada» (Jo 14,23). Dá, pois, lugar a Cristo e nega a entrada a tudo o mais. Se possuíres a Cristo, és rico, e só Ele te bastará. Ele velará por ti, a tudo proverá, de modo a que não tenhas de recorrer aos homens. Porque os homens mudam muito e facilmente faltam, enquanto «Cristo permanece eternamente» (Jo 12, 34); Ele dá-nos firme assistência até ao fim.

Não ponhas portanto grande confiança no homem, que é frágil e mortal, ainda que nos seja útil e muito querido. Não te entristeças demasiado se te decepcionar ou te contradisser. Os que hoje estão contigo poderão amanhã estar contra ti e vice-versa, pois os homens mudam como o vento. Põe portanto toda a tua confiança em Deus. Que Ele seja o teu temor e o teu amor. Ele responderá por ti e fará o que for melhor.
«Não tens aqui em baixo morada permanente» (Heb 13, 14). Onde estiveres, és «estrangeiro.

Imitação de Cristo, tratado espiritual do séc. XV - Livro II, cap.1, 2-3

O Sacramento do Corpo de Cristo

Quando se aproxima a festa da Páscoa, dizemos sem hesitar: "Amanhã é a Paixão do Senhor", quando a verdade é que há muitos anos que o Senhor padeceu a Paixão, que teve lugar de uma vez para sempre (Heb 9, 26). Cada domingo temos razões para dizer: "Foi hoje que o Senhor ressuscitou"; ora, o facto é que já decorreram muitos anos desde que Cristo ressuscitou. Nesse caso, por que não nos censuram este "hoje" como tratando-se de uma mentira?

Não será que usamos "hoje" pelo facto de este dia representar um regresso, no ciclo do tempo, ao dia em que teve lugar o acontecimento que comemoramos? Temos razões para dizer "hoje"; com efeito, cumpre-se hoje, pela celebração do mistério, o acontecimento que teve lugar há já muito tempo. Em Si mesmo, Cristo foi imolado de uma vez para sempre; e contudo, é hoje imolado no mistério que celebramos, não apenas em cada festa pascal, mas todos os dias, para todos os povos. Não estamos, por isso, a mentir, quando afirmamos: "Hoje, Cristo foi imolado." Porque, se os sacramentos que cumprimos não tivessem uma verdadeira semelhança com a realidade de que são o sinal, não seriam realmente sacramentos. Mas é justamente essa semelhança que permite designá-los pelo nome da realidade de que são sinal. Assim, o sacramento do corpo de Cristo que celebramos é, de alguma maneira, o corpo de Cristo; o mistério do sangue de Cristo que cumprimos é o sangue de Cristo. O mistério sacramental da fé é a realidade em que acreditamos.

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja - Carta 98, 9

O dilúvio, símbolo do fim do mundo

Tanto quanto mo permite a pequenez do meu espírito, penso que o dilúvio, com o qual o mundo quase acabou, é o símbolo do fim do mundo, fim que um dia chegará verdadeiramente. Tal declarou-o o próprio Senhor, quando disse : «Nos dias de Noé, os homens compravam, vendiam, lutavam, casavam, davam as filhas em casamento, e veio o dilúvio e a todos fez perecer. Assim será igualmente com a vinda do Filho do homem». Neste texto, parece que o Senhor descreve de uma mesma e só maneira o dilúvio, já acontecido, e o fim do mundo, que anuncia para o futuro.
Foi, portanto, dito outrora a Noé que fizesse uma arca e que, nesta, com ele introduzisse não só os seus filhos e parentes mas também animais de todas as espécies. Da mesma forma, no fim dos tempos, foi dito pelo Pai ao Senhor Jesus Cristo, novo Noé, o único Justo e Íntegro (Gn 6,9), para fazer uma arca de madeira esquadriada com as exactas medidas dos mistérios divinos (cf. Gn 6,15). Isto vem indicado num salmo que diz : «Pede e dar-te-ei as nações como herança e os confins da terra como propriedade» (Sl 2,8). Ele construiu portanto uma arca com todas os tipos de abrigo para acolher os diversos animais. Um certo profeta fala-nos dessas moradas, escrevendo: «Eia, povo meu, entra nos teus aposentos, esconde-te por algum tempo, até que a cólera tenha passado» (Is 26,20). Há de facto uma misteriosa correspondência entre este povo que está salvo na Igreja e todos aqueles seres, homens e animais, que, dentro da arca, foram salvos do dilúvio.

Orígenes (c. 185-253), padre e teólogo - Homilias sobre o Génesis, II, 3

Boa intenção e abundantes obras

A misericórdia merece ser louvada não só pela abundância de dádivas, mas sobretudo quando procede de um pensamento bom e misericordioso. Há pessoas que muito dão e muito distribuem mas não são tidas por misericordiosas aos olhos de Deus, e há pessoas que nada têm, nada possuem, mas têm piedade por todos no seu coração. Estas são consideradas seres verdadeiramente misericordiosos aos olhos de Deus, e de facto são-no. Portanto não digas: «Nada tenho para dar aos pobres»; não te angusties pensando que por esse motivo não podes ser misericordioso. Se tens qualquer coisa, dá o que tens; se nada tens, dá, ainda que seja um pão seco apenas, fá-lo com intenção verdadeiramente misericordiosa, e tal será considerado por Deus como misericórdia perfeita.

Nosso Senhor não louvou os que muito punham na caixa das esmolas; Ele louvou a viúva por aí ter posto as duas moedas que pôde poupar na sua vida de indigência, oferecendo-as em gratuidade, com um pensamento bom, para o tesouro de Cristo. O homem que no seu coração tem piedade pelos semelhantes, esse sim, é misericordioso aos olhos de Deus; mais vale uma boa intenção sem efeitos visíveis do que a abundância de obras magníficas mas realizadas sem boa intenção.


Youssef Bousnaya (c. 869-979), monge sírio - Vida e doutrina de Rabban Youssef Bousnaya, por Jean Bar Kaldoum

Matar o tempo: perigo de matar o Céu

"Senhor, eis aqui o teu talento, que enterrei." Que ocupação escolherá este homem, agora que abandonou o seu instrumento de trabalho? Tendo decidido irresponsavelmente optar pela comodidade de devolver só o que lhe entregaram, dedicar-se-á a matar o tempo: os minutos, as horas, os dias, os meses, os anos, a vida! Os outros afadigam-se, negoceiam, empenham-se nobremente em restituir mais do que receberam - o legítimo fruto, aliás, porque a recomendação foi muito concreta: "Negociai até que eu volte", encarregai-vos deste trabalho para conseguirdes algum lucro, até que o dono regresse. Pois este não; este inutiliza a sua existência.

Que pena viver tendo como ocupação matar o tempo, que é um tesouro de Deus! Não há desculpas para justificar essa actuação. Adverte São João Crisóstomo: "Que ninguém diga: só tenho um talento, não posso ganhar coisa alguma. Também com um só talento podes agir de modo meritório." Que tristeza não tirar partido, autêntico rendimento, de todas as faculdades, poucas ou muitas, que Deus concede ao homem para que se dedique a servir as almas e a sociedade! Quando, por egoísmo, o cristão se retrai, se esconde, se despreocupa, numa palavra, quando mata o tempo, coloca-se em perigo de matar o Céu. Quem ama a Deus, não entrega só o que tem, o que é, ao serviço de Deus: dá-se a si mesmo.

São Josemaria Escrivá de Balaguer (1902-1975), sacerdote, fundador - Homilia em Amigos de Deus

A ressurreição

Os saduceus consultam Jesus. Os saduceus fazem uma consulta manhosa ao nosso Redentor. Os saduceus negavam a ressurreição, e o seu caso hipotético apresentado vinha ridi­cularizar a crença na mesma: uma viúva sem filhos que, de acordo corn a lei mosaica do levirato (palavra que se relaciona com cunhado), tinha sido sucessivamente mulher de sete irmãos, de que marido será esposa no além?

Os saduceus eram um grupo judeu cujo nome derivava talvez do sumo sacerdote Sadoc nos tempos de David, e formado por aristo­cratas e sacerdotes. Não aceitavam nenhuma lei para além da os cinco livros do Pentateuco, negando todo o valor vinculativo as tradições rabínicas orais e escritas. Tinham complexo de elite e eram ma­terialistas e pragmáticos. Não admitiam a existência dos anjos nem a ressurreição dos mortos, por ser esta última uma crença tardia no ju­daísmo (a partir do sec. II a.C.: livros dos Macabeus e do profeta Da­niel). Menosprezavam a apocalíptica escatológica e eram céticos a respeito da espera messiânica. Politicamente procuravam o poder, por isso colaboravam corn os romanos. Os saduceus estavam totalmente confrontados corn os fariseus, piedosos e fanáticos conservadores.

Na sua resposta aos saduceus Jesus, nega primeiramente a necessidade do matrimónio na outra vida; carece de finalidade, pois os ressuscitados "já não podem morrer, são como anjos; são filhos de Deus, porque participam na ressurreição". Assim afirma a realidade da ressurreição que eles negavam. Para isso apela a passagem bíblica da sarça ardente, em que Javé se revelou a Moisés como "o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob". Se isto é assim, "não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele todos estão vivos" na sua presença.

Embora Jesus afirme rotundamente a ressurreição dos mortos, nos desvenda o modo e as condições da sobrevivência; o seu mistério permanece íntegro. Contudo, algo é seguro: será vida certamente, em­bora distinta da presente, pois não se trata de um prolongamento da mesma mediante a reanimação de um cadáver. Como diz a liturgia num prefácio de defuntos: "A vida dos que em ti cremos, Senhor, não termina: transforma-se".

Cristo libertou-nos da morte. A morte é um dado constante da experiência. A morte biológica, o seu anúncio paulatino nas doenças, a sua presença brutal nos acidentes e a sua manifestação em tudo o que é negação da vida devido a violação da dignidade e direitos da pessoa constitui o mais pungente dos problemas humanos (GS 18).
As ciências do homem, a filosofia e a história das religiões deram e dão respostas mais ou menos convincentes ao enigma da morte. É um final ou um começo? Espera-nos o nada ou outra vida distinta? Somos aniquilados ou transformados? No final do caminho está Deus ou o vazio?
Segundo as respostas, assim são as atitudes vitais: medo visceral, silêncio diante de um tabu; fatalismo, estóico diante de um facto natu­ral e inevitável, hedonismo no topo diante da fugacidade da vida (que amanhã morreremos!), pessimismo, rebeldia, náusea existential diante do maior dos absurdos...,ou a serena esperança de uma crença na imortalidade e na ressurreição.

Jesus Cristo ressuscitado é a única resposta válida ao interrogante da morte do homem. A fé e a esperança cristãs de ressurreição e vida perene vinculam-se e fundamentam-se directamente na ressurreição de Cristo, com quem nos unimos no baptismo. O baptizado, o crente, sente-se radicalmente livre e salvo por Cristo, porque ele liberta-o do pecado e da sua consequência: a morte. Esta libertação não é da morte biológica, pois também Cristo morreu, mas da escravidão opressora da morte, do medo da mesma, do sem sentido e absurdo de uma vida inútil que acabasse no nada.

A luz da ressurreição do Senhor, o crente sabe e vivência, já desde agora, que a morte física, inevitável apesar dos avanços da medicina e da apaixonada aspiração do homem a imortalidade, não é o final do caminho, mas a porta que se nos abre, para a libertação definitiva com Cristo ressuscitado. Graças a ele o homem é um ser para a vida.
"A Palavra de Cada Dia" por B. Caballero

Santo André: Discípulo de Baptista e o primeiro a reconhecer o Mestre

André foi o primeiro a reconhecer o Senhor como seu mestre... O seu olhar percebeu a vinda do Senhor e deixou os ensinamentos de João Baptista para entrar na escola de Cristo... João Baptista tinha dito: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Jo 1,29). Eis aquele que liberta da morte; eis aquele que destrói o pecado. Eu sou enviado, não como o esposo, mas como quem o acompanha (Jo 3,29). Vim como servo e não como mestre.

Levado por estas palavras, André deixa o seu antigo mestre e corre para quem ele anunciava..., levando consigo João, o evangelista. Ambos deixam a lâmpada (Jo 5,35) e caminham para o Sol... Tendo reconhecido o profeta de quem Moisés dissera: "É a ele que escutareis" (Dt 18,15), André conduz até ele o seu irmão Pedro. Mostra a Pedro o seu tesouro: "Encontrámos o Messias (Jo 1,41), aquele que desejávamos; vem agora saborear a sua presença". Ainda antes de ser apóstolo, conduz a Cristo o irmão... Foi o seu primeiro milagre.
Basílio de Selêucia (? - cerca de 468), bispo - Sermão em honra de Santo André

A fé na Ressurreição

Se formos chamados ao martírio, teremos de confessar com constância o precioso Nome, e se formos punidos por isso, alegremo-nos porque corremos para a imortalidade. Se formos perseguidos, não nos entristeçamos nem nos apeguemos ao mundo presente, nem aos "louvores dos homens" (Rom 2, 29), nem à glória dos príncipes, como fazem alguns. Esses admiravam as acções do Senhor, mas não acreditavam Nele, por temor dos grandes sacerdotes e de outros dirigentes, porque "amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus" (Jo 12, 43). Fazendo "solene profissão" da fé (1 Tim 6, 12), nós garantimos a nossa salvação, firmamos na fé os novos baptizados e consolidamos a fé dos catecúmenos. [...]

Que aquele que for julgado digno do martírio se alegre, pois, por imitar o mestre, uma vez que foi prescrito: "o discípulo bem formado será como o mestre" (Lc 6, 40). Ora, o nosso mestre, Jesus, o Senhor, foi açoitado por nossa causa, suportou com paciência calúnias e ultrajes, foi coberto de escarros, esbofeteado, espancado; tendo sido flagelado, foi pregado na cruz, deram-Lhe a beber vinagre e fel e, depois de ter cumprido todas as Escrituras, disse a Deus, seu Pai: "Na Tuas mãos entrego o Meu espírito" (Lc 23, 46). Quem quiser ser Seu discípulo aspire, pois, a lutar como Ele, imite a Sua paciência, ciente de que [...], será recompensado por Deus de tudo quanto sofrer, se acreditar no único Deus verdadeiro. [...]

Porque Deus omnipotente há-de ressuscitar-nos por Nosso Senhor Jesus Cristo, de acordo com a Sua infalível promessa, com todos aqueles que morreram desde o princípio. [...] Mesmo que morramos no mar alto, mesmo que estejamos dispersos pelo mundo, mesmo que sejamos dilacerados por animais ferozes ou rapaces, Ele há-de ressuscitar-nos pelo Seu poder, porque todo o universo está suspenso da mão de Deus: "Nem um cabelo da vossa cabeça se perderá." É por isso que Ele nos exorta dizendo: "Pela vossa perseverança salvareis as vossas almas."


Constituições Apostólicas (380), recolha canónica e litúrgica - Recuperação da Didascália dos Apóstolos, texto dos começos do séc.
III

A presença divina no Natal

O desejo ardente dos patriarcas pela presença corporal de Jesus Cristo constitui para mim assunto de frequentes meditações. Não consigo pensar nisso sem que lágrimas de vergonha me assomem aos olhos. Porque avalio então o tédio e a sonolência desta época miserável em que vivemos. Recebemos esta graça, o corpo de Cristo é-nos mostrado no altar, mas ninguém de entre nós experimenta tão intensa alegria como o desejo que a simples promessa da Incarnação inspirava aos nossos antepassados ...

O Natal está próximo e muitas pessoas apressam-se a celebrá-lo: possam elas rejubilar verdadeiramente com a Natividade, e não com vaidades! A espera dos antepassados, a sua impaciência febril, parecem-me expressas à perfeição naquelas primeiras palavras do Cântico dos Cânticos: «Que me beije com beijos da sua boca!» (Ct 1,2). Naqueles tempos, quem fosse dotado do sentido espiritual adivinhava a graça imensa derramada nesses lábios (Sl 44,3), e por tais palavras carregadas de tanto desejo, com paixão desejaria não ser privado de tamanha doçura.

Toda a alma perfeita dizia com efeito: «Para que me servem daqui em diante os textos obscuros dos profetas? Espero que venha ‘o mais belo dos filhos dos homens (Sl 44,3), que me venha beijar com sua boca. A língua de Moisés é confusa (Ex 4,10), os lábios de Isaías são impuros (6, 5), Jeremias é uma criança que não sabe falar (1,6); todos os profetas são privados do dom das línguas. É Ele, Este de quem falam, que deve falar agora e beijar-me na boca; já não desejo que Ele se exprima neles nem por eles, pois a água fica opaca quando é retida pela nuvens. Espero a presença divina, as águas jorrantes da doutrina admirável, que em mim serão uma fonte a brotar para a vida eterna» (Jo 4,14).

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja - Sermão 2 sobre o Cântico dos Cânticos

Os três adventos de Cristo

Há três adventos do Senhor, o primeiro é na carne, o segundo na alma, o terceiro, pelo juízo. O primeiro advento deu-se a meio da noite, como está dito nas palavras do evangelho: «A meio da noite ouviu-se um grito: eis o Esposo!» (Mt 25,6). E esse primeiro advento já passou, pois Cristo foi visto na terra e conversou com os homens (Br 3,38).
Estamos agora no tempo do segundo advento, contanto porém que sejamos dignos de Ele vir até nós, pois Ele disse que, se O amamos, virá até nós e em nós estabelecerá a sua morada (Jo 14,23). Este segundo advento de Cristo é portanto para nós uma coisa envolta em alguma incerteza, pois quem, a não ser o Espírito Santo, conhece os que são de Deus? (1 Co 2,11)? Aqueles a quem o desejo das coisas celestes transporta para lá de si mesmos sabem quando Ele virá: porém «não sabem de onde vem nem para onde vai» (Jo 3,8).
Quanto ao seu terceiro advento, é certo que há-de acontecer, mas é incerto quando, pois nada é mais certo do que a morte, e nada é mais incerto do que o dia da morte. «No momento em que falarmos de paz e de segurança, então surgirá a morte, repentina, como as dores do parto das mulheres, e ninguém escapará» (1 Ts 5,3). O primeiro advento foi portanto humilde e escondido, o segundo é misterioso e cheio de amor, o terceiro será magnífico e terrível. No primeiro advento, Cristo foi julgado pelos homens com injustiça; no segundo, fez-nos justiça pela graça, no último, tudo julgará com equidade - Cordeiro no primeiro advento, Leão no último, Amigo cheio de ternura no segundo.

Pedro de Blois (c. 1130-1211), arcediago em Inglaterra - (in Ephata 1, pg. 10-11)

Não sejas preguiçoso para a oração!

Orai antes que o teu corpo repouse na cama. E depois, cerca do meio da noite, levanta-te, lava as mãos com água e reza. Se a tua mulher estiver presente, rezai os dois em conjunto. Se ela ainda não for crente, retira-te para um outro quarto para orares, depois volta para a tua cama. Não sejas preguiçoso para a oração... É preciso rezar a esta hora porque os anciãos, de quem temos esta tradição, nos ensinaram que a esta hora toda a criação repousa um momento para louvar o Senhor. As estrelas, as árvores e as águas param um instante, e toda a corte de anjos louvam a Deus a esta hora com as almas dos justos. É por isso que os crentes devem apressar-se a rezar a esta hora.

Rendendo igualmente testemunho disto, o Senhor disse: «Á meia-noite ouviu-se um brado: Aí vem o esposo, ide ao seu encontro!»(Mt 25,6). E ele continua, dizendo: «Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora» (Mt 25, 13). Ao cantar do galo pela manhã, quando te levantas, reza também.

S. Hipólito de Roma (?- cerca 235), presbítero e mártir - A tradição apostólica

O Senhor vem a nós agora

Esperamos o aniversário do nascimento de Cristo; e segundo a promessa do Senhor, nós o veremos brevemente. A Escritura exige de nós uma alegria tal que o nosso espírito, elevando-se acima de si próprio, avance rapidamente de qualquer maneira ao encontro do Senhor. Que antes mesmo da sua vinda, o Senhor vem a nós. Que antes mesmo de aparecer ao mundo inteiro ele vem-nos visitar familiarmente, ele que disse: “Eu não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (Jo 14,18). Na verdade há aqui, segundo o mérito e o fervor de cada um, uma vinda do Senhor frequente e familiar que, num certo período intermédio entre a sua primeira e a sua última vinda, nos modela sobre uma e nos prepara para a outra. Se o Senhor vem a nós agora, é para que a sua primeira vinda ao meio de nós não seja inútil e que a última não deva ser a da cólera. Pela sua vinda actual, com efeito, ele trabalha a reformar o nosso orgulho à imagem da sua primeira vinda na humildade, para refazer em seguida o nosso modesto corpo à imagem do corpo glorioso que ele nos mostrará aquando do seu regresso. É por isso que é preciso lembrarmo-nos de todos os nossos votos e pedir com fervor esta vinda familiar que nos dá a graça da primeira vinda e nos promete a glória da última. A primeira foi humilde e escondida, a última será resplandecente e magnífica; aquela de que falamos é escondida, mas é igualmente magnífica. Digo escondida, não porque seja ignorada por aquele no qual ela tem lugar, mas porque ela advém secretamente. Só a sua presença é luz da alma e do espírito: nela se vê o invisível e se conhece o desconhecido. Esta vinda do Senhor põe a alma daquele que o contempla numa doce e feliz admiração. Então, do profundo do homem, brota este grito: “Senhor, quem é semelhante a ti?” (Sl 34,10). Os que fizeram esta experiência sabem-no, e agrada a Deus que os que não a fizeram provem o desejo de a fazer!
Bem aventurado Guerric dIgny (1080-1157), abade cisterciense - 2º Sermão para o Advento

O Senhor que salva os homens

O Verbo de Deus veio habitar no homem; fez-se «Filho do Homem» para habituar o homem a receber Deus e para habituar Deus a habitar no homem, como foi vontade do Pai. Eis por que o sinal da nossa salvação, Emanuel nascido da Virgem, foi dado pelo próprio Senhor (Is 7,14). É de facto o próprio Senhor que salva os homens, pois estes não podem salvar-se a si próprios. [...] Disse o profeta Isaías: «Revigorai, ó mãos abatidas, ó vacilantes joelhos! Dai ânimo à vossa coragem, corações pusilânimes! Tomai ânimo, não temais! Eis o nosso Deus, que vem para nos vingar; Ele vem em pessoa, e vem para nos salvar» (35,3-4). Porque é pela intervenção de Deus, e não pela do homem, que recebemos a salvação.
Eis outro texto onde Isaías prediz que Quem nos salvará não é homem nem ser incorpóreo: «Não será um mensageiro, não será um anjo, será o próprio Senhor a salvar o seu povo. Porque o ama, perdoar-lhe-á; Ele próprio o libertará» (63,9). Mas tal Salvador é homem também, verdadeiramente, e portanto visível: «Eis, Cidade de Sião, que os teus olhos verão o nosso Salvador» (33,20). [...] Disse um outro profeta: «Ele próprio virá, far-nos-á misericórdia, e lançará os nossos pecados ao fundo do mar» (Mi 7,19). [...] De Belém, aldeia da Judeia (Mi 5,1), é que deverá sair o filho de Deus, que é Deus também, para difundir o seu louvor por toda a terra [...]. Portanto Deus fez-se homem; e o próprio Senhor nos salvou, ao dar-nos o sinal da Virgem.

Santo Ireneu de Lião (c.130-c. 208), bispo, teólogo e mártir - Contra as heresias
III, 2, 2

O teu inimigo está no fundo do teu coração

Josué atravessou o Jordão para atacar a cidade de Jericó. Mas São Paulo esclarece-nos: "Nós não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas contra os Principados, Potestades, contra os Dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares" (Ef 6, 12). As coisas que foram escritas são imagens e símbolos. Porque Paulo diz noutra passagem: "Todas estas coisas lhes sucederam para nosso exemplo e foram escritas para nos servirem de advertência, a nós que chegámos aos fins dos tempos" (1 Cor 10, 11). Pois bem, se estas coisas foram escritas para nossa instrução, por que te demoras? Tal como Josué, partamos para a guerra, tomemos de assalto a mais vasta cidade do mundo, que é a maldade, e destruamos as muralhas orgulhosas do pecado.

Olhas em teu redor, para veres que caminho tomar, que campo de batalha escolher? Vais certamente espantar-te com as minhas palavras, que no entanto são verdadeiras: limita a procura a ti mesmo. É em ti que se encontra o combate que deves travar, é no teu interior que está o edifício do mal e do pecado que é necessário destruir; o teu inimigo está no fundo do teu coração. Não sou eu que o digo, é Cristo; escuta-O: "Do coração procedem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias" (Mt 15, 19). Tens noção do poder deste exército inimigo, que avança contra ti do fundo do teu coração? Pois esses são os teus verdadeiros inimigos.

Orígenes (c. 185-253), sacerdote e teólogo - Homilias sobre Josué, nº 5

O ardor com que Deus nos procura

Imaginai a desolação de um pobre pastor cuja ovelha se tresmalhou. Em todos os campos vizinhos só ouve a voz dessa infeliz que, tendo abandonado o grosso do rebanho, corre nas florestas e pelas colinas, passa pelas partes mais densas dos bosques e pelos silvados, lamentando-se e gritando com todas as forças e não podendo resolver-se a voltar sem ter encontrado a sua ovelha e a ter trazido para o redil.

Aqui está o que o Filho de Deus fez, assim que os homens se desviaram, pela sua desobediência à direcção do seu Criador; ele desceu à terra e não rejeitou nem cuidados nem fadigas para nos restabelecer no estado de que tínhamos decaído. É o que ele faz ainda todos os dias com aqueles que se afastaram dele pelo pecado; ele segue-os, por assim dizer, não cessando de os chamar até que os tenha reposto no caminho da salvação. E seguramente, se não fizesse isso, vós sabeis o que seria feito de nós depois do primeiro pecado mortal: ser-nos-ia impossível retornar. É preciso que seja ele a fazer tudo primeiro, que nos dê a sua graça, que nos procure, que nos convide a termos piedade de nós mesmos, sem o que não sonharíamos nunca em pedir-lhe misericórdia...
O ardor com que Deus nos procura é sem dúvida um efeito de uma enorme misericórdia. Mas a doçura que acompanha este zelo indica uma bondade ainda mais admirável. Não obstante o desejo extremo que ele tem de nos fazer voltar, nunca usa de violência, não usa para isso senão os caminhos da doçura. Em toda a história do Evangelho não vejo nenhum pecador que tenha sido convidado à penitência a não ser por ternura e por benefícios.

São Cláudio de la Colombière, jesuíta - Sermão pregado em Londres diante da duquesa dYork

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Abrir as portas do coração a Deus

“A terra está cheia, Senhor, da tua misericórdia; ensina-me as tuas vontades" (Sl 118,64). Como é que a terra está cheia desta misericórdia do Senhor senão pela Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, cuja promessa o Salmista, que a via de longe, de alguma maneira celebra? Está cheia dela porque a remissão dos pecados foi dada a todos. O sol tem ordem para se erguer sobre todos e é isso que acontece todos os dias. Com efeito, foi para todos que se ergueu em sentido místico o Sol de Justiça (Ml 3,20); veio para todos, sofreu por todos, por todos ressuscitou. E, se sofreu, foi certamente para “tirar o pecado do mundo” (Jo 1,29)…

Mas, se alguém não tem fé em Cristo, priva-se a si mesmo deste benefício universal. Se alguém, fechando as suas janelas, impede os raios de sol de entrar, não se pode dizer que o sol não nasceu para todos, pois esta pessoa fugiu do seu calor. No que diz respeito ao sol, não se deixa atingir por ele; quanto ao que tem falta de sabedoria, esse priva-se da graça de uma luz proposta a todos.

Deus faz-se pedagogo; ilumina o espírito de cada um, derramando nele a luz do seu conhecimento, com a condição, todavia, de que abras a porta do teu coração e acolhas a claridade da graça celestial. Quando duvidas, apressa-te a procurar porque “aquele que procura encontra e, àquele que bate, abrir-se-á" (Mt 7,8).

Santo Ambrósio (cerca de 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja - Sermão 8 sobre o salmo 118 

A Transfiguração: a manifestação por adiantamento do último dia

Aproximava-se a hora da Paixão… Nesse momento os discípulos não deviam estar com o espírito abalado; não devia acontecer que aqueles que, um pouco antes, tinham confessado pela voz de Pedro que ele era o filho de Deus (Mt 16,16) acreditassem, vendo-o pregado na cruz como um culpado, que ele era um simples homem. Por isso os fortaleceu com esta visão admirável.

Assim, quando o vissem traído, em agonia, implorando que lhe fosse afastado o cálice da morte e arrastado ao tribunal do sumo sacerdote, lembrar-se-iam da subida ao Tabor e compreenderiam que era por sua livre vontade que se entregava à morte… Quando vissem os golpes e os escarros na sua face, não se escandalizariam, relembrando-se do seu brilho que ultrapassava o do sol. Quando o vissem revestido pelo escárnio do manto escarlate, lembrar-se-iam que esse mesmo Jesus estivera vestido de luz no monte. Quando o vissem crucificado na cruz entre dois malfeitores, lembrar-se-iam que ele tinha aparecido entre Moisés e Elias como o seu Senhor. Quando o vissem sepultado na terra como um morto, pensariam na nuvem luminosa que o envolvera.

Aqui está pois um motivo para a Transfiguração. E talvez haja um outro: o Senhor exortava os seus discípulos a não tentarem economizar a sua própria vida; ele dizia-lhes: “se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me” (Mt 16,24). Mas renunciar a si mesmo e ir ao encontro de uma morte vergonhosa, isso parece difícil; é por isso que o Salvador mostra aos seus discípulos qual o tipo de glória de que serão julgados dignos os que imitarem a sua Paixão. Com efeito a Transfiguração não é senão a manifestação por adiantamento do último dia “onde os justos fulgirão na presença de Deus” (Mt 13,43).

Teófanes de Cerameia (séc. XII), monge de S. Basílio - Homilia sobre a Transfiguração

A humildade é a ama e a governanta da caridade

[Disse Deus a Santa Catarina:] Pedes-me para Me conheceres e Me amares, a Mim, a Verdade suprema. Eis a via para quem quer chegar a conhecer-Me perfeitamente e a experimentar-Me, a Mim, a Verdade eterna: nunca abandones o conhecimento de ti mesma e, abaixada até ao vale da humildade, em ti mesma Me conhecerás. E desse conhecimento retirarás tudo quanto te faz falta, tudo aquilo de que precisas. Nenhuma virtude tem vida em si mesma, se a não tirar da caridade; ora, a humildade é a ama e a governanta da caridade.
No conhecimento de ti mesma te tornarás humilde, pois por ele verás que nada és por ti mesma e que o teu ser vem de Mim, pois Eu amei-vos antes de que vós existísseis. Foi por causa deste amor inefável que tive por vós que, querendo voltar a criar-vos pela graça, vos lavei e vos recriei no sangue derramado por Meu Filho único com tão grande fogo de amor.
Só este sangue, e apenas ele, dá a conhecer a verdade àquele que, por via desse conhecimento de si mesmo, dissipou a névoa do amor próprio. É então que, nesse conhecimento de Mim Mesmo, a alma se abrasa de um amor inefável, e é devido a este amor que sofre uma dor contínua. Não é uma dor que a aflija ou a seque (longe disso dado que, pelo contrário, a fecunda); mas, por ter conhecido a Minha verdade, os seus próprios pecados, a ingratidão e a cegueira do próximo causam-lhe uma dor intolerável. Aflige-se porque Me ama pois, se não Me amasse, não se afligiria.

Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, Doutora da Igreja, co-padroeira da Europa - Diálogos, cap. 4

Fome de Deus

Sinto que, sem cessar, por todo o lado, a Paixão de Cristo está a acontecer de novo.
Nós estamos prontos para participar nesta paixão? Estamos prontos para partilhar os sofrimentos dos outros, não apenas onde domina a pobreza mas também por toda a parte da terra? Parece-me que a grande miséria e o sofrimento são mais difíceis de resolver no Ocidente. Ao encontrar alguém esfomeado na rua, oferecendo-lhe uma tigela de arroz ou uma fatia de pão, posso apaziguar-lhe a fome. Mas aquele que foi pisado, que não se sente desejado, amado, que vive no medo, que se sente rejeitado pela sociedade, esse experimenta uma forma de pobreza bem mais profunda e dolorosa. E é muito mais difícil encontrar remédio para ela.

As pessoas têm fome de Deus. As pessoas estão ávidas de amor. Temos consciência disso? Sabemos disso? Vemos isso? Temos nós olhos para o ver? Se muitas vezes o nosso olhar se passeia sem se fixar. Como se apenas atravessássemos o mundo. Devemos abrir os olhos e ver.
Bem-aventurada Teresa de Calcutá (1910-1997), fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade - No Greater Love (Não há maior amor)

A vontade em harmonia com a do Senhor

«O meu amado é um cacho de uvas de Chipre, na vinha de En-Gaddi» (Cant 1,14)... Este cacho divino enche-se de flores antes da Paixão e dá o seu vinho na Paixão... Na vinha, o cacho não mostra sempre a mesma forma, muda com o tempo: floresce, incha, fica pronto, e depois, perfeitamente maduro, vai-se transformar em vinho. A vinha promete então através do fruto: ainda não está maduro e em ponto de dar vinho, apenas espera a plenitude dos tempos. Mas ele não é absolutamente incapaz de nos satisfazer. Com efeito, antes do gosto, encanta o olfacto, na expectativa dos bens futuros, e seduz os sentidos da alma com os perfumes da esperança. É que a firme esperança da graça aguardada torna-se já satisfação para aqueles que esperam com persistência. Assim acontece com as uvas de Chipre que prometem vinho antes de o ser: pela flor – a sua flor é a esperança – dão-nos a garantia da graça futura...

Aquele cuja vontade está em harmonia com a do Senhor, porque «nela medita dia e noite», torna-se uma árvore plantada à beira dum ribeiro, que dá fruto a seu tempo e nunca perde a folhagem» (Sl 1,1-3). Por isso a vinha do Esposo que enraizou na terra fértil de Gaddi, ou seja, no fundo da alma, que é regada e enriquecida com os ensinamentos divinos, produz esse cacho florescente e desabrochado no qual pode contemplar o próprio jardineiro e o seu vinhateiro. Bem-aventurada essa terra cuja flor reproduz a beleza do Esposo! É que esse é a verdadeira luz, a verdadeira vida e a verdadeira justiça... e muitas outras virtudes, se, pelas suas obras, se torna semelhante ao Esposo, quando observa o cacho da sua própria consciência, vê lá o próprio Esposo, pois reflecte a luz da verdade numa vida luminosa e sem mancha. Por isso, essa vinha fecunda diz: «O meu cacho floresce e germina» (cf. Cant 7,13). O Esposo está, em pessoa, nesse verdadeiro cacho que se apresenta agarrado ao caule, cujo sangue constitui uma bebida de salvação para os que exultam na sua salvação.

S. Gregório de Nissa (c. 335-395), monge e bispo - Terceira homilia sobre o Cântico dos Cânticos

Nem a noite deve deter a tua misericórdia

«Felizes os misericordiosos, diz o Senhor, pois alcançarão misericórdia.» (Mt 5,7) A misericórdia não é a menor das bem-aventuranças: «Feliz o que compreende o pobre e o fraco» e também: «o homem bom compadece-se e partilha», ou ainda: «sempre o justo se compadece e empresta». Façamos, pois nossa esta bem-aventurança: saibamos compreender, sejamos bons.

Nem a noite deve deter a tua misericórdia; «não digas: volta amanhã e logo te darei» (Prov 3,28). Que não haja hesitação entre a tua primeira reacção e a tua generosidade... «Partilha o teu pão com aquele que tem fome, recolhe em tua casa o infeliz sem abrigo» (Is 58,7) e fá-lo de boa vontade. «Aquele que exerce a misericórdia, diz S. Paulo, que o faça com alegria» (Rom 12,8).

O teu mérito é redobrado pelo teu zelo; uma dádiva feita com contrariedade e por obrigação não tem nem graça nem fulgor. É com um coração em festa, não se lamentando, que se deve fazer o bem... «Então a luz jorrará como a aurora, e as tuas forças não tardarão a restablecer-se» ( 58,8). Haverá alguém que não deseje a luz e a cura?...

Por isso, servos de Cristo, seus irmãos e seus co-herdeiros (Gal 4,7), sempre que tenhamos oportunidade, visitemos Cristo, alimentemos Cristo, agasalhemos Cristo; abriguemos Cristo, honremos Cristo (cf. Mt 25,31s). Não só sentando-o à mesa, como alguns fizeram, ou cobrindo-o de perfumes, como Maria Madalena, ou participando na sua sepultura, como Nicodemos... Nem com ouro, incenso e mirra, como os magos... O Senhor do universo «quer a misericórdia e não o sacrifício» (Mt 9,13), a nossa compaixão, mais que milhares de cordeiros gordos (Miq 6,7). Apresentemos-lhe então a nossa misericórdia pela mão desses infelizes que jazem hoje pela terra, para que, no dia em que partirmos daqui, eles nos «conduzam à morada eterna» (Luc 16,9), ao próprio Cristo, nosso Senhor.

S. Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da igreja - 14ª homilia sobre o amor aos pobres, 38.40

Pedir e receber

Aproximemo-nos do Senhor, da porta espiritual, e batamos para Ele nos abrir. Peçamos–Lhe para O receber, a Ele mesmo, o pão da vida (Jo 6, 34). Digamos-Lhe: “Dá-me, Senhor, o pão da vida, a fim de que eu viva, porque me encaminho para a perdição, perseguido pela fome do pecado. Dá-me a veste luminosa da salvação, para eu esconder a vergonha da minha alma, porque estou nu, privado do poder do teu Espírito e tenho vergonha da indecência das minhas paixões.” (cf. Gn 3, 10)

E se Ele te disser: “Estavas vestido, o que fizeste à tua veste?”, responde-Lhe: “Caí em poder dos salteadores que, depois de me despojarem e me encherem de pancadas, me abandonaram, deixando-me meio morto.” (cf. Lc 10, 30). Dá-me sandálias espirituais, porque os pés do meu espírito foram trespassados pelos espinhos e pelos cardos (cf. Gn 3, 18): caminho errante pelo deserto, e não posso mais. Dá vista ao meu coração, para que eu veja de novo; abre os olhos do meu coração, porque os meus inimigos invisíveis cegaram-me, cobrindo-me com o véu das trevas, e não sou capaz de contemplar o teu Rosto celeste e tão desejado. Dá-me o ouvido espiritual, porque a minha inteligência está surda e já não consigo ouvir os teus doces e suaves apelos. Dá-me o óleo da alegria (Sl 44, 8) e o vinho da alegria espiritual, para que o aplique às feridas e possa recuperar a vida. Cura-me e devolve-me a saúde, porque os meus inimigos, ladrões temíveis, deixaram-me abandonado e meio morto.”

Alma feliz, a que suplica com perseverança e com fé, como indigente e ferida, porque receberá o que pede; obterá a cura e o remédio eternos e será vingada dos seus inimigos, as paixões do pecado.

São Macário (?-405), monge no Egipto - Homilia 16 da 3ª colecção

Converter-se para se assemelhar a Deus

Grande paciência a de Deus! […] Ele faz nascer o dia e erguer-se a luz do sol sobre bons e maus (Mt 5, 45). Ele rega a terra com a chuva, e a ninguém exclui dos seus benefícios, concedendo a água indistintamente a justos e a injustos. Vemo-lo agir com igual paciência com culpados e inocentes, fiéis e ímpios, agradecidos e ingratos. Para todos eles, os tempos obedecem às ordens de Deus, os elementos colocam-se ao Seu serviço, sopram os ventos, brota água das fontes, as colheitas crescem em abundância, as uvas amadurecem, as árvores enchem-se de frutos, as florestas cobrem-se de verdes e os prados de flores. […] Embora tenha poder para se vingar, prefere ter paciência por muito tempo, espera e adia com bondade para que, se for possível, a malícia se atenue com o tempo e o homem […] acabe por se voltar para Deus, segundo o que Ele próprio nos diz: “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, de maneira que ele tenha a vida” (Ez 33, 11). E ainda: “Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, clemente e misericordioso” (Jl 2, 13). […]

Ora, Jesus diz-nos: “Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste” (Mt 5, 48). Por meio destas palavras, mostra-nos que, filhos de Deus e regenerados por um nascimento celeste, alcançamos o cume da perfeição quando a paciência de Deus Pai permanece em nós e a semelhança divina, perdida pelo pecado de Adão, se manifesta e brilha nas nossas acções.
Que glória assemelharmo-nos a Deus, que grande honra possuirmos esta virtude digna dos louvores divinos!
São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir - Sobre os benefícios da paciência, 3-5

A lei de Cristo

Há preceitos da lei natural que, só por si, nos dão a justiça; mesmo antes do dom da Lei a Moisés, havia homens que observavam esses preceitos e eram justificados pela sua fé e agradavam a Deus. Esses preceitos, o Senhor não os aboliu mas alargou-os e levou-os à perfeição. É isso que provam estas palavras: "Foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Mas eu digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher e a cobiçar já cometeu adultério com ela no seu coração". E também: "Foi dito: Não matarás. Mas eu digo-vos: Todo aquele que se encolerizar contra o seu irmão sem motivo, responderá por isso em tribunal" (Mt 5,21sg)... E assim sucessivamente. Todos estes preceitos não implicam nem contradição nem abolição dos precedentes, mas o seu cumprimento e a sua extensão. Como o próprio Senhor diz: "Se a vossa justiça não ultrapassar a dos escribas e dos Fariseus, não entrareis no reino dos Céus" (Mt 5,20).

Em que consistia essa ultrapassagem? Primeiro, em acreditar não só no Pai mas também no Filho agora manifestado, porque é Ele quem conduz o homem à comunhão e à união com Deus. Em seguida, em não dizer apenas mas em fazer - porque "eles dizem mas não fazem (Mt, 23,3) - e em guardar-se não só dos actos maus mas até do desejo deles. Ao ensinar isto, Ele não contradizia a Lei, mas cumpria a Lei e enraizava em nós as prescrições da Lei... Prescrever abster-se não só dos actos proibidos pela Lei mas mesmo do seu desejo, não é obra de quem contradiz e abule a Lei; é obra de quem a cumpre e alarga.
Santo Ireneu de Lião (c. 130 - c. 208), bispo, teólogo e mártir - Contra as Heresias, IV, 13,3

Belo exemplo de ternura, mas ainda maior exemplo de fé!

Porque foi Elias enviado a casa de uma viúva, numa altura em que a fome assolava a terra inteira? Uma graça singular se prende a duas mulheres: ao pé de uma virgem, um anjo; ao pé de uma viúva, um profeta. Lá Gabriel, aqui Elias. São os maiores entre os anjos e os profetas os que são escolhidos! A história não tem falta de viúvas; contudo, uma se distingue de entre todas, que as encoraja pelo seu grande exemplo… Deus é particularmente sensível à hospitalidade: no Evangelho ele promete, por um copo de água fresca, recompensas eternas (Mt 10,42), aqui, por um pouco de farinha ou uma medida de azeite, a profusão infinita das suas riquezas…

Porque nos julgamos merecedores dos frutos da terra quando a terra é oferta perpétua?... Nós viramos a nosso favor o sentido do mandamento universal: “Todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que sobre a terra existem e se movem” (Gn 1, 29-30); ao acumular, só encontramos o vazio e a necessidade. Como esperaremos nós na promessa, se não observamos a vontade de Deus? É agir ajuizadamente esquecer o preceito da hospitalidade e honrar aos nossos hóspedes: não somos nós próprios hóspedes aqui em baixo?

Como esta viúva é perfeita! Oprimida por uma grande fome, ela continua a venerar Deus. Ela não guardava as suas provisões só para si: partilhava com o seu filho. Belo exemplo de ternura, mas ainda maior exemplo de fé! Ela não devia preferir ninguém ao seu filho. Eis que põe o profeta de Deus acima da sua própria vida. Crede verdadeiramente que ela não deu apenas um pouco do seu sustento, mas toda a sua subsistência; ela não guardou nada para si mesma; como a sua hospitalidade a levou a um dom total, a sua fé a conduziu a uma confiança total.  
Santo Ambrósio (cerca 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja - Das viúvas

Santifica-te e santifica os outros!

Sou consumido por uma dupla chama: o amor de Deus e dos homens. É como um vulcão dentro de mim, sempre em erupção, que Jesus pôs no meu coração, contudo tão pequeno... Meu Deus, sede sempre mais presente no meu pobre coração e acaba em mim a obra que tu começaste. Escuto no mais íntimo de mim próprio esta voz que me repete: “Santifica-te e santifica os outros!” É bem o que eu quero, querido filho, a quem escrevo tudo isto, mas não sei por onde começar... Ajuda-me. Eu sei que Jesus te ama muito e tu o mereces. Fala-lhe pois por mim: peço-lhe a graça de ser um filho de S. Francisco menos indigno, que possa servir de exemplo aos meus confrades de modo que eles guardem o seu fervor e que ele aumente em mim, até fazer de mim um perfeito capuchinho.

Santo (Padre) Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho.

Unidade e coesão indissolúvel

Ninguém pode ter Deus como pai se não tiver a Igreja como mãe... O Senhor adverte-nos nesse sentido dizendo: "Quem não está comigo está contra mim e quem não recolhe comigo dissipa". Aquele que quebra a paz e a concórdia de Cristo age contra Cristo; aquele que colhe fora da Igreja dissipa a Igreja de Cristo.

O Senhor diz: "O Pai e eu somos um" (Jo 10,30). Está escrito ainda a propósito do Pai, do Filho e do Espírito Santo: "Estes três são um" (1 Jo 5,7). Por isso, quem acreditará que a unidade, que tem a sua origem nesta harmonia divina, que está ligada a este mistério celeste, pode ser esquartejada na Igreja... devido a conflitos voluntariosos? Todo aquele que não observar esta unidade, não observa a lei de Deus, nem a fé no Pai e no Filho; não preserva a vida nem a salvação.

Este sacramento da unidade, este vínculo da concórdia numa coesão indissolúvel é-nos mostrado no Evangelho pela túnica do Senhor. Ela não pôde ser de forma alguma dividida ou rasgada, mas foi tirada à sorte para se saber quem revestirá Cristo (Jo 19,24)... Ela é o símbolo da unidade que vem do alto.

S. Cipriano (cerca de 200-258), bispo de Cartago e mártir - Da unidade da Igreja

Perdoar para ser perdoado

Sabeis o que dizemos a Deus na oração antes da comunhão: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Preparai-vos interiormente a perdoar, porque estas palavras, reencontrá-las-eis na oração. Como as ireis dizer? Talvez não as digais? Finalmente, esta é verdadeiramente a questão: direis estas palavras, sim ou não? Tu detestas o teu irmão e pronuncias: “Perdoai-nos como nós perdoamos”?... Eu evito essas palavras, dirás tu. Mas então, o que é que rezas? Prestai muita atenção, meus irmãos. Num momento, ides rezar; perdoai de todo o vosso coração!

Olhai Cristo pregado na cruz; escutai-o a rezar: “Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Dirás, sem dúvida: ele podia fazê-lo, mas eu não. Eu sou um homem, e ele, ele é Deus. Tu não podes imitar Cristo? Então, porque é que o apóstolo Pedro escreveu: “Cristo sofreu por vós, deixou-vos o exemplo, para que sigais os seus passos” (1Ped 2,21)? Porque é que o apóstolo Paulo nos escreveu: “Sede imitadores de Deus como filhos muito amados” (Ef 5,1)? Porque é que o próprio Senhor disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29)? Nós usamos rodeios, procuramos desculpas, quando reclamamos impossível o que não queremos fazer… Meus irmãos, não acusemos Cristo por nos ter dado mandamentos tão difíceis, impossíveis de realizar. Com toda a humildade, digamos antes com o salmista: “Tu és justo, Senhor, e o teu mandamento é justo” (Sl 118,137)
S. Cesário de Arles (470-543), monge e bispo - Sermão Morin 35

Para o Céu o caminho é a humildade e a Paixão

Estava próxima a festa judaica das Tendas. Disseram-Lhe, então, os seus irmãos: ‘Vai para a Judeia, para que os teus discípulos vejam as obras que fazes’… Jesus disse-lhes: ‘para Mim, ainda não chegou o momento oportuno; mas para vós qualquer tempo é sempre bom’” (Jo 7, 2-6) …
Jesus responde assim aos que O aconselhavam a procurar a glória: “o tempo da minha glorificação ainda não chegou”. Vejamos a profundidade deste pensamento: incitam-n’O a procurar a glória, mas Ele quer que a humilhação preceda a exaltação; quer, pela humildade abrir um caminho à glória. Também os discípulos que queriam sentar-se um à sua direita e o outro à sua esquerda (Mc 10, 37) procuravam a glória humana: não viam senão o fim do caminho, sem ter em consideração o caminho que devia levá-los até lá. O Senhor, lembrou-lhes, então, a verdadeira estrada por onde deveriam chegar à pátria. A pátria é elevada, mas o caminho é humilde. A pátria é a vida de Cristo; o caminho a sua morte. A pátria é a morada de Cristo, o caminho é a sua Paixão…

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (África do Norte) e doutor da Igreja
Sermão sobre São João, nº 28

A ressurreição de Lázaro

Desperta, tu que dormes; levanta-te de entre os mortos e Cristo te iluminará! (Ef 5,14). Compreende bem de que mortos se trata quando te dizem: "Levanta-te de entre os mortos!" Muitos vezes, até dos mortos visíveis, se diz que eles dormem; e, na verdade, dormem todos para aquele que os pode acordar. Um morto está mesmo morto para ti: podes bater-lhe, sacudi-lo que ele não acorda. Mas, para Cristo, estava apenas adormecido aquele a quem ordenou: "Levanta-te!" e imediatamente se levantou (Lc 7,14). É fácil despertar do seu leito uma pessoa que dorme; com mais facilidade ainda Cristo desperta um morto já sepultado...
"Há quatro dias que está morto; já cheira mal" (Jo 11,39). Mas eis que chega o Senhor para quem tudo é fácil. Diante da voz do Senhor não há amarras que resistam; as potências das moradas dos mortos tremem e Lázaro aparece vivo... Pela vontade vivificante de Cristo, mesmo os que estão mortos há muito tempo apenas estão a dormir.
Mas Lázaro saído do túmulo estava ainda incapaz de andar. Por isso, o Senhor ordena aos seus discípulos: "Soltem-no e deixem-no ir". Cristo tinha-o ressuscitado mas eles é que lhe soltariam as faixas da mortalha. Vede a parte do Senhor ao trazer alguém de novo à vida: escravo dos seus hábitos, ele ouve as exortações da Palavra divina... Quando são vivamente admoestados, os pecadores entram em si mesmos; começam a passar a sua vida em revista e a sentir o peso das cadeias dos seus maus hábitos. Decidem mudar de vida: ei-los ressuscitados. Mas, embora vivos, eles ainda não podem caminhar; é preciso que as suas faixas sejam soltas; é o papel dos apóstolos: "Aquilo que desligardes na terra será desligado nos céus" (Mt 18,18).
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 97