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sábado, 13 de junho de 2020

Cópia da imagem de Nossa Senhora de Paris colocada no átrio da Catedral Notre Dame

Milhões de católicos já tiveram a oportunidade e o privilégio de poderem ajoelhar-se e rezar diante da imagem de Nossa Senhora de Paris.

Esta imagem de Nossa Senhora encontrava-se no antigo claustro dos Cónegos, na Capela Saint-Aignan, na Île de la Cité e foi levada para a Catedral de Paris para substituir uma das imagens do Pórtico de Nossa Senhora, destruída pela sanha anticlerical durante o período conturbado da Revolução Francesa, em 1793.

Em 1855, o famoso arquiteto Viollet-le-Duc - o mesmo que desenhara a agulha que ardeu completamente e caiu no dia 15 de abril de 2019 -  transferiu-a do pórtico para o interior da Catedral, pois neste pilar sudoeste do transepto existia, desde a Idade Média, um altar dedicado à Mãe de Deus e nossa Mãe.

Conversão de Paul Claudel

Ali, diante de Nossa Senhora de Paris, Paul Claudel, um dos grandes poetas e dramaturgos do século XX, converteu-se no dia 25 de dezembro de 1886, como ele mesmo narra:

“Fui a Notre-Dame de Paris para assistir aos ofícios de Natal. Tinha começado a escrever, e parecia-me que nas cerimónias católicas, consideradas com um diletantismo superior, encontraria um excitante apropriado e a matéria de alguns exercícios decadentes.

“Foi com estas disposições que, conduzido e apertado pela multidão, assisti, com um prazer medíocre, à missa solene. Depois, não tendo nada melhor a fazer, voltei para assistir às vésperas. As crianças do coro, vestidos de branco, e os alunos do Seminário-menor de Saint-Nicolas-du-Chardonnet, que os ajudavam, estavam se aprontando para iniciar o canto que mais tarde soube ser o Magnificat.
Estava misturado ao povo, junto do segundo pilar à entrada do coro, à direita da sacristia. E foi então que se produziu o acontecimento que domina toda a minha vida. Em um instante, o meu coração foi tocado e acreditei. Acreditei com tal força, com tal adesão de todo o meu ser, com tão poderosa convicção, com tal certeza sem deixar lugar a qualquer espécie de dúvida que, depois, todos os livros, todos os raciocínios, todos os acasos de uma vida agitada, não puderam abalar-me a fé, nem mesmo, para ser mais preciso, tocá-la de leve que fosse.

Tive de súbito o forte sentimento da inocência, da eterna juventude de Deus, uma revelação inefável. Tentando, como o fiz várias vezes, reconstituir os minutos que se seguiram a este instante extraordinário, encontro os elementos seguintes que, entretanto, não formam senão um clarão, uma única arma de que a Providência Divina se servia para atingir e abrir enfim o coração de uma pobre criança desesperada: “Como aqueles que creem são felizes! E se fosse verdade? É verdade! Deus existe, Ele está em toda parte, É alguém, é um Ser tão pessoal como eu. Ele me ama, Ele me chama.

As lágrimas e os soluços vieram… e o canto tão doce do Adeste fideles, um hino natalino, aumenta ainda mais a minha emoção. Emoção bem doce, mas a que se misturava um sentimento de espanto o quase de horror. Porque as minhas convicções filosóficas não estavam destruídas. Deus as havia deixado desdenhosamente onde estavam, e eu nada via a mudar nelas; a religião católica me parecia continuar o mesmo tesouro de anedotas absurdas, seus padres e fiéis me inspiravam a mesma aversão que ia até o ódio e o desgosto. O edifício das minhas opiniões e dos meus conhecimentos permanecia de pé e nada via de falho nele. Tinha apenas me retirado. Um novo e terrível ser, com exigências terríveis para o jovem e o artista que eu era, tinha se revelado e não sabia como conciliá-lo com coisa alguma que me cercava.

O estado de um homem que fosse arrancado de um golpe de seu corpo, para ser colocado em um corpo estranho, no meio de um mundo desconhecido, é a única comparação que posso encontrar para exprimir este estado de confusão completa. O que mais repugnava as minhas opiniões e os meus gostos, é que era a verdade e com o que seria necessário que, de bom ou de mau grado, eu me adaptasse. Ah! Isso não aconteceria sem que tentasse tudo que me fosse possível para resistir”. (Paul Claudel, Ma conversion, 1913)

Cópia da imagem no Átrio da Catedral

No 12 de junho de 2020, uma cópia da imagem de Nossa Senhora de Paris foi colocada no Átrio da Catedral, a fim de velar sobre a cidade, a catedral, os franceses e os católicos de todo o mundo, custodiada pela grande Imperador do Sacro Império Romano, Carlos Magno, e seus pares, cuja estátua se encontra a poucos metros.

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Como nasceu a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo?

Nosso Senhor Jesus Cristo revelou, no ano de 1220, a uma santa religiosa, chamada Juliana de Mont Cornillon, que vivia no mosteiro de Mont Pelliers perto de Liège, Bélgica, o seu desejo de ver instituída uma festa para honrar solenemente o adorável Sacramento do seu Corpo e Sangue.

Aos 16 anos, a irmã Juliana teve a primeira visão, que se repetiu mais vezes nas suas Adorações Eucarísticas. Nelas, a religiosa via a lua no seu pleno esplendor, atravessada diametralmente por uma faixa escura.

Mais tarde conseguiu compreender o significado das aparições. A lua simbolizava a vida da Igreja sobre a terra e a linha opaca representava a ausência de uma festa litúrgica, na qual os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a Fé, avançar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.

Durante cerca de quatro anos, Juliana conservou em segredo as visões, que trazidas à memória, aumentavam o seu já grande desejo de adorar Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente presente na Eucaristia com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Já priora do Convento, confiou o seu segredo a duas outras irmãs, fervorosas adoradoras da Eucaristia, a beata Eva, que levava uma vida eremítica, e Isabella. As três fizeram uma espécie de "aliança espiritual", com o propósito de glorificar o Santíssimo Sacramento.

Duras provações de Santa Juliana

Esta santa irmã, apesar das contínuas solicitações de Deus, antevendo as enormes dificuldades que encontraria pela frente e julgando-se incapaz de as superar, só começou a mover-se vinte anos depois das revelações, quanto contou tudo a seu confessor, Padre Giovanni di Losanna, cónego da igreja de São Martinho de Liège, homem estudioso e piedoso. Este por sua vez, começou por indagar os teólogos e as autoridades eclesiásticas sobre instituição de uma festa ao Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus. Todos aprovaram e julgaram ser o pedido uma verdadeira inspiração divina.

Entretanto, mal os habitantes da cidade souberam da instituição de uma festa proposta por uma religiosa local, várias vozes contrárias levantaram-se, fazendo com que todo o Capítulo da Catedral e quase todo o clero se manifestasse contrário a tal devoção.

A santa religiosa, que garantia ter recebido a revelação do Céu, passou a ser tratada como uma visionária, que provocava confusão na Igreja e foi, por isso, violentamente expulsa do seu convento.

Mas, Deus não lhe tinha inspirado uma prática tão santa para depois a deixar sucumbir às maquinações infernais contra ela.  

O bispo de Liège, Dom Roberto di Thourotte, examinou profundamente a questão e após hesitações iniciais, só encontrou aspectos bons e santos na proposta da Irmã Juliana. Assim, aprovou no ano de 1246 que esta festa fosse instituída na sua diocese. Pouco tempo depois da aprovação deste prelado, vários outros bispos das regiões vizinhas adotaram-na e aos poucos foi sendo introduzida em toda a Igreja.

A bula Transiturus de Hoc Mundo

O Papa Urbano IV autorizou-a com bula “Transiturus de Hoc Mundo” de 11 de agosto de 1264, na qual afirmava:

“Cristo, nosso salvador, deixando este mundo para ascender ao Pai, pouco antes da sua Paixão, na Última Ceia, instituiu, em memória da sua morte, o Sacramento supremo e magnífico do Seu Corpo e Sangue, dando-nos o Corpo como comida e o sangue como bebida.

Sempre que comemos este pão e bebemos deste cálice, anunciamos a morte do Senhor, porque Ele disse aos Apóstolos durante a instituição deste Sacramento: "Faça isso em memória de Mim", para que este Sacramento excelso e venerável seja para nós a principal e mais insigne recordação do grande amor com que Ele nos amou. Memorial admirável e maravilhoso, doce e suave, caro e precioso, em que se renovam os prodígios e maravilhas; nele se encontram todas as delícias e os sabores mais delicados. Experimenta-se nele a mesma doçura do Senhor e, acima de tudo, obtém-se força para a vida e para a salvação.

É um memorial dulcíssimo, sacrossanto e salutar, no qual renovamos a nossa gratidão pela nossa Redenção, afastamo-nos do mal, fortalecemo-nos no bem e progredimos na aquisição das virtudes e da graça, confortamo-nos pela presença corporal do nosso Salvador, pois nesta comemoração sacramental de Cristo, Ele está presente no meio de nós, com uma forma distinta, mas na sua verdadeira substância.

Pois antes de subir ao céu, Ele disse aos Apóstolos e aos seus sucessores: "Estou sempre convosco, até à consumação do mundo", e consolou-os com a salutar promessa de que permaneceria também com eles, através da sua presença corporal.

Monumento verdadeiramente digno de não ser esquecido, com o qual lembramos que a morte foi vencida, que a nossa ruína foi destruída pela morte d’Aquele que é a própria vida, que uma árvore cheia de vida foi enxertada numa árvore de morte para produzir frutos de salvação!

É um memorial glorioso que enche de alegria as almas dos fiéis, infunde alegria e faz brotar lágrimas de devoção. Enchemo-nos de gozo ao pensar na Paixão do Senhor, pela qual fomos salvos, mas não podemos conter o choro. Diante desta recordação sacrossanta, sentimos em nós uma alegria e um entusiasmo crescentes, alegres no choro cheio de amor, emocionados pelo gozo devoto; nossa dor é temperada pela alegria; nossa alegria mistura-se com o choro e o nosso coração transborda de alegria, desfazendo-se em lágrimas.

Grandeza infinita de amor divino, imensa e divina piedade, copiosa efusão celestial! Deus deu-nos tudo no momento em que Se submeteu aos nossos pés e confiou-nos o domínio supremo de todas as criaturas na terra. Enobrece e sublima a dignidade dos homens através do ministério dos espíritos mais selecionados. Pois todos eles foram destinados a exercer o ministério a serviço daqueles que receberam a herança da salvação.

E tendo sido tão vasta a magnificência do Senhor para connosco, querendo mostrar-nos ainda mais o Seu amor infinito, numa efusão, ofereceu-Se a si mesmo e superando as maiores generosidades e toda a medida de caridade, entregou-Se como alimento sobrenatural.

Singular e admirável liberalidade, na qual o doador vem à nossa casa, e o dom e Quem dá são a mesma coisa! Na verdade, é uma generosidade sem fim d’Aquele que se dá a Si mesmo e de tal maneira aumenta a sua disposição afetuosa que, distribuída numa grande quantidade de dons, transborda e retorna ao doador, tanto maior quanto mais amplamente se tenha difuso.

Assim, o Salvador foi dado como alimento; Ele quis que, da mesma maneira que o homem foi sepultado na ruína pelo alimento proibido, voltasse a viver por um alimento bendito; o homem caiu pelos frutos de uma árvore da morte e ressuscita por um pão da vida. Daquela árvore pendia um alimento mortal, nesta encontra um alimento de vida; aquele fruto trouxe o mal, este cura; um apetite mau fez o mal, e uma fome diferente gera o bem; chegou o remédio onde a doença tinha invadido; de onde veio a morte, chega a vida.

Daquele primeiro alimento, dizia-se: "No dia em que dele comerdes, morrerás"; do segundo, está escrito: "Quem come este pão viverá para sempre".

É um alimento que verdadeiramente restaura e nutre, sacia no mais alto grau não o corpo, mas o coração; não a carne, mas o espírito; não as vísceras, mas a alma. O homem tinha necessidade de um alimento espiritual, e o misericordioso Salvador proveu, com piedosa atenção, o alimento da alma com o melhor e mais nobre manjar.

A generosa liberalidade elevou-se à altura da necessidade, e a caridade igualou-se a conveniência, de modo que o Verbo de Deus feito carne, que é um manjar e alimento das criaturas racionais, deu-Se como alimento à mesmas criaturas, isto é, para a carne e o corpo do homem. O homem, então, come o Pão dos Anjos do qual o Salvador disse: "Minha carne é verdadeira comida e Meu sangue é verdadeira bebida". Este manjar toma-se, mas não se consume; come-se, mas não se modifica, pois não se transforma naquele que o come, mas recebe-se dignamente, fazendo quem o consome semelhante a Ele. Excelso e venerável Sacramento, amável e adorado, sois digno de ser celebrado, exaltado com os mais emotivos louvores, pelos cânticos inspirados, pelas mais íntimas fibras da alma, pelos mais devotos obséquios, sois digno de ser recebido pelas almas mais puras!

Glorioso memorial, deverias ser mantido entre os batimentos cardíacos mais profundos, impresso indelevelmente na alma, trancado nas intimidades do espírito, honrado com a piedade mais assídua e dedicada!

Dirijamo-nos sempre a tão grande sacramento para nos lembrarmos em todos os momentos d’Aquele de quem deveríamos ter a perfeita recordação, e foi (sabemo-lo). Pois, recordamos mais daquela pessoa, cuja casa e presentes constantemente contemplamos.

Embora este Sacramento Sagrado seja celebrado todos os dias no rito solene da Missa, acreditamos, contudo, ser útil e digno que se celebre, pelo menos uma vez por ano, uma festa mais solene, especialmente para confundir e contrariar a hostilidade dos hereges.

Pois na Quinta-feira santa, o dia em que Cristo o instituiu, a Igreja universal, ocupada com a confissão dos fiéis, como mandato do lava-pés e em muitas outras cerimónias sagradas, não pode dar total atenção à celebração deste grande Sacramento.

Do mesmo modo que a Igreja comemora os santos, que são venerados durante o ano nas ladainhas, nas Missas e nas outras funções, e a sua memória é renovada com grande frequência, recordando também o seu nascimento, em certos dias, com mais solenidade e celebrações especiais. E como nestas festas, os fiéis as vezes omitem alguns dos seus deveres por negligência ou ocupações mundanas, ou também por fragilidade humana, a Santa Madre Igreja estabelece um dia específico para a comemoração de Todos os Santos, provendo nesta celebração comum o que foi negligenciado nas particulares.

Tanto mais, é necessário cumprir esse dever para com o admirável Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo que é a glória e a coroa de todos os Santos, para que brilhe numa festividade e solenidade especiais. (…) Também ouvimos dizer, quando estávamos desempenhando um cargo mais modesto, que Deus havia revelado a alguns católicos que era necessário celebrar essa festa em toda a Igreja (referindo-se a Santa Juliano de Cornillon). Portanto, acreditamos ser apropriado estabelecê-la para que, de maneira digna e razoável, a Fé Católica seja vitalizada e exaltada.

Que todo ano, então, seja celebrada uma festa especial e solene de um Sacramento tão grande, além da comemoração diária que a Igreja faz dela, e estabelecemos um dia fixo para ela, a primeira quinta-feira após a oitava de Pentecostes. Estabelecemos também que, no mesmo dia, multidões de fiéis devem reunir-se nas igrejas devotas, com generosidade de afeto, e todo o clero e o povo, alegres, cantem louvores, para que os lábios e os corações encham-se de santidade e alegria; cante a Fé, traga a Esperança, exulte a Caridade; a devoção palpite, exale pureza; Que os corações sejam sinceros.”

Milagres eucarísticos

O Pontífice quis dar o exemplo e celebrou a solenidade de Corpus Domini em Orvieto, cidade onde morava. Foi também por ordem de Urbano IV que, na Catedral da Cidade, conservou-se – e conserva-se ainda – o célebre corporal com os traços do milagre eucarístico ocorrido um ano antes, em 1263, em Bolsena. Um sacerdote, enquanto consagrava o pão e o vinho, foi tomado por fortes dúvidas sobre a presença real do Corpo e do Sangue de Cristo no Sacramento da Eucaristia. Milagrosamente, algumas gotas de sangue começaram a fluir da Hóstia consagrada, confirmando, desse modo, aquilo que a nossa fé professa.

Urbano IV pediu a um dos maiores teólogos da história, São Tomás de Aquino – que naquele tempo acompanhava o Papa e encontrava-se em Orvieto –, para compor os textos do ofício litúrgico dessa grande festa, usados ainda hoje, constituindo uma obra-prima, fundada na teologia e na poesia.

Mais tarde Clemente V, em 1311, confirmou a festa do Corpo e Sangue de Cristo, no segundo Concílio de Vienne. Em todos os lugares onde ela começou a ser celebrada, houve grande contestação, o que tornou o seu triunfo infinitamente mais belo!