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domingo, 25 de abril de 2021

25 de abril: São Marcos e a antiga procissão das rogações

 

Quem foi São Marcos, cuja festa é comemorada pela Igreja no dia 25 de abril?

As Escrituras fazem poucas referências a Marcos. Para conhecermos quem era este Apóstolo e Evangelista, abramos os “Atos dos Apóstolos” e vejamos o que ocorreu quando São Pedro foi libertado da prisão de Jerusalém:

Nessa ocasião, o rei Herodes prendeu alguns que pertenciam à Igreja, com a intenção de maltratá-los, e mandou matar à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isso agradava aos judeus, prosseguiu, prendendo também Pedro durante a festa dos pães sem fermento. Tendo-o prendido, lançou-o no cárcere, entregando-o para ser guardado por quatro escoltas de quatro soldados cada uma. Herodes pretendia submetê-lo a julgamento público depois da Páscoa. Pedro, então, ficou detido na prisão, mas a igreja orava intensamente a Deus por ele. Na noite anterior ao dia em que Herodes iria submetê-lo a julgamento, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas algemas, e as sentinelas montavam guarda à entrada do cárcere. Repentinamente, apareceu um anjo do Senhor, e uma luz brilhou na cela. Ele tocou no lado de Pedro e o acordou. "Depressa, levante-se!", disse ele. Então as algemas caíram dos punhos de Pedro. O anjo disse-lhe: "Vista-se e calce as sandálias". E Pedro assim fez. Disse-lhe ainda: "Ponha a capa e siga-me". E, saindo, Pedro o seguiu, não sabendo que era real o que se fazia por meio do anjo; tudo lhe parecia uma visão. Passaram a primeira e a segunda guarda, e chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. Este abriu-se por si mesmo para eles, e passaram. Tendo saído, caminharam ao longo de uma rua e, de repente, o anjo deixou-o. Então Pedro caiu em si e disse: "Agora sei, sem nenhuma dúvida, que o Senhor enviou o seu anjo e me libertou das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava". Percebendo isso, dirigiu-se à casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos, onde muita gente se tinha reunido e orava” (At 12, 1-12).

Marcos devia ter pertencido a uma família rica, já que a sua mãe tinha uma casa muito grande, a ponto de ser um lugar de encontro para muitos cristãos e, deve ter sido um discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo muito fervoroso e devotado, dado ter Pedro escolhido esta casa para se dirigir logo depois de sair da prisão.

São Pedro explica o laço que o unia a São Marco na sua primeira epistola, escrita por volta dos anos 60, aos cristãos da Asia Menor: "Marcos, meu filho, manda-vos saudações" (1Pd 5,13). Uma vez que ele não tinha filhos segundo a carne, se ele chamou Marcos “seu filho”, é porque ele o gerou segundo o espírito, na fé em Jesus Cristo e, portanto, Marcos foi o seu discípulo.

O discípulo acompanhou o mestre, quando este último, saindo de Jerusalém, foi provavelmente para a Ásia Menor e de lá para Roma? Alguns autores pensam que assim sucedeu, pois era preciso que Marcos e Pedro fossem conhecidos dos cristãos da Ásia Menor, a ponto de Pedro escrever que Marcos mandava cumprimentos.

Mas, se Marcos seguiu Pedro, não foi por muito tempo. Os Atos dos Apóstolos mencionam-no também com Barnabé, que se juntou a Saulo para evangelizar a cidade de Antioquia, levando ajuda aos cristãos de Jerusalém, que estavam passando fome: "Quando Barnabé e Saulo terminaram o seu trabalho em Jerusalém, voltaram levando com eles João, chamado Marcos” (At 13, 25). Sabe-se que Saulo era o convertido de Damasco, chamado também Paulo. Mas quem era Barnabé? Um judeu originário da Ilha de Chipre, que se distinguiu em Jerusalém pela sua fé e generosidade para com a comunidade cristã da cidade. Uma carta escrita mais tarde por São Paulo aos fiéis de Colossos, na Ásia Menor, designa Marcos como parente (primo ou sobrinho) de Barnabé. Compreende-se assim que Barnabé se tenha associado a seu parente Marcos no apostolado que exercia em Antioquia com Saulo.

Os doutores de Antioquia enviaram Saulo e Barnabé para Chipre. Junto com eles, neste novo ministério, estava Marcos. Mas no dia em que Paulo quis ir de Chipre para a Ásia Menor, Marcos deixou-os para voltar para Jerusalém. É ali, por volta do ano 50, que viu Pedro, seu pai na fé, quando este resolveu no conselho dos apóstolos e dos anciãos a polêmica levantada em Antioquia pelos cristãos de raça judia contra os cristãos de raça estrangeira. Depois, quando Paulo e Barnabé, que tinham participado neste conselho, voltaram para a Antioquia e se ofereceu para visitar as cidades que tinham evangelizado, Barnabé queria levar seu parente João, conhecido como Marcos. Mas, Paulo opôs-se. A discordância foi tal que Barnabé separou-se de Paulo e partiu com Marcos para a Ilha de Chipre.

Devemos acreditar que essa dissidência não durou muito pois, dez ou doze anos depois, Paulo, que se encontrava cativo em Roma, escreveu, numa carta aos cristãos de Colossos, a quem ele tinha como consolador e ajudante na propagação do reino de Deus o próprio Marcos: “Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o (Col 4, 10)”.

Marcos, em Roma, foi apenas o coadjutor de Paulo? Não! Ele esteve também ao lado do chefe dos apóstolos. Segundo Papias, bispo de Hierápolis nos anos 130, intérprete ou secretário de Pedro, embora não tendo visto nem seguido o Senhor, deixou por escrito o que a memória do chefe dos Apóstolos guardou dos ditos e dos atos do Senhor. Deste trabalho resultou no Evangelho de São Marcos.

Por fim, considera-se que São Marcos fundou, em nome de São Pedro, a Igreja de Alexandria no Egito. Por isto, os bispos desta igreja, como os da Igreja de Antioquia, fundada diretamente por Pedro receberam, desde antes do século IV, o título de patriarcas: dignidade que os colocava nas cerimónias religiosas em Roma, imediatamente depois dos papas, sucessores de São Pedro.

Diz-se que São Marcos foi capturado numa festa idólatra e jogado na prisão. Lá, Nosso Senhor Jesus Cristo ter-lhe-ia aparecido à noite, dizendo-lhe: "A paz esteja contigo, Marcos, meu evangelista". No dia seguinte, Marcos teria sido executado, e o seu corpo enterrado numa vila perto de Alexandria. Existem muitas versões sobre as relíquias de São Marcos, que teriam sido roubadas e levadas para Veneza no ano de 828. Reza a lenda, que os ladrões cobriram os ossos de Marcos com carne de porco para que os muçulmanos não pudessem tocar e inspecionar a carga. Podemos citar também mais duas possíveis localidades para as relíquias de São Marcos, a Igreja de São Marcos em Braga, Portugal, e uma outra que indica estar a cabeça de São Marcos em Alexandria. Na maioria das representações de Veneza, o leão de São Marcos segura um livro onde se lê, o lema da cidade: “A Paz esteja convosco, Marcos, meu evangelista".


A procissão das rogações


Ainda no dia 25 de abril, até à reforma de João XXIII em 1960, os católicos do mundo inteiro comemoravam a procissão, chamada em alguns países de Procissão de São Marcos, mas que na realidade era o dia das Rogações.

Com efeito, a Igreja instituiu no século V, para substituir a procissão pagã “robigalia”, dedicada a Robigo, deus romano que protegia os grãos, a procissão das Rogações que se realizava no dia 25 de Abril para pedir a proteção de Deus para os frutos e as searas. Vale a pena recordar que naquela época, ainda não se comemorava a festa de São Marcos neste dia.

No fim do século VIII, sob o pontificado de São Leão III, Roma também adotou as Rogações, e como já existia uma procissão no dia de São Marcos, esta ficou conhecida como Ladainhas Maiores.

Quanto a esta procissão das Rogações, um liturgista erudito afirma que ela teve como primeiro propósito o de comemorar na Basílica de São Pedro a chegada de São Pedro em Roma. É verdade que já existia uma festa para comemorar esta chegada e se tratava da Cátedra de Pedro, celebrada hoje no dia 22 de fevereiro, mas que na sua origem era comemorada no dia 18 de janeiro. Mas como São Pedro entrou em Roma duas vezes para se estabelecer, uma primeira, ao que parece, após a sua libertação do Prisão de Jerusalém e, uma segunda, após o concílio que presidiu na mesma cidade, não seria surpreendente haver duas comemorações distintas. Segundo este mesmo liturgista, o que era apenas uma comemoração local teria sido transformado por uma decisão do Papa São Gregório Magno numa súplica geral destinada a obter de Deus, por intercessão da Virgem e dos Santos, a cessação das pragas, das guerras, fomes, pestes, que devastaram a cristandade, e a abundante frutificação dos bens da terra.

Recordemos este duplo objetivo atribuído por São Gregório à procissão das Rogações, celebrada no dia 25 de abril. Em todos os momentos, é apropriado orarmos pela abundância de bens terrenos. Mas, neste momento, que necessidade temos de pedir a Deus o fim da pandemia, com consequências mais desastrosas do que as pragas do passado.  Infelizmente, quase mais nenhum católico conhece esta procissão do passado, que fez com que a peste cessasse em Roma...

sexta-feira, 23 de abril de 2021

23 de abril: São Jorge, padroeiro dos que combatem em defesa da fé


São Jorge nasceu na Capadócia, hoje Turquia, de parentes ricos e nobres, que tiveram o cuidado de instruí-lo, desde a infância, na Religião Cristã. Mal atingira a adolescência, entrou no exército e foi para guerra. Como era forte e muito habilidoso, chegou rapidamente a oficial nos exércitos do imperador romano.

Diocleciano reparou nas suas qualidades e, não sabendo se tratar de um cristão, começou a confiar-lhe missões cada vez mais importantes.

Tendo o imperador decidido perseguir os cristãos e abolir completamente a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, convocou um Conselho e expôs-lhes a sua intenção.

Todos aprovaram e aplaudiram, menos Jorge, que se se levantou e opôs-se fortemente à medida injusta e contrária ao serviço do verdadeiro Deus, que amava de todo o coração e estava disposto a oferecer a sua vida para a Sua glória.

O imperador e toda a assistência reconheceram, rapidamente, pelas palavras do bravo oficial, que era cristão. Muitos tentaram dissuadi-lo, recordando a bondade que o imperador tinha tido para com ele e os benefícios que ainda poderia esperar, caso mudasse de opinião, bem como os males e a desgraça que cairia sobre ele, caso recusasse.

Contudo, Jorge mostrou-se inabalável. Na sua ira, o imperador mandou colocá-lo na prisão. Amarraram-no com correntes, deitaram-no no chão e prenderam-no junto a uma enorme pedra.

Diocleciano mandou preparar uma roda, ao lado da qual mandou prender pontas de aço, para que a sua carne pudesse ser cortada em muitos pedaços. Depois deste tormento, São Jorge teve a sua cabeça cortada, no dia 23 de abril de 303, segundo alguns historiadores.

A antiguidade do culto e a devoção com que os cristãos do Oriente e do Ocidente manifestam a este santo, foi demonstrada por historiadores e autoridades inquestionáveis a ponto de São Jorge ter sido o padroeiro da Inglaterra até ao século XIX.

O que terá acontecido para, em 1893, o Papa Leão XIII tê-lo substituído por São Pedro, como o padroeiro da Inglaterra, apesar da Cruz de São Jorge ainda aparecer na bandeira do Reino Unido?

O que terá levado o Papa Paulo VI a rebaixá-lo em 1963 e São João Paulo II a restaurar o seu culto, inserindo o seu nome novamente na lista de Santos das liturgias da Horas?

Porque não temos um relato mais detalhado da vida e do martírio de São Jorge?

Segundo um autor anónimo do século XVIII, o motivo encontra-se em escritos que alguns inimigos da Igreja escreveram nos primórdios do cristianismo para obscurecer o esplendor dos santos e a glória da Igreja Católica. Neles, eram misturados fábulas e eventos tão maravilhosos, que aqueles que os liam achavam-nos tão incríveis, que davam a ideia de terem sido histórias inventadas, descredibilizando a hagiografia católica.

Por isso, segundo este autor, já no sexto Sínodo da Igreja foi ordenada a queima de muitos escritos com a vida de santos, proibição da sua leitura e cópia dos mesmos.

Contudo, no Decretum Gelasianum, que ratificou os livros canônicos e apócrifos aprovados pela Igreja, Santo Gelásio I faz menção da história da vida e do martírio escrito por hereges. Talvez por esta razão, no breviário romano reformado por Pio V, não haja leituras particulares para a celebração de São Jorge.

Apesar de tudo, a devoção a São Jorge que, com a sua lança, ou espada, matou o dragão, ainda é muito popular.

De acordo com a lenda, São Jorge encontrava-se com a sua legião romana numa região próxima a Salone, Líbia, no norte da África. Ali, vivia um enorme dragão alado, que envenenava todo aquele que, simplesmente, passasse perto do seu esconderijo. Tal era o terror dos habitantes da região, que passaram a oferecer-lhe animais e até crianças.

Quando chegou a vez de Sabra, a filha do Rei, de apenas 14 anos, São Jorge pediu ao Rei que prometesse converter-se à religião católica, caso derrotasse o dragão e trouxesse a sua filha de volta.

O rei acedeu e São Jorge, montado no seu cavalo branco, depois de muita luta e oração, acertou com a sua poderosa espada a cabeça e uma das asas do dragão, que caiu sem vida. O Santo amarrou a fera, arrastou-a até à cidade, entregou Sabra a seu pai e diante da população cortou a cabeça do monstro. Diante de tal prodígio, toda a população pediu o batismo e reconheceu Nosso Senhor Jesus Cristo, como o único e verdadeiro Deus!

O dragão desta lenda simboliza a idolatria, que mata inocentes e causa destruição e é destruída pela espada da Fé. A jovem que São Jorge salvou representaria a região na qual combateu as heresias e instalou a Fé cristã.

Juntamente com São Miguel Arcanjo, São Jorge é um dos padroeiros dos soldados e de todos os que combatem por Nosso Senhor Jesus Cristo. A Santa Igreja venera-o como um dos seus particulares defensores contra os inimigos da Fé.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Dona Lucília: Serenidade, gravidade e bondade

 

“O misto de seriedade, de gravidade, de bondade e até de meiguice que se exprimem na fisionomia de Dona Lucília são qualidades que existem nela de um modo tão excelente, e que se combinam para formar um todo tão agradável de ver no seu conjunto, que se fica com a vontade de olhar indefinidamente” (...).

“Vê-se, nesta fotografia, que Dona Lucília era uma senhora que tinha atingido uma idade extrema. Ela estava com noventa e dois anos nessa ocasião, idade em que falecem os que morrem tarde. Foi uma pessoa que não exerceu nenhuma profissão. Entretanto percebe-se que ela carrega consigo um grande cansaço. Cansaço do quê? Em parte, é o que nós poderíamos chamar o cansaço do equilíbrio.

“Cansa estar procurando o equilíbrio em tudo, e cumprindo a justiça em tudo. Levar uma vida inteiramente dentro dos Mandamentos é preparar-se para o Céu, mas ainda não é o Céu. Pelo contrário, é o sofrer na Terra para chegar até lá.

“Vemos aí o extremo cansaço de inúmeras dores, de incontáveis deveres cumpridos, de situações difíceis enfrentadas e vencidas sem a menor pretensão. Ninguém, olhando para ela, diria o seguinte: “Essa senhora se considera um colosso.” Nada, nem um pouco, nem passa pela cabeça dela isso. Porquê? Equilíbrio! (...).

Consolação encontrada no Sagrado Coração de Jesus

“Dona Lucília foi compreendendo que na época em que ela vivia as relações já não eram movidas senão por interesse, e que o afeto desinteressado fazia parte do tempo expirante do romantismo.

“Com a modernidade tinha entrado a brutalidade, o interesse pessoal, o pouco caso pelos outros que sofrem e o desprezo. Isso marcou uma grande tristeza na vida dela, por compreender que tudo não era senão isolamento, pois todo mundo era assim e ela não teria possibilidade de encontrar quem tivesse para com ela a forma de afeto e de união de alma que ela quereria ter com tantas pessoas.

“Daí, então, uma espécie de problema axiológico: “Como é a vida? Como devo fazer? Como preciso entender as coisas?” Onde entrava uma profunda deceção e um modo muito severo, inteiramente real e exato, de ver os outros. (...) Com o seu bom senso, sua retidão moral, ela radiografou a existência e compreendeu como era.

“Daí uma grande deceção, mas também uma enorme consolação, pois se vê bem tudo quanto nela confluía ao Sagrado Coração de Jesus, que exatamente é “Fonte de toda consolação”, segundo uma das invocações da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus. É verdade que se na vida encontrarmos apenas deceções, encontraremos a Ele, que é a Fonte de toda consolação”.

Plinio Corrêa de Oliveira, Conferências de 12 de janeiro de 1994 e 8 de fevereiro de 1995