Esperamos o aniversário do nascimento de Cristo; e segundo a promessa do Senhor, nós o veremos brevemente. A Escritura exige de nós uma alegria tal que o nosso espírito, elevando-se acima de si próprio, avance rapidamente de qualquer maneira ao encontro do Senhor. Que antes mesmo da sua vinda, o Senhor vem a nós. Que antes mesmo de aparecer ao mundo inteiro ele vem-nos visitar familiarmente, ele que disse: “Eu não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (Jo 14,18). Na verdade há aqui, segundo o mérito e o fervor de cada um, uma vinda do Senhor frequente e familiar que, num certo período intermédio entre a sua primeira e a sua última vinda, nos modela sobre uma e nos prepara para a outra. Se o Senhor vem a nós agora, é para que a sua primeira vinda ao meio de nós não seja inútil e que a última não deva ser a da cólera. Pela sua vinda actual, com efeito, ele trabalha a reformar o nosso orgulho à imagem da sua primeira vinda na humildade, para refazer em seguida o nosso modesto corpo à imagem do corpo glorioso que ele nos mostrará aquando do seu regresso. É por isso que é preciso lembrarmo-nos de todos os nossos votos e pedir com fervor esta vinda familiar que nos dá a graça da primeira vinda e nos promete a glória da última. A primeira foi humilde e escondida, a última será resplandecente e magnífica; aquela de que falamos é escondida, mas é igualmente magnífica. Digo escondida, não porque seja ignorada por aquele no qual ela tem lugar, mas porque ela advém secretamente. Só a sua presença é luz da alma e do espírito: nela se vê o invisível e se conhece o desconhecido. Esta vinda do Senhor põe a alma daquele que o contempla numa doce e feliz admiração. Então, do profundo do homem, brota este grito: “Senhor, quem é semelhante a ti?” (Sl 34,10). Os que fizeram esta experiência sabem-no, e agrada a Deus que os que não a fizeram provem o desejo de a fazer!
Bem aventurado Guerric dIgny (1080-1157), abade cisterciense - 2º Sermão para o Advento
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