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terça-feira, 19 de setembro de 2023

A conversão de dois sacerdotes apóstatas

Folheando uma publicação intitulada “Os Anais dos Advogados de São Pedro”, deparei-me com o testemunho de um sacerdote católico, publicado pela Catholic Review de Nova York, do ano de 1881, que narra como, depois de ter apostatado, foi reconduzido à Igreja, pela Misericórdia de Deus e uma graça especial da Providência, de uma maneira inteiramente inusitada. Eis a narrativa:

Por muitos anos fui sacerdote católico, mas por diversas razões - talvez até por ter entrado no estado clerical sem ter verdadeira vocação - renunciei ao ministério sagrado. Tendo o desejo de me unir a uma mulher em matrimónio, renunciei até à Fé católica e tornei-me protestante. Feita a profissão ao protestantismo fui chamado a oficiar na cidade X. Assim, conheci a filha de um comerciante protestante e o casamento deveria realizar-se depois de seis semanas.

Uma noite, encontrava-me em companhia do pastor protestante e de um jovem estudante de teologia na pérgula do jardim do ministro. Enquanto conversávamos, um jovem entrou apressado e pediu ao pastor que assistisse um moribundo.

-- Não poderia ir no meu lugar, irmão? Pediu-me o pastor. Entristece-me que o primeiro exercício do seu ministério entre nós, seja triste, mas não posso deixar os meus convidados.

Manifestei a minha prontidão e segui o mensageiro que, rapidamente, conduziu-me junto do leito de um homem, cujos dias sobre a terra estavam evidentemente contados.

-- Sou o novo predicador e estou aqui no lugar do pastor, que agora está ocupado, disse ao moribundo, cuja fisionomia estava muito pálida.

Ele balançou tristemente a cabeça e respondeu:

-- Há aqui um equívoco! Eu pedi um sacerdote católico!

-- Mas, o senhor não é membro da igreja evangélica? Perguntei-lhe, surpreso.

-- Sim, sim! Interrompeu-me. Mas eu quero morrer católico.

-- Mas como é isto? Repliquei-lhe. O senhor não acredita no Redentor, que morreu por nós na Cruz? Se acreditar firmemente n’Ele e colocar toda a sua confiança n’Ele, certamente, Ele será para o senhor um juiz misericordioso.

O doente esboçou um sorriso amargo. E respondeu:

-- Só a fé não me basta. Eu quero confessar-me e receber a absolvição. Eu fui um padre católico. Abandonei a minha fé e fiz-me protestante. Eu sei que só a fé não basta, mas parece que o Céu me recusa esta última graça de poder confessar-me com um sacerdote e receber a absolvição.

Deu um grande suspiro e as lágrimas correram-lhe pela pálida face.

Não consigo exprimir o que senti naquele momento. Que encontro! Um padre apóstata num leito e um outro sacerdote caído ao seu lado. O estado do pobre doente era tal que não havia tempo a perder.

- Se era sacerdote católico sabe que em caso de morte todo padre tem plenos poderes. Também eu fui sacerdote, mas, como o senhor, apostatei e tornei-me protestante. Como vê, tenho a faculdade de ouvir a sua confissão e dar-lhe a absolvição.

O pobre homem olhava-me maravilhado e quando ouviu o que acabara de lhe dizer a sua face ganhou cor e vida. Segurou a minha mão e confessou-se com lágrimas de sincero arrependimento. Rezou a penitência que lhe tinha indicado e alguns poucos minutos depois, diante de mim, faleceu.

Não procurarei escrever o que senti naquele momento. Aquele encontro não era um aviso do Céu para mim?

A minha fisionomia tornou-se quase tão pálida, quanto a do cadáver. Fixei os olhos com o olhar imóvel e sobre os lábios que ficaram silenciosos para sempre.

Coloquei as minhas mãos sobre as do morto e prometi a Deus que iria mudar de vida. Pareceu-me vislumbrar o fundo do abismo que estava diante de mim e no qual estava deslizando loucamente.

Tomei a resolução de nem sequer voltar para a casa do pastor. Renunciei à condição de predicador e pedi para a minha noiva esquecer-se de mim. Parto, disse-lhe, agora mesmo para um Mosteiro Trapista, a fim de expiar as minhas culpas com penitências. Que o Céu tenha pena de mim!