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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A ressurreição

Os saduceus consultam Jesus. Os saduceus fazem uma consulta manhosa ao nosso Redentor. Os saduceus negavam a ressurreição, e o seu caso hipotético apresentado vinha ridi­cularizar a crença na mesma: uma viúva sem filhos que, de acordo corn a lei mosaica do levirato (palavra que se relaciona com cunhado), tinha sido sucessivamente mulher de sete irmãos, de que marido será esposa no além?

Os saduceus eram um grupo judeu cujo nome derivava talvez do sumo sacerdote Sadoc nos tempos de David, e formado por aristo­cratas e sacerdotes. Não aceitavam nenhuma lei para além da os cinco livros do Pentateuco, negando todo o valor vinculativo as tradições rabínicas orais e escritas. Tinham complexo de elite e eram ma­terialistas e pragmáticos. Não admitiam a existência dos anjos nem a ressurreição dos mortos, por ser esta última uma crença tardia no ju­daísmo (a partir do sec. II a.C.: livros dos Macabeus e do profeta Da­niel). Menosprezavam a apocalíptica escatológica e eram céticos a respeito da espera messiânica. Politicamente procuravam o poder, por isso colaboravam corn os romanos. Os saduceus estavam totalmente confrontados corn os fariseus, piedosos e fanáticos conservadores.

Na sua resposta aos saduceus Jesus, nega primeiramente a necessidade do matrimónio na outra vida; carece de finalidade, pois os ressuscitados "já não podem morrer, são como anjos; são filhos de Deus, porque participam na ressurreição". Assim afirma a realidade da ressurreição que eles negavam. Para isso apela a passagem bíblica da sarça ardente, em que Javé se revelou a Moisés como "o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob". Se isto é assim, "não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele todos estão vivos" na sua presença.

Embora Jesus afirme rotundamente a ressurreição dos mortos, nos desvenda o modo e as condições da sobrevivência; o seu mistério permanece íntegro. Contudo, algo é seguro: será vida certamente, em­bora distinta da presente, pois não se trata de um prolongamento da mesma mediante a reanimação de um cadáver. Como diz a liturgia num prefácio de defuntos: "A vida dos que em ti cremos, Senhor, não termina: transforma-se".

Cristo libertou-nos da morte. A morte é um dado constante da experiência. A morte biológica, o seu anúncio paulatino nas doenças, a sua presença brutal nos acidentes e a sua manifestação em tudo o que é negação da vida devido a violação da dignidade e direitos da pessoa constitui o mais pungente dos problemas humanos (GS 18).
As ciências do homem, a filosofia e a história das religiões deram e dão respostas mais ou menos convincentes ao enigma da morte. É um final ou um começo? Espera-nos o nada ou outra vida distinta? Somos aniquilados ou transformados? No final do caminho está Deus ou o vazio?
Segundo as respostas, assim são as atitudes vitais: medo visceral, silêncio diante de um tabu; fatalismo, estóico diante de um facto natu­ral e inevitável, hedonismo no topo diante da fugacidade da vida (que amanhã morreremos!), pessimismo, rebeldia, náusea existential diante do maior dos absurdos...,ou a serena esperança de uma crença na imortalidade e na ressurreição.

Jesus Cristo ressuscitado é a única resposta válida ao interrogante da morte do homem. A fé e a esperança cristãs de ressurreição e vida perene vinculam-se e fundamentam-se directamente na ressurreição de Cristo, com quem nos unimos no baptismo. O baptizado, o crente, sente-se radicalmente livre e salvo por Cristo, porque ele liberta-o do pecado e da sua consequência: a morte. Esta libertação não é da morte biológica, pois também Cristo morreu, mas da escravidão opressora da morte, do medo da mesma, do sem sentido e absurdo de uma vida inútil que acabasse no nada.

A luz da ressurreição do Senhor, o crente sabe e vivência, já desde agora, que a morte física, inevitável apesar dos avanços da medicina e da apaixonada aspiração do homem a imortalidade, não é o final do caminho, mas a porta que se nos abre, para a libertação definitiva com Cristo ressuscitado. Graças a ele o homem é um ser para a vida.
"A Palavra de Cada Dia" por B. Caballero

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