Grande paciência a de Deus! […] Ele faz nascer o dia e erguer-se a luz do sol sobre bons e maus (Mt 5, 45). Ele rega a terra com a chuva, e a ninguém exclui dos seus benefícios, concedendo a água indistintamente a justos e a injustos. Vemo-lo agir com igual paciência com culpados e inocentes, fiéis e ímpios, agradecidos e ingratos. Para todos eles, os tempos obedecem às ordens de Deus, os elementos colocam-se ao Seu serviço, sopram os ventos, brota água das fontes, as colheitas crescem em abundância, as uvas amadurecem, as árvores enchem-se de frutos, as florestas cobrem-se de verdes e os prados de flores. […] Embora tenha poder para se vingar, prefere ter paciência por muito tempo, espera e adia com bondade para que, se for possível, a malícia se atenue com o tempo e o homem […] acabe por se voltar para Deus, segundo o que Ele próprio nos diz: “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão, de maneira que ele tenha a vida” (Ez 33, 11). E ainda: “Convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é bom e compassivo, clemente e misericordioso” (Jl 2, 13). […]
Ora, Jesus diz-nos: “Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste” (Mt 5, 48). Por meio destas palavras, mostra-nos que, filhos de Deus e regenerados por um nascimento celeste, alcançamos o cume da perfeição quando a paciência de Deus Pai permanece em nós e a semelhança divina, perdida pelo pecado de Adão, se manifesta e brilha nas nossas acções.
Que glória assemelharmo-nos a Deus, que grande honra possuirmos esta virtude digna dos louvores divinos!
São Cipriano (c. 200-258), bispo de Cartago e mártir - Sobre os benefícios da paciência, 3-5