A Cristo Jesus deves toda a tua vida, pois que Ele deu a sua vida pela tua e suportou amargos tormentos para que tu não suportasses tormentos eternos. Que poderá haver para ti de duro e medonho, se te lembrares que aquele que era de condição divina na luz da sua eternidade, antes do nascer da aurora, no esplendor dos santos, ele mesmo resplendor e imagem da substância de Deus, veio à tua prisão, enterrar-se até ao pescoço, como se diz, no fundo do teu lodo? (Fil 2,6; Sl 109,3; Heb 1,3; Sl 68,3)
O que é que não te parecerá doce, quando tiveres reunido no teu coração todas as tristezas do teu Senhor e te lembrares, primeiro, das condicionantes da sua infância, depois, das fadigas da sua pregação, das tentações dos seus jejuns, das suas vigílias de oração, das suas lágrimas de compaixão, das maquinações que armaram contra ele... e, depois, das injúrias, dos escarros, das bofetadas, das chicotadas, do escárnio, da troça, dos pregos, de tudo o que suportou para nossa salvação?
Que compaixão imerecida, que amor gratuito assim provado, que estima inesperada, que doçura surpreendente, que bondade invencível! O rei da glória (Sl 23) crucificado por um escravo tão desprezível! Quem é que alguma vez ouviu tal, que alguma vez viu algo semelhante? «É que dificilmente alguém morria por um justo» (Rom, 5,7). Mas ele, foi por inimigos e por injustos que morreu, escolhendo deixar o céu para nos conduzir ao céu, ele, o doce amigo, o sábio conselheiro, o apoio firme. Que daria eu ao Senhor por tudo aquilo que me deu? (Sl 115,3)
S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja
Sermões diversos, nº 22
Sermões diversos, nº 22
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