Visualizações de página na última semana

sábado, 2 de novembro de 2013

Finados: lição de profundidade, de força de alma, coragem e grandeza

O túmulo (gisante) de Luís XII e de sua esposa Ana
de Bretanha,  na igreja de Saint Denis (Paris).
Pintura de Emil Pierre Joseph de Cauwer (1867)
O dia de Finados representa para nós muito e até muitíssimo. Porque diretamente é o dia no qual rezamos por todos os fiéis e por todas as almas que morreram e que porventura estejam no Purgatório. Mas é também o dia em que a Igreja – com aquele tato que Lhe é próprio e que é qualquer coisa de absolutamente inconfundível – nos recorda a realidade da morte.
Ela como que abre um precipício debaixo de nossos pés e nos faz ver uma multidão de almas que se encontram em estado de pena, de sofrimento, de um lado. E, de outro, a miséria da morte, a destruição da morte, a aniquilação da morte, a miséria da alma quando ela não vai diretamente para o Céu.
Seria bonito ver na liturgia de Finados – eu não sei se ela sofreu alguma reforma – as frases de Jó, as lamentações que lembram o homem levado até às beiras da loucura e que depois entra pelas fauces da morte adentro, inteiramente isolado, em que os ossos se calcificaram, a carne virou pó, um imenso pranto inunda sua alma separada do corpo, e aquela miséria daquela criatura pecadora posta numa atmosfera de punição, e esperando a misericórdia de Deus e a misericórdia dos vivos. Isso faz muito bem.
De quando em quando nós devemos meditar sobre a morte, para compreendermos o que há de profundamente real naquela advertência que o sacerdote faz na Quarta-feira de Cinzas: "Lembra-te, homem, de que és pó e que pó voltarás a ser". Nós não somos outra coisa a não ser pó e voltaremos a ser pó.
E isso nos faz dar uma dimensão exata a todas as coisas dessa vida. Nós todos aqui, nessa sala, nesse momento, podemos estar movidos por desejos tão vários. Mas o que são esses desejos, quando a gente calcula o que a gente é? É uma coisa tremenda!
"Quando eu passo pelo cemitério, eu vejo ali o meu destino" 
Outro dia estive lendo uma notícia em um volumoso periódico a respeito de morte súbita, e o Dr. “X” me disse que a coisa é assim mesmo como narrava essa matéria jornalística. Eu tinha sempre a idéia de que a gente antes de morrer precisava adoecer, ao menos de morte natural, não digo com um acidente qualquer, por exemplo, um caminhão que nos colhe. E que, portanto, enquanto a gente se sente bem, teria uma relativa segurança de que não vai morrer. Mas não é verdade. Pode-se estar passando perfeitamente bem, de repente forma-se no calcanhar ou na ponta do dedo, por exemplo, um coágulo determinado por razões que não se sabe quais são, e lá vai uma embolia... que se dirige ao cérebro e determina um efeito "X", cujo fruto mais palpável é a morte. E isso pode dar-se com qualquer um de nós, a qualquer momento.
No momento em que eu estou falando aos Srs., é possível que esteja um coágulo a um centésimo de segundo do meu cérebro e que eu não acabe de pronunciar essa frase e caia morto.
Os Srs. até diriam muito erradamente, que eu estava prevendo minha morte quando eu falei, mas não é verdade. Eu estou prevendo senão a possibilidade de minha morte. E pode ser, entretanto, que eu não termine a frase.
Se eu sou algo de tão inconsistente, se um coágulo partido de meu calcanhar liquida com todos os meus desejos, todas as minha aspirações, todos os movimentos que eu tenha em relação às coisas dessa vida, se sou uma coisa tão, tão débil que, em ultima análise, eu sei que morrerei, quando eu passo pelo cemitério, eu vejo ali o meu destino que está fixado: é virar pó, ser corroído pelos vermes! É uma coisa horrorosa o modo pelo qual se dá a corrosão dos vermes. Dr. “Y”, uma ocasião, me deu umas informações a respeito de como isso se passava, descrita nas aulas de medicina legal que teve: é uma coisa tremenda. Porque primeiro o corpo começa a tomar, muito frequentemente, um estado de sebo, de manteiga ou de gelatina e depois apodrece...
Olhem-se no espelho, pensem nos seus traços definidos e pensem quando tudo aquilo tiver um caráter repugnante e gelatinoso, virando a queijo mau cheiroso; quando o nariz, quando isso, quando aquilo tudo estiver horroroso...
A meditação sobre a morte é benfazeja para criar desapegos, humilhar orgulhos e fazer compreender que podemos cair de um momento para o outro no julgamento de Deus
E vem a figura de vermes que devoram aqueles ossos... Assim como, por exemplo, na Revolução Francesa os terroristas devoraram os girondinos, que afinal, eram menos indecentes do que eles.
Os girondinos devoraram a velha monarquia francesa, já em estado de queijo, de sebo e de liquidação. Assim é a marcha inexorável das coisas...
Isso (decomposto e tragado pela morte) vou ser eu! É essa carne aqui, esses ossos cujo impacto eu estou sentindo vão ficar reduzidos a esqueleto; eu vou ficar esticado numa sepultura e não vou ser mais nada. Muita gente passará perto e dirá: "Que alívio!..." Um ou outro passará perto e dirá: "Coitado!" Algum se lembrará de rezar por mim. Eu peço que rezem bem... E isso é o desfecho de minha vida. Em certo momento estarei reduzido a ossos que causam horror a todo o mundo.
Eu pergunto: não é boa essa meditação para refrigerar muitos ardores, para criar muitos desapegos, para humilhar muito orgulho e para fazer compreender que nós podemos cair de um momento para o outro no julgamento de Deus vivo? Mas de um momento para o outro! Porque quem de nós sabe se vai chegar em casa hoje? Quem de nós sabe se daqui a uma hora não estará sendo julgado por Deus? E que não estará sendo queimado pelas chamas do Purgatório?
Ora, sem essas incertezas a vida não tem grandeza nenhuma. Nada é belo, nada na vida é atraente, a não ser com um pano mortuário no fundo. Porque é só pelo contraste que o homem conhece as coisas dessa vida. E é só pelo contraste com essa miséria fundamental é que a gente compreende como tudo quanto nós queremos aqui é pouco, e a grandeza de um outro destino que nos espera.
A “civilização” moderna tem pavor do luto 
E por isso também que os liturgicistas querem acabar com tudo quanto na liturgia representa a morte. Eu já vi um deles advogar paramentos brancos para essa ocasião dizendo: "É um dia de alegria! O sujeito vai para o Céu. Toda a família deve estar satisfeita!..."
Eu não quis dizer a ele, mas a vontade que tive foi de lhe dizer: "Seu cândido, eu conheço bem seu carnaval. O que você quer é não olhar o pano preto, porque você tem medo que o pano preto caminhe junto a você e te envolva como um sudário. Você tem medo de pensar na noite escura para onde todos nós vamos. Mas você, na realidade, está com medo, porque sua consciência está intranquila. Aqui é que está a verdade e é por isso que você não quer o preto."
Então, como a civilização moderna tem pavor do luto...
Eu conheci o tempo em que umas viúvas retardatárias – não sei no Chile ou no Uruguai como era o luto – que usavam um luto que era todo de preto, de alto a baixo, um véu preto atrás, outro véu preto na frente, naturalmente transparente, diáfano, para a viúva poder ver por onde caminhava. E quando elas iam fazer visita para agradecer os pêsames, iam com tudo aquilo e levantavam o véu para conversar. Depois, abaixavam-no. Depois ia para outra visita...
Havia também o que se chamava “luto aliviado”, ou seja o luto diminuído em função do grau de parentesco com a pessoa falecida e do tempo transcorrido de sua morte: se esposo, pai, mãe, etc. Era, então, de branco e preto. E, finalmente, ao cabo de um ano ou dois anos se suprimia completamente o luto.
A Revolução tem pavor da morte – Nós devemos encará-la com serenidade, com grandeza, inclusive no que ela tem de aflitivo e de tremendo 
Quanta gente diz: "Ah, isso é formalidade pura, eu não gosto disso!" Não é verdade. Você tem medo da morte e tem um tal pânico que tem medo até da cor preta. E tem medo de se sepultar naqueles lutos. No fundo, você tem medo de morrer. E é por causa disso que você não quer o luto.
É o pavor da morte que tem a Revolução. E é claro. Ela tem todas as razões de ter medo da morte...
Nós devemos encarar a morte com serenidade, com grandeza, inclusive no que ela tem de aflitivo, de tremendo.
Há uma miséria grandiosa na morte, onde a gente poderia dizer o seguinte: o ser inteligente, capaz de morrer, capaz de passar tão grande catástrofe, tem uma tal capacidade de grandeza que certamente uma outra vida e um outro destino o espera. E nisso então compreender bem toda a nossa grandeza.
Eu digo mais: para minha caríssima geração nova – já não digo da minha geração que já está rifada – não é só a consideração da morte que faz bem: a visão da dor também é benfazeja. Às vezes tenho vontade de fazer papel de turista, levando alguns dos Srs. para um hospital do câncer, para uma Santa Casa, para hospitais onde tem, como aqui na Santa Casa, gente que sofre de úlcera exposta assim na mão, no rosto, num membro, para nós compreendermos qual é o papel da dor na vida, o que é o papel do sofrimento na vida. E compreendermos que não se pode levar uma vidinha de boneca de louça, ignorando essas coisas e não tendo coragem de as ver de frente.
"Nem Luís XIV em todo o seu esplendor teve a majestade de Jó no seu monturo" 
Eu já tive vontade também, mas acho a coisa aventurosa, de um dia fazer comentários de alguns trechos do livro de Jó, o qual tem umas descrições as mais faustosas da dor. Eu nunca vi tanta majestade na dor e nunca vi tanta majestade fora da dor, como no livro de Jó.
Se é verdade que Nosso Senhor disse que Salomão, em toda a sua glória, não se vestiu como um lírio do campo – sentença admirável e inteiramente verdadeira! – eu acho que se pode dizer que Luís XIV em todo o seu esplendor não teve a majestade de Jó no seu monturo!
 
      
Representação de Jó
 
As lamentações de Jó são das coisas mais majestosas que tenha havido na terra. E aí a gente compreende a majestade da tragédia, a majestade da tragédia grossa, que chega aos últimos limites, a grandeza que o homem tem conservando a serenidade sapiencialmente diante dessa tragédia.
Sei que as lamentações de Jó são de um gênero de literatura muito singular e muito pouco apreciado. Mas foi inspirado pelo Espírito Santo. É um excelente Autor, eu garanto aos Srs...
Rezar pelas almas do Purgatório pelas quais ninguém inclui em suas preces 
Tudo isso a propósito do dia dos mortos. É a lição que os mortos nos dão e que a morte nos dá. É uma lição de profundidade, uma lição de força de alma, uma lição de coragem, uma lição de grandeza, que é incomparável.
Antigamente havia reportagens sobre a morte até em jornalecos ordinários, em que o cronista, quando descrevia alguém que morreu, para dizer que tinha falecido, dizia: "Por fim,  expirou e a majestade da morte revestiu os seus traços". Era uma ideia muito bonita.
Há uma majestade da morte e, sobretudo, de certos mortos que tomam uma majestade que é a própria imagem da majestade de Deus puniente, de Deus enquanto castiga, é a majestade do trovão, a majestade do relâmpago, a majestade do terremoto, é a majestade dos cataclismos; é algo que é preciso conhecer e amar. Porque quem não conhece isso, não ama isso, e não é capaz de ver Deus inteiro: na sua afabilidade sem fim, na sua meiguice sem fim e na grandeza de sua justiça também sem fim.
Todas essas são meditações úteis para se fazer a respeito do dia de finados.
Vamos rezar para os mortos numa proposta a eles, que eu faço assim: que as orações dessa noite sejam – desde que Nossa Senhora, que é detentora de todo o valor de nossas orações nisso consinta – sejam para as almas do purgatório que mais estejam abandonadas e para as quais ninguém reza; almas talvez que tenham mil anos para cumprir ainda, no fogo, etc., e ninguém reza por elas. Mas com uma condição: que elas nos obtenham a compreensão, o amor e o entusiasmo por toda as sombras com que a morte enriquece a estética do Universo e os panoramas verdadeiros da vida humana (Plinio Correa de Oliveira).
 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

I COSIDDETTI “PROGRESSISTI” VOGLIONO ABOLIRE “PADRE” E “MADRE”. TRE PASSI NEL RIDICOLO (E VERSO IL BARATRO)


 
Quasi cent’anni fa il grande Gilbert K. Chesterton prevedeva che la deriva della moderna mentalità nichilista sarebbe stata – di lì a poco – il ridicolo. Cioè la guerra contro la realtà.

Intendeva dire che ciò che fino ad allora era stata un’affermazione di buon senso e di razionalità – per esempio che tutti nasciamo da un uomo e da una donna – in futuro sarebbe diventata una tesi da bigotti, un dogmatismo da condannare e sanzionare. Sosteneva che ci dovevamo preparare alla grande battaglia in difesa del buon senso.

Chesterton infatti scriveva:

“La grande marcia della distruzione culturale proseguirà. Tutto verrà negato. Tutto diventerà un credo… Accenderemo fuochi per testimoniare che due più due fa quattro. Sguaineremo spade per dimostrare che le foglie sono verdi in estate. Non ci resterà quindi che difendere non solo le incredibili virtù e saggezze della vita umana, ma qualcosa di ancora più incredibile: questo immenso, impossibile universo che ci guarda dritto negli occhi. Combatteremo per i prodigi visibili come se fossero invisibili. Guarderemo l’erba e i cieli impossibili con uno strano coraggio. Saremo tra coloro che hanno visto eppure hanno creduto”.

 SPREZZO DEL RIDICOLO

 Viene da ricordarlo con una certa tristezza in questi giorni nei quali – seguendo la bislacca trovata del governo francese – anche in Italia sta cominciando a dilagare l’idea di sostituire, nella modulistica della burocrazia scolastica, le categorie “padre” e “madre” con la formula “genitore 1” e “genitore 2”.

Tutto questo perché – secondo l’ideologia “politically correct” – si deve “desessualizzare la genitorialità”. Cioè perché la dizione “padre” e “madre” potrebbe essere sentita come discriminatoria da qualcuno.

Resistendo allo sconcerto e al ridere vorrei provare a ragionare pacatamente con chi si fa alfiere di questo tipo di trovate. Anzitutto va sottolineato che “i fatti hanno la testa dura” e – con buona pace di certi opinionisti – tutti sulla terra siamo stati generati da un uomo e da una donna. In qualunque modo sia avvenuto il concepimento.

Quindi la realtà contraddice le opinioni e soprattutto mostra che nessuno può sentirsi “discriminato” da quella formulazione perché tutti, proprio tutti, siamo stati generati da un padre e da una madre e dunque siamo loro figli.

Ma oggi purtroppo la mentalità dominante afferma che se i fatti contraddicono le opinioni, tanto peggio per i fatti. Così, non potendo “abolire” la natura per legge, si decide di abolire le parole che “dicono” la natura delle cose (domani si potrà decretare per legge che due più due fa sette e che si deve chiamare notte il giorno e giorno la notte).

 DISCRIMINAZIONE PEGGIORE

 Torniamo al genitore 1 e al genitore 2. Il fatto è che con questa formula i “politicamente corretti” finiscono pure per creare discriminazioni peggiori.

Anzitutto discriminano la stragrande maggioranza delle persone che continuano a sentirsi padri e madri – e non genitore 1 e genitore 2 – e continuano farsi chiamare dai figli “papà” e “mamma” (finché non verrà proibito).

In secondo luogo con la nuova formulazione si discrimina il “genitore 2” che inevitabilmente diventerà secondario.

Infatti per ovviare a questo problema al Comune di Bologna pare abbiano pensato di adottare un’altra dizione: “genitore” e “altro genitore”.

Vorrei sommessamente notare che è egualmente discriminatoria verso uno dei genitori. E che entrambe poi sono formule fortemente sessiste, perché sia la “soluzione” veneziana che quella bolognese, usano il termine genitore al maschile, mentre la madre – se vogliamo usare un linguaggio non discriminatorio – è casomai “genitrice”.

Ma, a quanto pare, in questo caso la discriminazione contro le donne viene ignorata e tenuta in non cale. Alla fine della fiera è evidente che i soli termini che non discriminano nessuno sarebbero “padre” e “madre”.

Ma ormai l’ideologia dominante ha dichiarato guerra a padri e madri, alla famiglia naturale, alla realtà. E quindi dovremo subire la loro progressiva cancellazione linguistica.

Non solo. L’epurazione del linguaggio andrà avanti (per esempio la parola “matrimonio”, che rimanda evidentemente alla mater, quindi alla generazione) e si dovrà estendere alla letteratura.

 DESESSUALIZZARE TUTTO

 Si dovrà censurare quasi tutto, dall’Odissea, dove Telemaco ha la sfrontatezza di aspettare il padre anziché il genitore 1, all’Amleto dove il protagonista vive anch’esso il dramma della morte del padre.

Dalla Bibbia, dove la paternità di Abramo dà inizio all’Alleanza e dove Gesù insegna a pregare col “Padre nostro”, indicando in Maria la Madre, fino alla psicoanalisi.

Anche la psicoanalisi dovrà cadere sotto i colpi del politically correct.

Sigmund Freud nella “Prefazione alla seconda edizione” di “L’interpretazione dei sogni” scrive testualmente: “Questo libro ha infatti per me anche un altro significato soggettivo, che mi è riuscito chiaro solo dopo averlo portato a termine. Esso mi è apparso come un brano della mia autobiografia, come la mia reazione alla morte di mio padre, dunque all’avvenimento più importante, alla perdita più straziante nella vita di un uomo”.

Come ha notato Hermann Lang “se Freud è da considerare il padre della psicanalisi” da questa citazione “risulterebbe che questa psicanalisi la deve essenzialmente alla relazione con il padre”.

La psicoanalisi infatti ci spiega che il “padre” e la “madre” non sono soltanto l’ineludibile realtà umana da cui tutti siamo nati e nasciamo, coloro che hanno generato il nostro corpo biologico: essa ci svela che le loro diverse figure permeano pure la nostra psiche, fondano, in modo complementare, la nostra identità profonda e la nostra relazione con tutte le cose. Abolire il padre e la madre dunque rischia di portare all’abolizione (psicologica) dei figli.

Ricordo solo un pensiero di Freud: “Non saprei indicare un bisogno infantile di intensità pari al bisogno che i bambini hanno di essere protetti dal padre” (da “Il disagio della civiltà”, in Opere, X, Boringhieri, Torino 1978, p. 565).

Qua, come pure dove parla della madre, come si può “correggere” Freud? Non si può sostituire padre e madre con genitore 1 o genitore 2. Perché non sono intercambiabili. Padre e madre sono complementari. E ineliminabili.

Ma tutto questo sembra non importare a questo o quell’assessore o politico o ministro o opinionista. Pare che nemmeno ci si accorga dell’enormità e della delicatezza di ciò che si va a spazzar via. Cosa volete che sia la cancellazione di una civiltà millenaria e della stessa natura umana. Basta una delibera del sindaco.

 Antonio Socci (Da “Libero”, 19 settembre 2013)
 
 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Vinho: sabor do Divino


O vinho exprime a excelência da criação, dá-nos a festa em que ultrapassamos os limites da quotidianidade: o vinho "alegra o coração", diz o Salmo. Assim o vinho, e com ele a videira, tornaram-se imagem também do dom do amor, em que podemos fazer alguma experiência do sabor do Divino (Bento XVI, homilia, 2 de outubro de 2005).

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Nossa Senhora de Cárquere e Virgem do Leite


Não obstante ter sido o monarca português de maior longevidade (morreu aos 76 anos), Afonso Henriques não teve, segundo a tradição, um prometedor começo de vida. Com efeito o príncipe veio ao mundo com um grande defeito nas pernas, aparentemente incurável ou, nas palavras de Duarte Galvão na sua "Crónica de D. Afonso Henriques", a criança nasceu "com tal aleijão (...) tolhido de maneira que todos julgavam que nunca mais se curaria, nem seria homem".

Por insistência de Egas Moniz, a educação da "criatura" foi-lhe entregue, cumprindo-se, assim, a promessa do Conde D. Henrique de lhe confiar como pupilo o seu primeiro filho varão.

Ainda segundo a lenda, Egas Moniz terá procurado por todos os meios a cura da criança. Mas só quando o pequeno Afonso tinha quatro anos as suas canseiras teriam fim: uma visão da Virgem, durante o sono, indicou-lhe que encontraria a cura numa sua imagem existente nas ruínas de uma velha igreja abandonada nas margens altas do Douro. As buscas que então inicia cedo dariam resultado já que, pouco tempo depois, encontra tal imagem e tal local em Cárquere. Cumprindo as indicações que lhe haviam sido transmitidas no sono, Egas Moniz colocou o príncipe no altar e aí faz uma noite de vigília. Na manhã seguinte o jovem Afonso estava curado.

É na sequência deste famoso milagre de Cárquere que, alguns anos depois, Egas Moniz, segundo uns, ou o Conde D. Henrique ou mesmo o próprio Afonso Henriques, segundo outros, manda construir a igreja e o mosteiro cuja fundação parece, de facto, relacionar-se com a construção do templo. Sabe-se que aí se estabeleceram cónegos regrantes de Sto. Agostinho e, em meados do século XVI, Jesuítas. Com a expulsão destes pelo Marquês de Pombal, o Mosteiro foi abandonado a partir de 1775, dele restando hoje apenas ruínas.

Quanto à igreja, nela são evidentes diferentes estilos e épocas de construção. Se a torre ameada é tipicamente românica, datando dos finais do século XII, já a capela-mor, gótica, é mais tardia cerca de um século. Por seu lado o corpo da igreja, tal como o observamos na actualidade, de estilo manuelino, datará dos princípios do século XVI. Curiosamente, a parte mais antiga de todo o conjunto monumental situa-se no exterior, ao lado da sacristia. Referimo-nos à Capela Funerária dos Condes de Resende, datada do século XII onde, entre outros, salientamos a janela românica e os quatro sarcófagos, cujas tampas apresentam o brasão dos Resende.

Voltemos ao interior. Duas imagens devem despertar a atenção do visitante. A minúscula representação em marfim de Nossa Senhora de Cárquere, de apenas 29 mm de altura e de atribuição cronológica muito discutível, mas que segundo a tradição foi a que Egas Moniz encontrou entre as ruínas da igreja preexistente; e uma imagem da Senhora-a-Branca, datada do século XIV e feita em pedra de Ançã. Esta última está na base de uma tradição que durante séculos aqui fez acorrer imensas mulheres que, para evitar que lhes secasse o leite com que amamentavam os filhos, raspavam da pedra da imagem pó para posteriormente misturar na água que bebiam.

Ainda no interior da igreja, junto das escadas que dão acesso ao coro, o visitante pode contemplar numa parede a pele do enorme sardão que, segundo a lenda, surgiu a uma mulher que se dirigia ao mosteiro com um cesto de novelos à cabeça. Face à evidência do bicho a querer comer e ao filho que a acompanhava, implorou o auxílio de Nossa Senhora de Cárquere que, de imediato, lhe terá aparecido e indicado que atirasse os novelos ao lagarto, ficando, no entanto, com todas as pontas dos fios nas mãos. Ora, depois de o animal os ter engolido, a mulher puxou todos os fios em simultâneo provocando a morte do sardão por "engasgamento".

Uma visão mais atenta do visitante revelará, no entanto, que não estamos perante a pele de um gigantesco sardão, mas antes de um pequeno jacaré ou crocodilo, possivelmente oferta de algum devoto de Nossa Senhora de Cárquere que a ela terá recorrido numa situação de aflição em terras distantes e provavelmente enfrentando o referido animal.
 
Suzana Faro e Joel Cleto
 

 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O inferno existe


"O facto não deixa nenhuma dúvida, pois  foi até incluído no processo de canonização de São Francisco Jerónimo, e atestado sob juramento por muitas testemunhas oculares.
No ano de 1707, o jovem sacerdote Jesuíta, São Francisco de Jerónimo pregava, como de costume, nos subúrbios de Nápoles e não hesitava em falar sobre o inferno e os terríveis castigos reservados aos pecadores obstinados.
Uma mulher insolente, chamada Catarina, que morava na redondeza, aborrecida com aqueles sermões que lhe traziam amargos remorsos, procurou interrompê-lo com gestos e gritos, desde a janela de sua casa. Uma vez, o santo voltou-se e disse-lhe: 'Ai de ti, filha, se resistes à graça! Não passarão oito dias, sem que Deus te castigue.'
A mulher não se perturbou com a ameaça e continuou com as suas más intenções. Passaram-se oito dias, e o santo foi pregar de novo perto daquela casa, mas desta vez as janelas estavam fechadas e ninguém o importunava. Os vizinhos que o ouviam, consternados, contaram-lhe que Catarina tinha morrido de improviso, pouco antes. 'Morreu? Disse o servo de Deus; pois bem, agora pergunto-vos: de que valeu zombar do inferno? Vamos perguntar-lhe.' Os ouvintes sentiram que o santo pronunciara aquelas palavras por inspiração divina, e por isso todos esperaram um milagre.
Acompanhado pela multidão, subiu à sala da casa, convertida em câmara ardente, e após breve oração, descobriu o rosto da morta e disse: 'Catarina, fala! Diz-nos onde estás!' A esta ordem, a defunta ergueu a cabeça, o seu rosto voltou a ganhar cor, abriu os olhos e, em atitude de tremendo desespero, proferiu, com voz lúgubre estas palavras: 'No inferno! Eu estou no inferno!'
Logo em seguida, voltou ao estado de frio cadáver. 'Eu estava presente e assisti ao facto, afirma uma das testemunhas que depuseram no tribunal eclesiástico, mas não saberia explicar a impressão que causou em mim e nos circunstantes; ainda hoje, passando perto daquela casa e olhando a tal janela, fico muito impressionado. Quando vejo aquela funesta moradia, parece-me ouvir a lúgubre voz: No inferno! Eu estou no inferno.' "
(BELTRAMI, Padre André. O inferno existe – Provas e exemplos. Artpress, São Paulo: 2007, p. 37-38)

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ser mãe

Mãe é a pessoa mais importante da terra.

Ela não pode reivindicar para si a honra de ter construído, por exemplo, uma Catedral como a de Notre Dame. E ela não precisa. Ela construiu algo mais grandioso do que qualquer catedral - a morada para uma alma imortal, a perfeição do corpo minúsculo do seu filho. Os anjos não foram abençoados com tal graça. Eles não podem compartilhar do milagre criativo de Deus para gerar novos santos para o Céu. uma mãe humana pode.
 
As mães estão mais perto de Deus Criador do que qualquer outra criatura; Deus une forças com as mães para realizar esse ato da criação.
 
O que na boa terra de Deus é mais glorioso do que isso, ser mãe?
 
Cardeal Mindszenty

domingo, 30 de junho de 2013

A Russia espalhará os seus erros pelo mundo inteiro


Quando Nossa Senhora de Fátima apareceu aos três pastorinhos, a 13 de julho de 1917, e disse-lhes que a “a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo inteiro”, não se podia compreender o significado destas palavras proféticas.

Com mais de 90 anos de recuo histórico,  o que vemos? O que a história tem para nos contar, ou mostrar?

O comunismo tolheu direitos sagrados e inalienáveis

Como reação natural contra os abusos espoliadores do liberalismo económico, surgiu no século XIX uma corrente económica-politico-social, que teve em Karl Marx o seu cérebro e a sua estrutura.

O marxismo propos-se libertar o operário de uma exploração capitalista iníqua, mas não fez mais que enredá-lo numa escravidão mais aviltante e mais baixa do que a vivida nos tempos anteriores ao advento da era cristã. Com efeito, esqueceu a dignidade humana e cristã da pessoa humana, redimida por Cristo e por Ele exaltada ao pedestal de filha de Deus, e despojou-a de direitos sagrados e inalienáveis, tais como : o direito à liberdade, o direito a constituir família, o direito à propriedade...

Acima de todas estas negações, de si já graves e comprometedoras, pretendiam os sistemas socialistas arrancar do coração do homem a sua dimensão mais nobre, ou seja, a noção de um destino humano superior ao destino terrestre. Insurgiram-se assim, contra uma constante ininterrupta da história multimilenária da Humanidade, condensada na definição de Mark Twain: “O homem é um aninal religioso” (Mark Twain, cartas da Terra).

 Luta ideológica: ciência contra a religião

Os marxistas tentaram mostrar o fundamento terreno da religião e o seu caráter historicamente acidental, sempre dependente das variadas formas de consciência social dos homens e determinada pelas condições concretas da sua existência vivida em comum.

Engels escreveu que “toda a religião não é mais que um reflexo fantástico na mente humana daquelas forças que dominam a vida diária, reflexo em que as forças terrenas assumem a forma de forças sobrenaturais” (Anti-During, N. I. p. 353 apud Charles J. Mc Fadden, tradução A. Alves de Campos, Filosofia do Comunismo, União Gráfica, Lisboa, 1961, p. 145).

Por outro lado, Marx afirma: “a religião não vive no Céu, mas na Terra. Morrerá por si mesma, logo que seja destruída a realidade perversa de que ela é a teoria” (L’athéisme militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº 115, p. 13), referindo-se à estrutra social exploradora imperante, que era o capitalismo.

Bukharin, intelectual e político bolchevique, defende que a “religião foi no passado, como ainda hoje o é, um dos mais poderosos meios de que dispõem os opressores, para manter a desigualdade, o despotismo e a obediência servil dos trabalhadores” (O ABC do comunismo, Londres, 1922, p. 247, apud Charles J. Mc. Fadden, op. Cit. P. 149). E Lenine conclui que “o proletariado tem que empreender uma luta aberta para abolir a escravidão económica que é a fonte real do engano religioso da humanidade” (Lenine, Religião, 1935, ibid. P. 152).

No programa do Partido Comunista da URSS foi inscrito: “a realização da planificação e da tomada de consciência, em toda a atividade social e económica das classes, trará consigo a total destruição de preconceitos religiosos” (L’atheisme militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº 115, Paris, p. 14).

Leonid Ilitchev, presidente da Comissão ideológica do Comité Central do Partido Comunista, proclamou-se fiel à nova tática, inaugurada em 1945 e estilizada no slogan : “ciência contra a religão”. São dele estas palavras: “o nosso dever consiste em combater ativamente a ideologia religiosa, criando em todos os sovietes uma concepção científica do mundo, uma ideologia científica, uma maneira científica de agir e de pensar” (Le rapport Ilitchev, Informations Catholiques Internationales, nº 211, p. 16).

Lamentamos não poder transcrever na íntegra o extenso relatório Ilitchev, pois da sua simples leitura se concluiria a intensidade da dramática ofensiva anti-religiosa de que se revestiu a URSS no século XX, até aos anos 90. Para Ilitchev, “a religião representa a imagem fantástica e desnaturada do mundo que paralisa o espírito do homem com os dogmas e asfixia todo o pensamento criador” (Ibid. p.16).
Missa secreta num bosque da Ucrânia

Encontramos em Lenine palavras, que são expressão inequívoca  de uma linha de agir, tendente a arrancar do coração do povo as últimas fibras de sentimento religioso: “a luta contra a Religião não deve limitar-se, nem reduzir-se a uma disputa abstrata ou ideológica. Deve ligar-se ao movimento prático e concreto de classes. Será sua finalidade arrancar as raízes da Religião” (Lenine, Religião, p.14, apud Charles J. Mac Fadden, op. Cit., p. 153).

E do “programa do Partido Comunista” de 1936 salientamos: “Uma das tarefas mais importantes da revolução cultural que afeta as grandes massas, é a maneira de combater, sistemática e implacavelmente, a Religião, o ópio do povo (...). Enquanto o Estado proletário concede liberdade de cultos e suprime a posição privilegiada da Religião antes dominante (Igreja Ortodoxa), prossegue a propaganda anti-religiosa por todos os meios e reconstroi a totalidade da sua empresa educadora sobre a base de um Materialismo Científico” (Programa da Internacional Comunista, 1936, p. 54, ibid. p. 154).
 
Luta Política para propagar a instrução científica e anti-religiosa, seguida de perseguição

Se no campo ideológico manifestou-se uma hostilidade irredutível e demolidora de todos os princípios tradicionais cristãos, que dizer da política seguida pela URSS, para traduzir em atos essa ideologia perversa?

Para responder a esta pergunta bastar-nos-á recorrer à história e pedir-lhe alugns depoimentos relativos ao modo como, desde a Revolução de Outubro de 1917, até os anos noventa, foi tratada a Religião. Não pretendemos, evidentemente, em simples artigo, ser exaustivo em assunto, infelizmente, tão vasto e complexo.

Como medida legislativa, foi logo incluída no artigo 9 do Decreto de 23 de Janeiro de 1918, a nacionalização dos bens da Igreja e a interdição do ensino religioso em estabelecimentos de ensino público e privado. O artigo 121 do Código Penal ameaçava, além disso, com um ano de trabalhos forçados, quem se atrevesse a ensinar matérias religiosas a jovens que não houvessem ainda atingido a maioridade.

Em 1919, o Partido definia assim a finalidade da sua existência: “ajudar as massas trabalhadoras a libertar-se dos preconceitos religiosos e desenvolver para isso a mais larga propaganda de instrução científica e anti-religiosa. Neste trabalho, é conveniente evitar cuidadosamente qualquer ofensa aos sentimentos dos crentes, o que iria reforçar mais o fanatismo religioso” (L’atheisme militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº cit., p. 14).

Esta cláusula do Partido não foi, porém, seguida e dizem as estatísticas que, nos três primeiros anos após a Revolução, foram liquidados 1.215 sacerdotes e 28 bispos. Faltam-nos elementos para poder concretizar em números as prisões, as deportações e as torturas, com que foi provada a fidelidade dos cristãos à sua Fé.

Durante alguns anos, os métodos violentos deram lugar a uma intensa campanha de doutrinação materialista, levada até ao extremo de ironizar os meios de salvação, postos pela Igreja à disposição dos seus fiéis.

Coincidindo com a medida governamental da coletivização forçada, em 1929, desencadeou-se uma nova ofensiva anti-religiosa. A “liga dos ateus militantes”, já fundada em 1925 pro Yaroslawski, intensificou a sua ação de destruição e de ódio: foram profanadas muitas igrejas e transformadas em armazéns ou cinemas; organizaram-se concentrações espetaculares, para nelas serem ridicularizadas e destruídas imagens; nas escolas é introduzido um ensino anti-religioso progressivo e adaptado à mentalidade e desenvolvimento dos alunos.

Por volta de 1936, verificou-se uma certa distenção, visivelmente acentuada em 1941, quando a Alemanha invadiu a Rússia. Estaline concedeu, então, aos chefes da Igreja Ortodoxa russa, autorização de livremente organizarem a vida religiosa das suas igrejas. Ocultar-se-ia por detás dessa medida, qualquer manovra? O que se sabe é que essa liberdade foi “sol de pouca dura”.

Com efeito, data de 1945 a mais diabólica perseguição, movida pelo comunismo contra as sobrevivências religiosas; a sua arma mais poderosa, foi o uso do já citado slogan: “ciência contra a religão”.

Em 1947, foi fundada a Sociedade Pan-Unionista para a “Disseminação dos Conhecimentos Políticos e Científicos”, que preenchendo, de certo modo, o vazio deixado pelo desaparecimento da “Liga dos Ateus Militantes”, em 1941, se obstinou desde o seu início, “em propagar a concepção materialista do mundo e lutar contra as sobrevivências de uma ideologia estranha à consciência dos homens” (ibid. p. 15). Nos anos 60, em plena laboração, chegou a publicar por ano centenas brochuras em várias línguas, organizou conferências nas fábricas e nas empresas, promoveu colóquios, com o objetivo de provar a contradição intrínseca existente entre a ciência e a religião.

Reflitamos agora sobre o papel relevante que desempenharam na doutrinação materialista, além  da Sociedade Pan-Unionista, as diversas organizações do Partido, os Sindicatos e as “Casas e Clubes do Ateismo”. As “Casas do Ateismo” foram instuições existentes nas principais cidades e aglomerados populacionais, sobretudo da Ucrânia, zona onde estavam ainda mais profundamente arreigadas as crenças religiosas. Sujeitando-se , segundo a especialidade, por cada uma das 7 seções em que estão divididas, dedicavam-se ao estudo e à propaganda das mais eficazes experiências  anti-religiosas. Para obter essa finalidade, as “Casas e Clubes” organizavam serões especializados para jovens de todos os setores, para intelectuais, para mulheres, etc., e exposições itinerantes de quadros de pintores ucranianos e russos dos séculos XIX e XX sobre temas religiosos.

No mês de agosto de 1959, o jornal “Pravda”, explorando talvez a presença em Moscovo de Giorgio la Pira, Presidente da Câmara de Florença, católico convicto e amigo pessoal de Kruschtchev, publicou um artigo bastante venenoso. Depois de recordar “que não é permitido ofender o sentimento religioso dos crentes, usando um tom pouco respeitoso”, insurgia-se contra o clero e os sectários, por quererem adaptar a religião às condições modernas. E um pouco adiante, acrescentava “... para eliminiar as superstições religiosas, é preciso um trabalho longo e difícil, uma grande paciência e muita seriedade” (ibid., p. 17).

Foi extraordinariamente intensa a propaganda anti-religosa na Ucrânia. Eliminado em 1946 o quadro administrativo da Igreja Católica, a vida religiosa passsou a ser aí alimentada quase exclusivamente pela Igreja Ortodoxa Russa. Porém, também esta foi submetida a uma autêntica perseguição, cada vez mais feroz e sanrenta. Soube-se, por exemplo, por alguns turistas, que por lá passaram, a existência de um “plano septenal”, que se propunha liquidar totalmente a religão até 1965. Essa perseguição traduziu-se: no encerramenteo de mais de 500 igrejas, no curto espaço de três anos; na supressão de mosteiros e seminários; na atribuição dos piores crimes a bispos e sacerdotes, que foram arrastados aos tribunais e condenados; no asfixiamento  do múnus paroquial, através da imposição brutal de impostos; enfim, no apoio de todas as formas de manifestações e de propaganda anti-religiosa. Eis mais alguns números que, na sua eloquência muda, apresentam aquela que era uma realidade confrangedora:

Desde 1959 até aos anos 90, as autoridades soviéticas fecharam ou destruíram mais de 10.000 igrejas, dispersaram umas 40 comunidades monásticas das 67 existentes, restaram apenas 3 seminários dos 8 em atividade, foi interdita a frequência da igreja e a recepção dos sacramentos aos jovens desde os 3 aos 18 anos...

Esta revelação pungente, quando foi conhecido no Ocidente, levou François Mauriac a exclamar numa reunião do Comité interconfessional francês, para esclarecer a situação dos cristãos na URSS: “Quando o Cristo é crucificado em Moscovo e lança um grande grito sobre a cruz, nós ouvimos em Paris! Cristo está em agonia. Nós não devemos dormir durante este tempo”.

A “nova carta da propaganda anti-religiosa”, a extensa declaração de Ilitchev, a que atrás nos referimos e que foi publicada em Moscovo em 17 de Janeiro de 1964 confirma, de maneira arrepiante, a fidelidade à ideologia marxista-leninista.

Devido a circunstâncias, ou motivos especiais, variou por vezes a atitude do regime soviético relativamente à Igreja: não mudou, porém, jamais, nas suas linhas estruturais, a posição teórico-ideológica relativamente à religião.

Posição católica sobre o comunismo

Assentando, o Cristianismo sobre a ideia de Deus, a Quem o comunismo considera “um mito”, e sendo uma religião de vida, a que o comunismo, pela pena de Karl Marx, chama “ópio do povo”, tendo em conta ainda o que até agora se escreveu, vem a propósito perguntar: será possível uma aproximação, um trabalho de colaboração, o estabelecimento de um diálogo entre a Igreja e o comunismo”.

Reproduzimos as palavras de Pio XI, no dia 19 de março de 1937:

“... no que se refere a erros do comunismo, já no ano de 1846, o Nosso Venerando Predecessor, Pio IX, solenemente os condenou e confirmou tal condenação no Sylabus(...).

Mais tarde, outro Nosso Predecessor de imortal memória, Leão XIII, na Carta Encíclica “Quod Apostolici Muneris”, descreveu e definiu os mesmos erros como “peste mortífera que, serpeando através das íntimas articulações da sociedade humana a prostraria no extremo perigo de ruina e de morte”. Com visão clara de espírito penetrante, Leão XIII revelou que o movimento de difusão e louvor ao sistema de cultura técnica, provocando impiamente as massas para o ateísmo, tinha origem naquela concepção filosófica, que já de há séculos se esforçava por separar a ciência e a vida da Fé e da Igreja.

Nós também, não por uma só vez no decurso do Nosso Pontificado, tornámos públicas com solicitude instante essas correntes de ateismo, ferventes de ameaças e a avolumarem-se, de contínuo, dia a dia. De verdade, quando em 1924 a Nossa missão de socorro regressava da Rússia, em especial alocução dirigida ao orbe católico condenamos a doutrina e o sistema comunista (18 de Dezembro de 1924). Nas Nossas Encíclicas  “Miserentissimus Redemptor”, “Quadragesimo Anno”, “Caritate Christi”, “Acerba animi”, “Dilectissima Nobis”, queixámo-nos doloridamente, reclamando contra as cruentas perseguições ao nome cristão levantadas quer na Rússia, quer no México, quer finalmente na Espanha. (Divini Redemptoris, in A Igreja e a questão social, União Gráfica, Lisboa, 1935, pp. 200-201).

Decreto do Santo Ofício, hoje Congregação para a Doutrina da Fé, de 1 de Julho de 1949

Foram dirigidas a esta Suprema Congregação as seguintes perguntas:

1)      É lícito inscrever-se em partidos comunistas ou prestar-lhes apoios?

2)      É lícito publicar, difundir ou ler livros, periódicos, diários ou folhas volantes que defendem a doutrina ou a prática do comunismo, ou colaborar neles com escritos?

3)      Se os fiéis realizam, consciente e livremente, actos a que se referem as perguntas 1 e 2 do presente Decreto, podem ser admitidos aos Sacramentos?

4)      Os fiéis que professam a doutrina do comunismo materialista e anti-cristão, e sobretudo os que a defendem ou propagam, incorrem “ipso facto”, como apóstatas da fé católica, na excomunhão especialmente reservada à Sé Apostólica?

Os Eminentíssimos e reverendíssimos Padres encarregados da tutela da fé e dos costumes, tendo presente o parecer dos Reverendíssimos Consultores na reunião plenária de terça-feira (em vez de quarta-feira), no dia 28 de junho de 1949, decretaram que se respondesse:

Ao número 1: Negativamente: o comunismo, de facto, é materialista e anti-cristão; e portanto, os dirigentes do comunismo, mesmo quando às vezes, por palavras, declaram não combater a religião, de facto, contudo, na teoria e na ação, mostram-se hostis a Deus, à verdadeira religião e à Igreja de Cristo.

Ao número 2: Negativamente, porque são actos proibidos pelo próprio direito canónico (can. 1399).

Ao número 3: Negativamente, conforme os princípios que se referem a não administrar os sacramentos àqueles que não têm a devida disposição.

Ao número 4: Afirmativamente (Acta Apostolicae Sedes, de 13 de julho de 1949. Cf. Joaquim Azpiazu, S. J. Firecciones Pontificias en el Ordem Social, Madrid, 1960, pp. 361-362).

Petição de 213 Padres conciliares

“... Posto que já se vê que uma constituição doutrinária e pastoral a respeito do marxismo, socialismo e comunismo não criará o mínimo obstáculo à ação da Santa Sé em prol da existência pacífica de todos os homens e de todas as nações, rogo, fundamentado nas gravíssimas razões que expus, digne-se a Comissão para Assuntos Extraordinários do II Concílio Vaticano apresentar ao Sumo Pontífice o desejo de muitos Bispos, e de numerosos fiéis, no sentido de que o Santíssimo Padre determine a elaboração e o estudo de um esquema de constituição conciliar no qual:

1)      Se exponha com grande clareza a doutrina social católica, e se denunciem os erros do marxismo, do socialismo e do comunismo, sob os aspectos filosófico, sociológico e económico;

2)      Sejam profligados aqueles erros e aquela mentalidade que preparam o espírito dos católicos para a aceitação do socialismo, do comunismo, e que tornam propensos aos mesmos” (Esta petição foi dirigida ao Cardeal Amelto Cicognâni, Secretário de Estado do Vaticano, em 3 de Dezembro de 1963 e foi largamente divulgada pelos média.

O triunfo do Imaculado Coração de Maria

Passados os anos, vemos que os erros do comunismo esplaram-se pelo mundo inteiro. Não há nação do Ocidente, onde a doutrina anti-cristã não tenha progredido, perseguindo, com cada vez mais sanha, os que tem fé.

Como cristãos, uma única conclusão se nos impõe: rogar ao Senhor que nos liberte deste terrível flagelo e que aos homens sejam universalmente reconhecidos os seus inalienáveis direitos à liberdade de crença e de publicamente se afirmar em sociedade.

E porque o Cristianismo é essencialmente a religião da esperança, importa saber esperar, mesmo contra toda a esperança, de olhos fitos na Mensagem de Nossa Senhora de Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração Triunfará!”

 

 

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Jesus não pediu-nos nada em troca


É bonito fazer parte de uma associação, composta por homens de diferentes idades, unidos no desejo comum de dar um testemunho especial da vida cristã, servindo à Igreja e aos irmãos sem pedir nada em troca. Isso é bonito: servir sem pedir nada em troca, como Jesus. Jesus serviu a todos nós e não nos pediu nada em troca! Jesus fez as coisas com gratuidade; façam as coisas com gratuidade vocês também. A sua recompensa é justamente esta: a alegria de servir ao Senhor, e juntos! Conheçam-no sempre mais, com a oração, com as jornadas de retiro, com a meditação da Palavra, com o estudo do catecismo, para amá-lo mais e mais e servi-lo com um coração generoso e grande, com magnanimidade. Esta é uma bela virtude cristã: a magnanimidade, ter um coração grande, ampliar o coração sempre, com paciência, amar a todos; e não aquelas pequenezas que nos fazem tanto mal, mas a magnanimidade. O seu testemunho será mais convincente e eficaz, e o seu serviço também será melhor e mais alegre.

(Papa Francisco, Audiência, 24 junho 2013)

domingo, 23 de junho de 2013

Falando um pouco de religião


Sob o título “Falando um pouco de religião” Danuza Leão, articulista, resolveu escrever sobre matéria que desconhece: a  Igreja Católica, na Folha de São Paulo do domingo, dia 15 de março de 2009.

Como as acusações continuam a ser repetidas e refletem uma corrente de pessoas preconceituosas, reproduzo o artigo repleto de lacunas e de falta de conhecimento religioso e a resposta do Prof. Felipe Aquino, doutor em engenharia mecânica. Recentemente, recebeu o título de Cavaleiro de São Gregório Magno, conferido pelo Papa Bento VI.

Falando um pouco de religião – Danuza Leão

EU ESTUDEI em colégio de freiras e posso falar de cadeira dos recreios que perdi aos sete, oito anos, ajoelhada no milho na capela, para pagar os meus pecados. Isso não é sadismo em alto grau? Fico tentando lembrar que pecados seriam esses. Teria falado na hora da aula? Teria comido um pedaço da sobremesa antes do almoço? Teria deixado de fazer algum dever? E as freiras ainda nos induziam a fazer sacrifícios, tipo deixar de comer uma mariola ou uma paçoca por amor a Deus. Sacrifício, a palavra que define a Santa Igreja Católica. E a missa obrigatória em todos os domingos e dias santificados? Depois disso, igreja, para mim, só em excursão turística -e assim mesmo só algumas.

É possível considerar o desejo sexual um pecado, um orgasmo um pecado, ter relações sexuais, mesmo de casais casados na igreja, sem outra intenção, a não ser a de procriar, um pecado? E ao considerar quase tudo que dá prazer um pecado, não dá para perceber o quanto as mentes católicas são doentes? E malvadas? Os sacrifícios, tão cultuados entre os católicos -cordas apertando a cintura, debaixo do vestido, até sangrar, eram um grande sinal de amor a Deus. Mas o que deve acontecer naqueles conventos e seminários, com aquele monte de moças e rapazes com seus hormônios explodindo, mas tendo que seguir o sentido contrário ao da natureza para amar a Deus sobre todas as coisas, isso é segredo, e jamais saberemos o que lá se passa - mas minha mão no fogo eu não boto. Será que são todos castos? Dos padres pedófilos se fala um pouquinho, mas logo o assunto é  esquecido. E da excomunhão dos médicos que fizeram o aborto na menina de nove anos estuprada não vou nem falar, porque tudo já foi dito.

Para a Santa Madre Igreja, quanto mais se sofre mais se tem direito ao reino dos céus. Quem tiver uma doença grave será recompensado, se for cego, surdo, mudo e paralítico, é considerado um santo, praticamente, e ai dos que são felizes, dão risadas e gostam da vida. Estes estão condenados às trevas do inferno. Para ser um católico de verdade é preciso sofrer, e quanto mais, melhor. Como têm prestígio as carolas vestidas de preto, com um véu na cabeça e um terço na mão, falando que este mundo está perdido (e levando um pratinho de biscoitos para os padres). Perdido está quem não aproveitou esta vida e nunca ouviu falar em felicidade, pois o  que vem depois ninguém sabe direito. Pelo menos, ninguém voltou pra contar.

Mas também me revoltam as invenções praticadas em nome de Deus, das mais banais às mais revoltantes. Quem pode, em sã consciência, jurar amor "até que a morte nos separe?" Quem faz uma jura dessas é hipócrita, porque até as crianças do jardim-de-infância sabem que a vida não é assim. Mas do que os cardeais gostam mesmo é dos paramentos, das vestes de brocado, dos cálices de ouro, dos tronos incrustados de pedrarias, do luxo das igrejas de ouro, dos quadros mais preciosos deste mundo e de dar declarações absolutamente inúteis, tipo "o papa está muito preocupado com a fome no mundo", como se essa preocupação resolvesse alguma coisa. Esse papa, aliás, que veste Armani e sapatos vermelhos de Prada. Se o Vaticano se desfizesse de metade de seus tesouros, é bem possível que não houvesse mais fome no mundo. Fui batizada,  crismada e fiz a primeira comunhão, mas não cheguei ao ponto de me casar no religioso; e não me incomodaria nem um pouco se fosse excomungada.

Carta do professor Felipe Aquino para a articulista, escritora e socialite Danuza Leão.

 "Com muito respeito gostaria de lhe escrever. Que você não se importe de ser excomungada, não me surpreende, falta-lhe o dom da fé; mas dizer que se a Igreja vendesse os seus bens acabaria com a fome no mundo, isso é demais!  Você sabia que o Vaticano é proibido de vender a menor peça do Museu do Vaticano, uma vez que o Direito Internacional o proíbe  por ser o Vaticano apenas o guarda disso tudo, segundo o Tratado do Latrão assinado com a Itália? Você sabe qual é o tamanho do Vaticano? Resposta: 0,44 km quadrados; não cabe nem um campo de aviação. Aliás, sabe quantos aviões tem o Papa? Zero. E ele é um Chefe de Estado; existe algum que seja tão carente?

 Fiquei arrepiado com tanta bobagem e preconceito que você destilou em sua matéria.

 Como você, eu também estudei em colégio católico, salesiano, graças a Deus; e assistia a missa todos os dias, graças a Deus, e ainda hoje a assisto todos os dias, graças a Deus; é a grande alegria do meu dia (o Sacrifício do Calvário) que nos salva. Você despreza o seu Batismo e a sua Crisma; eu quero lhe dizer que o único diploma que eu tenho coragem de expor na parede do meu escritório é a minha certidão de Batismo; ele me abriu as portas do Céu, me deu a graça de ser membro de Cristo, da Igreja, herdeiro do Céu. O resto... vai ficar na terra.

Estudei física e matemática, fiz mestrado na Universidade Federal de Itajubá e doutorado no ITA em Ciências Aeroespaciais, fiz pós-doutorado na UNESP; fui diretor de um campus da USP em Lorena, SP, por quase vinte anos, sempre eleito por meus pares. Digo isso para você saber que não sou um ignorante que faz da religião uma fuga; ou da Igreja um escudo de proteção; sou católico convicto.

O que lhe faltou, Danuza, infelizmente, foi ter conhecido a Igreja mais a fundo, mais de perto; faltou a você e a tantos que hostilizam a Igreja, nossa Mãe, Corpo místico de Cristo, estudar um pouquinho de teologia: cristologia, história da Igreja, escatologia, mariologia, dogmática, exegese bíblica, hermenêutica, liturgia, moral, mística... Se você tivesse estudado um pouquinho disso tudo; se os seus conhecimentos de Religião não ficassem apenas do tamanho do seu vestidinho de Primeira Comunhão, tudo seria diferente em sua vida; e você não estaria pisando tanto e maldosamente na Igreja que Cristo fundou para a nossa Salvação; mas, ainda é tempo...

 O que de melhor seus pais bondosos lhe deram, foi a Fé; não a jogue fora. A vida terrena passa, o corpo se extingue, a velhice chega, a morte se aproxima, mas a alma sobrevive. CUIDE DELA!

Jesus disse: "de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma"?