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domingo, 31 de dezembro de 2023

As boas obras do pecador não são supérfluas, nem inúteis

 

Não tenhamos dúvidas, o pecado mata a alma. Ele não a destrói, porque é imortal por natureza. Mas, ao separá-la de Deus, tira-lhe a graça, princípio da vida sobrenatural, e dá-lhe um golpe de morte. Assim como a alma é a vida do corpo, Deus é a vida da alma. Separada a alma do corpo, este nada mais é do que um cadáver e rompida a união entre a alma e Deus, a alma morre. Aos olhos de Deus, nada mais é do que um cadáver.

Está é a obra do pecado, este é o crime do pecador! Quase que se poderia dizer que a pessoa comete o mais horrível dos suicídios, distanciando-Se de Deus, ela que foi redimida pelo preciosismo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas este também é o seu justo castigo. O pecador já não quer mais Deus, a Beleza, a Riqueza, a Fertilidade, a Vida, abandona-O, troca-O deliberadamente por um prazer fugaz ou para se satisfazer a si mesmo! Com isso, Deus retira todos os seus dons e assim, como um novo filho pródigo, o pecador desperdiça, longe de Deus, seu Pai, toda a sua fortuna.

Mas então já não há remédio para o pecador? Diante deste desastre já não há espaço para a Misericórdia divina?

Engana-se quem assim pense. Deus, que Se fez homem como nós, “não quer a morte eterna do pecador, mas que se converta e viva” (Cf. Ez 18, 23).

Como prova desta vontade misericordiosa, Deus primeiro dá-lhe o poder de praticar ações boas e santas por si só. Mais ainda, Ele ordena-as, porque o culpado não está isento das suas leis, permanece vinculado a todas as obrigações que compõem a vida cristã. Deve, portanto, rezar, obedecer aos seus superiores, mortificar-se, resistir às tentações, cumprir os deveres de piedade, de caridade ou de justiça. Às obras necessárias, ele é livre para acrescentar outras; e Deus exorta-o a fazê-lo com pensamentos cheios de clemência e bondade.

Alguns bons cristãos pensam que as boas obras do pecador são supérfluas. É verdade que são inúteis para o Céu, visto serem obras de um homem morto, portanto inúteis para conduzir a uma vida gloriosa.

 Mas, aqui na nossa terra, serão aqui sem mérito algum diante de Deus?

Não! E aqui está a segunda prova da misericórdia de Deus para com o homem que se tornou seu inimigo. As boas obras tocam o coração de Deus e dispõem-n’O ao perdão e tocam também o coração do pecador, preparando-o à sua conversão.

Bem sabemos que Deus não é obrigado a ouvir os culpados, mas sabemos que muitas vezes Ele deixa-Se tocar pelas orações sinceras, pela insistência, bem como pelas lágrimas, e concede ao infeliz pecador que Lhe implora graças para se distanciar do abismo e para se converter.

Portanto, neste começo de mais um ano, rezemos, não desanimemos, não nos cansemos, façamos penitência pelos nossos pecados e iniquidades, cumpramos fielmente todos os nossos deveres, imitemos o publicano do Evangelho e digamos muitas vezes como ele: “Senhor, tende piedade de mim, que sou pecador!” (Lc 18, 13). E lançando-nos aos pés do sacerdote, ministro da sua misericórdia, ouviremos aquelas doces palavras que restauram a vida e removem toda maldição: “Os teus pecados estão perdoados; vá em paz"

E Deus terá piedade de nós!

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

A vocação dos presbíteros à perfeição


 

Nestes nossos tristes dias, em que os media, muitos cidadãos não praticantes do mundo inteiro e até membros do próprio clero denigram milhares de dedicados sacerdotes que procuram viver santamente e conduzir o povo de Deus rumo à felicidade eterna, ensinando-lhes o Evangelho, vale a pena recordar o que o “Decreto Presbyterorum Ordinis, sobre o Ministério e a vida dos sacerdotes” afirma sobre a união com Cristo, que os ministros de Deus devem ter:

“Pelo sacramento da Ordem, os presbíteros são configurados com Cristo Sacerdote, como ministros da cabeça, para a construção e edificação do seu corpo, que é a Igreja, enquanto cooperadores da Ordem episcopal. Já pela consagração do Batismo receberam com os restantes fiéis, o sinal e o dom de tão insigne vocação e graça para que, mesmo na fraqueza humana, possam e devam alcançar a perfeição, segundo a palavra do Senhor: «Sede, pois, perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito» (Mt. 5, 48). Estão, porém, obrigados por especial razão a buscar essa mesma perfeição visto que, consagrados de modo particular a Deus pela receção da Ordem, se tornaram instrumentos vivos do sacerdócio eterno de Cristo, para poderem continuar pelos tempos fora a sua obra admirável, que restaurou com suprema eficácia a família de todos os homens. Fazendo todo o sacerdote, a seu modo, as vezes da própria pessoa de Cristo, de igual forma é enriquecido de graça especial para que, servindo todo o Povo de Deus e a porção que lhe foi confiada, possa alcançar de maneira conveniente a perfeição d'Aquele de quem faz as vezes, e cure a fraqueza humana da carne a santidade d'Aquele que por nós se fez pontífice «santo, inocente, impoluto, separado dos pecadores» (Heb 7,26).

“Cristo, que o Pai santificou ou consagrou e enviou ao mundo, «entre a Si mesmo por nós, para nos remir de toda a iniquidade e adquirir um povo que Lhe fosse aceitável, zeloso do bem» (Tit 2,14), e assim, pela sua Paixão, entrou na glória. De igual modo os presbíteros, consagrados pela unção do Espírito Santo e enviados por Cristo, mortificam em si mesmos as obras da carne e dedicam-se totalmente ao serviço dos homens, e assim, pela santidade de que foram enriquecidos em Cristo, podem caminhar até ao estado de varão perfeito.

“Deste modo, exercendo o ministério do Espírito e da justiça, se forem dóceis ao Espírito de Cristo que os vivifica e guia, são robustecidos na vida espiritual. Pelos ritos sagrados de cada dia e por todo o seu ministério exercido em união com o Bispo e os outros sacerdotes, eles mesmos se dispõem à perfeição da própria vida. Por sua vez, a santidade dos presbíteros muito concorre para o desempenho frutuoso do seu ministério; ainda que a graça de Deus possa realizar a obra da salvação por ministros indignos, todavia, por lei ordinária, prefere Deus manifestar as suas maravilhas por meio daquelas que, dóceis ao impulso e direção do Espírito Santo, pela sua íntima união com Cristo e santidade de vida, podem dizer com o Apóstolo: «se vivo, já não sou eu, é Cristo que vive em mim, (Gal 2,20).

“Por isso, este sagrado Concílio, para atingir os seus fins pastorais de renovação interna da Igreja, difusão do Evangelho em todo o mundo e diálogo com os homens do nosso tempo, exorta veementemente todos os sacerdotes a que, empregando todos os meios recomendados pela Igreja, se esforcem por atingir cada vez maior santidade, pela qual se tornem instrumentos mais aptos para o serviço de todo o Povo de Deus”.

(Presbyterorum ordinis (vatican.va))