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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Que tipo de beijo darei ao Menino Jesus, neste Natal?

Durante as festas natalícias, oscularemos muitas vezes o Menino Jesus. Mas, como serão as nossas manifestações de amor ao filho de Deus, nascido da Virgem Maria?

Ao ler os Evangelhos, percebe-se que Nosso Jesus Cristo recebeu três tipos de beijos durante a sua vida.

O primeiro deles, o mais perfeito, foi dado por Maria Santíssima e São José, na Gruta de Belém. São ósculos nascido de corações inocentes, cheios de amor de Deus e de virtudes.


O segundo, foi o de Maria Madalena que lavou, enxugou com os seus cabelos e beijou os pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecendo a Deus o ósculo do arrependimento, que lava, purifica e dá forças para viver em união com Deus.

Por fim, o terceiro, recebeu Nosso Senhor na sua fronte Sagrada. Foi o ósculo de um homem agitado, revoltado e invejoso, chamado Judas, cujo nome ficou associado à traição, covardia e extrema baixeza. Ele representa o beijo de todos os que vendem a sua alma por dinheiro, por uma carreira ou por um prazer efêmero.

Também hoje, como no tempo Evangélico, Nosso Senhor recebe ósculos dos homens. Como são estes beijos? Como será o meu ósculo?

Alguns corações puros, aproximam-se do Redentor e, desejosos de imitarem Nossa Senhora e São José, beijam o Menino Jesus, e adoram-n’O de todo o coração. São os que querem ser bons católicos, que procuram seguir os mandamentos e vivem na prática da virtude, com os olhos postos mais em Deus e no próximo do que em si e no mundo.

Outros, como Santa Maria Madalena, humildes, arrependidos e envoltos em lágrimas, osculam o Menino Jesus, confiantes na divina misericórdia.


Finalmente, existem ainda aqueles que osculam a representação do Menino Jesus com indiferença ou desdém, quase que por uma obrigação social, como se fossem obrigados a seguir os demais membros da família. São os pecadores empedernidos, aqueles que vivem mergulhados no mal, que não sentem sequer o desejo de se levantar e acabam por viver, não raras vezes, em estado de completa revolta contra Deus.

Neste Natal, talvez o ósculo ao Menino Jesus seja, aparentemente, o mesmo para todos. Contudo, Deus distinguirá neles os três tipos de ósculos:
  1. O das almas puras, que são como um bálsamo para o Seu Sagrado Coração;
  2. O dos arrependidos, que são como um sorriso e incentivo para continuarem a rezar e confiarem na proteção de Deus e de Nossa Senhora;
  3. O dos ignorantes, indiferentes ou pecadores, mergulhados nos seus vícios morais, que entristecem o Divino Infante, que tanto os quer salvar.
Que o beijo depositado pelos nossos lábios sobre o Menino Jesus seja sempre puro, ou sinceramente arrependido, confiante na misericórdia d’Aquele que não só nasceu para nos salvar, como quis sofrer, morrer, Ressuscitar para nos redimir e abrir-nos as portas do Céu.

domingo, 9 de maio de 2021

Duas maneiras de sofrer: amando ou revoltando-se

Como bem pudemos ver neste tempo pandémico, quer queiramos ou não, sofremos.

Existem pessoas que sofrem como São Dimas, o bom ladrão e outros, como Gestas, ou Gesmas, o mal. Ambos estavam crucificados ao lado de Nosso Senhor Jesus Cristo e a sofrer de forma similar. São Dimas soube tornar os seus sofrimentos meritórios, aceitando-os em espírito de reparação pelos seus erros e pelos seus pecados, a ponto de se arrepender e pedir: “Jesus, lembrai-vos de mim, quando entrares no vosso reino” e de receber a bela promessa do Divino Salvador: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. O outro, ao contrário, gritou imprecações e blasfêmias, e expirou no meio de terrível desespero.

Existem duas maneiras de sofrer: amando ou revoltando-se.

Todos os santos sofreram com paciência, fé e perseverança, porque amavam a Deus. Muitos de nós, contudo, sofremos com raiva, ressentimento e cansaço, porque não amamos a Deus. Se O amássemos, aceitaríamos a cruz e ficaríamos contentes por poder sofrer por Quem padeceu e morreu por nós.

A vida realmente não é fácil! E o que mais nos assombra, talvez nem seja a hora da dor, mas o medo de virmos a sofrer um dia. Contudo, ao termos bem presente a Cruz de Cristo, as nossas dores ficam mais suaves!

Já imaginou, caro leitor, quão felizardos somos, nós católicos?!  Fomos batizados, conhecemos a Deus, amamos a sua bondade infinita e sentimos constantemente o poder da sua divina misericórdia. Ora existem pessoas que sofrem o mesmo que nós e não têm o mesmo consolo e a mesma esperança que nós.

Hoje em dia, a maioria dos homens voltam as costas ao sofrimento. E quanto mais fogem das suas cruzes, mais elas os perseguem, os atingem e os esmagam.

Se quisermos viver serenamente, devemos fazer como Santo André, que ao ver a cruz que se elevava diante de si, exclamou: “Salve, ó boa cruz! Ó admirável cruz! Ó cruz desejável! Recebei-me nos vossos braços, tirai-me do meio dos homens e devolvei-me o meu Mestre que me redimiu através da Cruz".

E um aspeto curioso que devemos sempre considerar: Quem está preparado para abraçar a sua cruz, caminha na direção oposta à do sofrimento. Ele talvez se depare com ela durante algum período da sua vida, mas fica contente e encontra forças para a carregar, leva-a com coragem, procurando unir-se dia-a-dia a Nosso Senhor Jesus Cristo, purificando o seu coração, afastando-se dos falsos prazeres do mundo. Numa palavra, o sofrimento vivido cristãmente ajuda a passar as dificuldades da vida, como uma ponte ajuda a passar pelas águas de um rio.

Vejamos como foram as vidas dos santos. Quando não eram perseguidos, mortificavam-se. Um bom religioso, certa vez, manifestou a Nosso Senhor a sua estranheza por estar a ser perseguido dentro da sua comunidade: “Senhor, o que fiz para ser tratado assim?” E Nosso Senhor respondeu-lhe: "E Eu? O que fiz para ser crucificado no Calvário?” O religioso percebeu, chorou, pediu perdão e não ousou mais reclamar.

As pessoas do mundo lamentam quando têm cruzes, e os bons seguidores de Cristo preocupam-se, desconfiam e sofrem quando não passam por alguma provação.

Sim! o cristão vive no meio das cruzes como os peixes vivem na água.

A Cruz de glória

A Cruz é o estandarte triunfal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ao morrer pregado no madeiro da Cruz, o Salvador pacificou com o seu sangue todas as coisas na terra e no Céu, mutando a sentença de morte contra os homens em graça de salvação (cf. Cl 2, 14).

Os Padres da Igreja chamam a Cruz, sinal vivificante, sinal da fé, fortaleza da vida, grande bem, escudo inexpugnável, espada régia para vencer os demónios (Gretzer, de Cruce, 5, 64).

São João Crisóstomo chama a cruz de esperança dos cristãos, ressurreição dos mortos, luz dos cegos, caminho dos transviados, muleta dos coxos, consolo dos pobres, travão dos ricos, destruidor dos soberbos, juiz dos injustos, liberdade dos escravos, luz dos ofuscados, glória dos mártires, abstinência dos monges, castidade das virgens, gáudio dos sacerdotes e fundamento da Igreja.

Coloquemos a Santa Cruz nas nossas frontes, nos nossos corações e nos nossos braços, como explica Santo Ambrósio (Livro de Isaac, 8). Na fronte, para que a professamos publicamente, a toda a hora; no coração, para que a amemos sempre; e no braço para que operaremos sempre o bem.

Assim, rezando e combatendo permaneceremos fiéis até à morte, momento em que a Cruz passará de escudo a glória, por toda a eternidade.



segunda-feira, 3 de maio de 2021

Cuidado com os falsos devotos de Nossa Senhora!


Fiquei muito triste ao ler a catequese 27, intitulada: “Rezar em comunhão com Maria” pronunciada na Audiência Geral do dia 24 de março de 2021, na qual o Papa Francisco afirma:

“Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto, como vemos em certos afrescos ou quadros medievais. Também na primeira antífona latina, Sub tuum praesidium confugimus, sancta Dei Genitrix: Nossa Senhora que, como Mãe a quem Jesus nos confiou, envolve todos nós; mas como Mãe, não como deusa, não como corredentora: como Mãe. É verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor” (Francisco, Audiência Geral, 21/3/2021).

Como é possível, um ensinamento diametralmente oposto ao que os santos e os Papas ensinaram?

Como todos os anos, no mês de maio, releio o “Tratado da Verdadeira devoção a Nossa Senhora”, escrito por São Luís Maria Grignion de Montfort. Na página 75, deparei-me com o seguinte capítulo:

“Artigo Primeiro

Sinais da falsa devoção e da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria

I. Falsos devotos e falsas devoções à Santíssima Virgem Maria

Conheço sete espécies de falsos devotos e falsas devoções, a saber:

1. Os devotos críticos;

2. Os devotos escrupulosos;

3. Os devotos exteriores;

4. Os devotos presunçosos;

5. Os devotos inconstantes;

6. Os devotos hipócritas;

7. Os devotos interesseiros.”

E São Luís Maria Grignion de Montfort explica:

“1. Os devotos críticos

Os devotos críticos são, ordinariamente, sábios orgulhosos, espíritos fortes e que se bastam a si mesmos. No fundo têm alguma devoção à Santíssima Virgem Maria, mas criticam quase todas as práticas de devoção que as almas simples tributam singela e santamente a esta boa Mãe, porque não condizem com a sua fantasia. Põem em dúvida todos os milagres e narrações referidas por autores dignos de crédito ou tiradas das crônicas de ordens religiosas, e que testemunham as misericórdias e o poder da Santíssima Virgem. Veem com desgosto pessoas simples e humildes ajoelhadas diante dum altar ou imagem da Virgem, talvez no recanto duma rua, para aí rezar a Deus. Acusam-nas até mesmo de idolatria, como se estivessem a adorar madeira ou pedra. Dizem que, quanto a si, não gostam dessas devoções exteriores, e que não são tão fracos de espírito que vão acreditar em tantos contos e historietas que correm a respeito da Santíssima Virgem. Quando lhes referem os louvores admiráveis que os Santos Padres tecem a Nossa Senhora, ou respondem que isso é exagero, ou explicam erradamente as suas palavras. Esta espécie de falsos devotos e de gente orgulhosa e mundana é muito para temer, e causam imenso mal à Devoção a Nossa Senhora, afastando eficazmente dela o povo, sob o pretexto de destruir abusos.

2. Os devotos escrupulosos

Os devotos escrupulosos são pessoas que temem desonrar o Filho honrando a Mãe, rebaixar um ao elevar a outra. Não podem suportar que se prestem à Santíssima Virgem louvores muito justos, tais como os Santos Padres lhe dirigiram. Não toleram, senão contrariados, que haja mais pessoas de joelhos diante dum altar de Maria que diante do Santíssimo Sacramento. Como se uma coisa fosse contrária à outra, como se aqueles que rezam a Nossa Senhora não rezassem a Jesus Cristo por meio d'Ela! Não querem que se fale tantas vezes da Santíssima Virgem, nem que a Ela nos dirijamos tão frequentemente. Eis algumas frases que lhes são habituais: Para que servem tantos terços, tantas confrarias e devoções externas à Santíssima Virgem? Há muita ignorância nisto tudo! Faz-se da religião uma palhaçada. Falem-me dos que têm Devoção a Jesus Cristo (frequentemente pronunciam este Santo Nome sem a devida reverência, sem descobrir a cabeça, digo-o entre parêntesis). É preciso pregar Jesus Cristo: eis a doutrina sólida!

Isto que dizem é verdadeiro num certo sentido; mas quanto à aplicação que disso fazem, para impedir a Devoção à Virgem Santíssima, é muito perigoso. Trata-se duma cilada do inimigo sob pretexto dum bem maior. Pois nunca se honra mais a Jesus Cristo do que quando se honra muito à Santíssima Virgem. A razão é simples: só honramos a Virgem no intuito de honrar mais perfeitamente a Jesus Cristo, indo a Ela apenas como ao caminho que leva ao fim almejado, que é Jesus.

A Santa Igreja, com o Espírito Santo, bendiz em primeiro lugar a Virgem e só depois Jesus Cristo: “Bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus” (Lc 1, 42). Não é que Maria seja mais que Jesus, ou igual a Ele: dizê-lo seria uma heresia intolerável. Mas, para mais perfeitamente bendizer Jesus Cristo, é preciso louvar antes a Virgem Maria. Digamos, pois, com todos os verdadeiros devotos da Santíssima Virgem, e contra esses falsos devotos escrupulosos: Ó Maria, bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus!”

São Luis Maria Grignion de Montfort conclui e adverte-nos:

“Assim como um falso moedeiro não falsifica ordinariamente senão ouro e prata, e muito raramente outros metais, também o espírito maligno não falsifica tanto as outras devoções, como as que se referem a Jesus e a Maria: a devoção à Sagrada Comunhão e a Nossa Senhora. Estas são, entre as demais devoções, o que são o ouro e a prata entre os metais”.

Rezemos para nunca deixarmos de ser verdadeiros devotos de Nossa Senhora!

domingo, 25 de abril de 2021

25 de abril: São Marcos e a antiga procissão das rogações

 

Quem foi São Marcos, cuja festa é comemorada pela Igreja no dia 25 de abril?

As Escrituras fazem poucas referências a Marcos. Para conhecermos quem era este Apóstolo e Evangelista, abramos os “Atos dos Apóstolos” e vejamos o que ocorreu quando São Pedro foi libertado da prisão de Jerusalém:

Nessa ocasião, o rei Herodes prendeu alguns que pertenciam à Igreja, com a intenção de maltratá-los, e mandou matar à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isso agradava aos judeus, prosseguiu, prendendo também Pedro durante a festa dos pães sem fermento. Tendo-o prendido, lançou-o no cárcere, entregando-o para ser guardado por quatro escoltas de quatro soldados cada uma. Herodes pretendia submetê-lo a julgamento público depois da Páscoa. Pedro, então, ficou detido na prisão, mas a igreja orava intensamente a Deus por ele. Na noite anterior ao dia em que Herodes iria submetê-lo a julgamento, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas algemas, e as sentinelas montavam guarda à entrada do cárcere. Repentinamente, apareceu um anjo do Senhor, e uma luz brilhou na cela. Ele tocou no lado de Pedro e o acordou. "Depressa, levante-se!", disse ele. Então as algemas caíram dos punhos de Pedro. O anjo disse-lhe: "Vista-se e calce as sandálias". E Pedro assim fez. Disse-lhe ainda: "Ponha a capa e siga-me". E, saindo, Pedro o seguiu, não sabendo que era real o que se fazia por meio do anjo; tudo lhe parecia uma visão. Passaram a primeira e a segunda guarda, e chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. Este abriu-se por si mesmo para eles, e passaram. Tendo saído, caminharam ao longo de uma rua e, de repente, o anjo deixou-o. Então Pedro caiu em si e disse: "Agora sei, sem nenhuma dúvida, que o Senhor enviou o seu anjo e me libertou das mãos de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava". Percebendo isso, dirigiu-se à casa de Maria, mãe de João, também chamado Marcos, onde muita gente se tinha reunido e orava” (At 12, 1-12).

Marcos devia ter pertencido a uma família rica, já que a sua mãe tinha uma casa muito grande, a ponto de ser um lugar de encontro para muitos cristãos e, deve ter sido um discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo muito fervoroso e devotado, dado ter Pedro escolhido esta casa para se dirigir logo depois de sair da prisão.

São Pedro explica o laço que o unia a São Marco na sua primeira epistola, escrita por volta dos anos 60, aos cristãos da Asia Menor: "Marcos, meu filho, manda-vos saudações" (1Pd 5,13). Uma vez que ele não tinha filhos segundo a carne, se ele chamou Marcos “seu filho”, é porque ele o gerou segundo o espírito, na fé em Jesus Cristo e, portanto, Marcos foi o seu discípulo.

O discípulo acompanhou o mestre, quando este último, saindo de Jerusalém, foi provavelmente para a Ásia Menor e de lá para Roma? Alguns autores pensam que assim sucedeu, pois era preciso que Marcos e Pedro fossem conhecidos dos cristãos da Ásia Menor, a ponto de Pedro escrever que Marcos mandava cumprimentos.

Mas, se Marcos seguiu Pedro, não foi por muito tempo. Os Atos dos Apóstolos mencionam-no também com Barnabé, que se juntou a Saulo para evangelizar a cidade de Antioquia, levando ajuda aos cristãos de Jerusalém, que estavam passando fome: "Quando Barnabé e Saulo terminaram o seu trabalho em Jerusalém, voltaram levando com eles João, chamado Marcos” (At 13, 25). Sabe-se que Saulo era o convertido de Damasco, chamado também Paulo. Mas quem era Barnabé? Um judeu originário da Ilha de Chipre, que se distinguiu em Jerusalém pela sua fé e generosidade para com a comunidade cristã da cidade. Uma carta escrita mais tarde por São Paulo aos fiéis de Colossos, na Ásia Menor, designa Marcos como parente (primo ou sobrinho) de Barnabé. Compreende-se assim que Barnabé se tenha associado a seu parente Marcos no apostolado que exercia em Antioquia com Saulo.

Os doutores de Antioquia enviaram Saulo e Barnabé para Chipre. Junto com eles, neste novo ministério, estava Marcos. Mas no dia em que Paulo quis ir de Chipre para a Ásia Menor, Marcos deixou-os para voltar para Jerusalém. É ali, por volta do ano 50, que viu Pedro, seu pai na fé, quando este resolveu no conselho dos apóstolos e dos anciãos a polêmica levantada em Antioquia pelos cristãos de raça judia contra os cristãos de raça estrangeira. Depois, quando Paulo e Barnabé, que tinham participado neste conselho, voltaram para a Antioquia e se ofereceu para visitar as cidades que tinham evangelizado, Barnabé queria levar seu parente João, conhecido como Marcos. Mas, Paulo opôs-se. A discordância foi tal que Barnabé separou-se de Paulo e partiu com Marcos para a Ilha de Chipre.

Devemos acreditar que essa dissidência não durou muito pois, dez ou doze anos depois, Paulo, que se encontrava cativo em Roma, escreveu, numa carta aos cristãos de Colossos, a quem ele tinha como consolador e ajudante na propagação do reino de Deus o próprio Marcos: “Aristarco, que está preso comigo, vos saúda, e Marcos, o sobrinho de Barnabé, acerca do qual já recebestes mandamentos; se ele for ter convosco, recebei-o (Col 4, 10)”.

Marcos, em Roma, foi apenas o coadjutor de Paulo? Não! Ele esteve também ao lado do chefe dos apóstolos. Segundo Papias, bispo de Hierápolis nos anos 130, intérprete ou secretário de Pedro, embora não tendo visto nem seguido o Senhor, deixou por escrito o que a memória do chefe dos Apóstolos guardou dos ditos e dos atos do Senhor. Deste trabalho resultou no Evangelho de São Marcos.

Por fim, considera-se que São Marcos fundou, em nome de São Pedro, a Igreja de Alexandria no Egito. Por isto, os bispos desta igreja, como os da Igreja de Antioquia, fundada diretamente por Pedro receberam, desde antes do século IV, o título de patriarcas: dignidade que os colocava nas cerimónias religiosas em Roma, imediatamente depois dos papas, sucessores de São Pedro.

Diz-se que São Marcos foi capturado numa festa idólatra e jogado na prisão. Lá, Nosso Senhor Jesus Cristo ter-lhe-ia aparecido à noite, dizendo-lhe: "A paz esteja contigo, Marcos, meu evangelista". No dia seguinte, Marcos teria sido executado, e o seu corpo enterrado numa vila perto de Alexandria. Existem muitas versões sobre as relíquias de São Marcos, que teriam sido roubadas e levadas para Veneza no ano de 828. Reza a lenda, que os ladrões cobriram os ossos de Marcos com carne de porco para que os muçulmanos não pudessem tocar e inspecionar a carga. Podemos citar também mais duas possíveis localidades para as relíquias de São Marcos, a Igreja de São Marcos em Braga, Portugal, e uma outra que indica estar a cabeça de São Marcos em Alexandria. Na maioria das representações de Veneza, o leão de São Marcos segura um livro onde se lê, o lema da cidade: “A Paz esteja convosco, Marcos, meu evangelista".


A procissão das rogações


Ainda no dia 25 de abril, até à reforma de João XXIII em 1960, os católicos do mundo inteiro comemoravam a procissão, chamada em alguns países de Procissão de São Marcos, mas que na realidade era o dia das Rogações.

Com efeito, a Igreja instituiu no século V, para substituir a procissão pagã “robigalia”, dedicada a Robigo, deus romano que protegia os grãos, a procissão das Rogações que se realizava no dia 25 de Abril para pedir a proteção de Deus para os frutos e as searas. Vale a pena recordar que naquela época, ainda não se comemorava a festa de São Marcos neste dia.

No fim do século VIII, sob o pontificado de São Leão III, Roma também adotou as Rogações, e como já existia uma procissão no dia de São Marcos, esta ficou conhecida como Ladainhas Maiores.

Quanto a esta procissão das Rogações, um liturgista erudito afirma que ela teve como primeiro propósito o de comemorar na Basílica de São Pedro a chegada de São Pedro em Roma. É verdade que já existia uma festa para comemorar esta chegada e se tratava da Cátedra de Pedro, celebrada hoje no dia 22 de fevereiro, mas que na sua origem era comemorada no dia 18 de janeiro. Mas como São Pedro entrou em Roma duas vezes para se estabelecer, uma primeira, ao que parece, após a sua libertação do Prisão de Jerusalém e, uma segunda, após o concílio que presidiu na mesma cidade, não seria surpreendente haver duas comemorações distintas. Segundo este mesmo liturgista, o que era apenas uma comemoração local teria sido transformado por uma decisão do Papa São Gregório Magno numa súplica geral destinada a obter de Deus, por intercessão da Virgem e dos Santos, a cessação das pragas, das guerras, fomes, pestes, que devastaram a cristandade, e a abundante frutificação dos bens da terra.

Recordemos este duplo objetivo atribuído por São Gregório à procissão das Rogações, celebrada no dia 25 de abril. Em todos os momentos, é apropriado orarmos pela abundância de bens terrenos. Mas, neste momento, que necessidade temos de pedir a Deus o fim da pandemia, com consequências mais desastrosas do que as pragas do passado.  Infelizmente, quase mais nenhum católico conhece esta procissão do passado, que fez com que a peste cessasse em Roma...

sexta-feira, 23 de abril de 2021

23 de abril: São Jorge, padroeiro dos que combatem em defesa da fé


São Jorge nasceu na Capadócia, hoje Turquia, de parentes ricos e nobres, que tiveram o cuidado de instruí-lo, desde a infância, na Religião Cristã. Mal atingira a adolescência, entrou no exército e foi para guerra. Como era forte e muito habilidoso, chegou rapidamente a oficial nos exércitos do imperador romano.

Diocleciano reparou nas suas qualidades e, não sabendo se tratar de um cristão, começou a confiar-lhe missões cada vez mais importantes.

Tendo o imperador decidido perseguir os cristãos e abolir completamente a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, convocou um Conselho e expôs-lhes a sua intenção.

Todos aprovaram e aplaudiram, menos Jorge, que se se levantou e opôs-se fortemente à medida injusta e contrária ao serviço do verdadeiro Deus, que amava de todo o coração e estava disposto a oferecer a sua vida para a Sua glória.

O imperador e toda a assistência reconheceram, rapidamente, pelas palavras do bravo oficial, que era cristão. Muitos tentaram dissuadi-lo, recordando a bondade que o imperador tinha tido para com ele e os benefícios que ainda poderia esperar, caso mudasse de opinião, bem como os males e a desgraça que cairia sobre ele, caso recusasse.

Contudo, Jorge mostrou-se inabalável. Na sua ira, o imperador mandou colocá-lo na prisão. Amarraram-no com correntes, deitaram-no no chão e prenderam-no junto a uma enorme pedra.

Diocleciano mandou preparar uma roda, ao lado da qual mandou prender pontas de aço, para que a sua carne pudesse ser cortada em muitos pedaços. Depois deste tormento, São Jorge teve a sua cabeça cortada, no dia 23 de abril de 303, segundo alguns historiadores.

A antiguidade do culto e a devoção com que os cristãos do Oriente e do Ocidente manifestam a este santo, foi demonstrada por historiadores e autoridades inquestionáveis a ponto de São Jorge ter sido o padroeiro da Inglaterra até ao século XIX.

O que terá acontecido para, em 1893, o Papa Leão XIII tê-lo substituído por São Pedro, como o padroeiro da Inglaterra, apesar da Cruz de São Jorge ainda aparecer na bandeira do Reino Unido?

O que terá levado o Papa Paulo VI a rebaixá-lo em 1963 e São João Paulo II a restaurar o seu culto, inserindo o seu nome novamente na lista de Santos das liturgias da Horas?

Porque não temos um relato mais detalhado da vida e do martírio de São Jorge?

Segundo um autor anónimo do século XVIII, o motivo encontra-se em escritos que alguns inimigos da Igreja escreveram nos primórdios do cristianismo para obscurecer o esplendor dos santos e a glória da Igreja Católica. Neles, eram misturados fábulas e eventos tão maravilhosos, que aqueles que os liam achavam-nos tão incríveis, que davam a ideia de terem sido histórias inventadas, descredibilizando a hagiografia católica.

Por isso, segundo este autor, já no sexto Sínodo da Igreja foi ordenada a queima de muitos escritos com a vida de santos, proibição da sua leitura e cópia dos mesmos.

Contudo, no Decretum Gelasianum, que ratificou os livros canônicos e apócrifos aprovados pela Igreja, Santo Gelásio I faz menção da história da vida e do martírio escrito por hereges. Talvez por esta razão, no breviário romano reformado por Pio V, não haja leituras particulares para a celebração de São Jorge.

Apesar de tudo, a devoção a São Jorge que, com a sua lança, ou espada, matou o dragão, ainda é muito popular.

De acordo com a lenda, São Jorge encontrava-se com a sua legião romana numa região próxima a Salone, Líbia, no norte da África. Ali, vivia um enorme dragão alado, que envenenava todo aquele que, simplesmente, passasse perto do seu esconderijo. Tal era o terror dos habitantes da região, que passaram a oferecer-lhe animais e até crianças.

Quando chegou a vez de Sabra, a filha do Rei, de apenas 14 anos, São Jorge pediu ao Rei que prometesse converter-se à religião católica, caso derrotasse o dragão e trouxesse a sua filha de volta.

O rei acedeu e São Jorge, montado no seu cavalo branco, depois de muita luta e oração, acertou com a sua poderosa espada a cabeça e uma das asas do dragão, que caiu sem vida. O Santo amarrou a fera, arrastou-a até à cidade, entregou Sabra a seu pai e diante da população cortou a cabeça do monstro. Diante de tal prodígio, toda a população pediu o batismo e reconheceu Nosso Senhor Jesus Cristo, como o único e verdadeiro Deus!

O dragão desta lenda simboliza a idolatria, que mata inocentes e causa destruição e é destruída pela espada da Fé. A jovem que São Jorge salvou representaria a região na qual combateu as heresias e instalou a Fé cristã.

Juntamente com São Miguel Arcanjo, São Jorge é um dos padroeiros dos soldados e de todos os que combatem por Nosso Senhor Jesus Cristo. A Santa Igreja venera-o como um dos seus particulares defensores contra os inimigos da Fé.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

Dona Lucília: Serenidade, gravidade e bondade

 

“O misto de seriedade, de gravidade, de bondade e até de meiguice que se exprimem na fisionomia de Dona Lucília são qualidades que existem nela de um modo tão excelente, e que se combinam para formar um todo tão agradável de ver no seu conjunto, que se fica com a vontade de olhar indefinidamente” (...).

“Vê-se, nesta fotografia, que Dona Lucília era uma senhora que tinha atingido uma idade extrema. Ela estava com noventa e dois anos nessa ocasião, idade em que falecem os que morrem tarde. Foi uma pessoa que não exerceu nenhuma profissão. Entretanto percebe-se que ela carrega consigo um grande cansaço. Cansaço do quê? Em parte, é o que nós poderíamos chamar o cansaço do equilíbrio.

“Cansa estar procurando o equilíbrio em tudo, e cumprindo a justiça em tudo. Levar uma vida inteiramente dentro dos Mandamentos é preparar-se para o Céu, mas ainda não é o Céu. Pelo contrário, é o sofrer na Terra para chegar até lá.

“Vemos aí o extremo cansaço de inúmeras dores, de incontáveis deveres cumpridos, de situações difíceis enfrentadas e vencidas sem a menor pretensão. Ninguém, olhando para ela, diria o seguinte: “Essa senhora se considera um colosso.” Nada, nem um pouco, nem passa pela cabeça dela isso. Porquê? Equilíbrio! (...).

Consolação encontrada no Sagrado Coração de Jesus

“Dona Lucília foi compreendendo que na época em que ela vivia as relações já não eram movidas senão por interesse, e que o afeto desinteressado fazia parte do tempo expirante do romantismo.

“Com a modernidade tinha entrado a brutalidade, o interesse pessoal, o pouco caso pelos outros que sofrem e o desprezo. Isso marcou uma grande tristeza na vida dela, por compreender que tudo não era senão isolamento, pois todo mundo era assim e ela não teria possibilidade de encontrar quem tivesse para com ela a forma de afeto e de união de alma que ela quereria ter com tantas pessoas.

“Daí, então, uma espécie de problema axiológico: “Como é a vida? Como devo fazer? Como preciso entender as coisas?” Onde entrava uma profunda deceção e um modo muito severo, inteiramente real e exato, de ver os outros. (...) Com o seu bom senso, sua retidão moral, ela radiografou a existência e compreendeu como era.

“Daí uma grande deceção, mas também uma enorme consolação, pois se vê bem tudo quanto nela confluía ao Sagrado Coração de Jesus, que exatamente é “Fonte de toda consolação”, segundo uma das invocações da Ladainha do Sagrado Coração de Jesus. É verdade que se na vida encontrarmos apenas deceções, encontraremos a Ele, que é a Fonte de toda consolação”.

Plinio Corrêa de Oliveira, Conferências de 12 de janeiro de 1994 e 8 de fevereiro de 1995

segunda-feira, 29 de março de 2021

A humildade e os grandes dons de Deus

 


Quanto maiores forem os favores concedidos por Deus a uma alma, tanto maior será o conhecimento da própria indignidade, desproporção e miséria que o Senhor dará àqueles que os recebem.

Este foi sempre um dos sinais para distinguir os verdadeiros dons celestes, das contrafações diabólicas.

Exemplo disto encontramos em Nossa Senhora, na Anunciação do Anjo São Gabriel. Ao ouvir: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”. A Santíssima Virgem perturbou-Se com as palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. Pouco depois, como comenta São Lucas, já na casa da sua prima, Santa Isabel, deu glória a Deus dizendo: "A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito exulta em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva, dora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada" (Lc 1, 46 – 48). 

O sentimento de pequenez e de indignidade são comuns aos Santos. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo revelou a Santa Margarida Maria Alacoque o que lhe aconteceria:

“Depois de receber algumas dessas comunicações divinas, das quais a alma é tão indigna, sentirei o meu espírito imerso num abismo de aniquilação e de confusão, de modo que a minha dor será tão penível, diante da minha indignidade, quanto doce foi o conforto que me trouxe a notável liberalidade do meu Salvador, afogando assim toda a minha complacência humana e todo o sentimento da minha própria estima" ("Vida da beata Madre Margarida Maria Alacoque, escrita pela própria", Trento 1889, pag. 280).


domingo, 21 de março de 2021

A paternidade dos sacerdotes

 

Os sacerdotes são chamados padres (do latim, pater, pai) porque na realidade são investidos de uma paternidade superior e efetiva, que é a paternidade espiritual.

Eles estão muito ligados às almas, que são a parte mais importante do ser humano, dotado de corpo e de alma. Eles querem a salvação eterna de cada um, ensinam, elevam, sustentam e, não há um pai ou uma mãe que tenha um cuidado maior para com os seus filhos do que o do sacerdote para cada um dos seus fiéis, de quem ele responderá diante de Deus.
Normalmente, ele não conhece a solidão, porque vive cercado por uma família espiritual que o chama “padre”!

Um verdadeiro sacerdote não para, - quer constantemente fazer com que os corações se aproximem e amem mais Nosso Senhor Jesus - conduz as almas regeneradas e santificadas pelo seu zelo, protege-as, com os seus conselhos, ministra incessantemente os sacramentos e indica o caminho que conduz ao Céu.  

E, estas almas serão a coroa do sacerdote no Céu onde, sem dúvida, as famílias voltarão a se reunir, mas formarão, também, uma família espiritual mais alargada, com todos aqueles que as ajudaram a alcançar a salvação eterna.

Ali veremos juntos, por exemplo, os irmãos, São Basílio, com Santa Macrina, São Naucrácio, São Pedro de Sebaste e São Gregório de Nissa; São Bento com Santa Escolástica; mas também São Vicente de Paula e Santa Joana de Chantal, sua filha espiritual; São Francisco com Santa Clara; São João Bosco com o Beato Miguel Rua; e todos os fundadores de institutos e ordens religiosas, saudados por inúmeras legiões de filhos que os abençoarão dizendo-lhes:

“Vós sois o meu pai! Ou, vós sois a minha mãe! Foi graças a vós que conheci o Caminho, a Verdade e a Vida. Com os vossos conselhos, consegui combater e livrar-me da minha natureza desregrada. A minha vida sobrenatural foi enriquecida pela vossa experiência, união e amor a Deus. Assim, a vós devo a vida eterna, perpetuamente feliz e bem-aventurada”.

sábado, 20 de março de 2021

O sargento francês salvo do fuzilamento por Nossa Senhora


O exército francês encontrava-se muito reduzido e desanimado naqueles meses que antecederam o final da guerra franco-prussiana. Neste quadro de tristeza, o Padre d’Audiffret, capelão militar, narra um belíssimo fato que atesta a eficácia da proteção de Nossa Senhora aos seus filhos.

A neve cobria a cidade de Faucille, junto dos Montes Jura. As últimas provisões estavam a ser usadas e os cavalos já começavam a ser abatidos para servir de alimento para a tropa esfomeada.

De repente, um soldado grita:

- Rápido, capelão! O general pede que prepare um dos nossos soldados antes que seja fuzilado.

— Mas, meu Deus, fuzilado? O que ele fez?

— Não tenho tempo para lhe explicar, venha.

Primeira intervenção do Céu

O capelão apressa-se e entra no campo preparado para a execução e pede para abaixarem os fuzis e os canhões que já estavam direcionados sobre o condenado. Aproximando-se do militar, o sacerdote abraça-o, paternalmente.

— Meu pobre rapaz. Já que a misericórdia dos homens o abandona, trago-lhe a do Bom Deus. Ofereça à justiça dos homens e à de Deus o sangue que vai ser derramado e suba para o Céu, a pátria dos arrependidos e dos bravos.

Enquanto o sacerdote fazia o sinal da Cruz da absolvição, algumas bombas prussianas começaram a explodir.

De todos os lados, ouviam-se gritos, que saiam do fundo do coração de pessoas cansadas e aterrorizadas pela guerra:

— Salve-se quem puder! Os Prussianos chegaram!

O capelão permanece impávido ao lado do sargento que tinha as mãos atadas e os olhos vendados. Devolvendo-lhe a liberdade de movimento e de visão, disse-lhe:

— Meu amigo, este é um traço da misericórdia divina. Você tem agora mais tempo para se preparar antes de comparecer diante de Deus.

Depois de permanecer escondido por algum tempo, o sargento voltou a ser apanhado e seguiu a marcha do exército que se dirigia para Gex, no departamento do Ain.

Cada batalhão que chegava, apresentava-se na Prefeitura para receber víveres.

O sacerdote entra no edifício e depara-se com o general que, tirando o relógio do bolso, lhe indica a sala onde tinha sido transferido o prisioneiro e disse-lhe:

— Capelão, prepare o rapaz, porque dentro de quinze minutos ele vai morrer. Já mandei dois homens cavarem uma fossa. Ele será fuzilado na borda da cova.

O sacerdote dirige-se para junto do sargento, que ao lhe ver pergunta:

— Senhor Padre, é verdade que vão fuzilar-me?

— Não se iluda, pobre rapaz.

E o soldado confessa-se com um sangue-frio admirável. Em seguida, levantando-se, exclama:

— Padre, não vou mais ver a minha mãe? Ela ficaria tão orgulhosa se soubesse que o filho morreu no campo de honra, na batalha! Mas morrer fuzilado pelos seus companheiros... Não, Padre, isto é muito duro! Por piedade para com a minha mãe, salve-me!

Num lance de desespero, o militar abre a janela para se atirar, mas rapidamente se dá conta de que do segundo andar, a morte seria certa. Voltando-se para os braços do seu único apoio, repete: “Salve-me! Salve-me!”

— Meu amigo, você me parte o coração! Se eu pudesse, colocar-me-ia até no seu lugar e morreria por si. Mas tenha a certeza de uma coisa: O que eu não posso fazer, Nossa Senhora pode. Diga-me, sargento: ama Maria Santíssima?

— Ah! Senhor Padre, como A amo! Eu sou da cidade d’Ela.

— Mas você é de Nazaré ou da Galileia?

— Não. Sou dos Pirenéus, da cidade de Lourdes.

— Ah! Compreendo. Mas, tem o hábito de rezar a Nossa Senhora?

— Juro que não passei um só dia desta triste guerra sem rezar a oração “Lembrai-Vos, o píssima Virgem Maria”.

—Como, meu amigo! Você é compatriota de Nossa Senhora e reza a Ela todos os dias? Então esteja certo de que Ela pode, e espero que Ela queira salvá-lo. Ajoelhe-se e rezemos juntos o “Lembrai-Vos”. O socorro não tardará!

Segunda intervenção do Céu

Mal acabaram de dizer as palavras: “Mas dignai-Vos de ouvir propício e alcançar o que Vos rogo”, desta oração infalível, que golpes precipitados se fazem ouvir à porta.

O soldado compreendera que o quarto de hora tinha expirado e meio chorando, exclamou:

— Eu vou morrer! Não verei mais a minha mãe!

O capelão abre a porta e um desconhecido apresenta-se:

— Senhor Padre, não ouve o barulho aqui em frente da Prefeitura?

— Senhor, ouço-o muito bem. Mas permita-me perguntar com quem tenho a honra de falar.

— Sou o chefe do Tribunal de Gex. A ordem e paz foram perturbadas e o meu dever é restabelecê-las. A população inteira pede que o sargento seja libertado. Estas pessoas honestas não querem que o primeiro sangue derramado aqui seja de um francês. Se esta execução acontecer, o senhor padre terá de tratar de novas misérias, algo que certamente não quer. Ajude-me, então, a salvar o sargento.

— Senhor, este é todo o meu desejo, respondeu o sacerdote, mas, infelizmente, o juramento de honra impede-me de intervir neste caso.

— Então, devemos deixar que o fuzilem?

— Não, Senhor, podemos fazer algo melhor. Vem-me uma ideia: Peçamos ao comandante encarregado da execução de mostrar a ordem escrita, pois eu sei que ela não existe e até tem havido muito murmúrio dos soldados sobre este fuzilamento. Foi num momento de cólera que o general disse ao Comandante: “Fuzilemos este rapaz!”.

Rapidamente, o magistrado sai da sala e, ao encontrar o comandante, interpela-o:

— O Senhor tem uma ordem escrita?

— Não, respondeu o comandante.

— Como, o Senhor ousaria fuzilar um homem apenas com uma ordem verbal? Ou o Senhor apresenta a ordem escrita ou opor-me-ei à execução.

O comandante, que queria escapar do cumprimento da ordem, dirige-se à sala do General, que se encontrava com os cotovelos apoiados na soleira da janela, observando com ansiedade o movimento popular e pede-lhe a ordem escrita.

— Vou já tratar disto, afirma o General.


Absolvição e alegria pela proteção de Nossa Senhora

O Conselho de Guerra foi convocado para examinar o caso e em poucos minutos acabou por absolver o sargento. Com efeito, o motivo da sua condenação não merecia nem um quarto de hora de prisão.

Sentindo-se humilhado e descontente, o general enrolando o seu bigode, manda chamar o capelão.

— Senhor Padre, apesar do dissabor ao ver a minha ordem revertida, ficaria encantado se fosse o capelão a anunciar ao sargento que ele foi inocentado.

O sacerdote voltou para junto do prisoneiro, que se encontrava mais deitado do que ajoelhado e interpelou-o:

— Sargento, o que Nossa Senhora lhe disse durante a minha ausência?

— O Senhor padre sabe melhor do que eu, respondeu o sargento com uma voz muito fraca e desanimada.

— Pois bem, meu amigo! Nossa Senhora encarregou-me de lhe anunciar uma muito boa notícia: você terá muito tempo ainda para se preparar para morrer.

O Sacerdote não queria anunciar abruptamente a graça obtida, pois acreditava que a mudança de ânimo muito rápida poderia matar com mais precisão do que dez balas. Por isso, aproxima-se do prisioneiro e diz-lhe:

— Acompanhe-me por favor.

— Para ser morto?

— Não, meu amigo, dou-lhe a minha palavra de honra e de sacerdote. Siga-me, por favor.

Tremendo e apoiando os braços no capelão, o sargento chega até à Praça central, onde estava reunida a multidão, que ansiava ver o condenado.

— É ele ! Ali está o sargento que vai ser fuzilado, ouvia-se de todos os lados.

— Não ainda, afirmou o capelão, acompanhando com um gesto que incutia confiança e respeito.

Os dois dirigiram-se para a Capela da Visitação, situada do outro lado da praça. A multidão, ignorando a decisão do Conselho de Guerra, não compreendia nada desta cena imprevista. Quanto ao sargento, pouco confiante ainda no que lhe aconteceria, não cessava de repetir:

— Senhor Padre, onde está a levar-me?

Entraram na capela e dirigiram-se para a capela de Nossa Senhora, enquanto a multidão curiosa invadia o estreito espaço.

— Sargento, coloque-se de joelhos e rezemos juntos o “Lembrai-Vos”, diante de Nossa Senhora.

Acabada a oração, o sacerdote ajuda o sargento a levantar-se e diz-lhe:

— Meu amigo, você não vai ser fuzilado. Voltará a ver os Pirenéus e dirá à sua mãe deste mundo que a sua Mãe do Céu o salvou por causa da oração do “Lembrai-Vos”, que recita diariamente.

O ex-condenado e o seu consolador saem do lugar sagrado no meio de aclamações da multidão que a boa notícia deixara muito contente.

— Viva o sargento! Gritava o povo.

— Viva Nossa Senhora que salvou o sargento! Respondeu o capelão.

terça-feira, 16 de março de 2021

Come prepararsi alla festa di San Giuseppe?

Nel XIV secolo, Fra’ Giovanni da Fano, celebre per le sue doti di predicatore, che gli valsero il soprannome di “secondo Antonio da Padova” e uno dei promotori della riforma che diede origine al nuovo ramo francescano dei Cappuccini, raccontò la storia di due frati che sono stati salvati da un naufragio grazie alla protezione di San Giuseppe, che gli apparse e disse loro:
Io sono San Giuseppe, degnissimo sposo della Beatissima Madre di Dio, al quale tanto vi siete raccomandati. E ultimamente ho impetrato, dall’infinita clemenza divina, che qualunque persona dirà ogni giorno, per tutto un anno, sette “Padre nostro” e sette “Ave Maria”, meditando sui sette dolori che io ebbi nel mondo, otterrà da Dio ogni grazia che sia conforme al suo bene spirituale”.

E lo stesso San Giuseppe indicò ai frati quali erano stati i suoi dolori, ai quali sono state aggiunte le gioie.

Questa devozione si è diffusa ampiamente da parecchi secoli, con la denominazione “I Sette dolori e gioie di San Giuseppe” e serve anche di pratica per la novena del Padre Legale del Bambino Gesù, Sposo di Maria Vergine, Protettore della Sacra Famiglia e della Santa Chiesa.

Il Beato Papa Pio IX ha concesso indulgenze a chi recita la corona delle sette allegrezze e sette dolori di San Giuseppe.

Corona dei sette dolori ed allegrezze di San Giuseppe

1. O sposo purissimo di Maria Santissima, glorioso San Giuseppe, siccome fu grande il travaglio e l'angustia del vostro cuore nella perplessità di abbandonare la vostra illibatissima sposa: così fu inesplicabile l'allegrezza quando dall' angelo vi fu rivelato il mistero sovrano dell'Incarnazione.

Per questo vostro dolore e per questa vostra allegrezza vi preghiamo di consolar ora e negli estremi dolori l'anima nostra con l'allegrezza di una buona vita e di una santa morte somigliante alla vostra, in mezzo di Gesù e di Maria.

Padre Nostro, Ave Maria e Gloria al Padre.

2. O felicissimo Patriarca, glorioso San Giuseppe, che trascelto foste all'uffizio di Padre putativo dell’umanato Verbo, che dolore doveste sentire nel vedere nascere con tanta povertà il bambino Gesù! ma questo si cambiò subito in giubilo celeste nell'udire l'armonia angelica e nell'udir le glorie di quella fortunatissima notte.

Per questo vostro dolore e per questa vostra allegrezza vi supplichiamo d'impetrarci, che dopo il cammino di questa vita, ce ne passiamo a udire le lodi angeliche, ed a godere gli splendori della celeste gloria.

Padre Nostro, Ave Maria e Gloria al Padre.

3. O esecutore delle divine leggi, glorioso San Giuseppe, il sangue preziosissimo che sparse nella circoncisione il Bambino Redentore vi trafisse il cuore, ma il nome di Gesù ve lo ravvivò, riempiendolo di contento.

Per questo vostro dolore e per questa vostra allegrezza, otteneteci, che, tolto da noi ogni vizio in vita, col nome santissimo di Gesù nel cuore e nella bocca, giubilando spiriamo.

Padre Nostro, Ave Maria e Gloria al Padre.

4. O fedelissimo Santo, che a parte foste dei Misteri della nostra Redenzione, glorioso San Giuseppe, se la profezia fatta da Simeone di ciò che Gesù e Maria erano per patire, vi cagionò spasimo di morte, vi ricolmò ancora di un beato godimento per la salute e gloriosa risurrezione, che insieme predisse dover seguirne, d'innumerabili anime.

Per questo vostro dolore e per questa vostra allegrezza, impetrateci che noi siamo nel numero di quelli, che, per i meriti di Gesù e ad intercessione della Vergine sua Madre, hanno gloriosamente da risorgere.

Padre Nostro, Ave Maria e Gloria al Padre.

5. O vigilantissimo custode, famigliare intrinseco dell'Incarnato Figliuolo di Dio, glorioso San Giuseppe, quanto penaste in sostenere e servire il Figlio dell'Altissimo particolarmente nella fuga che doveste fare in Egitto; ma quanto ancora molto gioiste avendo sempre con voi l'istesso Dio, e vedendo cadere a terra gli Idoli Egiziani.

Per questo vostro dolore e per questa vostra allegrezza, impetrateci, che tenendo da noi lontano il tiranno infernale, specialmente colla fuga delle occasioni pericolose, cada dal nostro cuore ogni idolo di affetto terreno; e tutti impiegati nella servitù di Gesù e di Maria, per loro solamente da noi si viva, e felicemente si muoia.

Padre Nostro, Ave Maria e Gloria al Padre.

6. O Angelo della terra, glorioso San Giuseppe, che ai vostri cenni ammiraste soggetto il Re del Cielo, so che la consolazione vostra nel ricondurlo dall'Egitto intorbidò col timore di Archelao; assicurato nondimeno dall'Angelo, lieto con Gesù e Maria, dimoraste in Nazareth.

Per questo vostro dolore e per questa vostra allegrezza, impetrateci che da timori nocivi sgombrato il nostro cuore godiamo pace di coscienza e sicuri viviamo con Gesù e Maria e fra loro ancora moriamo.

Padre Nostro, Ave Maria e Gloria al Padre.

7. O esemplare d'ogni Santità, glorioso San Giuseppe, smarrito che aveste senza vostra colpa il fanciullo Gesù, {104 [384]} per maggior dolore tre giorni lo cercaste, finché con sommo giubilo godeste della vostra Vita ritrovata nel tempio fra i dottori.

Per questo dolore e per questa vostra allegrezza vi supplichiamo, col cuore sulle labbra, ad interporvi, onde non ci avvenga mai di perdere con colpa grave Gesù. Che se per somma disgrazia lo perdessimo, fate, che con tale indefesso dolore lo ricerchiamo, finché favorevole lo ritroviamo, particolarmente nella nostra morte, per passare a goderlo in Cielo, ed ivi con voi in eterno cantare le sue divine misericordie.

Padre Nostro, Ave Maria e Gloria al Padre.

Ant. La Madre di Gesù gli disse: Figlio, perché ci hai fatto così? Ecco, tuo padre ed io, angosciati, ti cercavamo (LC 2, 48).

V. Prega per noi, San Giuseppe.

R. Perché siamo fatti degni delle promesse di Cristo.

Preghiamo

O Dio, che con ineffabile provvidenza vi siete degnato di scegliere il Beato Giuseppe come Sposo della vostra Madre Santissima, fa che mentre lo veneriamo come protettore in terra, meritiamo di averlo come intercessore in Cielo. Tu che vivi e regni nei secoli dei secoli.

R. Amen.


Consigli di Don Bosco

Pensando a un modo per fare con che i bambini potrebbero celebrare San Giuseppe, con il cuore purificato e più amorevole verso Nostro Signore Gesù Cristo, San Giovanni Bosco scrisse nel 1869 una lettera a tutti i superiori delle prime comunità salesiane del Piemonte. In essa, Don Bosco chiede che durante i nove giorni che precedono la festa di San Giuseppe i giovani meditino su uno dei punti che il santo ha enumerato. Il 19 marzo ha suggerito di fare una promessa.
1° giorno (10 marzo): Patire e anche morire, ma non peccare.
2° giorno (11 marzo): Le ricchezze, gli onori, i piaceri, c he mi serviranno al punto di morte?
3° giorno (12 marzo): Tardi o presto mi dovrò presentare al Tribunale di Dio.
4° giorno (13 marzo): È una pazzia cercare la felicità lontano da Dio.
5° giorno (14 marzo): Oh, quanto sarà lunga l'eternità!

6° giorno (15 marzo): Come si vive, così si muore.

7° giorno (16 marzo): Dio non abbandona il giovane virtuoso.

8° giorno (17 marzo): Che dolce piacere riposare in pace con Dio.

9° giorno (18 marzo): Oh, quanto deve essere bello il paradiso! Voglio guadagnarlo.

Il giorno della festa di San Giuseppe (19 marzo): In onore di San Giuseppe, non macchierò la mia lingua con parole indecenti.

Non sembrano meditazioni proprie di un ritiro spirituale, che ci interrogano sul nostro fine ultimo, sul nostro rapporto con Dio e sulla nostra vera felicità su questa terra e in Cielo, per tutta l'eternità ?!


Novena para a festa de São José, escrita por São João Bosco

Pensando numa maneira de fazer com que as crianças pudessem festejar São José, com o coração purificado e mais amante a Nosso Senhor Jesus Cristo, São João Bosco escreveu em 1869 uma carta a todos os superiores das primeiras comunidades salesianas do Piemonte. Nela, Dom Bosco pede que, durante os nove dias que antecedem a festa de São José - Pai Legal do Menino Jesus, Esposo de Maria, Protetor da Sagrada Família e da Santa Igreja - as crianças meditem sobre um dos pontos  por ele enumerados. No dia 19 de março, sugere que todas façam um propósito.

Preparação para a festa de São José

1° dia (10 de março): Sofrer e até morrer, mas não pecar.

2 ° dia (11 de março): As riquezas, as honras, os prazeres, de que me servirão quando estiver prestes a morrer?

3 ° dia (12 de março): Tarde ou logo terei de me apresentar ao tribunal de Deus.

4 ° dia (13 de março): É uma loucura buscar a felicidade longe de Deus.

5º dia (14 de março): Oh, quão longa será a eternidade!

6 ° dia (15 de março): Assim como vivemos, morremos.

7º dia (16 de março): Deus não abandona o jovem virtuoso.

8 ° dia (17 de março): Que doce prazer descansar em paz com Deus.

9º dia (18 de março): Oh, como deve ser lindo o Céu! Quero alcançá-lo.

No dia da festa de São José (19 de março): Em homenagem a São José, não macularei a minha língua com palavras indecentes.

Não parecem meditações próprias a um retiro espiritual, que nos questionam sobre o nosso fim último, o nosso relacionamento com Deus e a nossa verdadeira felicidade nesta terra e no Céu, por toda a eternidade?!

domingo, 14 de março de 2021

No Equador, os legionários cantam “O noivo da Morte”

 

A Unidade de elite da Comissão de Trânsito do Equador, criou em 2011 um corpo de “Legionários”, cujo emblema inclui a insígnia da Legião Espanhola, apenas com a substituição da besta e do arcabuz por duas espingardas e  utiliza a cerimónia da transladação do Cristo da Boa Morte, protagonizada pelos legionários espanhóis, em Málaga, na Quinta-feira Santa de cada ano.

No vídeo abaixo, ouvimos parte do desfile e do hino, cuja tradução apresentamos abaixo:     


O Noivo da Morte

Ninguém, no Terço, sabia
quem era aquele legionário
tão audaz e temerário
que se alistou na Legião.

Ninguém sabia a sua história,
mas a Legião supunha
que uma grande dor lhe mordia
como um lobo, o coração.

Mas se alguém lhe perguntasse quem era
com dor e rudeza respondia:

“Sou um homem a quem a sorte
feriu com garra de fera;
sou um noivo da morte
que vai unir-se em laço forte
com tão leal companheira”.

Quando o fogo estava mais forte
e a luta mais feroz,
defendendo a sua bandeira,
o legionário avançou.

E sem temer a arrojo
do inimigo exaltado,
soube morrer como um valente
e a bandeira resgatou.

E ao regar com o seu sangue a terra ardente,
murmurou o legionário com voz dolente:

“Sou um homem a quem a sorte
feriu com garra de fera;
sou um noivo da morte
que vai unir-se em laço forte
com tão leal companheira”.

Quando, finalmente, o resgatam,
entre o seu peito encontraram
uma carta e um retrato
de uma divina mulher.

E aquela carta dizia:
"... se algum dia Deus te chamar
para mim um lugar reclamar
em breve irei buscar-te".

E no último beijo que lhe enviava
a sua última despedida consagrava-lhe.

Para ir ao teu lado para te ver,
minha mais leal companheira,
fiz-me noivo da morte,
apertei-lhe com laço forte
e o seu amor foi a minha bandeira!