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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O amor de São Francisco de Assis à Eucaristia e ao sacerdócio

 


Numa carta enviada a toda a Ordem, São Francisco de Assis exorta:

 Ouvi, filhos do Senhor e meus irmãos, e dai atenção às minhas palavras (Act  2,  14). Prestai os ouvidos (Is 55, 3) do vosso coração e obedecei à voz do Filho de Deus. Guardai de todo o vosso coração os seus mandamentos, e cumpri com perfeição os seus conselhos. Louvai-O a Ele, porque é bom (Sl 135, 1), e exaltai-O por meio das vossas obras (Tb 13, 6) pois, para isto Ele vos enviou ao mundo: para que, por palavras e obras, deis testemunho da sua voz e a todos façais saber que não há outro Omnipotente senão Ele (Tb 13, 4). Perseverai na disciplina (Heb  12,  7)  e  na  santa  obediência;  e  o  que  Lhe  prometestes,  cumpri-o  com  bom  e  firme propósito.  Como a filhos, oferece-Se a nós o Senhor Deus (Heb 12, 7).

 Da veneração do Corpo do Senhor

E por isso a todos vós, irmãos, imploro no Senhor, beijando-vos os pés e com quanta caridade eu posso, que presteis toda a reverência e toda a honra que puderdes, ao santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tudo o que há no céu e sobre a terra foi pacificado e reconciliado (Cl 1, 20).

Da celebração da Santa Missa

Rogo ainda no Senhor a todos os meus irmãos, que são e serão e desejam ser sacerdotes do Altíssimo, que, quando quiserem celebrar missa, puros e com pureza e respeito celebrem o verdadeiro sacrifício do Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com santa e pura intenção, e não por qualquer motivo terreno, nem por temor ou consideração de qualquer pessoa, como para agradar aos homens (Ef 6, 6; Cl 3, 22). Mas que toda a sua vontade, tanto quanto ajude a graça do Omnipotente, a Ele dirijam, não desejando agradar senão a Ele só, que é o soberano Senhor. Porquanto neste mistério só Ele opera como lhe agrada. E pois Ele nos diz:  Fazei isto em memória de mim (Lc  22,  19;  1Cor  11,  24),  se  alguém  fizer  de  outro  modo, torna-se noutro Judas traidor, réu do Corpo e Sangue do Senhor (1Cor 11, 27).

Lembrai-vos, meus irmãos sacerdotes, do que está escrito acerca da lei de Moisés: os que a transgrediam, mesmo nas coisas corporais, sem qualquer comiseração eram punidos de morte (Heb 10, 28), por sentença do Senhor. Quão maiores e mais terríveis suplícios merecem sofrer quem calca aos pés o Filho de Deus e ousa profanar o sangue do Testamento, com que foi santificado, e ultraja o espírito da graça?  (Heb  10,  29). 

O homem, de facto, despreza, profana e calca aos pés o Cordeiro de Deus, quando, como diz o Apóstolo, não discernindo (1Cor 11, 29) e distinguindo o pão santo de Cristo dos outros alimentos ou das outras obras, ou o come sendo indigno, ou mesmo, sendo digno, o come de modo vão e indigno, quando é verdade que o Senhor diz pelo Profeta: “Maldito o homem que faz a obra do Senhor com hipocrisia” (Jr 48, 10).

E aos sacerdotes que se recusam a gravar deveras estas coisas sobre o coração, condená-los-á o Senhor, que diz: “Amaldiçoarei as vossas bênçãos” (Ml 2, 2).

Ouvi, irmãos meus: Se a bem-aventurada Virgem Maria é honrada, como é de justiça, porque trouxe ao mesmo Senhor em suas santíssimas entranhas, se o bem-aventurado Baptista tremeu e não ousou tocar a cabeça sagrada do seu Deus, se é venerado o Sepulcro no qual por algum tempo ele jazeu, que santidade, justiça e dignidade não se requer naquele que trata com suas mãos, recebe no coração e na boca, e distribui aos outros, como alimento, Aquele que já, agora, não  morre,  mas  vive  eternamente  glorioso,  o  Cristo,  a  quem  os  Anjos  desejam contemplar? (1Pe 1, 2).

Vede a vossa dignidade, irmãos sacerdotes, e sede santos, porque também Ele é santo (Lv 19, 2).

E, como por motivo deste mistério, o Senhor mais que a todos vos honrou, assim amai-O, reverenciai-O e honrai-O mais que todos. 

Oh! miséria grande, oh! miseranda fraqueza, terde-Lo vós assim presente, e ocupardes-vos de qualquer outra coisa do mundo!

Que o homem todo se espante, que o mundo todo trema, que o céu exulte, quando sobre o altar, nas mãos do sacerdote, está Cristo, o Filho de Deus vivo! (Jo 11, 27).

Oh! grandeza admirável, oh! condescendência assombrosa, oh! humildade sublime, oh! Sublimidade humilde, que o Senhor de todo o universo, Deus e Filho de Deus, se humilhe a ponto de se esconder, para nossa salvação, nas aparências de um bocado de pão.

Vede, irmãos, a humildade de Deus e expandi diante d’Ele os vossos corações (Sl 61, 9); humilhai-vos também vós, para que Ele vos exalte (1Pe 5, 6; Tg 4, 10).

Em conclusão: nada de vós mesmos retenhais para vós, a fim de que totalmente vos possua Aquele que totalmente a vós Se dá.

 Da Sagrada Eucaristia em comunidade

Por isso, admoesto e exorto no Senhor, que nos lugares onde moram os irmãos, uma só missa se celebre cada dia, segundo a forma da santa Igreja. E nos lugares em que houver vários sacerdotes, por amor de caridade, contentem-se os outros com ouvir a missa daquele que celebra; porque aos que celebram, como aos que não celebram, desde que sejam dignos, o Senhor Jesus Cristo os cumula de graças. O qual, ainda que O vemos em diversos lugares, todavia permanece indivisível e sem de modo nenhum se fragmentar, mas sempre Um em toda a parte, opera como Lhe apraz, com o Senhor Deus Pai e o Espírito Santo, por séculos de séculos, Ámen.

 Da veneração das palavras sagradas

Depois, porque quem é de Deus, ouve as palavras de Deus (Jo  8,  47),  devemos em consequência,  nós,  os  que  mais  especialmente  somos  incumbidos  dos  ofícios  divinos,  não  só ouvir e fazer o que Deus diz, mas ainda, para mais nos compenetrarmos da grandeza do nosso Criador e da nossa sujeição a Ele, guardar com cuidado e reverência os vasos sagrados e os livros que servem nos ofícios e  contêm  as  suas  santas  palavras. E, por isso, admoesto a todos os meus irmãos e os exorto em Cristo a que, onde quer que encontrem escritos com suas divinas palavras, os venerem o melhor que possam, e, quanto a eles respeita, se não andam bem guardados ou estão em qualquer lugar menos digno, os recolham e coloquem em lugar decente, honrando nas palavras o Senhor que as proferiu. Porque muitas coisas são santificadas pelas palavras de Deus (1Tm 4, 5), e é em virtude das palavras de Cristo que se realiza o sacramento do altar.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Um meio fácil de se chegar à perfeição

 


Durante muitos anos, dois anacoretas pediram a Deus que lhes indicasse qual deveria ser a melhor maneira de O servir na perfeição.

Certo dia, cada um, separadamente, ouviu uma voz interior que lhes dizia para irem até à cidade de Alexandria, onde encontrariam um homem chamado Eucaristo, cuja mulher chamava-se Maria, que serviam a Deus mais perfeitamente que eles. Com este casal, aprenderiam a melhor honrar e amar a Deus.

Apesar de idosos e com dificuldades de locomoção, os eremitas não hesitaram em fazer-se rapidamente à estrada. Uma vez chegados a Alexandria, bateram de porta a parte, mas sem sucesso. Ninguém conhecia Eucaristo. Depois de três dias, começaram a duvidar da auteno cidade da voz interior e já prestes a voltar para a recolhimento, quando se aperceberam de uma mulher, que se encontrava de pé ao lado de uma pobre casa. Numa última tentativa, perguntaram-lhe:

- Senhora! Por acaso, conhece um homem chamado Eucaristo?

Qual não foi o espanto ao ouvirem a resposta:

- Claro que sim! É o meu marido.

Então, a senhora, chama-se Maria?

- Quem lhes informou sobre o meu nome?

Ouvimos uma voz interior que nos disse para vir a Alexandria, para falar com o Eucaristo e a sua mulher, Maria.

Eucaristo demorou ainda algum tempo a chegar, pois passara o dia no campo, com o seu rebanho de ovelhas. Os anacoretas correram ao seu encontro, saudaram-no e pediram-lhe que lhes contasse como era o seu estilo de vida.

- Sou um pobre pastor!

Mas, não era isto o que os eremitas queriam saber.

-  Dizei-nos, por favor, a maneira com que o senhor e a sua esposa louvam e servem a Deus.

Surpreso, Eucaristo replicou:

- Irmãos, sois vós que deveis nos ensinar como fazer! Somos ignorantes e não sabemos nem amar, nem servir a Deus.

Não importa, responderam os dois anciãos. Viemos aqui da parte de Deus, para saber de vós, como O servis.

Sentindo-se que se tratava de uma ordem, Eucaristo começou a contar-lhes:

- Minha mãe amava e temia muito a Deus. Desde a minha mais tenra infância, ensinou-me que devia fazer tudo e suportar tudo por amor de Deus. Segui este conselho desde muito jovem. Obedeci, por amor de Deus. Sofri todas as correções, por amor de Deus. Privei-me de pequenas guloseimas, tão desejadas quando somos crianças, ou de certas brincadeiras, próprias às estas idades, por amor de Deus. Continuei toda a minha vida com esta prática, procurando reportar tudo a Deus. Ainda hoje, pela manhã, levanto-me, por amor de Deus. Rezo e ofereço-Lhe o meu dia. Trabalho, por amor a Ele. Descanso, quando necessito, por amor de Deus e para melhor O servir. Sofro fome, frio, calor, a minha pobreza, as minhas doenças, as más colheitas do ano, por amor de Deus. Não tive filhos, vivi sempre com a minha mulher, como minha irmã e em grande paz. Isto é tudo o que eu e a minha mulher fazemos.

Mas, vocês têm bens? Perguntaram os eremitas.

- Temos poucas coisas, respondeu Eucaristo, como este rebanho, que herdei dos meus pais. Mas Deus abençoa o que temos e nada nos tem faltado. Pelo contrário, temos conseguido poupar e utilizar apenas um terço do que ganhamos. O resto, dividimos: metade para a Igreja e a outra metade para os pobres e os viandantes. Confesso que como muito pouco, mas não posso reclamar por falta de alimentos. Aceitamos tudo o que temos, por amor de Deus.

E quanto a inimigos. Tendes? Questionou o anacoreta mais velho.

- Quem não os tem? Respondeu rapidamente Eucaristo. Procuro não fazer mal a ninguém e não falar mal de ninguém. Mesmo assim, temos inimigos. São pessoas invejosas, mas não queremos mal a eles. Procuro ajudá-las, por amor de Deus. Quando alguém fala mal da minha mulher ou de mim ou lesa-me em alguma coisa, sofro em silêncio, por amor de Deus.  

E com um sorriso, concluiu:

- Assim somos e esta é a minha conduta e a da minha mulher Maria.

Ao ouvirem este testemunho de vida santa, os anacoretas despediram-se e retornaram para o seu isolamento, cheios de admiração e consolados, por terem aprendido um meio fácil de se chegar à perfeição, acessível a todos.

No século XXI, ainda se deve falar de temor de Deus?

 


Numa era em que só ouvimos falar do amor e da misericórdia infinita de Deus - tão necessários para a nossa salvação - ainda faz sentido considerarmos o temor de Deus, um conceito relegado ao esquecimento?

Todos estimamos a virtude, mas, infelizmente, poucos procuram adquiri-la.  Muitos nem sabem o que ela significa, pois não sabem discernir a verdadeira da falsa virtude.

Enchemos a boca para dizer que queremos ser virtuosos, contudo cada um de nós tem um conceito diferente do que isto significa, julgando cada um segundo a sua própria inclinação.

Uns imaginam que ser virtuoso é não ter certos vícios e não ser mau. Outros fazem consistir a virtude em não cometer certos pecados, como não matar e não roubar, e não ter certos defeitos grosseiros - mesmo tendo outros enormes - que não conhecem e não querem sequer ver. Outros, finalmente, crêem-se virtuosos porque praticam certos atos externos de piedade, mas negligenciam o interior das suas consciências e dos seus corações e os seus deveres de estado, como pais, religiosos, sacerdotes, etc.

Todos as pessoas que entram nas características acima descritas estão muito erradas! E o pior é que muitos estão convencidos de estarem no caminho que os conduzirá ao Céu, apesar de se encontrarem na via que, se não corrigida, será de perdição, pois como diz o livro do Provérbio: “Há caminhos que ao homem parecem retos, mas que afinal conduzem à morte” (Pr 16, 25).

A virtude não depende das ideias dos homens, nem do tempo no qual se vive, mas de Deus, que indica e prescreve como quer ser servido.

Vejamos o que Ele diz nas Escrituras e compreenderemos que a virtude consiste em temê-L’O e em fugir de tudo o que Lhe possa desagradar. Ele ensinou aos homens, diz Job, que “o temor do Senhor é a verdadeira sabedoria” (Jo 28, 28). “Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque este é dever de todo o homem (Ecl 12, 13).

Temos nesta frase de Qoelet a indicação clara da nossa obrigação, de como devemos fazer para adquirirmos a virtude, a perfeição e a alegria: o temor de Deus e a observância da Lei Divina, no seu todo e não apenas em alguns mandamentos que temos mais facilidade em praticar, por uma graça de Deus. Para isto, nascemos! Este é o fim da vida, que nos conduz à verdadeira felicidade.

Acontece que este temor de Deus não é só servil, ou seja, não deve ser simplesmente considerado pelo medo do castigo, mas é o temor salutar, que vem do Espírito Santo, que nos afasta do pecado, tendo em vista as penas que a justiça divina o puniria e a vista da infelicidade daqueles que o cometeram estarem separados de Deus. O verdadeiro temor de Deus faz-nos, portanto, odiar o pecado, porque desagrada a Deus, e amar o bem, porque agrada a Deus.

É preciso temer o Senhor, porque Ele é o nosso Mestre, o maior de todos os mestres, e o mais terrível de todos os Juízes! Receemos, portanto, de O irritar contra nós, e de nos tornamos seus inimigos. Se Ele é o nosso criador e o melhor de todos os Pais, temamos desagradá-L’O. Se Ele é o nosso Deus e nosso Soberano, receemos de nos separarmos d’Ele e de O perder. Como fazer para ter este temor salutar? Devemos temer o pecado, fugir de toda a tentação, pois só o incumprimento dos mandamentos Lhe desagrada, irrita-O contra nós, separa-nos d’Ele e faz-nos perdê-Lo.

Esta é a verdadeira virtude! Tudo o que não conduz para esta regra é uma falsa virtude.  Aquele que não teme ofender a Deus em qualquer um dos dez mandamentos, e não apenas em alguns, não é virtuoso ou, pior ainda, possui uma falsa e hipócrita virtude.

Peçamos, pois, a Deus por intercessão de Nossa Senhora, que nos conceda este temor. Se o obtivermos, seremos verdadeiramente virtuosos, felizes, protegidos e abençoados, porque toda a malícia dos homens e dos demónios nada poderão contra nós.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

La première communion de Chateaubriand

 


L'époque de ma première communion approchait, moment où l'on décidait dans la famille de l'état futur de l'enfant. Cette cérémonie religieuse remplaçait parmi les jeunes chrétiens la prise de la robe virile chez les Romains. Madame de Chateaubriand était venue assister à la première communion d'un fils qui, après s'être uni il son Dieu, allait se séparer de sa mère.

Ma piété paraissait sincère ; j'édifiais tout le collège ; mes regards étaient ardents ; mes abstinences répétées allaient jusqu'à donner de l'inquiétude à mes maîtres. On craignait l'excès de ma dévotion ; une religion éclairée cherchait à tempérer ma ferveur.

J'avais pour confesseur le supérieur du séminaire des Eudistes, homme de cinquante ans, d'un aspect rigide. Toutes les fois que je me présentais au tribunal de la pénitence, il m'interrogeait avec anxiété.

Surpris de la légèreté de mes fautes, il ne savait comment accorder mon trouble avec le peu d'importance des secrets que je déposais dans son sein. Plus le jour de Pâques s'avoisinait, plus les questions du religieux étaient pressantes. « Ne me cachez-vous rien ? » me disait-il. Je répondais : « Non, mon père : — N'avez-vous pas fait telle faute ? — Non, mon père. » Et toujours : « Non, mon père. » Il me renvoyait en doutant, en soupirant, en me regardant jusqu'au fond de l'âme, et moi, je sortais de sa présence, pâle et défiguré comme un criminel.

Je devais recevoir l'absolution le mercredi saint. Je passai la nuit du mardi au mercredi en prières, et à lire avec terreur le livre des Confessions mal faites.

Le mercredi, à trois heures de l'après-midi, nous partîmes pour le séminaire ; nos parents nous accompagnaient.

Tout le vain bruit qui s'est depuis attaché à mon nom n'aurait pas donné à madame de Chateaubriand un seul instant de l'orgueil qu'elle éprouvait comme chrétienne et comme mère, en voyant son fils prêt à participer au grand mystère de la religion.

En arrivant à l'église, je me prosternai devant le sanctuaire et j'y restai comme anéanti. Lorsque je me levai pour me rendre à la sacristie, où m'attendait le supérieur, mes genoux tremblaient sous moi. Je me jetai aux pieds du prêtre ; ce ne fut que de la voix la plus altérée que je parvins à prononcer mon Confiteor.

« Eh bien, n'avez-vous rien oublié ? » me dit l'homme de Jésus-Christ. Je demeurai muet. Ses questions recommencèrent, et le fatal non, mon père, sortit de ma bouche. Il se recueillit, il demanda des conseils à Celui qui conféra aux apôtres le pouvoir de lier et de délier les âmes. Alors, faisant un effort, il se prépare à me donner l'absolution.

La foudre que le ciel eût lancée sur moi m’aurait causé moins d'épouvante, je m'écriai : « Je n’ai pas tout dit ! » Ce redoutable juge, ce délégué du Souverain Arbitre, dont le visage m'inspirait tant de crainte, devient le pasteur le plus tendre ; il m embrasse et fond en larmes. « Allons, me dit-il, mon cher fils, du courage ! »

Je n'aurai jamais un tel moment dans ma vie. Si l'on m'avait débarrassé du poids d'une montagne, on ne m'eut pas plus soulagé : je sanglotais de bonheur. J'ose dire que c'est de ce jour que j'ai été créé honnête homme ; je sentis que je ne survivrais jamais à un remords : quel doit donc être celui du crime, si j'ai pu tant souffrir pour avoir tu les faiblesses d'un enfant ! Mais combien elle est divine cette religion qui se peut emparer ainsi de nos bonnes facultés !

Quels préceptes de morale suppléeront jamais à ces institutions chrétiennes ?

Le premier aveu fait, rien ne me coûta plus : mes puérilités cachées, et qui auraient fait rire le monde, furent pesées au poids de la religion. Le supérieur se trouva fort embarrassé ; il aurait voulu retarder ma communion ; mais j'allais quitter le collège de Dol et bientôt entrer au service dans la marine. Il découvrit avec une grande sagacité, dans le caractère même de mes juvéniles) tout insignifiantes qu'elles étaient, la nature de mes penchants ; c'est le premier homme qui ait pénétré le secret de ce que je pouvais être. Il devina mes futures passions ; il ne me cacha pas ce qu'il croyait voir de bon en moi, mais il me prédit aussi mes maux il venir. « Enfin, ajouta-t-il, le temps manque à votre pénitence ; mais vous êtes lavé de vos péchés par un aveu courageux, quoique tardif. »

Il prononça, en levant la main, la formule de l'absolution. Cette seconde fois, ce bras foudroyant ne fit descendre sur ma tête que la rosée céleste ; j'inclinai mon front pour la recevoir ; ce que je sentais participait de la félicité des anges. Je m'allai précipiter, dans le sein de ma mère qui m'attendait au pied de l'autel. Je ne parus plus le même il mes maîtres et à mes camarades ; je marchais d'un pas léger, la tête haute, l'air radieux, dans tout le triomphe du repentir.

Le lendemain, jeudi saint, je fus admis il cette cérémonie touchante et sublime dont j'ai vainement essayé de tracer le tableau dans le Génie dit Christianisme. J'y aurais pu retrouver mes petites humiliations accoutumées : mon bouquet et mes habits étaient moins beaux que ceux de mes compagnons ; mais ce jour-là tout fut à Dieu et pour Dieu. Je sais parfaitement ce que c'est que la Foi : la présence réelle de la victime dans le saint sacrement de l'autel m'était aussi sensible que la présence de ma mère à mes côtés. Quand l'hostie fut déposée sur mes lèvres, je me sentis comme tout éclairé en dedans. Je tremblais de respect, et la seule chose matérielle qui m 'occupât était la crainte de profaner le pain sacré.

Le pain que je vous propose sert aux anges d'aliment, Dieu lui-même le compose de la fleur de son froment. (RACINE.)

Je conçus encore le courage des martyrs ; j'aurais pu dans ce moment confesser le Christ sur le chevalet ou au milieu des lions. J'aime à rappeler ces félicités qui précédèrent de peu d'instants dans mon âme les tribulations du monde. En comparant ces ardeurs aux transports que je vais peindre ; en voyant le même cœur éprouver, dans l'intervalle de trois ou quatre années, tout ce que l'innocence et la religion ont de plus doux- et de plus salutaire, et tout ce que les passions ont de plus séduisant et de plus funeste, on choisira des deux joies ; on verra de quel côté il faut chercher le bonheur et surtout le repos.

Mémoires d’Outre-Tombe, François-René de Chateabriand, Garnier Frères, Libraires-Éditeurs, Paris, 1899, pp. 102 – 106

domingo, 18 de setembro de 2022

Que significa propriamente "manipulação"?

 


Segundo os dicionários correntes da língua portuguesa, manipulação significa, entre outras coisas, preparar com a mão, imprimir forma a alguma coisa com a mão. Mas não mencionam eles aplicações necessariamente pejorativas. O “Dictionnaire du Français Contemporain” (Larousse, Paris, 1966), inclui dois sentidos pejorativos: transformar por operações suspeitas (por exemplo, manipular estatísticas) e realizar manobra que vise enganar, fraudar (por exemplo, manipulações eleitorais).

Nestes sentidos, já entrou também para o português corrente. Diz-se, por exemplo, que um órgão de imprensa “manipula” as notícias antes de as apresentar ao público. Isto é, "arranja" os dados de tal forma que a notícia saia de acordo com os pressupostos ideológicos ou a linha política do jornal. Acusa-se um governo de “manipular” os índices de inflação, a propaganda comercial de “manipular” os consumidores, criando neles necessidades artificiais ou impingindo-lhes produtos de segunda categoria como sendo os melhores etc.

Outro dicionário francês moderno, o “Petit Robert” (PAUL ROBERT, “Dictionnaire Alphabétique Analogique de la Langue Française”, Société du Nouveau Littré, Paris, 1979) já regista em “manipulation” o significado de "domínio [emprise] oculto exercido sobre um grupo (ou um indivíduo)".

Assim, a palavra "manipulação", de uns tempos a esta parte, veio tomando aos poucos um sentido "talismânico" (cf. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, “Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo”, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1974, 5º. ed., pp. 49 a 59). E passou a ter um significado cada vez mais amplo e indefinido, que lhe é conferido sobretudo por hábeis formas de a utilizar. Poder-se-ia dizer que essa mesma palavra vem sendo cada vez mais "manipulada" em sua significação...

Ela pode significar tudo e ao mesmo tempo nada. Quando utilizada de modo a criar suspense e mistério, se transforma numa terrível "arma semântica". Difama e pode tornar suspeita qualquer pessoa ou grupo contra o qual seja lançada, à maneira de uma acusação evidente que dispensa provas.

Provas, para quê? -- Tal como acontece com outras palavras de efeito "talismânico", basta dizer que tal ou tal atitude é “manipuladora”, para que muitas pessoas -- com base apenas em sensações inexplícitas que adquiriram não sabem como nem onde, e impressionadas pela carga emocional que acompanha o uso da palavra -- julguem que de facto a acusação está demonstrada sem necessidade de provas.


O que fica frequentemente insinuado, na utilização talismânica da palavra, é que a manipulação envolve um tipo de influência maléfica e coercitiva sobre as pessoas. Maléfica porque oculta e inadvertida, visando tão-só atender a algum interesse inconfessado do manipulador. E coercitiva porque subjuga a vontade das vítimas que, o mais das vezes, nem teriam recursos para se defender contra tal forma de influência soez.

Em outros termos, manipulação seria uma forma de "coerção mental" muito análoga a "lavagem cerebral".

Não deixa de ser desconcertante, por sinal, que em certos órgãos de comunicação social se fale tanto em manipulação, nesta época de domínio tirânico da televisão. Tal meio de influenciar penetra livremente em todos os lares, e induz crianças e adultos, por vezes nações inteiras, sem que o percebam claramente (mas não sem darem o seu consentimento, ao menos remoto, pois é voluntariamente que se expõem a tal influência), a modificarem radicalmente este ou aquele costume e, mesmo, a sua própria psicologia. A tal ponto chega, em muitos casos, esta dependência da televisão, que o seu efeito foi comparado ao de uma droga (cfr. MARIE WINN, “The Plug-in-Drug”, Bantam Books, Nova York, 2ºa. edição, 1978, 258 pp.). Tudo isto -- é de notar -- sem protesto global e eficaz da grande maioria dos responsáveis. Com que lógica, pois, temer tanto a manipulação e os manipuladores?

É um erro imaginar o homem como mero recetor passivo das influências de seu ambiente, “assim como a ideia de "lavagem cerebral" parte de um falso pressuposto -- a negação da liberdade natural e "inconfiscável" da inteligência e da vontade do homem -- também os que utilizam expressões correlatas, tais como "manipulação mental", "controle da mente", "persuasão coercitiva" etc. partem de erro análogo.

Com efeito, negam eles algo de si evidente. Ou seja, que toda pessoa está, em relação ao seu ambiente, num processo cognoscitivo e volitivo de interação. Todos influenciam a todos. Mas a todos é dado, se quiserem, conhecer e rejeitar as ações que recebem. E, portanto, não se pode imaginar uma influência como que mecânica e irresistível em sentido único, como se o homem pudesse ser reduzido duravelmente a mero recetor passivo de informações, influências e pressões.

É o que explica a psicóloga social Trudy Solomon, da “National Science Foundation”, de Washington. Após destacar que conceitos como "controle mental", "reforma de pensamento", "persuasão coercitiva" etc. não passam de reencarnações da desprestigiada expressão "lavagem cerebral", ela mostra que praticamente toda forma de influência humana pode ser abrangida por tais designações: "Pouco depois de sua introdução o conceito de lavagem cerebral foi aplicado a uma variedade de contextos, incluindo técnicas de doutrinação .... e a fenômenos do passado como a Inquisição e certos processos de bruxaria. Por causa das conotações predominantemente más e negativas que rapidamente ficaram associadas com a expressão lavagem cerebral, foram inventados vários derivados semânticos mais neutros, como controle da mente, coerção mental, reforma do pensamento, persuasão coercitiva e menticídio”. É nestas últimas encarnações que o conceito de lavagem cerebral tem sido usado ao longo dos anos, para designar praticamente toda forma de influência humana, inclusive o hipnotismo, a psicoterapia, os meios de comunicação de massa, a propaganda, a educação, a socialização [isto é, a integração das pessoas na sociedade, a educação das crianças, as mudanças de comportamento e uma miríade de formas conexas de técnicas de mudança de atitude e de comportamento" (TRUDY SOLOMON, Programming and Deprogramming the Moonies: Social Psychology Applied2, in DAVID G. BROMLEY and JAMES T. RICHARDSON, “The Brainwashing ? Deprogramming Controversy: Sociological, Psychological, Legal and Historical Perspectives”, The Edwin Mellen Press, New York-Toronto, 1983, pp. 165-166).

Depois de citar o papel de Kurt Lewin na teorização do comportamento humano sob a influência social, da interação que se dá entre a pessoa e a influência do meio social, a psicóloga afirma que "do ponto de vista cognoscitivo, o indivíduo submetido a técnicas de influência social dentro do contexto de um grupo é visto como sendo um organismo ativo, continuamente empenhado em estruturar e avaliar as informações que recebe” (TRUDY SOLOMON, op. cit., p. 172).

Portanto, carece de qualquer fundamento a ideia, muito explorada sensacionalisticamente, de um indivíduo que sofre passivamente a influência de um grupo social sem ter noção disso, e sem capacidade para apreciar as informações que lhe chegam.

(CORRÊA DE OLIVEIRA, PLINIO, Guerreiros da Virgem, Editora Vera Cruz, São Paulo, dezembro de 1985, pp. 88 a 92)

sábado, 17 de setembro de 2022

O sofrimento, a cruz e o amor

 


Cada um de nós pode dizer que o sofrimento é o companheiro inseparável de sua vida.

Desde o momento em que nos recebe à nossa entrada no mundo, o sofrimento faz-se presente com maior ou menor intensidade, mas nunca se esquece por completo de nós. Vigia-nos, por assim dizer, em cada um dos nossos dias e sabemos que no final abater-se-á sobre nós e conduzir-nos-á para fora deste mundo.

O sofrimento, como todos sabemos, assume mil formas: a doença, a pobreza, a perda daqueles que amamos, a incompreensão, o ciúme, a inveja, o ódio, as dificuldades da vida, a incerteza do amanhã, o isolamento, etc.

Se considerarmos a vida como um todo, poucos são aqueles que podem dizer que viveram mais felizes, do que tristes e preocupados.

Mas, porque acontece isto?

Como somos cristãos, devemos considerar em primeiro lugar tudo sobre o prisma da religião e do Divino Mestre. E é muito fácil, ao voltarmos o olhar para a cruz, compreendermos o sentido da dor, a sua justiça e a sua ação fecunda e benéfica.

Sim! Há uma ação fecunda e benéfica na dor!

Consideremos Nosso Senhor Jesus Cristo, o Inocente por excelência, que foi pregado na cruz, a sofrer para nos resgatar.

Se Ele, o Cordeiro Imaculado, sofreu, é justo que nós, pecadores, tenhamos nossa cota de sofrimento, que levemos, nós também a nossa cruz, que é uma parte daquela mesma que Nosso Senhor carregou.

Muito facilmente, manifestamos o nosso desejo de festejar e compartilhar a ressurreição de Jesus Cristo, a sua glória, a sua felicidade, mas quem considera com honestidade e clareza a necessidade de compartilhar também a sua cruz?

Sobre o sofrimento, que não queremos ver de frente, engamo-nos. Olhamos à nossa volta e parece-nos que os outros sofrem menos do que nós. Mas, não nos deixemos enganar pelas aparências.

O nosso dever é de nos compararmos com Jesus Cristo! Sofremos mais do que este Justo que depois de sofrer toda a Paixão ainda deu a vida por amor a cada um de nós?

Assim, para todos nós que sofremos, encontramos o grande e o verdadeiro consolo na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Quando sofremos e aceitamos carregar a nossa cruz, estamos a ter o mais precioso traço de semelhança com Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte onde Deus tira o perdão dos nossos pecados, o peso mais poderoso na balança da justiça, a causa mais segura da nossa salvação eterna.

Sofrer por amor e não só por justiça


Se ao menos, conseguíssemos compreender que Deus nos envia o sofrimento como um presente de predestinação, a fim de que cada um de nós sejamos outros Cristo...

Mas não paremos por aí e vamos mais longe. Não é só por um dever de justiça, pelos nossos pecados que devemos sofrer, mas seguindo o exemplo de Jesus, também pelo amor que Lhe devemos.

Deus poderia ter-nos dado as estrelas, o sol, os perfumes e harmonias da natureza, todas as riquezas da terra. Mas isto não teria sido suficiente para mostrar o seu infinito amor para connosco. Só quando Ele sucumbiu sob o peso da Cruz, depois de ter sofrido as dores da Paixão, da Crucifixão e da morte, tivemos a prova infinita do seu amor.

Também connosco acontece o mesmo. Não é quando estamos felizes que mais mostramos o nosso amor a Deus, mas quando sofremos com a incompreensão dos que nos são mais próximos, com o peso do trabalho quotidiano, com a doença que nos deixa acamados e com tantas dificuldades. Nestes momentos podemos bradar: “Senhor, eu Vos amo! Dai-me forças para suportar a dor. E se for da Vossa vontade que eu sucumba, que seja cravado convosco na Vossa Cruz!”

Este foi o ensinamento do Salvador: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus”. Se conseguirmos viver com este estado de espírito em relação ao sofrimento, poderemos compreender melhor os primeiros cristãos, que açoitados injusta e vergonhosamente nos tribunais ou nas arenas, mostravam-se muito felizes, porque estavam a sofrer como Jesus Cristo.

Foi assim durante toda a história da Humanidade, dos Apóstolos e mártires, passando por Santa Teresa de Jesus, por Santa Catarina de Siena, Padre Pio, os Santos pastorinhos de Fátima, etc. e será assim até ao fim do mundo. Estes heróis, reconheciam que todo o sofrimento era glorioso, se comparado com a Cruz de Cristo.

Assim, quer compreender melhor a sua vida, as suas lutas, as suas fadigas e as suas dores? Aceite-as com coragem. Verá que será consolado e viverá mais feliz, pois sofrerá por Aquele que mais ama.

O vazio dos inimigos da Cruz

Por outro lado, quão triste são aqueles que não só não aceitam a Cruz de Cristo, como querem bani-la completamente da nossa sociedade.


É deplorável a cegueira dessas pessoas, inclusive legisladores, que fazem de tudo para retirar o crucifixo, dos hospitais, das escolas e dos tribunais, lugares onde durante séculos os doentes, as crianças e até os criminosos foram consolados.

Agora, um facto curioso! Ao serem retirados os crucifixos, não existe nada que se possa colocar no seu lugar e que forme o coração no sentido do dever, nos pensamentos generosos, no incentivo da prática do bem, evitando o mal. O que se têm para apresentar a quem sofre, para o consolar? O que têm para apresentar ao homem feliz e afortunado, para lhe dizer que tem deveres de caridade para com os pobres e os mais necessitados?

Nada. Eles não têm nada!

Procura-se retirar, com cada vez maior frequência e radicalidade, Deus, a religião, a moral, os crucifixos da vida dos homens e o resultado é patente: os corações estão a ficar cada vez mais desamparados e vazios. Tornam-se rapidamente egoístas e vis, uns sempre prontos a reclamar e a revoltar-se, outros sempre duros e insaciáveis pelas riquezas, em vez de repousarem na luz, na força e consolação divina.

Assim, depois de ler este artigo, adore a cruz, com ainda maior fervor e tenha-a sempre exposta na sua casa, no seu lugar de trabalho, no seu carro e, sobretudo, no seu coração para viver e morrer em união com ela, como Jesus Cristo nosso Salvador, pois ela é penhor da ressurreição e da felicidade eterna!

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

¿Qué sería de la Europa si no hubiera sacerdotes ni soldados?


Toda civilización verdadera viene del cristianismo. Es esto tan cierto, que la civilización toda se ha reconcentrado en la zona cristiana; fuera de esa zona no hay civilización, todo es barbarie; y es esto tan cierto, que antes del cristianismo no ha habido pueblos civilizados en el mundo, ni uno siquiera.

Ninguno, señores; digo que no ha habido pueblos civilizados, porque el pueblo romano y el pueblo griego no fueron pueblos civilizados; fueron pueblos cultos, que es cosa muy diferente. La cultura es el barniz, y nada más que el barniz de las civilizaciones. El cristianismo civiliza al mundo haciendo estas tres cosas: ha civilizado al mundo haciendo de la autoridad una cosa inviolable, haciendo de la obediencia una cosa santa, haciendo de la abnegación y del sacrificio, o, por mejor decir, de la caridad, una cosa divina. De esa manera el cristianismo ha civilizado a las naciones. Ahora bien (y aquí está la solución de ese gran problema), ahora bien: las ideas de la inviolabilidad de la autoridad, de la santidad, de la obediencia y de la divinidad del sacrificio, esas ideas no están hoy en la sociedad civil: están en los templos donde se adora al Dios justiciero y misericordioso, y en los campamentos donde se adora al Dios fuerte, al Dios de las batallas, bajo los símbolos de la gloria. Por eso, porque la Iglesia y la milicia san las únicas que conservan íntegras las nociones de la inviolabilidad de la autoridad, de la santidad de la obediencia y de la divinidad de la caridad; por eso son hoy los dos representantes de la civilización europea.

No sé, señores, si habrá llamado vuestra atención, como ha llamado la mía, la semejanza, cuasi la identidad entre las dos personas que parecen más distintas y más contrarias: la semejanza entre el sacerdote y el soldado; ni el uno ni el otro viven para sí, ni el uno ni el otro viven para su familia; para el uno y para el otro, en el sacrificio, en la abnegación está la gloria. El encargo del soldado es velar por la independencia de la sociedad civil. El encargo del sacerdote es velar por la independencia de la sociedad religiosa. El deber del sacerdote es morir, dar la vida, como el buen pastor, por sus ovejas. El deber del soldado, como buen hermano, es dar la vida por sus hermanos. Si consideráis la aspereza de la vida sacerdotal, el sacerdocio os parecerá, y lo es, en efecto, una verdadera milicia. Si consideráis la santidad del ministerio militar, la milicia cuasi os parecerá un verdadero sacerdocio. ¿Qué sería del mundo, qué sería de la civilización, qué sería de la Europa si no hubiera sacerdotes ni soldados? Y en vista de esto, señores, si hay alguno que, después de expuesto lo que acabo de exponer, crea que los ejércitos deben licenciarse, que se levante y lo diga. Si no hay ninguno, señores, yo me río de todas vuestras economías, porque todas vuestras economías son utopías. ¿Sabéis lo que pretendéis hacer cuando queréis salvar la sociedad con vuestras economías sin licenciar el ejército? Pues lo que pretendéis hacer es apagar el incendio de la nación con un vaso de agua. Esto es lo que pretendéis. Queda, pues, demostrado, como me propuse demostrar, que las cuestiones económicas no son las más importantes; que no ha llegado la ocasión de tratarlas aquí exclusivamente, y que las reformas económicas no son fáciles, y, hasta cierto punto, no son posibles.

 

Donoso Cortés, Discurso sobre Europa, Congreso de los Diputados, 30 de enero de 1850