Poderíamos gozar de grande paz se não nos importássemos com o que dizem e fazem os outros e que não nos diz respeito. Como permanecer longamente em paz quando nos metemos nos assuntos dos outros, quando procuramos ocupações por fora, quando nunca ou muito pouco nos recolhemos? Felizes os simples, porque possuirão grande paz! Porque é que alguns santos foram tão perfeitos e contemplativos? Porque se aplicaram a fazer morrer todos os seus desejos terrestres: dessa forma, puderam agarrar-se a Deus de todo o seu coração e dedicar-se livremente à sua vida espiritual. Mas nós estamos demasiado invadidos pelos nossos desejos; preocupamo-nos demasiado com o que se passa... É raro que nos desembaracemos de um só defeito; o cuidado do progresso quotidiano não nos entusiasma e, por isso, mantemo-nos frios ou mornos.
Se estivéssemos verdadeiramente mortos para nós mesmos, sem as nossas preocupações interiores, também poderíamos saborear as coisas divinas, ter alguma experiência de contemplação. O maior obstáculo, o único obstáculo, é que estamos demasiado presos às nossas paixões e aos nossos desejos para entrarmos no caminho perfeito dos santos. Quando nos acontece a menor contrariedade, deixamo-nos abater demasiado depressa e voltamo-nos para as consolações humanas. Se nos esforçássemos, como homens fortes, a permanecer firmes no combate, receberíamos certamente o socorro de Deus porque Ele está sempre pronto a ajudar os que lutam e contam com a sua graça... Oh! se tu soubesses que paz viria a ti, que alegria irradiaria sobre os outros, como serias mais cuidadoso com o teu avanço espiritual!...
Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV - Livro 1, cap. 11
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