A pergunta feita a Nosso Senhor Jesus Cristo, no Evangelho, é repetida ao longo de todos os tempos, desde as escolas rabínicas de então até ao inseguro homem de hoje. Em vez de responder directamente, Jesus começa por entusiasmar os ouvintes: "Esforcai-vos por entrar pela porta estreira, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão". Na parábola, há a porta que se fecha para alguns, impedindo o acesso ao banquete celestial, enquanto se abre para outros, que vêm de todas as partes do mundo. Com esta conclusão, Ele desvaloriza a falsa segurança da salvação fundada na pertença ao povo israelita (ou à Igreja, diríamos hoje). A mensagem contida neste Evangelho, mais do que o número dos que se salvam ou a própria dificuldade para alcançar a salvação, como poderia sugerir a porta estreita, é a grande oferta da salvação por parte Deus, que se nos apresenta, simbolizada no banquete messiânico.
Os excluídos da mesa do Reino são aqueles que conhecem e chamam "Senhor" a Jesus e se têm por amigos seus, porque comeram com ele, são, em primeiro lugar, os seus próprios concidadãos. Eles, de fato, ouviram Jesus nas suas praças, mas Eles desconhece-os porque não converteram o seu coração à boa nova. Em segundo lugar, também os cristãos de todos os tempos que, tendo participado na mesa do Senhor, tendo ouvido a sua palavra e tendo-o proclamado Senhor na sua prece, não foram cumpridores da palavra ouvida, dos mandamentos de sua Lei. Jesus ignorá-los-á e ficarão fora da porta. O seu lugar será ocupado por outros, vindos de todos os lados, talvez do esquecido submundo da fome e da marginalização, mas que cumpriram a sua Lei, com coração sincero.
A parábola da porta que se abre para uns e se fecha para outros é, acima de tudo, um convite universal de Jesus à conversão radical do coração, a fim de conquistar o reino de Deus, antes que se feche a porta. Amanhã, pode ser tarde, porque a morte talvez nos colha subitamente. Que mal se sente alguém quando perde uma viagem, planejada previamente com toda a ilusão. E se chegamos tarde ao Reino de Deus, por nos entretivemos com o que não valia a pena?
Interrogar-se pela salvação e desejar alcançar a vida eterna é conseqüência lógica da nossa fé e da nossa esperança cristãs. Imitemos S. Paulo, que na Epístola aos Romanos (8; 27-28), aconselha que confiemos no Espírito Santo: "Irmãos, também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis.
E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos. Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus."
Devemos saber a quem servimos, em quem confiámos e em que mãos está nossa recompensa. Apliquemo-nos generosamente na tarefa de amar a Deus e aos irmãos, e o Senhor fará o resto, abrindo-nos a porta da vida a seu tempo.
Cantemos o refrão do Salmo: "Senhor, eu confiei e confio na vossa graça".