"O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus" (Mc 16,19). Partia assim para o lugar de onde era, regressava de um lugar onde continuava a permanecer; com efeito, no momento em que subia ao céu com a sua humanidade, unia pela sua divindade o céu e a terra. O que temos de destacar na solenidade de hoje, irmãos bem amados, é a supressão do decreto que nos condenava e do julgamento que nos votava à corrupção. Na verdade, a natureza humana a quem se dirigem estas palavras: "Tu és terra e regressarás à terra" (Gn 3,19), essa natureza subiu hoje ao céu com Cristo. É por isso, caríssimos irmãos, que temos de segui-lo com todo o nosso coração, até ao lugar onde sabemos pela fé que Ele subiu com o seu corpo. Fujamos dos desejos da terra: que nenhum dos lugares cá de baixo nos entrave, a nós que temos um Pai nos céus.
Pensemos também no facto de que aquele que subiu aos céus cheio de suavidade regressará com exigência... Eis, meus irmãos, o que deve guiar a vossa acção; pensai nisso continuamente. Mesmo se estais presos na confusão dos assuntos deste mundo, lançai desde hoje a âncora da esperança para a pátria eterna (He 6,19). Que a vossa alma procure apenas a verdadeira luz. Acabamos de ouvir que o Senhor subiu ao céu; pensemos seriamente naquilo em que acreditamos. Apesar da fraqueza da natureza humana que nos retém ainda cá em baixo, que o amor nos atraia a segui-lo, porque estamos certos de que aquele que nos inspirou este desejo, Jesus Cristo, não nos decepcionará na nossa esperança.
S. Gregório Magno (c. 540-604), papa, doutor da Igreja - Homilias sobre os Evangelhos, n° 29
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