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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A vontade em harmonia com a do Senhor

«O meu amado é um cacho de uvas de Chipre, na vinha de En-Gaddi» (Cant 1,14)... Este cacho divino enche-se de flores antes da Paixão e dá o seu vinho na Paixão... Na vinha, o cacho não mostra sempre a mesma forma, muda com o tempo: floresce, incha, fica pronto, e depois, perfeitamente maduro, vai-se transformar em vinho. A vinha promete então através do fruto: ainda não está maduro e em ponto de dar vinho, apenas espera a plenitude dos tempos. Mas ele não é absolutamente incapaz de nos satisfazer. Com efeito, antes do gosto, encanta o olfacto, na expectativa dos bens futuros, e seduz os sentidos da alma com os perfumes da esperança. É que a firme esperança da graça aguardada torna-se já satisfação para aqueles que esperam com persistência. Assim acontece com as uvas de Chipre que prometem vinho antes de o ser: pela flor – a sua flor é a esperança – dão-nos a garantia da graça futura...

Aquele cuja vontade está em harmonia com a do Senhor, porque «nela medita dia e noite», torna-se uma árvore plantada à beira dum ribeiro, que dá fruto a seu tempo e nunca perde a folhagem» (Sl 1,1-3). Por isso a vinha do Esposo que enraizou na terra fértil de Gaddi, ou seja, no fundo da alma, que é regada e enriquecida com os ensinamentos divinos, produz esse cacho florescente e desabrochado no qual pode contemplar o próprio jardineiro e o seu vinhateiro. Bem-aventurada essa terra cuja flor reproduz a beleza do Esposo! É que esse é a verdadeira luz, a verdadeira vida e a verdadeira justiça... e muitas outras virtudes, se, pelas suas obras, se torna semelhante ao Esposo, quando observa o cacho da sua própria consciência, vê lá o próprio Esposo, pois reflecte a luz da verdade numa vida luminosa e sem mancha. Por isso, essa vinha fecunda diz: «O meu cacho floresce e germina» (cf. Cant 7,13). O Esposo está, em pessoa, nesse verdadeiro cacho que se apresenta agarrado ao caule, cujo sangue constitui uma bebida de salvação para os que exultam na sua salvação.

S. Gregório de Nissa (c. 335-395), monge e bispo - Terceira homilia sobre o Cântico dos Cânticos

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