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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja

Na Sexta-feira Santa do ano de 2005, o então Cardeal Ratzinger escreve as meditações e as orações da Via-Sacra, recitadas no Coliseu de Roma. Na nona estação, em que meditamos na terceira queda de Jesus, ele interpela os católicos, descreve a situação da Santa Igreja e pede ao Senhor: "Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós". Uma meditação muito atual!
 
NONA ESTAÇÃO
Jesus cai pela terceira vez

V/. Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/. Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Do livro das Lamentações 3, 27-32

É bom para o homem suportar o jugo desde a sua juventude. Que esteja solitário e silencioso, quando o Senhor o impuser sobre ele; que ponha sua boca no pó: talvez haja esperança! Que dê sua face a quem o fere e se sacie de opróbrios. Pois o Senhor não rejeita para sempre: se Ele aflige, Ele se compadece segundo a sua grande bondade.

MEDITAÇÃO
E que dizer da terceira queda de Jesus sob o peso da cruz? Pode talvez fazer-nos pensar na queda do homem em geral, no afastamento de muitos de Cristo, caminhando à deriva para um secularismo sem Deus. Mas não deveríamos pensar também em tudo quanto Cristo tem sofrido na sua própria Igreja? Quantas vezes se abusa do Santíssimo Sacramento da sua presença, frequentemente como está vazio e ruim o coração onde Ele entra! Tantas vezes celebramos apenas nós próprios, sem nos darmos conta sequer d’Ele! Quantas vezes se contorce e abusa da sua Palavra! Quão pouca fé existe em tantas teorias, quantas palavras vazias! Quanta sujeira há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta auto-suficiência! Respeitamos tão pouco o sacramento da reconciliação, onde Ele está à nossa espera para nos levantar das nossas quedas! Tudo isto está presente na sua paixão. A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer que dirigir-Lhe, do mais fundo da alma, este grito: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8, 25).


ORAÇÃO

Senhor, muitas vezes a vossa Igreja parece-nos uma barca que está para afundar, uma barca que mete água por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja horrorizam-nos. Mas somos nós mesmos que os sujamos! Somos nós mesmos que Vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, os nossos grandes gestos. Tende piedade da vossa Igreja: também dentro dela, Adão continua a cair. Com a nossa queda, deitamo-Vos ao chão, e Satanás a rir-se porque espera que não mais conseguireis levantar-Vos daquela queda; espera que Vós, tendo sido arrastado na queda da vossa Igreja, ficareis por terra derrotado. Mas, Vós erguer-Vos-eis. Vós levantastes-Vos, ressuscitastes e podeis levantar-nos também a nós. Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós.
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Neste período particular de renúncia do Papa Bento XVI, ouvimos tantos ataques à Igreja, que vale a pena lembrarmos a promessa de Deus Nosso Senhor, que nunca mente : "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,18).
Esta promessa feita há vinte e um séculos por Cristo, ao fundar a Igreja como sociedade perfeita, com o objetivo único de conduzir os homens para a vida eterna, sobre a rocha inabalável de Pedro, garante a vitória da Igreja sobre qualquer adversidade.
A Igreja, por vontade de Cristo, é uma casa que deve ser edificada; um reino dos céus que deve ser governado; uma religião que "ata ou desliga os laços sociais no próprio Céu” (Joachim Salaverri, Sacrae Theologiae Summa, Madrid, 28, 1952, p. 727).
Pedro e os seus sucessores, por mandato expresso do Senhor, foram constituídos como a pedra angular, o fundamento natural e o princípio de unidade deste maravilhoso edifício, erguidos pelas mãos divinas. Eles são os ecónomos, os vice-reis deste reino, cujo soberano é o próprio Deus ou os árbitros supremos, para decidir em todas as questões de religião.
 Rezemos pelo próximo Papa, o doce Cristo na Terra!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

O primado da oração


No segundo domingo da Quaresma, a liturgia sempre nos apresenta o Evangelho da Transfiguração do Senhor. O evangelista Lucas coloca especial atenção no fato de que Jesus foi transfigurado enquanto orava: a sua é uma profunda experiência de relacionamento com o Pai durante uma espécie de retiro espiritual que Jesus vive em um alto monte na companhia de Pedro, Tiago e João , os três discípulos sempre presentes nos momentos da manifestação divina do Mestre (Lc 5,10; 8,51; 9,28). O Senhor, que pouco antes havia predito a sua morte e ressurreição (9,22), oferece a seus discípulos uma antecipação da sua glória. E também na Transfiguração, como no batismo, ouvimos a voz do Pai Celestial: "Este é o meu filho, o eleito; ouvi-o" (9, 35). A presença de Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas da Antiga Aliança, é muito significativa: toda a história da Aliança está focada Nele, o Cristo, que faz um novo "êxodo" (9,31) , não para a terra prometida, como no tempo de Moisés, mas para o céu. A intervenção de Pedro: "Mestre, é bom para nós estarmos aqui" (9,33) representa a tentativa impossível de parar esta experiência mística. Santo Agostinho diz: "[Pedro] ... no monte... tinha Cristo como alimento da alma. Por que deveria descer para voltar aos trabalhos e dores, enquanto lá encima estava cheio de sentimentos de santo amor por Deus e que inspiravam-lhe uma santa conduta? "(Sermão 78,3).
         Meditando sobre esta passagem deo Evangelho, podemos tirar um ensinamento muito importante. Primeiro, o primado da oração, sem a qual todo o trabalho do apostolado e da caridade é reduzido ao ativismo. Na Quaresma aprendemos a dar o justo tempo à oração, pessoal e comunitária, que dá fôlego à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é um isolar-se do mundo e das suas contradições, como Pedro quis fazer no Tabor, mas a oração traz de volta para o caminho, para a ação. "A existência cristã - escrevi na Mensagem para esta Quaresma – consiste num contínuo subir o monte do encontro com Deus, para depois descer trazendo o amor e a força que provém dele, a fim de servir os nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus "(n. 3).
         Queridos irmãos e irmãs, sinto essa Palavra de Deus especialmente dirigida a mim, neste momento da minha vida. O Senhor me chama para “subir o monte”, para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, pelo contrário, se Deus me pede isso é para que eu a possa continuar servindo com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual fiz até hoje, mas de um modo mais adequado à minha idade e às minhas forças. Invoquemos a intercessão da Virgem Maria: que ela sempre nos ajude a seguir o Senhor Jesus, na oração e nas obras de caridade (Papa Bento XVI, Angelus, 24 de fevereiro de 2013).

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sirvamos o Senhor na santa alegria desde a infância


O demónio tem normalmente duas artimanhas principais para afastar os jovens da virtude. A primeira consiste em persuadi-los de que o serviço de Deus exige uma vida triste sem nenhum divertimento nem prazer. Mas isto não é verdade, meus caros jovens. Indicar-vos-ei um plano de vida cristã que poderá manter-vos alegres e contentes, dando-vos a conhecer ao mesmo tempo quais são os verdadeiros divertimentos e os verdadeiros prazeres, para que possais exclamar com o santo profeta David: “Sirvamos o Senhor na santa alegria”.
A segunda artimanha do demónio consiste em vos fazer conceber uma falsa esperança duma longa vida,  que permitiria converter-vos na velhice ou na hora da morte. Prestai atenção, meus caros jovens, muitos se deixaram prender por esta mentira. Quem nos garante que chegaremos à velhice? Se se tratasse de fazer um pacto com a morte e de esperar até então... Mas a vida e a morte estão entre as mãos de Deus que dispõe de tudo a seu bel-prazer.

E mesmo que Deus vos concedesse uma longa vida, escutai, entretanto, a sua advertência: “O caminho do homem começa na juventude, ele o segue na velhice até à morte”. Ou seja, se começamos uma vida exemplar na juventude, seremos exemplares na idade adulta, a nossa morte será santa e entraremos na felicidade eterna.
Se, pelo contrário, os vícios começam a dominar-nos desde a juventude, é muito provável que eles nos escravizem toda a nossa vida até à morte, triste prelúdio de uma eternidade terrível.

Para que esta infelicidade não vos aconteça, apresento-vos um método de vida alegre e fácil, para que vos torneis a consolação dos vossos pais, a honra da vossa pátria, bons cidadãos da terra, em depois felizes habitantes do céu...
Meus caros jovens, amo-vos de todo o meu coração e basta-me que sejais jovens para que eu vos ame extraordinariamente. Garanto-vos que encontrareis livros que vos foram dirigidos por pessoas mais virtuosas e mais sábias do que eu em muitos pontos, mas dificilmente podereis encontrar alguém que vos ame mais do que eu em Jesus Cristo e deseja mais a vossa felicidade.

Conservai no coração o tesouro da virtude, porque possuindo-o, tendes tudo, mas se o perderes, tornar-vos-eis os homens mais infelizes do mundo. Que o Senhor esteja sempre convosco e que Ele vos conceda seguir os simples conselhos presentes, para que possais aumentar a glória de Deus e obter a salvação da alma, fim supremo para o qual fomos criados. Que o Céu vos dê longos anos de vida feliz e que o santo temor de Deus seja sempre a grande riqueza que vos cumule de bens celestes aqui e por toda a eternidade.
Vivais contentes e que o Senhor esteja convosco. Seu muito afeiçoado em Jesus Cristo.

Do epistolário de João Bosco