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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

O Jejum e a abstinência em Portugal


Todos os anos, quando chegamos na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, dias em que devemos jejuar e abstermo-nos de comer carne, levantam-se as mesmas dúvidas e perguntas: “O quê é permitido comer? Estou dispensado do jejum e da abstinência? Quanto posso comer no pequeno almoço?”

Para ajudar os que têm dúvidas, resumimos os ensinamentos da Santa Igreja e recordamos as normas da Conferência Episcopal portuguesa.

O que dizem os documentos oficiais da Igreja

No Código de Direito Canónico - uma espécie de Constituição da Igreja, com as normas jurídicas que regulam a organização da Igreja Católica Romana, a hierarquia do seu governo, os direitos e obrigações dos fiéis, e as sanções para quem não as obedecem -  encontramos as seguintes normas:

Can. 1251: “Guarde-se a abstinência de carne ou de outro alimento segundo as determinações da Conferência episcopal, todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

Can. 1252: “Estão obrigados à lei da abstinência os que completaram catorze anos de idade; à lei do jejum estão sujeitos todos os maiores de idade até terem começado os sessenta anos. Todavia os pastores de almas e os pais procurem que, mesmo aqueles que, por motivo de idade menor não estão obrigados à lei da abstinência e do jejum, sejam formados no sentido genuíno da penitência”.

E, finalmente, can. 1253: “A Conferência episcopal pode determinar mais pormenorizadamente a observância do jejum e da abstinência, e bem assim substituir outras formas de penitência, sobretudo obras de caridade e exercícios de piedade, no todo ou em parte, pela abstinência ou jejum”.

Também no Catecismo da Igreja Católica encontramos a explicação da necessidade do jejum e da abstinência:

No ponto 1434, lê-se: “A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres insistem sobretudo em três formas: o jejum, a oração e a esmola que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros. A par da purificação radical operada pelo Baptismo ou pelo martírio, citam, como meios de obter o perdão dos pecados, os esforços realizados para se reconciliar com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade «que cobre uma multidão de pecados” (1 Pe 4, 8).

E no 1438: “Os tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja. Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às peregrinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de caridade e missionárias) ”.

As normas da Conferência Episcopal Portuguesa

Como vimos, o Código de Direito Canónico estabelece que as Conferências Episcopais devem determinar as regras específicas do jejum e da abstinência em cada país.
Em Portugal, a Conferência Episcopal Portuguesa determina para os tempos penitenciais:

“1. Na pedagogia da Igreja, há tempos em que os cristãos são especialmente convidados à prática da penitência: a Quaresma e todas as Sextas-feiras do ano. A penitência é uma expressão muito significativa da união dos cristãos ao mistério da Cruz de Cristo. Por isso, a Quaresma, enquanto primeiro tempo da celebração anual da Páscoa, e a sexta-feira, enquanto dia da morte do Senhor, sugerem naturalmente a prática da penitência.

2. O jejum é a forma de penitência que consiste na privação de alimentos. Na disciplina tradicional da Igreja, a concretização do jejum fazia-se limitando a alimentação diária a uma refeição, embora não se excluísse que se pudesse tomar alimentos ligeiros às horas das outras refeições.

Ainda que convenha manter-se esta forma tradicional de jejuar, contudo os fiéis poderão cumprir o preceito do jejum privando-se de uma quantidade ou qualidade de alimentos ou bebidas que constituam verdadeira privação ou penitência.

3. A abstinência, por sua vez, consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre. A sua concretização na disciplina tradicional da Igreja era a abstenção de carne. Será muito aconselhável manter esta forma de abstinência, particularmente nas sextas-feiras da Quaresma. 
Mas poderá ser substituída pela privação de outros alimentos e bebidas, sobretudo mais requintados e dispendiosos ou da especial preferência de cada um.

Contudo, devido à evolução das condições sociais e do género de alimentação, aquela concretização pode não bastar para praticar a abstinência como acto penitencial. Lembrem-se os fiéis de que o essencial do espírito de abstinência é o que dizemos acima, ou seja, a escolha de uma alimentação simples e pobre e a renúncia ao luxo e ao esbanjamento. Só assim a abstinência será privação e se revestirá de carácter penitencial.

4. O jejum e a abstinência são obrigatórios em Quarta-Feira de Cinzas e em Sexta-Feira Santa.

5. A abstinência é obrigatória, no decurso do ano, em todas as sextas-feiras que não coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades. Esta forma de penitência reveste-se, no entanto, de significado especial nas sextas-feiras da Quaresma.

6. O preceito da abstinência obriga os fiéis a partir dos 14 anos completos. O preceito do jejum obriga os fiéis que tenham feito 18 anos até terem completado os 59. Aos que tiverem menos de 14 anos, deverão os pastores de almas e os pais procurar atentamente formá-los no verdadeiro sentido da penitência, sugerindo-lhes outros modos de a exprimirem.

7. As presentes determinações sobre o jejum e a abstinência apenas se aplicam em condições normais de saúde, estando os doentes, por conseguinte, dispensados da sua observância.
Determinações relativas a outras penitências

8. Nas sextas-feiras poderão os fiéis cumprir o preceito penitencial, quer fazendo penitência como acima ficou dito, quer escolhendo formas de penitência reconhecidas pela tradição, tais como a oração e a esmola, ou mesmo optar por outras formas, de escolha pessoal, como, por exemplo, privar-se de fumar, de algum espectáculo, etc.

9. No que respeita à oração, poderão cumprir o preceito penitencial através de exercícios de oração mais prolongados e generosos, tais como: o exercício da via-sacra, a recitação do rosário, a recitação de Laudes e Vésperas da Liturgia das Horas, a participação na Santa Eucaristia, uma leitura prolongada da Sagrada Escritura.

10. No que respeita à esmola, poderão cumprir o preceito penitencial através da partilha de bens materiais. Essa partilha deve ser proporcional às posses de cada um e deve significar uma verdadeira renúncia a algo do que se tem ou a gastos dispensáveis ou supérfluos.

11. Os cristãos que escolherem como forma de cumprimento do preceito da penitência uma participação pecuniária orientarão o seu contributo penitencial para uma finalidade determinada, a indicar pelo Bispo diocesano.

12. Os cristãos depositarão o seu contributo penitencial em lugar devidamente identificado em cada igreja ou capela, ou através da Cúria diocesana. Na Quaresma, todavia, em vez desta modalidade ou concomitantemente com ela, o contributo poderá ser entregue no ofertório da Missa dominical, em dia para o efeito fixado.

13. É aconselhável que, no cumprimento do preceito penitencial, os cristãos não se limitem a uma só forma de penitência, mas antes as pratiquem todas, pois o jejum, a oração e a esmola completam-se mutuamente, em ordem à caridade.

(Normas estabelecidas pela CEP para todas as dioceses de Portugal em Julho de 1984 e publicadas em 28 de Janeiro de 1985).

Em síntese:

1. Jejum e abstinência (e outras práticas penitenciais) têm duas finalidades principais e concomitantes: exercício de desprendimento e prática da caridade.

2. Jejum consiste em alimentação simples e frugal, de acordo com a idade e o estado de saúde de cada pessoa.

3. Abstinência é a privação da carne na alimentação ou de qualquer outro alimento apetecível ou requintado. Não praticaria verdadeira abstinência quem substituísse um frugal prato de carne por um requintado prato de peixe ou marisco, por exemplo.

4. Para além do jejum e da abstinência, existe um número muito variado de outras práticas penitenciais que poderão substituir ou, melhor ainda, ir concomitantemente com eles: partilha de bens, oração, leitura meditada da Palavra de Deus, peregrinação a pé, retiro, perdão e reconciliação, a prática das obras de misericórdia, etc., incluídas as práticas que cada um eleger para si mesmo.

5. Os tempos mínimos de jejum são a quarta-feira de Cinzas e a sexta-feira Santa, sendo recomendável fazê-lo noutras ocasiões.

6. Os tempos mínimos de abstinência (no sentido que hoje o magistério da Igreja dá a esta prática) são todas as sextas-feiras do ano (incluídas naturalmente as da Quaresma) e a quarta-feira de Cinzas, sendo igualmente recomendável fazê-la noutras ocasiões.

7. O cumprimento dos preceitos de jejum e abstinência poderão ser sob forma de esmola (traduzida numa participação pecuniária correspondente à renúncia que é recomendada).

8. Essa participação em dinheiro efectua-se em dois momentos:

a) o correspondente à renúncia durante a Quaresma é entregue na paróquia em dia (ou dias) indicado(s) pelo pároco);

b) o correspondente à renúncia ao longo do ano é entregue na paróquia (num lugar indicado para este fim) ou na cúria diocesana.

A finalidade a dar a essas renúncias em dinheiro é estabelecida em cada ano pelo Bispo diocesano.

Não se deve, pois, confundir “renúncia penitencial” com “renúncia quaresmal”, reduzindo a renúncia penitencial anual à renúncia feita no tempo da Quaresma.

Coronavirus: A mensagem de um Pastor de almas



Na pequena cidade de Castiglione d'Adda, situada na Província italiana de Lodi, na Região da Lombardia, que está isolada por causa do coronavírus e onde as Missas com a participação dos fiéis foram suspensas pelo bispo de Milão, ocorreu um fato comovedor.

No domingo passado, antes de celebrar a Missa na igreja Paroquial, o Padre Gabriele Bernardelli, verdadeiro pastor de almas, enviou uma mensagem via Whatsapp aos seus paroquianos:

"Queridos irmãos e irmãs, talvez nenhum de nós tenha pensado em estar na situação em que nos encontramos. O nosso ânimo está atordoado, a emergência parecia tão distante... Em vez disso, ela está aqui, na nossa casa. Esse fato nos leva a considerar, também, como no mundo somos agora uma grande e única família.

Devemos seguir as indicações que as autoridades competentes estabeleceram, incluindo a cessação da celebração da Santa Missa. É fácil, nessa situação, deixar-se afrouxar espiritualmente, tornando-se apático em relação à oração e pensar que ela é inútil.

Muito pelo contrário. Convido-os, queridos irmãos e irmãs, a aumentar a oração, que abre sempre as situações para a ação de Deus.

Em situações como a presente, damo-nos conta da nossa impotência, por isso apresentamos a Deus a nossa surpresa, o nosso sofrimento, o nosso medo.

Ontem, lembrei-me da passagem que é lida na quarta-feira de cinzas, tirada do profeta Joel, onde se diz: «Entre o vestíbulo e o altar, os sacerdotes, ministros do Senhor, choram e dizem:" Perdoai, Senhor, o vosso povo"». Não tenho vergonha de dizer-vos que ontem, em frente ao tabernáculo e à imagem de Nossa Senhora Assunta, também eu chorei. E peço-vos que levantem comigo ao Senhor, o clamor da nossa oração.

Orar significa ter já esperança. Lembro-me de todos vós na Eucaristia diária, como também o fazem os Padres Manuel, Gino e Abele.

Quando ouvirdes os sinos tocarem para a Missa, uni-vos ao sacerdote que oferecerá o sacrifício do Senhor por todos!

Amanhã de manhã, depois da missa que celebrarei às 11 horas da manhã, irei ao átrio da igreja paroquial, abençoando toda a paróquia e toda a cidade com o Santíssimo Sacramento. Lembraremos, sobretudo, aqueles que foram infectados pelo vírus e os seus familiares, a fim de que não desanimem, mas também todos os profissionais de saúde que estão se dedicando muito para lidar com a infecção.

Estejamos unidos em oração. O vosso pároco, Padre Gabriele.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Não desanimar, nunca!



Não desanime, não duvide, não desespere e nunca deixe de seguir adiante!

Dê passos – mesmo pequenos – mas não deixe de seguir em frente e de confiar em Nossa Senhora.

Depois, dê mais um, seguido de outro e, se este for para trás, pelo amor de Deus, por amor a Nossa Senhora, não desespere! Esteja tranquilo e siga o caminho que Santa Teresinha dizia ter sido o seu, se ela tivesse cometido um pecado mortal: confessar-se-ia e retomaria no ponto em que estava.

Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, 19 de abril de 1988

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Vencer-se a si mesmo: 12 conselhos de São Pedro Claver



Nascido em Verdu, na Espanha em 1580, São Pedro Claver estudou Letras e Artes na Universidade de Barcelona, entrando na Companhia de Jesus em 1602. Em 1610, partiu para a Colômbia e, em 1616, foi ordenado sacerdote. Só na cidade de Nova Granada na Colômbia, onde chegavam os navios com os escravos negros, batizou 300.000 pessoas. Canonizado em 1888 pelo Papa Leão XIII, São Pedro Claver foi declarado “Patrono Universal das Missões junto dos Negros”.

Na seu caminho para chegar à santidade procurou viver uma vida radical de amor de Deus, deixando por escrito alguns conselhos, verdadeiras pérolas, que ainda hoje são muito úteis para quem quer chegar à perfeição cristã.

    1) A salvação e a perfeição do homem consistem em fazer a vontade de Deus, à qual deve conformar-se em todas as cosias e em todos os momentos da vida. Quanto mais cumprir a vontade divina, mais perfeito será.

    2) Para fazer a vontade de Deus, o homem deve desprezar-se. Quanto mais morra para si mesmo, tanto mais viverá no Senhor. Para obter esta dupla vantagem, é preciso que amar a Deus.

      3) Quanto mais purificar o coração, retirando dele o amor-próprio, mais tenderá a amar a Deus.

      4) Para amar a Deus como se deve, é preciso desterrar do coração todo o afeto terreno. É preciso amar somente a Ele, ou se amar outra criatura, deve amá-la por Ele. 

      5) Os pensamentos, palavras e atos dos homens devem ser dirigidos exclusivamente para a glória de Deus. Trabalhe para conformar a sua vontade com a do Senhor, de maneira a não desejar nem o mal, nem o bem que Ele não queira. Nunca perder a paz de espírito, por maior que seja a prova, que Deus julga conveniente submeter-me.

      6) Para aproveitar com utilidade tudo o que acontece no curso da sua vida, o homem deve calar-se no meio das correções, das injúrias e dos maus tratos, sejam eles apontados com ou sem razão.

      7) Quando alguém quiser discutir, faça consistir a sua vitória no silêncio.

      8) Para fazer grandes progressos na virtude, tenha especial cuidado em refrear a língua. Brilhem sempre nas suas palavras a paz, a verdade e a edificação do próximo.

      9) Diga muitas coisas com poucas palavras e para falar bem, fale sempre de Deus e para Deus.

     10) Não prefira nada à obediência, seja quem for que mande, submeta-se por Deus às criaturas e faça tudo o que possa com grande tranquilidade de espírito.

     11) Se não puder fazer tudo o que for mandado, e lhe for perguntado o motivo, conformar-se em dizer simplesmente que não pode, e tudo o que for dito depois, não replique. Não diga mais nada. 

     12) Qualquer repreensão que lhe seja feita, cale-se e aceite-a por amor de Deus, contanto que nada seja contra Ele e a obediência.

Isto é saber vencer-se a si mesmo!

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Até que ponto devemos suportar os outros?

Todos sabemos que o amor de Deus é inseparável do amor do próximo. Basta lermos o episódio narrado por São Mateus, para nos darmos bem conta desta verdade:

“Naquele tempo, um doutor da Lei perguntou a Jesus, para O experimentar:

- Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?

Jesus respondeu:

- Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu espírito. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo, porém, é semelhante a este: amarás o teu próximo como a ti mesmo.

Nestes dois mandamentos se resumem toda a Lei e os Profetas.” (Mt 22, 35-40)

A caridade sendo a mais excelente das virtudes é, portanto, também, o principal preceito da lei de Deus. 

Mas, até que ponto ela deve ser exercida? Até que ponto devemos suportar os defeitos do próximo?

Sobre esta matéria, lê-se na história de Santo Antão do deserto, o exemplo admirável de Santo Eulógio de Alexandria.

Certo dia, este homem, que tinha escolhido levar uma vida de penitência e solidão para conhecer, amar e servir melhor a Deus, encontrou pelo caminho um pobre estropiado, abandonado por todos e prestes a morrer na miséria. Tocado pela compaixão, tomou-o pelos braços e levou-o até à sua pobre cabana, onde graças aos seus cuidados e à sua caridade, conseguiu curá-lo.

Estava o pobre prestes a partir, quando Eulógio chamou-o e disse-lhe:

 - Se quiser, pode ficar aqui comigo: serviremos Deus, juntos.

O homem ficou muito contente e aceitou a oferta.

A partir daquele dia, o solitário redobrou o seu trabalho para garantir o sustento de duas pessoas.

Depois de algum tempo, em vez de respeito e agradecimento, o pobre começou a murmurar contra o seu benfeitor, dizendo estar a ser mal nutrido.

Eulógio prometeu-lhe, então, que procuraria algo melhor para a alimentação de ambos. Para este efeito, dirigiu-se a uma casa onde habitava um burguês abastado e honesto e pediu-lhe comida menos grosseira.

- Venha todos os dias, disse o homem, que vos darei o necessário para si e para o pobre.

Este último, no começo, mostrou-se contente. Mas, rapidamente, recomeçou com as suas queixas:

- Você fica com as melhores partes, dizia ao servo de Deus, e dá-me só os restos...”

- Meu irmão, respondeu-lhe Eulógio, dou-lhe a metade de tudo o que consigo e fico triste por não poder oferecer-lhe algo melhor. 
Peço-lhe um pouco de paciência, por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo. Vou tentar conseguir algo melhor.

A estas doces palavras, o infeliz respondeu com injúrias, tratando o santo homem de mentiroso e de hipócrita.

A sua aversão para com o seu benfeitor foi tornando-se cada vez maior a ponto de se transformar em ódio. Num dia, com o coração cheio de cólera, escondeu-se, tomou uma pedra e arremessou-a. Por pouco não atingiu Eulógio na cabeça. Noutro, tomando o seu cajado, desferiu-lhe golpes tão violentos que o fizeram cair.

- Ah, meu irmão, disse então o bondoso solitário, perdoo-lhe!

- Perdoa-me de boca para fora, resmungou o ingrato!

- Não, caro amigo, faço-o de todo o coração, como nos ensina Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tendo dito estas palavras, quis abraçar o infeliz. Mas este homem desnaturado tomou-o pela garganta, arranhou-lhe a face com as unhas e quis estrangular Eulógio. Quando a vítima conseguiu desenvencilhar-se das suas garras, ouviu-se ainda um grito aterrador:

- Vai! Você ainda morrerá nas minhas mãos!

O caridoso solitário teve paciência e aguentou, durante três ou quatro anos, os maltratos e os acessos de cólera daquele pobre infeliz. É difícil imaginar os tormentos pelos quais teve que passar durante este tempo, dia e noite. O seu protegido pedia-lhe sempre que fosse deixado onde tinha sido encontrado, pois, dizia, preferia morrer de fome a viver com ele.

Eulógio não sabia mais o que fazer. Tinha a consciência de que se o abandonasse, ele morreria na miséria. Contudo, temeu guardá-lo junto de si e expor-se a perder a paciência com ele. Neste dilema, resolveu falar com Santo Antão, que tinha grande fama de sabedoria e de santidade.

Ao chegar, expos a situação e a dúvida que tinha sobre o rumo a tomar.

O santo, com muita calma, deu-lhe o seguinte conselho:

- Meu filho, evite, a todo o custo, abandonar este pobre. O pensamento de deixá-lo no lugar onde o encontrou é uma tentação do demónio, que pretende assim tirar a sua coroa de glória.

- Sim, mas é muito difícil para mim, interrompeu Eulógio. Por todo o bem que lhe faço, recebo apenas mal...

Santo Antão, com a fisionomia muito serena, sorriu e disse-lhe:

- Mas, você não sabe que é para aqueles que nos fazem mais mal, que devemos exercer a caridade com maior generosidade? Não foi este o exemplo que Nosso Senhor Jesus Cristo nos deu?

- Sim, respondeu o caridoso solitário. Mas temo perder a paciência.

- Não se preocupe, retorquiu Santo Antão. A caridade triunfa sobre tudo e Nosso Senhor Jesus Cristo será a sua força. Persevere com coragem e confiança. Veja este pobre como um instrumento que Deus se serve para preparar a sua coroa de glória no Céu.

Encorajado por estas santas palavras, Eulógio continuou a servir o seu pobre ingrato com uma invencível caridade. Graças à sua paciência e às suas orações, o mal-agradecido converteu-se e viveu o resto dos seus dias na prática das virtudes cristãs.

Assim, se alguém for ingrato para consigo, tratar-lhe mal, criticá-lo, caluniá-lo e insultá-lo, siga o conselho de Santo Antão: Não perca a paciência e não devolva o mal com mal. Persevere com coragem e confiança, reze e peça a Deus que toque o coração daquele que lhe quer mal...

domingo, 2 de fevereiro de 2020

¿Ya pensó hacer un testamento espiritual?


Muchas personas hacen testamento para dejar sus bienes materiales. Pero, ¿cuántos piensan en los bienes espirituales y en la vida eterna?

Siendo innumerables los peligros a que está sujeta la vida humana, y conociendo que somos mortales y pecadores, que nacimos para morir, y no sabemos la hora; para que no seamos cogidos de improviso, vale la pena determinar y manifestar a todas las criaturas del cielo y de la tierra, nuestra última voluntad, con la ayuda de Dios, dejándola clara en un testamento.

Para que posamos nos inspirar, transcribimos el testamento espiritual de San Carlos Borromeo, compuesto de trece puntos:


En nombre del Padre y del Hijo y del Espírito Santo. Amen.

Yo (nombre) dispongo todas las cosas de mi alma; y primeramente declaro que, como fundamento de mi salvación eterna, protesto y confieso en presencia de Dios Omnipotente,  y de la Virgen Santísima María, y de toda la corte del cielo, es mi voluntad vivir y morir obediente a la santa Iglesia Católica, Apostólica y Romana; creyendo firmemente, como creo, en todos los artículos de la fe, enseñados por los santos Apósteles, como me los propone y explica nuestra santa madre Iglesia. Todo cuanto  me ocurriere contra esta santa Fe Católica Romana lo tengo desde luego por tentación del demonio: y si dijere o hiciere alguna  cosa (lo cual Dios no permita) contra ella, en virtud de esta cláusula, lo revoco y anulo y es mi voluntad que no se tenga por dicho ni hecho.

    1- Por esta mi última voluntad protesto, que en mi muerte deseo y quiero recibir el santo sacramento de la Penitencia, confesándome enteramente de mis pecados. Y si por algún accidente no me pudiere confesar, es mi intención y mi voluntad confesarme y dolerme de todas mis culpas y pecados, y llorarlos amargamente; no tanto por el temor del infierno, cuanto por haber ofendido al Sumo Bien, que es mi Dios, a quien debo servir y amar sobre todas las cosas; lo cual ahora propongo firmemente hacer con su divina gracia todo el tiempo de mi vida, sin ofenderle jamás.

    2- Es mi voluntad y quiero recibir el santísimo Viático. Y si por algún accidente no le pudiere recibir, declaro que es mi voluntad recibirle por lo menos espiritualmente con el corazón, adorando a mi Señor Jesucristo Sacramentado, y suplicándole se digne estar conmigo en tan peligroso viaje; me defienda de mis enemigos infernales, y me lleve al puerto seguro de la eterna bienaventuranza.

    3- Declaro que quiero pasar de esta vida mortal con el último sacramento de la  Extremaunción. Y no pudiendo por algún impedimento recibirle, ruego a mi Dios y Señor se digne ungirme todos mis sentidos con el óleo santo de su infinita misericordia, perdonándome todos los pecados que he cometido con mis ojos y oídos, lengua, gusto, olfato, tacto y pensamiento.

    4- Es mi voluntad acabar mi vida mortal esperando en la infinita misericordia de mi Dios el perdón de todos mis pecados y la salvación eterna de mi alma: teniendo, como tengo , la palabra de mi Señor Jesucristo , que dijo : «No he venido a llamar a los justos, sino a los pecadores».

    5- Confieso que aun las obras buenas las he hecho con muchas imperfecciones, negligencias y faltas. Y para que el demonio quede confuso, declaro que no presumo por solas mis buenas obras merecer el cielo, sino principalmente por los infinitos merecimientos y preciosísima sangre de mi Señor Jesucristo, derramada en la cruz por mi salvación eterna.

    6- Protesto y declaro que es mi voluntad padecer con paciencia y conformidad cualquier enfermedad y dolor que Dios me diere, hasta el último aliento de mi vida; que sea en unión de lo que mi Señor Jesucristo padeció por mí. Y si por mi fragilidad y miseria yo cayere en alguna impaciencia, desde ahora me arrepiento, y me pesa de mi culpa y del mal ejemplo que diere con mis impacientes obras y palabras, rogando a mi Dios no me desampare en aquel peligroso trance de mi muerte.

    7- Quiero perdonar y perdono todas las injurias y ofensas que me hayan hecho las criaturas en esta vida; rogándoles que a mí me perdonen; y a mi Dios suplico que me perdone mis pecados: y a todos los que en este mundo me han ofendido también su divina Majestad los perdone, y les ayude y asista con su divina gracia.

    8- Es mi voluntad, y quiero dar infinitas gracias a mi Dios y Señor por todos los beneficios que me ha hecho, espirituales como temporales: y particularmente por el beneficio de la creación, redención y vocación a su santo conocimiento; y por haberme esperado tanto tiempo a la penitencia, habiendo podido condenarme por mis graves pecados. Sea para siempre bendita su infinita bondad, piedad y misericordia.

    
    9- Quiero y deseo sumamente que de esta mi última voluntad sea ejecutora y protectora la gloriosa siempre Virgen María mi Señora, abogada de los pecadores, el glorioso patriarca S. José, y mis principales santos patronos y abogados, de quien soy devoto, a los cuales ruego me favorezcan en la hora de mi muerte, para que se digne nuestro Señor Jesucristo recibir en paz mi alma y mi espíritu.

      10- Quiero, declaro, constituyo y nombro por defensor y curador de mi alma al santo Ángel de mi guarda en el tremendo juicio de mi Dios y Señor cuando se vea mi causa y se me haya de dar la sentencia final de mi vida: y le ruego que así como Nuestro Señor Jesucristo le encomendó mi alma, y la puso debajo de su tutela y amparo en esta vida, así la defienda y lleve en sus manos al descanso eterno de la gloria.

    11- Ruego por las entrañas de mi Señor Jesucristo a todos mis parientes y amigos  verdaderos que me ayuden con sus oraciones y obras de satisfacción, y principalmente con el santo sacrificio de la Misa, como medio más eficaz ; para que si por la infinita misericordia de mi Dios estuviere mi alma en las penas del  purgatorio, sea libre de ellas; que yo les ofrezco no ser ingrato a tanto beneficio.

    12- Es mi voluntad y deseo que mi alma, luego después de mi muerte, sea puesta en la llaga amorosísima del Sagrado Costado de mi Señor Jesucristo, donde quisiera que perpetuamente viviese depositada para su eterno descanso.

    13- Finalmente, protesto y declaro que es mi voluntad aceptar con todo mi corazón la muerte en cualquier modo, tiempo y hora en que mi Dios y Señor me la enviare; conformando mi voluntad con la suya, y recibiéndola con paciencia en satisfacción de mis pecados. Le doy a mi Dios muchas gracias de la vida que hasta ahora me ha concedido; la cual, si fuere servido alargar, sea para más servirle con ella; y si dispusiere que yo muera, cúmplase en mí su divina voluntad: la alma y el cuerpo, la salud y la enfermedad, la vida y la muerte están en su piadosa y omnipotente mano. También suplico y ruego a mi Dios y Señor no permita que jamás me aparte  de esta mi última voluntad, que es estar siempre conforme con su voluntad  Santísima.»

Yo ya firmé de mi propia mano este mi último testamento, día 2 del mes de febrero del año de 2020. Y Usted, ¿no quiere hacer el suyo?

El día que firme su testamento confiese y comulgue. Lea con atención su testamento una o más veces al año, y cuando estuviere enfermo o en peligro de vida, haga que se lo lean muy de propósito.