Desperta, tu que dormes; levanta-te de entre os mortos e Cristo te iluminará! (Ef 5,14). Compreende bem de que mortos se trata quando te dizem: "Levanta-te de entre os mortos!" Muitos vezes, até dos mortos visíveis, se diz que eles dormem; e, na verdade, dormem todos para aquele que os pode acordar. Um morto está mesmo morto para ti: podes bater-lhe, sacudi-lo que ele não acorda. Mas, para Cristo, estava apenas adormecido aquele a quem ordenou: "Levanta-te!" e imediatamente se levantou (Lc 7,14). É fácil despertar do seu leito uma pessoa que dorme; com mais facilidade ainda Cristo desperta um morto já sepultado...
"Há quatro dias que está morto; já cheira mal" (Jo 11,39). Mas eis que chega o Senhor para quem tudo é fácil. Diante da voz do Senhor não há amarras que resistam; as potências das moradas dos mortos tremem e Lázaro aparece vivo... Pela vontade vivificante de Cristo, mesmo os que estão mortos há muito tempo apenas estão a dormir.
Mas Lázaro saído do túmulo estava ainda incapaz de andar. Por isso, o Senhor ordena aos seus discípulos: "Soltem-no e deixem-no ir". Cristo tinha-o ressuscitado mas eles é que lhe soltariam as faixas da mortalha. Vede a parte do Senhor ao trazer alguém de novo à vida: escravo dos seus hábitos, ele ouve as exortações da Palavra divina... Quando são vivamente admoestados, os pecadores entram em si mesmos; começam a passar a sua vida em revista e a sentir o peso das cadeias dos seus maus hábitos. Decidem mudar de vida: ei-los ressuscitados. Mas, embora vivos, eles ainda não podem caminhar; é preciso que as suas faixas sejam soltas; é o papel dos apóstolos: "Aquilo que desligardes na terra será desligado nos céus" (Mt 18,18).
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 97
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