Os saduceus eram um grupo judeu cujo nome derivava talvez do sumo sacerdote Sadoc nos tempos de David, e formado por aristocratas e sacerdotes. Não aceitavam nenhuma lei para além da os cinco livros do Pentateuco, negando todo o valor vinculativo as tradições rabínicas orais e escritas. Tinham complexo de elite e eram materialistas e pragmáticos. Não admitiam a existência dos anjos nem a ressurreição dos mortos, por ser esta última uma crença tardia no judaísmo (a partir do sec. II a.C.: livros dos Macabeus e do profeta Daniel). Menosprezavam a apocalíptica escatológica e eram céticos a respeito da espera messiânica. Politicamente procuravam o poder, por isso colaboravam corn os romanos. Os saduceus estavam totalmente confrontados corn os fariseus, piedosos e fanáticos conservadores.
Na sua resposta aos saduceus Jesus, nega primeiramente a necessidade do matrimónio na outra vida; carece de finalidade, pois os ressuscitados "já não podem morrer, são como anjos; são filhos de Deus, porque participam na ressurreição". Assim afirma a realidade da ressurreição que eles negavam. Para isso apela a passagem bíblica da sarça ardente, em que Javé se revelou a Moisés como "o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob". Se isto é assim, "não é Deus de mortos, mas de vivos; porque para ele todos estão vivos" na sua presença.
Embora Jesus afirme rotundamente a ressurreição dos mortos, nos desvenda o modo e as condições da sobrevivência; o seu mistério permanece íntegro. Contudo, algo é seguro: será vida certamente, embora distinta da presente, pois não se trata de um prolongamento da mesma mediante a reanimação de um cadáver. Como diz a liturgia num prefácio de defuntos: "A vida dos que em ti cremos, Senhor, não termina: transforma-se".
Cristo libertou-nos da morte. A morte é um dado constante da experiência. A morte biológica, o seu anúncio paulatino nas doenças, a sua presença brutal nos acidentes e a sua manifestação em tudo o que é negação da vida devido a violação da dignidade e direitos da pessoa constitui o mais pungente dos problemas humanos (GS 18).
Segundo as respostas, assim são as atitudes vitais: medo visceral, silêncio diante de um tabu; fatalismo, estóico diante de um facto natural e inevitável, hedonismo no topo diante da fugacidade da vida (que amanhã morreremos!), pessimismo, rebeldia, náusea existential diante do maior dos absurdos...,ou a serena esperança de uma crença na imortalidade e na ressurreição.
Jesus Cristo ressuscitado é a única resposta válida ao interrogante da morte do homem. A fé e a esperança cristãs de ressurreição e vida perene vinculam-se e fundamentam-se directamente na ressurreição de Cristo, com quem nos unimos no baptismo. O baptizado, o crente, sente-se radicalmente livre e salvo por Cristo, porque ele liberta-o do pecado e da sua consequência: a morte. Esta libertação não é da morte biológica, pois também Cristo morreu, mas da escravidão opressora da morte, do medo da mesma, do sem sentido e absurdo de uma vida inútil que acabasse no nada.
A luz da ressurreição do Senhor, o crente sabe e vivência, já desde agora, que a morte física, inevitável apesar dos avanços da medicina e da apaixonada aspiração do homem a imortalidade, não é o final do caminho, mas a porta que se nos abre, para a libertação definitiva com Cristo ressuscitado. Graças a ele o homem é um ser para a vida.
"A Palavra de Cada Dia" por B. Caballero