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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Espírito de Quaresma

 
De todos os tempos litúrgicos nenhum há, certamente, mais cheio de ensinamentos, mais rico de admiráveis fórmulas do que os quarenta dias de preparação para as solenidades pascais, que constituem a Quaresma – tempo de penitência, em que as almas se devem purificar para compartilhar das glórias da Ressurreição, já que se animam com Jesus por meio dos sacrifícios do jejum e mais práticas da ascese cristã.

A Quaresma era o tempo da última preparação dos catecúmenos para o Batismo, que lhes era administrado na noite de Sábado Santo para o Domingo de Páscoa. A exemplo dos 40 dias passados por Jesus no deserto para se preparar para a sua missão pública, os catecúmenos preparavam-se para o primeiro Sacramento com seis semanas de jejum e de oração.

Uniram-se-lhes mais tarde, nas intensas orações e nos jejuns, os penitentes públicos, que esperavam ser absolvidos na Quinta-feira Santa; mais tarde ainda, mas não antes do século IV, o jejum das seis semanas anteriores à Páscoa foi estendido a todos os fiéis. Mas como ao Domingo não se jejuava, havia apenas 36 dias de jejum, nos 42 dias que a Quaresma durava. Não faltavam os escrupulosos. Moisés, Elias, os habitantes de Níneve, Jesus Cristo, todos tinham jejuado 40 dias; eles também queriam passar 40 dias no jejum.

No século VII a Santa Igreja alargou a Quaresma mais quatro dias, começando-a, não já no sexto Domingo antes da Páscoa, mas na quarta-feira precedente.

Mas os 40 dias de jejum pareceram ainda pouco a muitos católicos piedosos dos primeiros séculos, especialmente aos anacoretas, que por isso mesmo prolongaram o jejum por 50, 60 e até 70 dias. Havia neste caso, além do jejum quaresmal, um jejum quinquagesimal, sexagesimal e septuagesimal.

Agora a Quaresma está reduzida aos seus antigos termos de 40 dias; e a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II suprimiu a lembrança do antigo jejum prolongado e dos três Domingos que precedem a quarta-feira de Cinzas e tinham o nome de Domingo da Quinquagésima, Sexagésima e Septuagésima, onde eram adotados os paramentos roxos.

A liturgia quaresmal é de penitência. Retiram-se as flores dos altares, os paramentos são roxos, e o acompanhamento musical da celebração, reduzido.

A recordação dos 40 dias que o Mestre passou no deserto penetra o espírito e a letra das fórmulas deste tempo e dá-lhes o caráter dominante e bem definido.

Esta lembrança de Jesus penitente determinou a escolha de tantas e preciosas orações que nos encantam e que a Santa Igreja nos propõe para meditação durante a Quaresma.

Os instantes pedidos do pecador para que se volte da sua iniquidade para o Senhor; as exortações às práticas penitenciais dirigidas às almas para que se purifiquem confiadas na misericórdia divina; as leituras, tão penetradas de doutrina, tiradas do Antigo e Novo Testamento; a escolha dos responsórios, antífonas e hinos, não visam outro fim, senão a uma ascese, a um trabalho mais intenso do cristão, cônscio do seu nada e da miséria a que o reduziram as suas faltas e, portanto, convicto da necessidade de regressar a Deus pelas árduas sendas da penitência.

O primeiro dia da Quaresma é a Quarta-feira de cinzas, assim chamada por causa de uma cerimónia simples, mas tocante. Na véspera queimam-se os ramos de oliveira benzidos no Domingo de Ramos do ano precedente, e juntam-se as cinzas. O sacerdote benze essas cinzas no Altar e depois deita-as sobre a cabeça dos fiéis, ou sobre a fronte, dizendo: “Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás-de voltar” (Gen 3, 19) ou “Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1, 15). Bastaria esta cerimónia para nos dar a conhecer, desde o princípio, o espírito que nos há-de guiar, os sentimentos de que nos devemos imbuir.
Todavia, para bem compreendermos como com este espírito e com estes sentimentos se conformam certas leituras, responsórios e outros passos da Sagrada Escritura, reproduzidos na liturgia do tempo, devemos lembrar que dois outros factos e elementos principais inspiram e dominam a Quaresma.

Como acima referimos, a Quaresma er uma preparação dos catecúmenos para o batismo. Para este grande ato, durante 40 dias eram os catecúmenos preparados e expunha-se-lhes o Pai-Nosso, versículo a versículo: explicava-se-lhes o livro do Génesis, a história do mundo e do homem, a obra dos seis dias, e liam-se-lhes outros autores do Velho e Novo testamento, que lhes fizessem conhecer a fé.

A isto se devia a presença no lecionário antigo do milagre que Elias fez a favor do filho da viúva de Sarepta, mostrando como Deus envia o seu projeta não aos judeus, mas aos gentios, que Ele chama para a fé; de José, vendido pelos seus irmãos, imagem de Jesus a quem os seus compatriotas repelem e atraiçoam; vendido para o Egito, o filho de Jacob salva o país estranho, como Jesus, rejeitado pelos seus, se comunica em bênçãos aos gentios; é o filho do pai de família, repelido e desprezado pelos trabalhadores da vinha, símbolo do Salvador, que a Judeia renega, e se vê obrigado a levar os seus benefícios para fora da Sinagoga; é Jacob suplantando o seu irmão primogénito, Esaú, e figurando o povo gentio que é preferido ao judaico; e o pobre Naaman curado da lepra, depois de banhado nas águas salutares do Jordão, que lembra as águas batismais, onde vai ser purificado o catecúmeno; é a admirável liturgia que canta os júbilos do que sai puro e sem mancha do banho da graça, refletindo luz, alegria e santidade; são as duas mães diante de Salomão, recordando uma a Sinagoga e outra a Igreja, verdadeira mãe, toda trêmula de amor por seus filhos…!

O segundo fato que singularmente esclarece o estudo da liturgia quaresmal era que os cristãos, réus de faltas mais graves, tinham de se submeter às árduas e severas penitências, principalmente durante os quarenta dias que precediam a Páscoa.

A Igreja não esquecia as pobres almas, assim sob o rigor da disciplina: no princípio da Quaresma cobria-lhes a cabeça de cinza em sinal de luto e de penitência, recordando-lhes a miséria da vida e o pó de que tinham sido criados, ao qual haviam de voltar – prática que hoje se usa com todos os cristãos. Porém, para não lhes deprimir o espírito, sob um regime de austeridade, a Santa Igreja, como Mãe carinhosa, recorria solicitamente a apresentar as lições de caridade que o Mestre Divino nos legou no Santo Evangelho. Assim era a encantadora parábola que mostra o Bom Pastor todo cuidadoso para com a ovelha tresmalhada, trazendo-a aos ombros para o aprisco; a ressurreição do filho da viúva de Naim, a de Lázaro, que vêm simbolizar-nos o levantamento da morte do pecado para a vida sublime da graça divina. É a história da mulher adúltera conduzida aos pés do Mestre para se lhe cominar o duro castigo da Lei, símbolo das divinas misericórdias para com os infelizes que caíram no mal por fraqueza, mas sinceramente arrependidos.

E sempre a graça de Deus a ressuscitar para a verdadeira vida aquele que pelo pecado a perdera, é o Senhor atraindo pelos divinos laços de uma bondade sem limites, a alma que dele se afastou.
Tais eram os ensinamentos que podíamos haurir nos antigos e nos novos livros litúrgicos, neste tempo, tais são as lições que cada um dos cristãos pode aplicar a si mesmo.

A Santa Igreja conservou até hoje essas admiráveis expressões da piedade antiga principalmente para serem alimento espiritual dos fiéis em todos os séculos.

Ela quer que não nos esqueçamos de que somos pecadores, expostos constantemente às variadas ciladas dos inimigos e por isso têm para os cristãos de hoje, um interesse de atualidade de primeira ordem todas as lições litúrgicas que durante a Quaresma a Santa Igreja põe à nossa consideração quer na Santa Missa quer na Liturgia das Horas.

Embora nos possa parecer que essas lições só se referem aos catecúmenos e penitentes da antiga Igreja, elas dizem respeito a todos, pobres pecadores, que devemos trazer nos lábios os gritos de arrependimento, os apelos à divina clemência, os acentos de gratidão do pecador restituído à graça, que as fórmulas da liturgia deste tempo trazem de uma tão admirável maneira.

Devemos entrar na Santa Quaresma com a mesma convicção, com a mesma intenção da Igreja, refletida na liturgia. Purificação das manchas do pecado e desprendimento de todo o apego desordenado aos bens materiais, temporais e mundanos. Sacrifício de tudo o que pode impedir-nos de subir ao cimo da vida cristã. Renúncia que custará muito trabalho, lutas e sacrifícios. União ao Senhor na Sua vida de renúncia, de lutas e sofrimentos, convencido de que Ele, a Cabeça, vencerá também em nós, seus membros. Quanto mais união a Ele, tanto mais seguros estaremos para participar depois na Páscoa da Sua glorificação, da Sua nova vida.

Ressuscitados com Cristo, viveremos como homens novos servindo de fermento no levedamento da massa.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Razões que levaram um ex-evangélico a retornar à Igreja Católica


Impressionante testemunho de A. Silva sobre as igrejas evangélicas e os argumentos que o levaram a retornar à fé católica. Uma verdadeira aula de apologética:

Eu, que por muitos anos frequentei igrejas evangélicas de diversas denominações, e por muito tempo fui enganado e explorado pelos seus pastores, dedico este testemunho a todos aqueles que se declaram “ex-católicos”, sem nunca terem sido católicos de fato, mas sobem aos púlpitos protestantes “evangélicos”, que eles, por pura ignorância, chamam de “altar” – Se não há sacrifício não é e nem pode ser altar: só existe Altar na Igreja Católica -  para induzirem ao erro os seus irmãos mais ingénuos.

 Não creio que um dia tenham sido católicos os que depõem os seus falsos testemunhos dizendo que encontraram a salvação em alguma “igreja evangélica”, porque os verdadeiros católicos já encontraram Jesus e a Salvação na Igreja que Ele mesmo nos deu, e não podem abandonar a Comunhão com Deus, seu Criador e Salvador, a não ser que nunca tenham comungado, de fato, com o Senhor Jesus Cristo.

 Enumero abaixo algumas razões porque deixei o protestantismo e retornei à primeira e única Igreja de Jesus Cristo.

 1) O princípio “só a Bíblia”

 Nada mais falso do que esse princípio. Os cristãos do primeiro século não dispunham de Bíblia. E nem os cristãos dos séculos seguintes. Na verdade, os cristãos só puderam contar com a Bíblia para consulta, como hoje, muitos anos depois da invenção da imprensa, que só aconteceu no ano de 1455. Então, será que o Senhor Jesus esperaria mais de um século e meio para revelar a sua verdadeira doutrina para o mundo? Se assim fosse, Ele teria mentido, pois disse antes de partir para o martírio que estaria com a sua Igreja até ao fim do mundo (conf. Mateus 28, 19-20).

Além disso, para que a Bíblia fosse a única fonte de revelação, seria no mínimo necessário que ela mesmo se proclamasse assim; e não é o caso, pelo contrário. A Bíblia diz que a Igreja é a coluna e o sustentáculo da verdade (1 Tim 3, 15), e não as Escrituras. Nela, Jesus Cristo diz ainda: “Vocês examinam as Escrituras, buscando nelas a vida eterna. Pois elas testemunham de Mim, e vocês não querem vir a Mim, para que tenham Vida!”(João 5, 39-40).

Sim, a Bíblia diz que as Escrituras são úteis para instruir, mas nunca diz, em versículo algum, que somente as Escrituras instruem, ou que só o que as Escrituras dizem é que vale como base para a fé. Isso é uma invenção humana sem nenhum fundamento. E a Bíblia também diz que devemos guardar a Tradição (conf. 2 Tessalonicenses 2, 15 e 2 Tessalonicenses 3, 6, entre outros).

Contrariando a Bíblia, os “evangélicos” rejeitam a Tradição.

2) O princípio “Só a fé salva”

A mesma Bíblia ensina que a fé sem obras é morta, na Epístola de Tiago (2, 14-26). A mesma Bíblia ensina que o cristão deve perseverar até o fim para ser salvo (Mt 24, 13). E ainda acrescenta que seremos julgados,todos, por nossas ações boas ou más. Existem várias passagens que dão conta de um julgamento futuro e, sendo assim, é falso que alguém aqui na terra já esteja salvo só porque “aceitou Jesus”. Não basta ir à frente de uma assembleia e dizer “Aceito Jesus como meu Senhor e Salvador” para ganhar o Céu. Não, não. É preciso muito mais do que isso. Conversão não é da boca para fora: é preciso que cada um tome a sua cruz e siga o Senhor, que, aliás, nunca prometeu prosperidade para quem o seguisse.

Portanto, é totalmente mentirosa a afirmação de que basta ter fé para ser salvo. Ora, os demônios também creem (Tiago 2, 19)…

3) Lutero

Foi Martinho Lutero quem começou com as “igrejas” protestantes, que deram origem às “igrejas evangélicas” de hoje. Mas o que ele pensava é seguido apenas em parte pelos “evangélicos” de hoje. Eles seguem somente os princípios “Só a Bíblia” e “Só a Fé”. Embora Lutero seja o fundador de todas as igrejas evangélicas que existem hoje, por que não são todos luteranos? Na verdade, isso seria bem menos pior…

 Por outro lado, se reconhecem que Lutero é um homem falível, como é possível a um “evangélico” ter tanta certeza de que os princípios que ele inventou sejam dignos de confiança absoluta? Mais do que o que ensina a única Igreja que tem 2.000 anos e foi instituída diretamente por Jesus Cristo?

 Mais: o próprio Lutero contestou o Papa e decretou que não se deve confiar num sacerdote. Mas ele mesmo era um ex-sacerdote católico. Então, se ele mesmo se descarta como pessoa confiável, quem é tolo o suficiente para dar crédito ao que ele disse ou escreveu?

 4) Subjetivismo religioso I

Uma denominação evangélica não é igual a outra em matéria de fé. Isso é facto:

-- Umas batizam crianças, outras não;

-- Umas admitem o divórcio, outras o repudiam;

-- Umas aceitam mulheres como “pastoras”, outras não;

-- Umas praticam a “santa ceia”, outras não;

-- Umas ensinam que devemos guardar o sábado, outras não;

-- Algumas ensinam a teologia da prosperidade, outras a repudiam;

Por aí vai… Tem “bispo evangélico” por aí defendendo até o aborto, só porque a Igreja Católica é contra (claro!). É comum ouvirmos frases como estas: “Nesta ‘igreja’ está o verdadeiro caminho”, ou “Deus levantou este ministério” ou ainda “a tua vitória está aqui”. Mais comum ainda é os “pastores” dizerem que as igrejas deles são “ungidas”… Ora, se todas essas igrejas ditas “evangélicas” são tão diferentes entre si, e a Verdade é uma só, como é possível um “evangélico” ter certeza que está na caminho certo, ou que o seu “pastor” está pregando a “Verdade”, se existem tantos outros “pastores” (que também dizem seguir a Bíblia e afirmam que são “ungidos”) que discordam dele?

5) Subjetivismo religioso II

Cada “crente” pode interpretar a Bíblia do jeito que quiser, segundo a tese protestante de Lutero. Mas todos nós sabemos que um “crente” não concorda com outro em todas as coisas. Muitas vezes divergem entre si mais do que convergem. Se cada qual interpreta a Bíblia do seu jeito, e nem poderia ser diferente, então, como é possível um “evangélico” ter a certeza de que está certo na sua interpretação? E por quê, meu Deus, por quê apenas a interpretação da Igreja Católica é que está totalmente errada, em tudo? Essa é a mais cruel de todas as incoerências das “igrejas” ditas “evangélicas”: praticamente todas elas se reservam o direito de criticar umas às outras, mas todas são unânimes em criticar a Igreja Católica! O mais incrível é não perceberem que, agindo assim, estão cumprindo as profecias bíblicas do próprio Senhor Jesus Cristo: “Sereis odiados de todos por causa do meu Nome” (Lucas 21, 17); “Bem-aventurados sereis quando, mentindo, disserem toda espécie de mal contra vós, por amor ao meu Nome” (Mateus 5, 11-12)…

 Os pastores ajoelham-se e prostram-se diante de réplicas da Arca da Antiga Aliança, mas eles não chamam esses pastores de “idólatras”. Só os católicos são chamados assim. Eles idolatram até lencinhos embebidos no suor de alguns pastores mas não acham que isso é idolatria… Em algumas denominações, acontece a distribuição de lembrancinhas, sabonetinhos para espantar “mau olhado”, vidrinhos de óleo “ungido”, “rosas consagradas”, etc, etc… Mas nada disso, para eles, é idolatria. Somente os católicos é que são idólatras. Todos pensam assim, porque todos sofreram a mesma lavagem cerebral, que é muito difícil de reverter.

 6) Subjetivismo religioso III

 A interpretação pessoal da Bíblia por cada “crente” e “pastor” afronta claramente a Bíblia. De acordo com a santa Palavra de Deus, interpretação alguma é de caráter individual. Examinar a Bíblia não é o mesmo que interpretá-la. Posso examinar uma pessoa e lhe informar que encontrei uma mancha na sua pele. Mas o diagnóstico deve ser feito pelo médico, e não por mim, que sou leigo nesta matéria.

 7) “Igreja não importa” e “igreja não salva”…

 Todo “crente” diz em alto e bom som: “Igreja não salva ninguém”.Ora, se igreja não salva ninguém e cada um pode interpretar a Bíblia pessoalmente, para quê frequentar alguma denominação? Quando ocorre algum escândalo envolvendo algum “pastor”, o crente também diz: “Olha para Jesus e não para o pregador”. Mas se o pregador ensina tolices e princípios contrários ao verdadeiro cristianismo, por que eu deveria ouvir o que ele diz? Não é possível “olhar para Jesus” assim. Pelo contrário, isso só vai colocar em risco a minha alma! Se cada crente pode interpretar pessoalmente a Bíblia, se “igreja” não salva ninguém e o pastor não é confiável (ele é só um homem falível), então por que os “evangélicos” continuam dando tanto crédito aos pregadores?

 8- Evangelização ou PROSELITISMO ?

E se cada um de facto pode interpretar a Bíblia a partir da sua leitura pessoal, que conta com a assistência do Espírito Santo, por que ao invés de pregar não se imprimem Bíblias e se distribui à população? Ora, se basta ter fé para ser salvo e se cada um pode ser o próprio intérprete da Bíblia, para que servem as denominações, os cultos, os “pastores”, as pregações, livros, CDs e DVDs? Ao invés dos milhões em dízimos e ofertas, que sustentam toda uma estrutura que é desnecessária (afinal todos os que crerem já estão salvos…), por que não reunir esses recursos e construir gráficas e mais gráficas para a impressão de Bíblias e distribuí-las para todos aqueles que não conhecem Jesus?

 Eu digo porquê: porque os “pastores” se encarregam de passar a sua interpretação pessoal da Bíblia aos ingênuos que os seguem. E essa interpretação é deturpada e não tem nada a ver com a Mensagem original nos Evangelhos. Os “evangélicos” pensam que entendem a Bíblia, mas na verdade tudo o que eles conhecem é a interpretação pessoal deste ou daquele “pastor”.

 Se nem o pregador é digno de confiança, razão pela qual o crente deve confrontar o seu entendimento pessoal da Palavra com a pregação do palestrante, por que razão alguém deveria dar crédito a um desconhecido que lhe vem falar como porta-voz de Jesus?

 9) Interpretação bíblica

Agora, se cada um pode interpretar a Bíblia e se todas as interpretações estão corretas, mesmo que sejam todas diferentes entre si, por quê só a interpretação católica está errada? A Bíblia só pode ser interpretada se a pessoa está sob o rótulo de “evangélico”? Nesse caso, o que salva não é a fé, é o rótulo. E se for assim, ao contrário do que eles afirmam, a placa da igreja ou o rótulo de “evangélico” é que salva.

 Pela visão protestante, milhares e milhares de denominações estão corretas nas suas interpretações bíblicas, mesmo que sejam diferentes entre si. Todas elas estão certas e apenas uma está errada, que seria a Igreja Católica. Justamente a primeira igreja que existiu é que não conta com a assistência do Espírito Santo. Nesse caso, Jesus mentiu quando disse que os portais do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (Mateus 16, 18) pois o inferno teria triunfado contra a Igreja Católica, e também quando disse que estaria com a sua Igreja até o fim do mundo: ele só se faz presente para quem carrega o rótulo de “evangélico”…

 10) O Pai Nosso

 A oração é bíblica. Foi ensinada pelo Senhor Jesus. O “evangélico” a repudia. Por quê? Para não parecer católico!

 O “crente” jura defender a Bíblia, mas é o primeiro a não obedecê-la…

 Ele decidiu que não irá recitar o Pai-Nosso e “fim de papo”. E pior. Quem o faz está errado, ainda que esteja obedecendo à Bíblia. O crente se acha melhor do que Jesus. Jesus fez a oração do Pai-Nosso, mas o “evangélico” não tem que a fazer…

 11) Maria

Isabel, que ficou cheia do Espírito Santo com a visita de Maria, chamou-a de “mãe do meu Senhor”. O crente a chama de “mulher como outra qualquer”…

 Isabel, recebeu o Espírito Santo com a chegada de Maria, grávida de Jesus Cristo, Deus Todo-Poderoso. O “evangélico” fica cheio de ira quando se menciona o nome de Maria…

 João Batista estremece no ventre de Isabel ao ouvir a voz de Maria. O crente se enfurece quando ouve o nome Maria…

 A Bíblia diz que Maria será chamada de bem-aventurada por toda as gerações. O crente a chama de mulher pecadora como qualquer outra.

O protestante rasga os Textos Sagrados. E jura defender a Bíblia. Seguem o que querem e desprezam o que não lhes interessa!

 12) Confissão

 A Bíblia é clara: aos Apóstolos foi dado o poder de reter e perdoar pecados (Lucas 20, 21-23). Como é possível reter ou perdoar se alguém não lhes confessa? Desnecessário falar mais a respeito.

 13) Fundação de “igrejas”

 A Bíblia não faz qualquer referência à milhares de “igrejas” diferentes e separadas, mundo afora. Mas para fundarem as suas denominações, os “evangélicos” não fazem questão da tal  base bíblica de que tanto falam. A Bíblia diz que devemos ser um só corpo. Eles fazem o contrário. Dividem-se, subdividem-se, de novo e de novo. Se uma igreja não está agradando, procuram outra mais ao seu gosto, e os mais espertos fundam as suas próprias igrejas, do jeito que acham mais certo (ou do jeito que dá mais lucro, em muitos casos), segundo a sua própria interpretação da Bíblia. E todos dizem que estão sendo guiados por Deus. Existe um Deus ou muitos deuses? Se é um só Deus, como tantas igrejas podem ensinar coisas diferentes, e todas estão certas, menos a católica?

Eles fragmentam o Corpo e pulverizam a mensagem do Evangelho.

Fazem o contrário do que o Senhor ordenou! Basta um crente discordar do outro, – e isso é a coisa mais fácil de acontecer, – que já surge uma nova denominação. Os seus líderes podem ter “visões” para fundarem novas denominações. Mas somente as revelações católicas aprovadas pela Santa Igreja é que são refutadas…

 O crente acredita no que deseja. E rejeita tudo que é católico. Sempre dois pesos e duas medidas.

 O pastor falou que teve uma visão e todo mundo engole. Nessa hora o “biblicamente” ou “a Palavra de Deus” não tem qualquer importância.

A. Silva, personagem real ou imaginário?

Original em Cristo em Nós

sábado, 15 de setembro de 2012

Apostolado com as crianças: métodos e conselhos

No dizer do Papa Pio XI “o sujeito da educação cristã é o homem, o homem todo, espírito unido ao corpo em unidade de natureza, com todas as suas faculdades naturais e sobrenaturais, como no-lo dão a conhecer a reta razão e a Revelação: por isso o homem decaído do estado original, mas remido por Cristo, e reintegrado na condição sobrenatural de filho de Deus, ainda que o não tenha sido nos privilégios preternaturais da imortalidade do corpo e da integridade ou equilíbrio das suas inclinações. Permanecem portanto na natureza humana os efeitos do pecado original, particularmente o enfraquecimento da vontade e as tendências desordenadas (Pio XI, Fivini Illius Magister, 31 de Dezembro de 1929).
Tendo assim, por base o composto humano, corpo, com todas as suas tendências boas e más, e alma, com as suas potências naturais e sobrenaturais, a catequese ou o apostolado visa a “formar cristãos convictos que conheçam a sua fé e a ponham em prática (Carta de João XXIII ao II Congresso catequístico de Veneza, 22 de abril de 1961).
Como consegui-lo?
A criança regenerada pelas águas do Batismo, possui em gérmen as virtudes teologais. É pelo desenvolvimento destas virtudes que a criança alcançará uma vida de fé esclarecida, dando uma resposta afirmativa à sua vocação e à Deus: um sim pela fé, enquanto diz a Deus que aceita na vida a verdade eterna revelada por Ele, um sim pela esperança, enquanto confia nos bens eternos prometidos por Ele e um sim pela caridade, enquanto no amor a Deus dá resposta ao amor infinito de Deus (Côn. José Cardoso de Almeida, Catequista Missão sublime, Lamego, 1960, pag. 102).
Este desenvolvimento opera-se por meio de um ensino sagrado, vivo, fundamental, elementar, metódico e ocasional (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 39). Ensino sagrado que mediante a apresentação das verdades da fé, leva a criança ao “encontro” com Deus pela união a Cristo.
Este ensino, ou apostolado, chamemo-lo assim, “não nos introduz num catálogo de verdades anónimas – como a gramática – ele faz-nos entrar na amizade das Pessoas Divinas. A pessoa de Jesus Cristo é o centro deste ensino. Jesus Cristo faz-nos conhecer a Pessoa do Pai e ensina-nos a ser dócil à Pessoa do Espírito Santo” (Abbé Paul Vernhet, La Pratique du Catecisme, Paris , 1960, pag.6).
Aquela resposta a este encontro – ou vida de fé da criança – prepara-se nas próprias conversas ou lições, criando um ambiente de amor e respeito que leve à oração, pondo como sujeito das frases as Pessoas Divinas, como por exemplo: “Deus ouve-nos”, “Deus escuta-nos”, “Jesus vem à nossa alma”, “o Espírito mora na alma de cada menino ou menina”, etc. Em suma, seguindo sempre o conselho de Santo Agostinho ao Diácono Deogratias: “tudo o que contardes, contai-o de modo que o vosso ouvinte creia escutando, espere crendo, e ame esperando” (Abbé Paul Vernhet, Santo Agostinho, De catechizandis Rudius, Paris, 1960, pag. 45).
Ora para que o apostolado consiga tudo isto “deve ter estudado cuidadosamente a psicologia, como diz Pio XII, em ordem a aquilatar corretamente a capacidade dos espíritos e se adaptar convenientemente às suas necessidades” (Pio XII, Congresso Católico Internacional, 1950).
Concluindo: como o apostolado “toma a criança tal qual é, para fazer dela o que deve ser, torna-se indispensável a observação para a boa educação. Para educar é preciso diferenciar o tratamento – seria erro grave tratar de igual modo a criança dos seis aos doze anos – e para diferenciar o tratamento é necessário conhecer o sujeito; para conhecer o sujeito carece-se observá-lo. Sem o conhecimento das qualidades boas e más das crianças, dos fatores que aí intervieram ou da sua motivação, do seu modo de reagir, da sua força de vontade, das suas possibilidades; em suma, sem o conhecimento exato e profundo do educando, não é possível um apostolado ou educação pedagógica sérios e eficazes (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 18).
Podemos afirmar, com Lacordaire, que cada criança tem em si o gérmen de um santo ou de um celerado.
É a missão do apóstolo “cooperar com a graça” no dizer de Pio XII, para realizar em cada alma o pensamento de Deus – fazer passar a ato o santo em potência.
Nesta cooperação, convém recordá-lo de novo, temos a considerar a criança sob um duplo aspeto, natural e sobrenatural.
No aspeto natural, vista à luz da razão, “a criança é um corpo que cresce e uma alma que se forma e desenvolve, como dizia Maria Montessori, criadora da Casa das crianças e que até criou um método especial de aprendizagem (Côn. José Cardoso de Almeida, catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 75).
No aspeto sobrenatural – vista à luz da fé – “a criança é um filhinho de Deus que pleo crescimento na graça se faz um adulto cristão” (Côn. José Cardoso de Almeida, catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 76).
Embora este crescimento da graça não esteja sujeito às leis fisiológicas – pode numa criança de 10 anos haver um adulto cristão e pode acontecer que, num homem de 60 anos, não haja nível algum de vida divina – todavia, pelas repercussões que estas leis exercem aquele crescimento, passaremos a analisar as características psicológicas através dos vários períodos do crescimento da criança e a sua aplicação ao apostolado.
Colaboração indispensável da família
No apostolado, convém ter bem presente que, “nada podemos empreender de sólido e durável, sem uma colaboração esclarecida e constante das famílias” (P. Amilcar Amaral, Bíblia das Criancinhas, Lisboa, 1955, pag.6).
Os pais têm o dever e o direito inalienável de educar os filhos. Esquecer o fator familiar é sujeitar à nulidade todo o apostolado. Não nos ocuparemos da primeira infância – apesar da sua importância capital na educação dos hábitos da criança – por se tratar de um período estritamente maternal e familiar.
Dos 4 aos 6 anos as crianças podem e devem receber formação religiosa em casa ou na catequese paroquial ou nalguma Associação, sobretudo, quando a família é incapaz de lhes ministrar a formação competente.
Apostolado na segunda infância das crianças
 A criança batizada é dotada de faculdades sobrenaturais ou virtudes infusas, a fé, a esperança e a caridade. Estas virtudes são gérmenes de vida divina que hão-de desenvolver-se por uma dupla ação: do Espírito Santo, que por elas esclarece a inteligência acerca de Deus e atrai para Ele as almas, e dos formadores ou educadores, que devem apresentar às crianças as verdades da fé, orientá-las para Deus e criar à sua volta um clima onde essas virtudes se possam desenvolver sem obstáculos humanos ou naturais que venham neutralizar, ou mesmo impedir, a ação divina, pois Deus respeita sempre a liberdade humana.
O Espírito Santo não comunica às almas apenas essas faculdades novas da fé, esperança e caridade, sem as quais seria impossível ter um conhecimento sobrenatural de Deus. Ele dá-nos os seus dons. Estes dons são uma espécie de instintos que facilitam à nossa inteligência a compreensão das verdades da fé, e robustecem a vontade, para ser fiel às exigências da mesma fé.
Ora, toda esta ação oculta e silenciosa do Divino Espírito Santo, na alma batizadas, é tanto mais eficaz, quanto mais livre de preconceitos estiver a inteligência, quanto menos viciada estiver a vontade, quanto menos enraizados estiverem os maus hábitos que se opõem à ação da graça, quanto menos materializada estiver a sensibilidade.
É, pois, antes do uso pleno da razão, ou seja no período que vai dos 3 aos 6 anos, aproximadamente, que a criança está na idade mais propícia à eficaz ação do Espírito Santo, que vive na sua alma.
Se não aproveitarmos estes primeiros anos da vida infantil para criar à volta da criança o ambiente cristão e para a colocar em circunstâncias que favoreçam o exercício das virtudes, perdemos a melhor oportunidade de colaborar com Deus na obra de santificação da mesma criança e deixamos que se robusteçam hábitos e maneiras de pensar anticristãs, que virão dificultar, e talvez inutilizar, pela vida fora, a ação da própria graça. Como diz Michael Pfliegler: “Se a determinação religiosa não se realizou nestes primeiros anos, teremos enorme dificuldade em exercer, mais tarde, uma influência religiosa e moral sobre o indivíduo: será quase como pretender encher um saco sem fundo”.
O período sensível ao sentimento religioso e ao sentido espiritual situa-se antes dos seis anos, torna-se pois necessário fazer com que as crianças vivam, neste primeiro período da sua vida, em união com Jesus, Maria e com Deus, presente em sua alma.
O desenvolvimento da afetividade infantil ou a educação do inconsciente, corresponde, em geral, a este período da infância. Este desenvolvimento, inconsciente, dos nossos primeiros anos é indescritível. É ele a base sobre a qual está edificado todo o nosso edifício psíquico. As impressões que o nosso espírito recebe nestes anos, ficam a marcá-lo como um selo ao mesmo tempo indelével e dinâmico.
A ausência total da vida cristã, nestes primeiros anos, deixa uma marca de vazio e de silêncio espiritual, onde devia existir uma afetividade plena e intensa.
“Se as nossas crianças batizadas foram orientadas, unicamente, por um meio familiar paganizado, que nunca lhes falou de Deus; se elas viverem sem oração, sem sacramentos, preocupadas em satisfazer a sua fantasia ou os seus caprichos (…) é uma verdadeira conversão que deve operar-se, para fazer com que elas voltem para Deus. As conversões são poucas e difíceis. Raras vezes são totais, porque as primeiras impressões deixam, como já vimos, traços indeléveis.
Por isso mesmo, dizia André Boyer na sua obra “Pedagogia cristã, problemas e métodos”, é preferível educar, do que, mais tarde, sermos obrigados a converter.
Na criança entre 3 e 6 anos, temos as seguintes características psicológicas:
1)      Despertar da personalidade : “A criança nesta idade manifesta um certo espírito de contradição (Côn. José Cardoso de Almeida, catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 78). O “não” é a sua palavra preferida. Esta descoberta faz com que ela tome atitudes de pessoa adulta.
2)      Curiosidade: A descoberta do mundo, caracterizada por um globalismo sincrético, leva-a querer saber tudo – é a idade dos porquês, tudo perguntam… embora se contentem com qualquer resposta. Esta última circunstância não nos deve autorizar, porém, a enganar as crianças ou mentir-lhes, seja por que motivo. Apalpam e desmancham os objetos e brinquedos ao seu alcance, mas tudo num sentido utilitário e não de causalidade interna.
3)      Maravilhoso: A criança vive mais num mundo de fantasia do que no mundo real, é ávida de tudo o que é maravilhoso, e por isso, adora ouvir histórias e contos. Não distingue, por vezes, o real do imaginário e daí alguns enganos a que chamamos mentiras.
4)      Egocentrismo: Devido ao carinho que todos lhe dedicam, a criança considera-se o centro do mundo. Pretende agarrar tudo para si, “consequência fatal de uma fraqueza nativa e de uma razão incapaz de objetivar o universo e de reconhecer às coisas uma razão de ser que não seja o seu interesse subjetivo”  (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 79). Na própria conversa não considere os outros. Assim, por exemplo se alguém lhe perguntar: “qual é a minha mão direita? Ela aponta invariavelmente para a nossa mão esquerda… Tens um irmão? – Tenho. – E teu irmão tem algum irmão? – Não. (Gaston Courtois, Apontamentos de Psicologia, Lisboa, 1953, pag. 11).
5)      Jogo: Nesta idade a criança encontra no jogo a sua expressão natural. “Jogando ela aprende a pôr à prova a sua capacidade, a empregar o tempo segundo as suas forças, a exercitar-se na habilidade e na independência”  (W. Demal OSB, Psicologia pastoral prática, traduzido do Alemão para o italiano por G. Corti, Milano, 1956, pag 156). A criança interessa-se, não em ver fazer ou construir, mas em construir ela mesma as suas casinhas, moinhos, etc. Os pequenos de 3 a 6 anos não podem “compreender senão o jogo, que para eles é o único meio de se interessarem por aquilo que se lhes apresenta” (V. Neyrinck, L’éducation au Jardin d’enfants, Bruxelas, pag. 119).  “A atividade é como o ponto de solda da vida corporal e da vida intelectual. Se a criança é reduzida pro constrangimento, à passividade, ela sofre e atrofia-se no seu espírito, como no seu corpo. Ela não se instrui verdadeiramente senão agindo” (Mme Maucourant e Mme Joly, L’éducation des senss para factivité, Paris, pag. 12).
6)      Imitação: A criança imita todos os gestos e atitudes dos adultos. Por isso, com muita razão dizia Napoleão: “A educação começa 20 anos antes do nascimento, pela educação da mãe” (Gaston Courtois, Arte de educar as crianças de hoje, Lisboa, pag. 25). Alexis Carrel, premio nobel da medicina em 1912, escreveu: “A criança depende dos sues pais durante um longo período. Tem tempo de receber o que estes lhe podem dar. E, como tem o dom da imitação, tende a tornar-se como eles, tomando o seu verdadeiro aspeto, e não a máscara que eles trazem na vida social (P. Amilcar Amarl, Bíblia das Criancinhas, Lisboa, 1955, pag. 23). A criança imita, portanto, aqueles com os quais está em contato e que mais fortemente se impõem à sua imaginação infantil.
7)      Animismo: É também a idade do “animismo”, quer dizer, a idade em que as crianças dão vida a tudo o que as rodeia: falam com as bonecas e confiam-lhes os seus segredos, conversam com os brinquedos, chegando mesmo a zangar-se com alguns.
A missão dos pais, hoje em dia, está facilitada pelo desenvolvimento do pré-catecismo nas Paróquias ou Associações religiosas.
Embora, ainda pouco organizado, à base de experiências já feitas e dos dados da psicologia, podemos afirmar que, o bom resultado do apostolado ou do ensino do catecismo, depende, em grande parte, da boa organização dos mesmos.
O apóstolo levará a criança a descobrir a Deus através das belezas e bondade da natureza, de pessoas, etc., fazendo-a percorrer as suas maravilhas através de fotografias, filmes ou audiovisuais, habituando-a a repetir a cada descoberta: “Ó meu Deus! Como sois grande, como sois bom, como sois poderoso!” “Obrigado, ó meu Deus!” Deste modo leva-se ao conhecimento de Deus, Próvido, Criador e Pai, e despertam-se nela os sentimentos de admiração, reconhecimento, amor e oração para com Ele. É assim que se faz passar o apostolado do ensino à vida.
Depois da criança ter descoberto a Deus é ocasião de se falar de Jesus Cristo, seu Filho, nascido da Virgem Maria, num humilde presépio.
Este sentimento de respeito, reconhecimento e amor a Deus, não vem tanto do ensino como do ambiente, todo penetrado de Deus: da intuição e imitação da oração curta, acompanhada de gestos e aplicada com exigência de uma atitude respeitosa.
“Porque a fé da criança é incapaz do menor discernimento, deve velar-se, em nada lhe dizer sobre Deus, Jesus e Maria que precise um dia de correção ou lhe cause, quando adulta, um sorriso irrisório, como o Pai Natal, etc. (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 23).
A resposta às perguntas curiosas das crianças deve ser breve, sempre verdadeira e impregnada de espírito sobrenatural. Assim, por exemplo, se uma criança perguntasse se tinha automóvel no céu, responder-lhe-íamos que os anjos do Céu andam muito mais rápido do que os automóveis e são muito mais belos do que tudo o que temos aqui na Terra e que Deus não precisa de automóveis, porque está sempre em toda a parte, e que foi Deus quem deu aos homens a habilidade de fazer automóveis ( Côn. Cardoso de Almeida, Catequista missão sublime, Lamego, 1960, pag. 79).
O método do apostolado será sempre intuitivo: “Do simples ao complexo; do empírico ao racional; do incompleto ao completo; do sensível ao suprassensível; do espontâneo ao reflexivo; da perceção à observação; do imperfeito ao perfeito; do particular e concreto ao geral e abstrato; do exterior ao interior; do fácil e conhecido ao difícil e desconhecido e da parte de ao todo” (Adrian Zulueta SJ, Procedimentos catequísticos, em Catequética, suplemento de “Sal Terrae”; Enero-abril, 1962, pag. 6).
“Será ocasional e prático, aproveitando as ocasiões concretas, como uma flor, um perfume, um santinho, um doce… para levar as crianças até Deus pela admiração, ação de graças, amor e oração (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 24).
A criança é naturalmente ativa e viva, e portanto servir-nos-emos de histórias, desenhos, jogos, cânticos, projeções, dramas, etc, para tornar o apostolado vivo.
A alegria, a suavidade e tranquilidade são de importância capital, “um sorriso dos olhos e dos lábios, dizia Françoise Derkenne, penetra mais na alma do que uma boa palavra”.
Apostolado com os jovens dos 6 aos 9 anos
“Começa aos 7 anos o período escolar que Adolphe Ferrière divide em dois estádios: o dos interesses imediatos (6 aos 9 anos) e o dos interesses especializados concretos (10 a 12). Os interesses não são mais unicamente sensoriais e subjetivos. Eles vão-se tornando a pouco e pouco objetivos” ( J. de la Vaissière, Psichologie pédagogique , Paris, 1926, pag. 88).
Caracteriza-se por 3 fatores principais esta idade: a mudança do ambiente social, pela entrada na escola, a manifestação da razão e o despertar da consciência moral.
1) Entrada na escola: A criança que até aqui vivia no ambiente familiar, ao entrar na escola contacta bruscamente com um mundo novo, distinto da família. “É integrada numa organização bem definida: com o seu fim, as suas leis, o seu espírito, a qual impõe um trabalho comum para realizar em comum. Até aos 7 anos era a família que se lhe adaptava, agora é ela que tem de se adaptar à escola, respeitando os horários, os programas, etc. É ela quem escolhe os companheiros, bons e maus, com todas as suas consequências fáceis de adivinhar. Porque são comuns o lugar, as atividades, o programa, a disciplina e os mestres, os quais provocam os mesmos reflexos, as mesmas atividades, tendem a desaparecer as diferenças de educação e origem (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 24).
2) Primeira manifestação da razão: A criança, interessa-se pelas coisas, pelos objetos que formam o mundo exterior, cuja experiência começa a instruí-la, adaptando-se ao mesmo por uma certa reflexão: “querer aprender a modificar as suas experiências, quer transformá-las, e portanto, conhecê-las. Para este efeito quer ver a ligação das coisas. Aos porquês anteriores juntam-se os como, tornando-se a sua curiosidade insaciável” (Gaston Courtois, Arte de educar as crianças de hoje, Lisboa, pag. 80).
A afetividade que predominou no período anterior vai cedendo à razão que aos 10-12 anos predominará.
O globalismo sincrético anterior, persistindo ainda, será superado pelo conhecimento analítico de que a criança se torna capaz.
O apostolado será “do exemplo à regra”, a regra à demonstração, desta à aplicação. Evitar o dogmatismo puro com os seus imperativos áridos, fazer descobrir (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 79).
Aparecem a reflexão e o discernimento, o juízo e o raciocínio, virtualidades estas a explorar e desenvolver, mas muito gradualmente.
3) Despertar da consciência moral: É uma consequência do uso da razão.
Percebendo as relações de tipo casual, acede pouco e pouco à noção de responsabilidade e do dever, atinge o conceito do bem e do mal objetivos. “Deste modo passa a criança paulatinamente do tribunal dos pais ao tribunal pessoal. É o sentido do pecado, transmutando-se a responsabilidade em culpabilidade” (A. Neiva Soares, Perspetivas psicológicas para um catecismo renovado, Cenáculo, Revista do Seminário Conciliar, Braga, 1, 1960, pag. 25).
Nesta idade, em que o espírito e o coração se abrem para a verdadeira vida, o importante para o apóstolo é compreender as possibilidades e os limites da criança que tem já uma psicologia humana com toda a sua primitiva frescura. É a altura própria para contactar com os mistérios da religião católica.
Guiada pela sua experiência duas vezes milenar, a Igreja, profunda conhecedora da psicologia e possibilidades da criança, preceitua-lhes, algumas das normas comuns a todos os cristãos: obrigação da assistência à Missa dominical, a abstinência de carne e a receção dos sacramentos da Confirmação, Eucaristia e Reconciliação. Uma preparação acabada para essas obrigações constitui um indício seguro de uma muito fecunda futura vida cristã.
             “A criança, nesta idade, começa a internar-se e tornar-se extremamente positiva. Os apóstolos não a retêm senão com a condição de traduzirem a verdade espiritual em termos de vida concreta: histórias, imagens, filmes, gráficos, manipulações. É um tempo de crise ( Marie Fargues, Introduction des enfants de neuf ans au catéchisme, Tome I, Paris, pag. 14).
O apóstolo deve aproveitar o espírito crítico nascente na criança, levando-a a descobrir nas ditas histórias, parábolas, fatinhos e imagens, uma ideia ou realidade superior por meio de perguntas adequadas.
O tema de apostolado com eles versará sobre os mesmos desde o começo: Deus, Jesus e Maria, mas ultrapassando já a Omnipotência e a Providência, ensinando a infinidade, a eternidade, a omnisciência e a imutabilidade. Sobre a Incarnação e Nossa Senhora dar-se-ão conhecimentos mais profundos. A Igreja explicar-se-á pela parábola da vinha ou do Bom Pastor.
“Se fosse preciso caracterizar numa palavra o apostolado dos 6 a 9 anos, esta seria a idade do estado de graça. Mais ainda que a razão é o espírito da criança que desperta. Para o futuro, as virtudes, infusas desde o Batismo, devem animar-se e, sobre todas, a fé e a caridade. O essencial será, isto sim, dar o gosto e o sentido da graça. Tudo a deverá lembrar e favorecer a obedecer a sua consciência e dizer “sim” a Deus presente na alma. A criança deve salvaguardar esta graça contra o pecado, pensando na Paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. E, sobretudo, deve nutri-la por um encontro ou união com Jesus-Eucaristia. O sentido e o gosto da graça reforçam-se, então, pelo desejo e amor da Eucaristia. Se verdadeiramente esta iniciação eucarística predomina, será mais fácil de levar ao sacramento da Penitência.
Este estado de graça, porém, achará a sua expressão quotidiana na oração. O apóstolo induzirá, portanto, a criança a fazer a pouco e pouco a sua oração diária. Esta oração, simples, curta pode tornar-se mecânica, mas ele deve criar um reflexo cristão pessoal. Intenções concretas ajudarão a combater a rotina. Sobretudo, para favorecer o fervor, o apóstolo lembrará muitas vezes a necessidade e a alegria da oração (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 921).
É necessário formar bem a personalidade da criança, como se deve abrir aos outros e levando-a a interpretar cristãmente a cerca dos acontecimentos que a rodeiam. “Quantos rapazes e raparigas cujo ideal não ultrapassa o prazer, haveriam saído da vulgaridade, se a sua primeira formação espiritual não tivesse sido frustrada! (C. Grimaud, Al crescer el bebé, Barcelona, 1940, pag, 2051).
Apostolado com crianças de 9 a 12 anos
Durante este período a criança caracteriza-se:
A)     Ação: A criança “dos 9 aos 12 anos sai dela mesma, toma gosto pelas façanhas dos heróis, pelas viagens, pelas narrações históricas, naturalmente sempre sob um aspeto concreto e utilitário. O campo dos seus interesses engrandece-se cada vez mais. É a idade dos interesses específicos e concretos ou das monografias (Alberto EHM, L’éducation nouvelle, Paris, 1938, pag. 34). É um período de grande estabilidade física, ao contrário do período anterior. Na vida intelectual observam-se transformações sérias. A imaginação mítica atenua-se, o gosto do maravilhoso cede ao da aventura: o rapaz faz-se aventureiro e guerreiro e a rapariga, arrumadora da casa, costureira, lavadeira.
B)      Memória e o hábito: A memória desenvolve-se vigorosamente, não sendo em idade alguma tão dócil nem tão tenaz. Não obstante tanto melhor reterá quanto mais tenha sido estimulada pelo interesse e apoiada na inteligência. Moralmente é um período de calma! O caráter, pelo contato com as realidades e a escola, limou-se. É a idade própria para enraizar os hábitos como preparação para a vida futura.
C)      O despertar das faculdades lógicas: “O rasgo mais característico do desenvolvimento do espírito é a aquisição das noções fundamentais de espaço e de tempo, de número e de causa. Até esta data a criança ordinariamente não vê repugnância alguma em dizer que Adão ou seu avô conheceram a Cristo. Se aprende as datas e uns rudimentos de cronologia, isso não passa de um exercício verbal. Ela pode interessar-se e muito, pelos episódios da história, mas é incapaz de os ligar, e com mais forte razão, de os concatenar. A noção de causa, também ela se desenvolve e permite o verdadeiro trabalho da razão (Abbé Paul Vernhet, Dimensions nouvelles du catéchisme, Toulouse, 1957, pag. 96).
D)     Conformismo social: Até aqui facilmente se impressionou com as atitudes dos pais, mestres ou companheiros, agora a todos se adapta e procura imitar. É a idade em que se constituem os grupos naturais que o apóstolo procurará converter em grupos de ação.
Estes 3 anos constituem a idade do apostolado por excelência, porque para uma grande parte das crianças termina aqui a sua formação. Por este motivo, o apóstolo deve incutir nas delicadas almas das crianças a doutrina cristã, de forma, a torna-la como uma síntese indelével que concretizará numa vida de fé.
Urge fortalecer a fé da criança, dando, no decorrer das reuniões ou lições, uma resposta completa às dúvidas que a sua inteligência e meio ambiente lhe sugerirem.
O apóstolo deve prever estas dificuldades, tendo em conta que as crianças já possuem a noção de causa, tempo e espaço.
É ainda a idade em que a criança pode aprender melhor os mistérios cristãos, o sentido da queda original, da Incarnação e Redenção, e da Igreja porque já adquiriu a noção da solidariedade humana.
Visto que a memória, nesta idade, é tenaz e fácil, é a altura de lhe exigir as fórmulas, sem esquecer que o caráter mais predominante desta idade é a atividade. “Sem dúvida, no curso desta fase é capaz de reter, mas é preciso não esquecer que o interesse e a inteligência são para a faculdade de reter indispensáveis sustentáculos, que o interesse nesta idade é provocado pela atividade, como afirma Stuart Hall, nunca a mão foi mais próxima da inteligência.
Exigir o silêncio e a passividade, fazer calar a imaginação, suprimir a emulação, sob pretexto de permitir o trabalho da memória, é fechar as vias de acesso à alma da criança. Agir assim, provocará um aborrecimento profundo, e talvez um desgosto, que será a sua lembrança mais durável.
O apóstolo procurará desenvolver o sentido do dever, realçando a alegria e o entusiasmo que o seu cumprimento traz à alma.
Acompanhando a evolução da imaginação mítica no sentido da aventura, o apóstolo propor-lhe-á como modelos de heróis as figuras bíblicas mais relevantes, os mártires cristãos da Igreja e, sobretudo, os santos contemporâneos.
A frequência dos sacramentos da Confissão e da Eucaristia constituirá a base essencial do apostolado que tem por fim uma vida de fé.
No fim deste período o apóstolo deve preparar a alma da criança para a idade tempestiva, e talvez fatal, que se segue, formando-lhe a consciência e incutindo-lhe coragem e entusiasmo perante as responsabilidades.
Para tornar possível uma completa e intensa educação cristã é necessário que os apóstolos “sejam capazes de descobrir os caminhos e os meios mais aptos para penetrar nas diversas psicologias e facilitar assim, o mais possível aos novos cristãos, a assimilação profunda da verdade, com todas as suas exigências (Beato João XXIII, Princeps Pastorum, 28 de novembro de 1959).
Contudo, como afirma o Papa Bento XVI, o principal apostolado é feito na própria família. “Quando os cónjuges se dedicam generosamente à educação dos filhos, guiando-os e orientando-os à descoberta do amor de Deus, preparam aquele terreno espiritual fértil onde brotam e amadurecem as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada” (Papa Bento XVI, Angelus, 8 de setembro de 2009).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Evangelização portuguesa na Índia

A fé fez Portugal grande, e ela foi como que a “linfa vital que alimentou a nação lusitana desde o berço, e foi, se não a única, certamente a principal fonte de energia, que elevou a Pátria ao apogeu da sua glória de nação civil e nação missionária ‘dilatando a fé e o império’” (Pio XII, Carta ao Cardeal Patriarca de Lisboa e a todos os prelados portugueses no 8º centenário da fundação de Portugal).

Com este espírito, os missionários e navegantes portugueses espalharam-se por todas as costas, pelo Brasil e por todo o vasto Oriente.

À frente desta empresa grandiosa, encontrava-se o Infante Dom Henrique, que ao mesmo tempo era o Grão-mestre da Ordem de Cristo.

A Santa Sé mostrou-se imediatamente entusiasmada com os empreendimentos portugueses e o Papa Martinho V, em 1418 dirigiu um apelo a toda a cristandade, para que auxiliasse o rei de Portugal na luta contra os sarracenos. Além disso, os Sumos Pontífices deram plenos poderes aos reis de Portugal sobre as terras descobertas e conquistadas. Assim, Nicolau V, na bula Romanus Pontifex de 8 de Janeiro de 1415, além do absoluto domínio sobre essas terras, concedia aos reis de Portugal a faculdade de nelas erigir, fundar e dotar igrejas.

O Papa Calisto III confirmou os poderes dados por Nicolau V, e Sisto IV declarou pela bula Aeterni Regis Clementia de 21 de junho de 1481, que toda a jurisdição e poder espiritual desde o Cabo do Bojador até às Índias pertencia a Portugal (Silva Rego, o Padroado Português do Oriente, pags. 10 e 11).

Além destes poderes e faculdades concedidas aos reis de Portugal, os Papas outorgaram muitos benefícios e graças espirituais àqueles que, ao serviço dos reis de Portugal, se ocupavam nas empresas marítimas.

Em 1506, o Papa Júlio II concedeu indulgência plenária a todos os missionários e demais fiéis, que contritos e confessados, falecessem na Índia ou no seu caminho. Paulo III a pedido do rei de Portugal, concedeu indulgência plenária a todos os portugueses que pedissem a Deus, pelo triunfo das armas lusitanas contra os turcos, que pretendiam tomar a praça de Diu (Breve Pastoralis aeterni de 18 de junho de 1539, corpo Diplomático IV, pag 41, Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal III).

Os Sumos Pontífices continuaram esta cadeia de privilégios e concessões porque viam o grande alcance da obra missionária e cristianizadora de Portugal naquelas longínquas terras, contrabalanceando o mal que o protestantismo nascente ia fazendo na Europa.

Descoberta do caminho para as Índias

Uma armada portuguesa, comandada pelo Conde da Vidigueira, Vasco da Gama, despede-se de Lisboa. Era o dia 8 de julho de 1497.
Sob asas protetoras do auxílio Divino, os novos cruzados – cruzados do mar – embrenham-se no Atlântico com o intuito de dobrar o cabo das tormentas e, pelo Índico adentro, atingirem as famosas terras do Oriente. Na verdade, antes de embarcar, toda a tripulação vai à Igreja de Nossa Senhora de Belém, onde “todos se confessam e recebem o divino e angélico Pão por viático de tão larga, piedosa e incerta navegação (Codice 1646, Egerton – Documentação ultramarina portuguesa, pag 270, Lisboa 1960).

Prantos e pessimismos não faltam, mas há também muita esperança.

Em fins de julho, as Canárias e Cabo Verde já ficam para trás. A 4 de Novembro, os marinheiros avistam terra desconhecida, mas ninguém lhes fornece dados suficientes para poderem concluir onde foram parar. Avançam um pouco mais e vão ter a uma baía – a Baia dos Vaqueiros – onde se demoram perto de duas semanas no convívio com os indígenas e em trocas de amistosos presentes. Esta paragem termina com a agressão inesperada dos nativos e é preciso Vasco da Gama mandar disparar alguns tiros para os assustar, sem lhes fazer dano.

A 8 de Dezembro, fazem-se, novamente, ao largo e depois de uma semana de constante luta contra os caprichos do Atlântico, chegam ao último ponto conhecido dos navegadores portugueses: o Rio do Infante, onde só Bartolomeu Dias tinha chegado. Dali para frente, tudo é novo.

Passam o Rio do Cobre, vencem o Cabo das Correntes, ultrapassam o Rio dos Bons Sinais não demoram a chegar a Moçambique. O Sultão fica admirado com tão imponente visita e, num gesto de verdadeira amizade, põe-lhes 2 pilotos à disposição, que dizem conhecer o caminho até Calecute. Esta oferta, encheu de alegria os homens de Vasco da Gama, pois “já tinham visto gente falar da Índia, mas precisavam de um guia para os levar a ela” (João de Barros, Década, I, pag. 27, Lisboa 1945).

Outra vez tornam mar a dentro e, depois de uma breve paragem na ilha de São Jorge, chegam a Mombaça, em princípios de Abril, onde um grupo de nativos armados procura atrair as naus para junto da terra no intuito frustrado de assaltar a capitânia. Mais algumas semanas de viagem estão em Melinde, onde o Xeque os recebe com mostras de grande satisfação e lhes põe às ordens o célebre piloto que os conduzirá Índico fora, rumo ao velho porto de Calecute.

Um mês passa sobre este acontecimento quando, como que por milagre, começam a despontar num horizonte, não muito longínquo, leves indícios dos altos cumes das cordilheiras dos Gates. Um júbilo imenso invade a armada portuguesa. Chegam às famosas terras da Índia! Era o glorioso 20 de Maio de 1498 e a bandeira da cruz e de Portugal começa a flutuar no extremo Oriente! Os sonhos do grande Henrique de Sagres convertem-se em feliz realidade!

Evangelização e crescimento missionário

Imediatamente após regresso de Vasco da Gama a Portugal, D. Manuel enviou à Índia uma nova armada, mais numerosa, para estabelecer melhor contacto com essa terra tão longínqua e misteriosa.

Na armada seguem os primeiros 8 missionários enviados para a Índia com a intenção de lá estabelecerem missões regulares. Três deles foram massacrados em Calecut, a 16 de Novembro e os restantes chegaram a Cochim no dia 26 do mesmo mês de 1500, e fundaram ali o convento de Santo António e a Igreja de São Francisco, que se tornaram o centro de irradiação para a Ordem em todo o Oriente.

A primeira missa, que se celebrou na Índia por missionários portugueses, foi em Calecut em 1498, por Frei Pero da Covilhã, religioso da Santíssima Trindade, confessor de Vasco da Gama e também o primeiro a receber a coroa do martírio, a 7 de Julho do mesmo ano (J. Monteiro de Aguiar, Cochim, Portugal Missionário, Cucujães, 1929, pag. 05).

Em Cochim, os portugueses tiveram o primeiro contacto mais direto com aquele imenso continente, habitado por uma população onde proliferavam as inúmeras castas do hinduísmo, de mistura com o islamismo, judaísmo e nestorismo, ao qual pertenciam os chamados “cristãos de São Tomé”.
O rei de Cochim logo de princípio se tornou vassalo do rei de Portugal, permitindo a construção de uma fortaleza, e à sombra dela se ergueu uma capela dedicada a São Bartolomeu. Em 1505 chegou a Cochim o primeiro Vice-Rei da Índia, Dom Francisco de Almeida e ali manteve a corte dos Vice-Reis até que Afonso de Albuquerque conquistou Goa pela segunda vez em 25 de Novembro de 1510.
A Cochim cabe a honra de ter sido o berço da fé católica no Oriente e o centro donde irradiou a luz fulgurante do cristianismo para o Sul da Península Hindustânica.
 A cristandade naquela cidade desenvolveu-se de tal maneira, que pouco mais de uma dezena de anos depois da chegada dos portugueses, já contava dez a doze mil batizados.

Com a mudança dos vice-reis para Goa, Cochim começou a ficar em segundo plano.

Em contrapartida, a cidade de Goa tornou-se em pouco tempo grande e populosa, duma população ativa e cosmopolita, para onde convergia todo o comércio da Ásia e Oceania. Ali aportavam navios carregados das mais valiosas mercadorias.

Com a conquista e ocupação dos portugueses, não se registou nenhum choque de civilizações, porque os naturais foram acarinhados e elevados a alto nível económico, social e intelectual. Palácios suntuosos, habitações magníficas, templos esplendorosos, coroaram imediatamente os outeiros citadinos. Pouco mais de meio século, foi o suficiente para que pouca diferença tivesse de Lisboa quanto a pompa, conforto e gozos materiais, sendo comum o provérbio “quem viu Goa não precisa ver Lisboa”. Ao lado de todo este progresso material, os portugueses souberam erguer o suntuoso edifício da religião cristã, pois as populações desde a sua conquista, começaram a ser evangelizados pelos missionários franciscanos. O número de conversões era tão grande, que São Francisco Xavier ao chegar a Goa ficou encantado por a encontrar quase toda cristã, com muitas igrejas (P. António Lourenço Farinha, S. Francisco Xavier, Torres Novas, 1950, pag. 53).

Nesta altura, as paróquias e comunidades já existentes na Índia eram governadas por um Vigário Geral, dependente do Vigário de Tomar, sede da Ordem de Cristo, até 1514, passando então a depender do Bispo do Funchal.

Em 1532 foi nomeado Vigário Geral da Índia o Padre Dr. Miguel Vaz Coutinho, do clero secular, sacerdote de vida austera, abrasado de fé, dotado de energia invulgar e com alma forte de apóstolo (P. António Lourenço Farinha, S. Francisco Xavier, Torres Novas, 1950, pag. 135). Este homem excecional conseguiu impulsionar a cristianização em Goa e regiões circunvizinhas.

Os missionários, notando a escassez de obreiros evangélicos, desde a primeira hora se empenharam na preparação de jovens indígenas, com o intuito de mais tarde serem seus auxiliares valiosos, como catequistas ou sacerdotes. Graças a esses esforços pode Dom Fernando Vaqueiro, “bispo de anel”, quando da sua passagem pela Índia em 1532, ordenar alguns naturais.

Mas a atividade missionária não se limitou só a Cochim e a Goa, mas espalhou-se por todo o Oriente.
Em Cananor, cidade visitada por Frei Pero da Covilhã em 1489 e por Vasco da Gama em 1498, tinha em 1500 uma dezena de sacerdotes do clero secular e em 1523 os cristãos já ultrapassavam os setecentos e as condições de evangelização foram melhorando com a ida de mais cinco missionários.
Cranganor logo em 1502 colocou-se debaixo da proteção do rei de Portugal. Ali a evangelização desenvolveu-se, sobretudo, entre os chamados “cristãos de São Tomé”. Afonso de Albuquerque mandou o padre indiano Antonio da Costa a Lisboa, para aprender a pregar e se instruir melhor nas verdades católicas. Igualmente mandaram para Lisboa alguns jovens para ali receberem a conveniente formação.

Em São Tomé de Meliapor, desde 1523 e em Ceilão desde 1520, os missionários trabalharam ardorosamente pela implantação do reino de Deus, não obstante as tremendas dificuldades encontradas. O mesmo acontecia ao norte de Goa, em Chaul, onde funcionava uma paróquia portuguesa desde 1521.

 Em Malaca, cidade conquistada por Afonso de Albuquerque em 1511, formou-se um centro notável de irradiação do Evangelho para todo o Extremo Oriente.

As Molucas também começaram a ser evangelizadas em 1522 com pessoas de Goa.

Em Ormuz, existia igualmente um núcleo cristão florescente.

Era este o panorama geral dos principais centros missionários no Oriente, todos eles dependentes de Goa, desde a criação desta como diocese em 31 de Janeiro de 1533 por Clemente VII e confirmada por Paulo II a 3 de Novembro de 1534. O seu primeiro bispo, Dom João de Albuquerque, só chegou a Goa em 1538, tomando oficialmente posse a 25 de Março de 15398. A diocese de Goa abrangia todas as paróquias ou comunidades existentes ou futuras, desde o Cabo da Boa Esperança até a China.

Primeiros grandes desafios: Castas, escravatura e sari

Um dos problemas mais difíceis de se resolver, que se depararam os portugueses ao chegarem à Índia e ao contactarem os indígenas, foi o das castas.

O imenso número de castas existentes, sobressaíam pela quantidade os brâmanes e os párias ou intocáveis, que estavam no polo oposto com referência aos primeiros. Os párias, propriamente, nem sequer pertenciam a casta nenhuma e de tal maneira eram desprezados pelos das outras castas, que não podiam aproximar-se nem ter relações sociais com eles.

Os portugueses desconhecendo estes costumes, mas sobretudo porque não faziam distinção de raças, reconhecendo em todos, os mesmos direitos, conviviam tanto com uns como com outros. Esta sua atitude acarretou-lhes imediatamente o rótulo de impuros e de indesejáveis com o consequente afastamento do seu convívio.

Qualquer hindu que se convertesse ao cristianismo, era imediatamente expulso da sua casta, perdendo todos os direitos e bens da família e era considerado como um impuro. Este ancestralismo castista, constituía um obstáculo gravíssimo para as conversões.

Perante esta situação tão degradante a que os neoconvertidos ficavam sujeitos, as autoridades portuguesas tiveram de adotar medidas que os protegessem e mesmo favorecessem a conversão de outros, concedendo-lhes certas regalias e privilégios e impedindo qualquer violência que contra eles fizessem os inimigos da religião.

Assim, o recrutamento dos cristãos fazia-se quase sempre entre as classes mais baixas, porque mostravam melhores disposições para a receção do batismo, não querendo dizer que se excluíssem as classes ou castas mais nobres e elevadas.

Como o acesso dos missionários a estas classes nobres, sobretudo, brâmanes, se tornava mais difícil, foi necessário empregar métodos de evangelização diversos. Assim, alguns missionários “fazendo-se tudo para todos, para salvar a todos”, na frase de São Paulo, adotaram o aspeto e modo de vida dessas classes, vestindo-se e comendo como eles. Deste modo apareceram os “saniásses” em tudo semelhantes aos brâmanes, que se destinavam só a evangelizar as classes nobres e os “pandarás”, também destinados aos nobres, mas que igualmente podiam administrar os sacramentos às classes mais baixas.

Destes últimos, sobressai o vulto insigne de São João de Brito, que se vestiu de “pandará”, para poder levar o Evangelho, tanto aos Brâmanes e classes nobres, como aos párias e intocáveis. Por este método estranho, conseguiu São João de Brito, levar para Deus milhares de almas naquele vasto Maduré, onde combateu o bom combate, recebendo a do Justo Juiz a coroa da glória, alcançada pelo martírio em 1693.

Duarte Pacheco Pereira, depois de uma das célebres batalhas navais que ousou sustentar contra o Samorim de Calecute em 1504 e da qual saiu vencedor, muito embora só dispusesse do reduzido número de 70 portugueses metropolitanos, 4 navios e a ajuda de alguns “poleás”, ou seja, párias, propôs ao Rei que, como recompensa da bravura e grande auxílio por estes prestados,  os nobilitasse elevando-os à casta superior dos “naires”. Todavia, qual não foi o seu espanto, quando os pobres “poleás” lhe explicaram que na Índia cada um morria na casta onde tinha nascido e isto era uma honra de que nenhum se desfazia (Silva Reco, Curso de Missionologia, Lisboa, 1956, pag 365).
No entanto, pouco a pouco e sem que para tal fosse necessária a intervenção direta do Governo, a conversão ao cristianismo foi mudando esta conjuntura social e em breve deixou de haver, principalmente entre cristãos, diferenciações de castas no seus primitivo sentido de categorias insociáveis de seres humanos.

O caso da escravatura também não foi fácil de solucionar. A civilização elevada que os portugueses foram encontrar naquelas paragens fazia com que os “grandes senhores” tomassem para uso pessoal escravos de que dispunham a seu belo prazer. Eles eram ao lado dos cavalos o artigo de venda mais disputado e de si faziam a animação e a importância de uma feira.

Outra chaga que na Índia esperava pelos portugueses para se ver sanada era o “sati”, um uso bárbaro e cruel, próprio da maior parte dos povos da península hindustânica, que consistia em queimar viva a viúva na mesma fogueira em que se queimava o cadáver do marido (Grande Enciclopédia portuguesa brasileira, XXVII, Lisboa, Rio de Janeiro, pag. 792).

Os portugueses que perante as castas e o uso da escravatura foram condescendentes usando principalmente os meios indiretos para combaterem estes costumes e que em toda a parte onde chegavam respeitavam os ritos, os usos e os costumes indígenas, foram intransigentes como “sati”. Afonso de Albuquerque – o Vice-Rei a quem as mulheres indígenas acendiam velas depois da sua morte – foi o instrumento por meio do qual se acabou com este tão antinatural e angustiante costume.

Neste campo, como em muito outros, os portugueses superaram todos os outros povos denominados civilizadores. Com efeito, duzentos anos antes dos ingleses, “depois de muitas hesitações e ponderações políticas” aboliram este uso bárbaro que já não havia sequer vestígios dele nos territórios ou por onde tivesse havido presença portuguesa.

As misericórdias na Índia

Os missionários e conquistadores onde quer que chegassem, não se preocupavam só com o desenvolvimento material das populações, mas procuravam, sobretudo, lapidar-lhes o coração, iluminar-lhes o cérebro, formar-lhes o caráter, suavizar-lhes os sentimentos e fazer daquela matéria tosca e bruta, seres moralmente bem dotados.

O poeta filósofo Rabindranath Tagore, pedia aos Ocidentias que não lhes mandassem para a Índia, somente fórmulas e máquinas. Pedia que se lhes enviassem, sobretudo, almas! (Dom José da Costa Nunes, Cartas aos Sacerdotes da Arquidiocese de Goa, Lisboa, 1947, pag 275). Tagore lançou este grito lancinante, porque observava que os dominadores da Índia, os ingleses, tinham levado para lá grande bem estar material, com todos os progressos modernos, mas que se tinham esquecido da missão espiritual, que sobre eles pesava, não tendo seguido o exemplo português.

Em finais do século XV, um movimento novo de caridade cristã nascia em Portugal, sob o olhar materno da Rainha D. Leonor. Este movimento cedo começou a ser chamado pelo nome genérico de Misericórdias, que mais não eram senão confrarias constituídas pelos membros que a ela quisessem pertencer, não atendendo à categoria social, mas à dignidade pessoal de cada um. O regulamento destas confrarias era simples e pode ser assim resumido: Praticar ativamente as obras de misericórdia tanto espirituais como corporais.

Na Metrópole, em breve as Misericórdias alcançaram a simpatia de todos os cidadãos, explicando-se assim o fato de passado pouco mais de meio século sobre a sua fundação, encontrarem-se por toda a parte e cheias de espírito vivificador, o que é para admirar, numa época de tantos desvarios morais e tanta falta de prática religiosa.

Fazer bem era o lema, sempre lembrado, que guiava os confrades em todas as suas atitudes. Eles deviam visitar os enfermos pobres recolhidos nos hospitais ou em casas particulares, socorrendo-os na medida de suas posses com dinheiro, alimentos e remédios. Eles não podiam esquecer os presos sem recursos e os pobres envergonhados, ou seja, os nobres ou ricos que caíram na miséria. Para os que estavam brigados com o resto da família, eles seriam o traço de união conciliando-os e arraigando-os na prática da verdadeira fraternidade. Para todos, eles comprometiam-se a ser “fazedores de Misericórdia”.

E os portugueses não se esqueceram de reproduzir nos “mundos novos” o que se passava na Capital no campo da saúde e assistência social, transportando para o Oriente os hospitais e as Misericórdias.
Em 1509, no regresso vitorioso da batalha naval de Diu, o Vice-Rei D. Francisco de Almeida, ordena “a instalação de um hospital em Cananor, “porque os ares ali eram bons para os feridos” e outro em Chaul (J. G., O Além-mar português, Estrutura da Nação, Lisboa 1961, pag 39).

Afonso de Abuquerque estabelece do mesmo modo um hospital em Goa, numa dependência do palácio do Sultão – Hospital Real de Goa – no qual São Francisco Xavier esteve hospitalizado e praticou enfermagem com elevado espírito de caridade. Em 1595 constrói-se um grande edifício com o nome de Hospital Real de Todos os Santos, talvez para rivalizar com o seu homónimo em Lisboa.

Na altura em que o Padre Paulo Camerino substituiu como superior da Companhia de Jesus, São Francisco Xavier, construiu-se ainda em Goa um outro hospital para os pobres “para nele se recolherem e curarem das suas enfermidades como pede a caridade cristã. E esta obra acabou-se com muita glória de Deus e permanece e corre por conta da Santa Casa da Misericórdia, que com igual liberalidade, a sua grande caridade cabe o sustentar com todo o necessário para a cura das enfermidades corpóreas, não faltando as do espírito” (Codice 146, Egerton – Documentação Ultramarina portuguesa, Lisboa, 1960, pag 617).

Mas, as Misericórdias em Goa, como em toda a parte onde se estabeleciam, além de se encarregarem do funcionamento dos hospitais não deixavam de amparar e dirigir todos os desamparados e, é por isso, que vemos, não com pequena admiração, como os confrades de Goa tinham tanto a peito o casamento das raparigas indígenas, dirigindo-as para uma vida moral e integrando-as num ambiente cristão.

Continua…