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domingo, 9 de maio de 2021

Duas maneiras de sofrer: amando ou revoltando-se

Como bem pudemos ver neste tempo pandémico, quer queiramos ou não, sofremos.

Existem pessoas que sofrem como São Dimas, o bom ladrão e outros, como Gestas, ou Gesmas, o mal. Ambos estavam crucificados ao lado de Nosso Senhor Jesus Cristo e a sofrer de forma similar. São Dimas soube tornar os seus sofrimentos meritórios, aceitando-os em espírito de reparação pelos seus erros e pelos seus pecados, a ponto de se arrepender e pedir: “Jesus, lembrai-vos de mim, quando entrares no vosso reino” e de receber a bela promessa do Divino Salvador: "Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”. O outro, ao contrário, gritou imprecações e blasfêmias, e expirou no meio de terrível desespero.

Existem duas maneiras de sofrer: amando ou revoltando-se.

Todos os santos sofreram com paciência, fé e perseverança, porque amavam a Deus. Muitos de nós, contudo, sofremos com raiva, ressentimento e cansaço, porque não amamos a Deus. Se O amássemos, aceitaríamos a cruz e ficaríamos contentes por poder sofrer por Quem padeceu e morreu por nós.

A vida realmente não é fácil! E o que mais nos assombra, talvez nem seja a hora da dor, mas o medo de virmos a sofrer um dia. Contudo, ao termos bem presente a Cruz de Cristo, as nossas dores ficam mais suaves!

Já imaginou, caro leitor, quão felizardos somos, nós católicos?!  Fomos batizados, conhecemos a Deus, amamos a sua bondade infinita e sentimos constantemente o poder da sua divina misericórdia. Ora existem pessoas que sofrem o mesmo que nós e não têm o mesmo consolo e a mesma esperança que nós.

Hoje em dia, a maioria dos homens voltam as costas ao sofrimento. E quanto mais fogem das suas cruzes, mais elas os perseguem, os atingem e os esmagam.

Se quisermos viver serenamente, devemos fazer como Santo André, que ao ver a cruz que se elevava diante de si, exclamou: “Salve, ó boa cruz! Ó admirável cruz! Ó cruz desejável! Recebei-me nos vossos braços, tirai-me do meio dos homens e devolvei-me o meu Mestre que me redimiu através da Cruz".

E um aspeto curioso que devemos sempre considerar: Quem está preparado para abraçar a sua cruz, caminha na direção oposta à do sofrimento. Ele talvez se depare com ela durante algum período da sua vida, mas fica contente e encontra forças para a carregar, leva-a com coragem, procurando unir-se dia-a-dia a Nosso Senhor Jesus Cristo, purificando o seu coração, afastando-se dos falsos prazeres do mundo. Numa palavra, o sofrimento vivido cristãmente ajuda a passar as dificuldades da vida, como uma ponte ajuda a passar pelas águas de um rio.

Vejamos como foram as vidas dos santos. Quando não eram perseguidos, mortificavam-se. Um bom religioso, certa vez, manifestou a Nosso Senhor a sua estranheza por estar a ser perseguido dentro da sua comunidade: “Senhor, o que fiz para ser tratado assim?” E Nosso Senhor respondeu-lhe: "E Eu? O que fiz para ser crucificado no Calvário?” O religioso percebeu, chorou, pediu perdão e não ousou mais reclamar.

As pessoas do mundo lamentam quando têm cruzes, e os bons seguidores de Cristo preocupam-se, desconfiam e sofrem quando não passam por alguma provação.

Sim! o cristão vive no meio das cruzes como os peixes vivem na água.

A Cruz de glória

A Cruz é o estandarte triunfal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ao morrer pregado no madeiro da Cruz, o Salvador pacificou com o seu sangue todas as coisas na terra e no Céu, mutando a sentença de morte contra os homens em graça de salvação (cf. Cl 2, 14).

Os Padres da Igreja chamam a Cruz, sinal vivificante, sinal da fé, fortaleza da vida, grande bem, escudo inexpugnável, espada régia para vencer os demónios (Gretzer, de Cruce, 5, 64).

São João Crisóstomo chama a cruz de esperança dos cristãos, ressurreição dos mortos, luz dos cegos, caminho dos transviados, muleta dos coxos, consolo dos pobres, travão dos ricos, destruidor dos soberbos, juiz dos injustos, liberdade dos escravos, luz dos ofuscados, glória dos mártires, abstinência dos monges, castidade das virgens, gáudio dos sacerdotes e fundamento da Igreja.

Coloquemos a Santa Cruz nas nossas frontes, nos nossos corações e nos nossos braços, como explica Santo Ambrósio (Livro de Isaac, 8). Na fronte, para que a professamos publicamente, a toda a hora; no coração, para que a amemos sempre; e no braço para que operaremos sempre o bem.

Assim, rezando e combatendo permaneceremos fiéis até à morte, momento em que a Cruz passará de escudo a glória, por toda a eternidade.



segunda-feira, 3 de maio de 2021

Cuidado com os falsos devotos de Nossa Senhora!


Fiquei muito triste ao ler a catequese 27, intitulada: “Rezar em comunhão com Maria” pronunciada na Audiência Geral do dia 24 de março de 2021, na qual o Papa Francisco afirma:

“Jesus estendeu a maternidade de Maria a toda a Igreja quando lhe confiou o discípulo amado, pouco antes de morrer na cruz. A partir daquele momento, fomos todos colocados debaixo do seu manto, como vemos em certos afrescos ou quadros medievais. Também na primeira antífona latina, Sub tuum praesidium confugimus, sancta Dei Genitrix: Nossa Senhora que, como Mãe a quem Jesus nos confiou, envolve todos nós; mas como Mãe, não como deusa, não como corredentora: como Mãe. É verdade que a piedade cristã sempre lhe atribui títulos bonitos, como um filho à mãe: quantas palavras bonitas um filho dirige à sua mãe, a quem ama! Mas tenhamos cuidado: as belas palavras que a Igreja e os Santos dirigem a Maria em nada diminuem a singularidade redentora de Cristo. Ele é o único Redentor. São expressões de amor, como de um filho à mãe, às vezes exageradas. Contudo, como sabemos, o amor leva-nos sempre a fazer coisas exageradas, mas com amor” (Francisco, Audiência Geral, 21/3/2021).

Como é possível, um ensinamento diametralmente oposto ao que os santos e os Papas ensinaram?

Como todos os anos, no mês de maio, releio o “Tratado da Verdadeira devoção a Nossa Senhora”, escrito por São Luís Maria Grignion de Montfort. Na página 75, deparei-me com o seguinte capítulo:

“Artigo Primeiro

Sinais da falsa devoção e da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria

I. Falsos devotos e falsas devoções à Santíssima Virgem Maria

Conheço sete espécies de falsos devotos e falsas devoções, a saber:

1. Os devotos críticos;

2. Os devotos escrupulosos;

3. Os devotos exteriores;

4. Os devotos presunçosos;

5. Os devotos inconstantes;

6. Os devotos hipócritas;

7. Os devotos interesseiros.”

E São Luís Maria Grignion de Montfort explica:

“1. Os devotos críticos

Os devotos críticos são, ordinariamente, sábios orgulhosos, espíritos fortes e que se bastam a si mesmos. No fundo têm alguma devoção à Santíssima Virgem Maria, mas criticam quase todas as práticas de devoção que as almas simples tributam singela e santamente a esta boa Mãe, porque não condizem com a sua fantasia. Põem em dúvida todos os milagres e narrações referidas por autores dignos de crédito ou tiradas das crônicas de ordens religiosas, e que testemunham as misericórdias e o poder da Santíssima Virgem. Veem com desgosto pessoas simples e humildes ajoelhadas diante dum altar ou imagem da Virgem, talvez no recanto duma rua, para aí rezar a Deus. Acusam-nas até mesmo de idolatria, como se estivessem a adorar madeira ou pedra. Dizem que, quanto a si, não gostam dessas devoções exteriores, e que não são tão fracos de espírito que vão acreditar em tantos contos e historietas que correm a respeito da Santíssima Virgem. Quando lhes referem os louvores admiráveis que os Santos Padres tecem a Nossa Senhora, ou respondem que isso é exagero, ou explicam erradamente as suas palavras. Esta espécie de falsos devotos e de gente orgulhosa e mundana é muito para temer, e causam imenso mal à Devoção a Nossa Senhora, afastando eficazmente dela o povo, sob o pretexto de destruir abusos.

2. Os devotos escrupulosos

Os devotos escrupulosos são pessoas que temem desonrar o Filho honrando a Mãe, rebaixar um ao elevar a outra. Não podem suportar que se prestem à Santíssima Virgem louvores muito justos, tais como os Santos Padres lhe dirigiram. Não toleram, senão contrariados, que haja mais pessoas de joelhos diante dum altar de Maria que diante do Santíssimo Sacramento. Como se uma coisa fosse contrária à outra, como se aqueles que rezam a Nossa Senhora não rezassem a Jesus Cristo por meio d'Ela! Não querem que se fale tantas vezes da Santíssima Virgem, nem que a Ela nos dirijamos tão frequentemente. Eis algumas frases que lhes são habituais: Para que servem tantos terços, tantas confrarias e devoções externas à Santíssima Virgem? Há muita ignorância nisto tudo! Faz-se da religião uma palhaçada. Falem-me dos que têm Devoção a Jesus Cristo (frequentemente pronunciam este Santo Nome sem a devida reverência, sem descobrir a cabeça, digo-o entre parêntesis). É preciso pregar Jesus Cristo: eis a doutrina sólida!

Isto que dizem é verdadeiro num certo sentido; mas quanto à aplicação que disso fazem, para impedir a Devoção à Virgem Santíssima, é muito perigoso. Trata-se duma cilada do inimigo sob pretexto dum bem maior. Pois nunca se honra mais a Jesus Cristo do que quando se honra muito à Santíssima Virgem. A razão é simples: só honramos a Virgem no intuito de honrar mais perfeitamente a Jesus Cristo, indo a Ela apenas como ao caminho que leva ao fim almejado, que é Jesus.

A Santa Igreja, com o Espírito Santo, bendiz em primeiro lugar a Virgem e só depois Jesus Cristo: “Bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus” (Lc 1, 42). Não é que Maria seja mais que Jesus, ou igual a Ele: dizê-lo seria uma heresia intolerável. Mas, para mais perfeitamente bendizer Jesus Cristo, é preciso louvar antes a Virgem Maria. Digamos, pois, com todos os verdadeiros devotos da Santíssima Virgem, e contra esses falsos devotos escrupulosos: Ó Maria, bendita sois Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus!”

São Luis Maria Grignion de Montfort conclui e adverte-nos:

“Assim como um falso moedeiro não falsifica ordinariamente senão ouro e prata, e muito raramente outros metais, também o espírito maligno não falsifica tanto as outras devoções, como as que se referem a Jesus e a Maria: a devoção à Sagrada Comunhão e a Nossa Senhora. Estas são, entre as demais devoções, o que são o ouro e a prata entre os metais”.

Rezemos para nunca deixarmos de ser verdadeiros devotos de Nossa Senhora!