Porque foi Elias enviado a casa de uma viúva, numa altura em que a fome assolava a terra inteira? Uma graça singular se prende a duas mulheres: ao pé de uma virgem, um anjo; ao pé de uma viúva, um profeta. Lá Gabriel, aqui Elias. São os maiores entre os anjos e os profetas os que são escolhidos! A história não tem falta de viúvas; contudo, uma se distingue de entre todas, que as encoraja pelo seu grande exemplo… Deus é particularmente sensível à hospitalidade: no Evangelho ele promete, por um copo de água fresca, recompensas eternas (Mt 10,42), aqui, por um pouco de farinha ou uma medida de azeite, a profusão infinita das suas riquezas…
Porque nos julgamos merecedores dos frutos da terra quando a terra é oferta perpétua?... Nós viramos a nosso favor o sentido do mandamento universal: “Todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que sobre a terra existem e se movem” (Gn 1, 29-30); ao acumular, só encontramos o vazio e a necessidade. Como esperaremos nós na promessa, se não observamos a vontade de Deus? É agir ajuizadamente esquecer o preceito da hospitalidade e honrar aos nossos hóspedes: não somos nós próprios hóspedes aqui em baixo?
Como esta viúva é perfeita! Oprimida por uma grande fome, ela continua a venerar Deus. Ela não guardava as suas provisões só para si: partilhava com o seu filho. Belo exemplo de ternura, mas ainda maior exemplo de fé! Ela não devia preferir ninguém ao seu filho. Eis que põe o profeta de Deus acima da sua própria vida. Crede verdadeiramente que ela não deu apenas um pouco do seu sustento, mas toda a sua subsistência; ela não guardou nada para si mesma; como a sua hospitalidade a levou a um dom total, a sua fé a conduziu a uma confiança total.
Santo Ambrósio (cerca 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja - Das viúvas
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