Imaginai a desolação de um pobre pastor cuja ovelha se tresmalhou. Em todos os campos vizinhos só ouve a voz dessa infeliz que, tendo abandonado o grosso do rebanho, corre nas florestas e pelas colinas, passa pelas partes mais densas dos bosques e pelos silvados, lamentando-se e gritando com todas as forças e não podendo resolver-se a voltar sem ter encontrado a sua ovelha e a ter trazido para o redil.
Aqui está o que o Filho de Deus fez, assim que os homens se desviaram, pela sua desobediência à direcção do seu Criador; ele desceu à terra e não rejeitou nem cuidados nem fadigas para nos restabelecer no estado de que tínhamos decaído. É o que ele faz ainda todos os dias com aqueles que se afastaram dele pelo pecado; ele segue-os, por assim dizer, não cessando de os chamar até que os tenha reposto no caminho da salvação. E seguramente, se não fizesse isso, vós sabeis o que seria feito de nós depois do primeiro pecado mortal: ser-nos-ia impossível retornar. É preciso que seja ele a fazer tudo primeiro, que nos dê a sua graça, que nos procure, que nos convide a termos piedade de nós mesmos, sem o que não sonharíamos nunca em pedir-lhe misericórdia...
O ardor com que Deus nos procura é sem dúvida um efeito de uma enorme misericórdia. Mas a doçura que acompanha este zelo indica uma bondade ainda mais admirável. Não obstante o desejo extremo que ele tem de nos fazer voltar, nunca usa de violência, não usa para isso senão os caminhos da doçura. Em toda a história do Evangelho não vejo nenhum pecador que tenha sido convidado à penitência a não ser por ternura e por benefícios.
São Cláudio de la Colombière, jesuíta - Sermão pregado em Londres diante da duquesa dYork
São Cláudio de la Colombière, jesuíta - Sermão pregado em Londres diante da duquesa dYork