Deus é acusado de se vergar para o homem, de se sentar perto do pecador, de ter fome da sua conversão e sede do seu regresso, de tomar o alimento da misericórdia e o cálice da benevolência. Mas Cristo, meus irmãos, veio a esta refeição; a Vida veio ao seio dos seus convidados para que, condenados à morte, vivam com a Vida; a Ressurreição prostrou-se para que aqueles que jaziam se levantem dos seus túmulos; a Bondade baixou-se para elevar os pecadores até ao perdão; Deus veio ao homem para que o homem chegue até Deus; o juiz veio à refeição dos culpados para desviar a humanidade da sentença de condenação; o médico veio junto dos doentes para os restabelecer comendo com eles; o Bom Pastor inclinou o ombro para trazer a ovelha perdida ao aprisco da salvação.
«Ele come com os publicanos e os pecadores!» Mas quem é pecador, senão aquele que recusa ver-se como tal? Não será afundar-se no seu pecado e, a bem dizer, identificar-se com ele, o deixar de se reconhecer pecador? E quem é injusto, senão aquele que se acha justo?... Vamos, fariseu, confessa o teu pecado, e poderás vir à mesa de Cristo; Cristo, por ti, far-se-á pão, esse pão que será partido para o perdão dos teus pecados; Cristo tornar-se-á, por ti, no cálice, esse cálice que será derramado para a remissão das tuas faltas. Vamos, fariseu, compartilha a refeição dos pecadores, e Cristo compartilhará a tua refeição; reconhece-te pecador, e Cristo comerá contigo; entra com os pecadores no festim do teu Senhor, e poderás deixar de ser pecador; entra com o perdão de Cristo na casa da misericórdia.
S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja - Sermão 30: Pl 52, 285-286
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