"O Pai e eu, dizia o Filho, viremos a casa dele, quer dizer, a casa do homem que é santo, e iremos morar junto dele". E eu penso que era deste céu que o profeta falava quando dizia: "Tu habitas entre os santos, tu, a glória de Israel" (Sl 21,4 Vulg). E o apóstolo Paulo dizia claramente: "Pela fé, Cristo habita nos nossos corações" (Ef 3,17). Não é, pois, de surpreender que Cristo se deleite em habitar nesse céu. Enquanto que para criar o céu visível lhe bastou falar, para adquirir esse outro teve de lutar, morreu para o resgatar. É por isso que, depois de todos os seus trabalhos, tendo realizado o seu desejo, Ele diz: "Eis o lugar do meu repouso para sempre, é ali a morada que eu tinha escolhido" (Sl 131,14)...
Agora, portanto, "porquê te desolares, ó minha alma, e gemeres sobre mim?" (Sl 41,6). Pensas que podes também encontrar em ti um lugar para o Senhor? Que lugar em nós é digno de tal glória? Que lugar chegaria para receber a sua majestade? Poderei ao menos adorá-lO nos lugares onde se detiveram os seus passos? Quem me concederá ao menos poder seguir o rasto de uma alma santa "que Ele tenha escolhido para seu domínio"? (Sl 31,12)
Possa Ele dignar-se derramar na minha alma a unção da sua misericórdia, para que também eu seja capaz de dizer: "Corro pelo caminho das tuas vontades, porque alargaste o meu coração" (Sl 118,32). Poderei talvez, também eu, mostrar-lhe em mim, senão "uma grande sala toda preparada, em que Ele possa comer com os seus discípulos" (Mc 14,15), pelo menos "um lugar em que Ele possa repousar a cabeça" (Mt 8,20).
S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja - Sermão 27, 8-10
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