«Felizes os misericordiosos, diz o Senhor, pois alcançarão misericórdia.» (Mt 5,7) A misericórdia não é a menor das bem-aventuranças: «Feliz o que compreende o pobre e o fraco» e também: «o homem bom compadece-se e partilha», ou ainda: «sempre o justo se compadece e empresta». Façamos, pois nossa esta bem-aventurança: saibamos compreender, sejamos bons.
Nem a noite deve deter a tua misericórdia; «não digas: volta amanhã e logo te darei» (Prov 3,28). Que não haja hesitação entre a tua primeira reacção e a tua generosidade... «Partilha o teu pão com aquele que tem fome, recolhe em tua casa o infeliz sem abrigo» (Is 58,7) e fá-lo de boa vontade. «Aquele que exerce a misericórdia, diz S. Paulo, que o faça com alegria» (Rom 12,8).
O teu mérito é redobrado pelo teu zelo; uma dádiva feita com contrariedade e por obrigação não tem nem graça nem fulgor. É com um coração em festa, não se lamentando, que se deve fazer o bem... «Então a luz jorrará como a aurora, e as tuas forças não tardarão a restablecer-se» ( 58,8). Haverá alguém que não deseje a luz e a cura?...
Por isso, servos de Cristo, seus irmãos e seus co-herdeiros (Gal 4,7), sempre que tenhamos oportunidade, visitemos Cristo, alimentemos Cristo, agasalhemos Cristo; abriguemos Cristo, honremos Cristo (cf. Mt 25,31s). Não só sentando-o à mesa, como alguns fizeram, ou cobrindo-o de perfumes, como Maria Madalena, ou participando na sua sepultura, como Nicodemos... Nem com ouro, incenso e mirra, como os magos... O Senhor do universo «quer a misericórdia e não o sacrifício» (Mt 9,13), a nossa compaixão, mais que milhares de cordeiros gordos (Miq 6,7). Apresentemos-lhe então a nossa misericórdia pela mão desses infelizes que jazem hoje pela terra, para que, no dia em que partirmos daqui, eles nos «conduzam à morada eterna» (Luc 16,9), ao próprio Cristo, nosso Senhor.
S. Gregório de Nazianzo (330-390), bispo, doutor da igreja - 14ª homilia sobre o amor aos pobres, 38.40