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sexta-feira, 5 de abril de 2019

A recusa ao Sagrado Coração e o fim da dinastia Bourbon no trono francês


Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), religiosa visitandina do Mosteiro de Paray le Monial, teve numerosas manifestações extraordinárias do Céu, onde Nosso Senhor Jesus Cristo, aparecendo-lhe, pediu para que fosse difundida a devoção ao Seu Sagrado Coração:  

“Eis aqui este Coração que tanto tem amado aos homens, que nada tem poupado, até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor; e em troca não recebe da maior parte deles senão ingratidão, irreverências e sacrilégios, tibieza e desdém para com este Sacramento de amor. (...)  Prometo-te que o Meu Coração se dilatará, para derramar com abundância o meu Divino Amor sobre os que lhe tributarem honras e procurarem fazer com que outros lha tributem”.

Numa destas aparições, Jesus pediu-lhe para fazer chegar ao Rei de França, Luís XIV (1643 – 1715) o Seu desejo de que a França fosse consagrada ao Sagrado Coração de Jesus.

No dia 17 de junho de 1689, Santa Margarida Maria enviou uma carta ao monarca nos seguintes termos: O Sagrado Coração de Jesus deseja, segundo me parece, entrar com pompa na casa dos Príncipes e dos Reis, para nelas ser honrado, tanto quanto nelas foi ultrajado, desprezado e humilhado durante a Sua Paixão. E que receba tanto prazer ao ver os grandes da Terra rebaixados e humilhados diante d`Ele, quanta amargura sentiu ao ver-Se aniquilado a seus pés.

"Faz saber ao filho primogénito do Meu Sagrado Coração que, assim como o seu nascimento temporal foi obtido através da devoção aos méritos da Minha Santa Infância, do mesmo modo obterá o seu nascimento para a graça e para a gloria eterna, pela Consagração que fará de si mesmo ao Meu Coração Adorável, que quer triunfar do seu e, por seu intermédio, do dos grandes da Terra. Ele quer reinar no seu Palácio, ser pintado nos seus estandartes e gravado nas suas armas, para fazê-las vitoriosas sobre os seus inimigos, dobrando aos seus pés essas cabeças orgulhosas e soberbas, para fazê-lo triunfar sobre todos os inimigos da Santa Igreja”.       

A 25 de Agosto de 1689, Margarida Maria insistiu com a Madre de Saumaise, pedindo-lhe, textualmente, que fizesse com que o confessor do rei, o Padre de La Chaise, levasse ao monarca o desejo do Sagrado Coração de Jesus. Esta carta continha dois novos pedidos importantes:

“O Pai Eterno, querendo reparar as amarguras e angústias que o Adorável Coração do seu Filho recebeu na casa dos Príncipes da Terra, entre as humilhações e os ultrajes da Paixão, quer estabelecer o Seu Império no coração do nosso grande monarca, do qual se quer servir para a execução do Seu Desígnio, que é fazer erigir um edifício onde esteja exposto o quadro deste Divino Coração, para aí receber a consagração e as homenagens do Rei e da Corte.

“Além disso, este Divino Coração quer tornar-se o protector e defensor da sua sagrada pessoa contra todos os seus inimigos. Por isso, escolheu-o, como Seu fiel amigo, para conseguir autorização da Santa Sé Apostólica para uma Missa e obtenção de todos os outros privilégios que devem acompanhar a devoção a este Divino Coração”.

Há indicações que confirmam o recebimento do pedido do Sagrado Coração pelo rei Luís XIV, não através do padre La Chaise que, provavelmente, era contrário a devoções que solicitassem uma fé maior do que aquela que um rei pouco religioso pudesse suportar, mas da princesa Maria Beatriz d’Este. Que se tornando religiosa visitandina, esteve em estreito contacto com Santa Margarida Maria.

Entretanto, Luís XIV, como os seus sucessores Luís XV (1715 – 1774) e Luís XVI (1774 – 1792) negaram-se a consagrar publicamente a França ao Sagrado Coração de Jesus, como lhe fora pedido pelo divino Salvador, apesar de Luís XIV ter apresentado à Santa Sé, em 1696, o pedido de uma missa ao Sagrado Coração de Jesus.

Como consequência desta recusa, no dia 17 de junho de 1789, festa do Sagrado Coração de Jesus, exatamente cem anos depois da data da carta de Santa Margarida Maria Alacoque, o Terceiro Estado instituiu a Assembleia Nacional, um rompimento com a estrutura social do Antigo regime francês, fundado na divisão de três ordens: clero, nobreza e povo.

Este acto despojou o rei da soberania, que segundo o regime monárquico vigente residida na sua pessoa. E este foi apenas o primeiro passo dos revolucionários. Em seguida, foi proclamada a República e Rei Luís XVI foi assassinado na guilhotina, no dia 21 de janeiro de 1793. 

Depois da Revolução Francesa, salvo os quinze anos da Restauração, a dinastia dos Bourbon foi expulsa definitivamente do trono da França.