Que Lucas tenha sido o inseparável companheiro de Paulo, e seu colaborador no Evangelho, o próprio o mostra com evidência, não por gloríola, mas pela força da própria Verdade. Escreve ele: «Depois de Barnabé e João, também chamado Marco, se terem separado de Paulo e embarcado para Chipre, fomos para Tróade» (Act 16, 11); após o que descreve em pormenor toda a viagem, a sua ida a Filipos e o primeiro discurso que fizeram. [...] E relata também, pela mesma ordem, toda a viagem que fez com Paulo, referindo com grande cuidado as circunstâncias precisas desta [...]. Porque em todas elas Lucas estava de facto presente, tendo-as registado com cuidado - não surpreendemos nos seus relatos mentira nem vaidade, porque aqueles factos aconteceram realmente [...].
Que Lucas tenha sido não só o companheiro, mas ainda o colaborador dos apóstolos, de Paulo sobretudo, di-lo claramente o próprio Paulo nas suas epístolas: «Demas abandonou-me e foi para Tessalónica. Crescente foi para a Galácia, Tito para a Dalmácia. Apenas Lucas está comigo» (2 Tm 4, 11). O que prova que Lucas esteve sempre unido a Paulo e de maneira inseparável. Também na epístola aos Colossenses se lê: «Lucas, o médico bem-amado, saúda-vos» (Col 4, 14).
Lucas, por outro lado, deu-nos a conhecer muitos episódios do Evangelho, e dos mais importantes [...]. Quem sabe, aliás, se Deus não fez de maneira a que muitos acontecimentos do Evangelho tivessem sido revelados só por Lucas, precisamente para que todos aquiescecessem no testemunho que ele dá em seguida sobre os actos e a doutrina dos apóstolos e para que, ficando assim inalterada a regra da verdade, todos pudessem ser salvos. O testemunho de Lucas é pois verdadeiro: os ensinamentos dos apóstolos são claros, sólidos e não escondem nada [...]. Tais são as vozes da Igreja, nas quais a Igreja encontra a sua origem.
Santo Ireneu de Lião (c.130-c.208), bispo, teólogo e mártir - Contra as Heresias, III ,14
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