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quinta-feira, 24 de julho de 2014

São Charbel Maklouf, um verdadeiro cedro do Líbano


Charbel Makhlouf, falecido em 1898, santo contemplativo de uma ordem religiosa do rito melquita, no Líbano, entrou muito jovem no convento, tendo vivido em isolamento e meditação completos.

Tem-se a impressão, observando-se seus olhos, de que eles são duas janelas abertas para o Céu. Olhos de um escuro profundo –– ou talvez castanho, mas muito escuro –– que refletem profundidade; e no fundo dessa profundidade há algo de sublime e celestial. Vê-se que ele olha para o Céu, o qual reflete-se em seu olhar, e que peregrinando dentro do olhar dele encontra-se o Céu. É uma verdadeira maravilha.
Seu nariz é caracteristicamente o de um árabe. A barba é de um branco venerável, nívea. Dir-se-ia que são flocos de neve que lhe pendem do rosto. Ela abre-se e deixa passar um tanto o que está em seu interior, uma certa forma de graça e de leveza, que não sei como descrever. Parece algo como um jogo de estalactites e estalagmites dentro de uma gruta.

Suas sobrancelhas lembram as asas de um condor. Mas, convém acentuar, o olhar é o mais importante do conjunto da fisionomia. Ele absorve o resto. Quando se examina esses olhos, não se pensa em outra coisa. São de uma estabilidade, uma resolução, uma seriedade, uma elevação enorme! São de um homem que, se o mundo todo cair sobre ele, não se move. E, caso seja seu dever mover-se contra o mundo inteiro, atuará com serenidade. Um homem deste tipo move o mundo! É das fisionomias que mais aprecio contemplar.

Compõe a fisionomia esse gorro preto, que considero extraordinariamente significativo. É um gorro vagamente em forma de cone, e parece feito de pele. Talvez seja confeccionado com lã, porque a batina, que é preta, parece ser do mesmo tecido. E o preto do gorro está em consonância com o escuro do fundo do olhar. Dir-se-ia que algo do olhar espalha-se por todo o gorro. Este é luminosamente escuro, e sua forma deixa entrever a altura de seu pensamento, até atingir o próprio Deus.

São Charbel Makhlouf é como um verdadeiro cedro do Líbano!

(Plinio Corrêa de Oliveira, “Santo do dia”, 21 de maio de 1973).

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ato cego de abandono e de amorosa confiança na doce Virgem Maria

     

     


    "Ó doce Virgem Maria, minha augusta soberana, minha amável Senhora, minha Mãe amorosíssima, ó doce Virgem, eu coloquei em Vós toda minha esperança e eu não serei confundido.

     "Doce Virgem Maria, eu creio tão firmemente que do alto do Céu Vós velais dia e noite sobre mim e sobre aqueles que esperam em Vós; eu estou tão intimamente convencido de que jamais pode faltar nada quando se espera tudo de Vós, que resolvi viver daqui para o futuro sem nenhuma apreensão, e me descarregar inteiramente sobre Vós em todas as minhas iniquidades.

     "Doce Virgem Maria, Vós me estabelecestes na mais inabalável confiança.

     "Ó, mil vezes obrigado por uma graça tão preciosa. Eu ficarei daqui por diante em paz sob vosso Coração tão puro.

     "Eu não pensarei mais senão em Vos amar, em Vos obedecer, enquanto Vós gerireis, Vós mesma, minha boa Mãe, os meus mais caros interesses.

     "Ó doce Virgem Maria, que entre os filhos dos homens, uns esperem sua felicidade de sua riqueza, outros a procurem em seus talentos; que outros se apoiem sobre a inocência de sua vida ou sobre o rigor de sua penitência, ou sobre o fervor de suas orações, ou sobre o grande número de suas boas obras.

     "Por mim, ó Mãe, eu esperarei só em Vós, só em Vós depois de Deus. E todo o fundamento de minha esperança será minha confiança mesmo em vossa bondade materna.

     "Doce Virgem Maria, os maus poderão me roubar a reputação e o pouco de bem que possuo. As doenças poderão me tirar as forças e a faculdade exterior de Vos servir. Eu poderei mesmo, infelizmente, minha terna Mãe, perder vossas boas graças pelo pecado.

     "Mas minha amorosa confiança em vossas maternais bondades, esta jamais eu perderei. Eu a conservarei, essa confiança inabalável até o meu último suspiro. Todos os esforços do inferno não ma roubarão.

     "Eu morrerei repetindo mil vezes vosso nome bendito e fazendo repousar sobre vosso Imaculado Coração toda a minha esperança.

     "E porque estou eu tão firmemente seguro de esperar sempre em Vós, senão é porque Vós me ensinastes, Vós mesma, ó doce Virgem, que Vós sois toda misericórdia e que não sois senão misericórdia?

     "Eu estou, portanto, seguro, ó boa e amorosa Mãe, eu estou seguro de que Vos invocarei sempre e estou seguro de que Vós me consolareis.

     "Eu Vos agradecerei sempre porque Vós sempre me aliviareis. Eu Vos servirei sempre porque Vós sempre me ajudareis.

     "Eu Vos amarei sempre porque Vós sempre me amareis. Eu obterei tudo de Vós porque vosso amor, sempre generoso, irá além de minha esperança.

     "Sim, é de Vós só, ó doce Virgem que, apesar de minhas faltas, eu espero o único bem que desejo, o meu Jesus, no tempo e na eternidade.

     "É de Vós só, porque Vós é que meu Divino Salvador escolheu para me dispensar todos os favores, para me conduzir seguramente até Ele.

     "Sim, é de Vós Mãe, que depois de ter aprendido a participar das humilhações e sofrimentos de vosso Divino Filho, me introduzireis na glória e nas delícias, para O louvar e bendizer, junto a Vós e conVosco, nos séculos dos séculos. Assim seja.

     "Eis a minha maior confiança e toda a razão da minha esperança. "Ecce mea maxima fiducia et tota ratio spei mei."

       A oração é verdadeiramente maravilhosa! Ela tem as características da oração de São Bernardo. Quer dizer, uma oração com um misto de humildade e de arrojo, de ternura e de fogo, de varonilidade, que é difícil a gente encontrar reunidas nas expressões de um só homem.

De um lado, a ternura para com Nossa Senhora chega ao último limite a que pode chegar. Sobretudo, chega ao último limite a persuasão da ternura dEla para conosco.

Mas, de outro lado, mesmo no modo de cantar a ternura dEla, nada há de efeminado, nada há de indigno de um varão. Pelo contrário, há uma espécie de audácia nessa ternura, de audácia encorajada por essa ternura, estimulada por essa ternura, que faz exatamente dessa oração uma obra prima, porque tem toda a suavidade própria à uma pomba, mas tem um voo de águia.

Vai até o Coração Imaculado de Maria diretamente. E com uma liberdade, com um desembaraço eu ousaria dizer, com uma familiaridade cheia de veneração mas de intimidade, que verdadeiramente espanta a gente.

Ele fala aqui da virtude da confiança. E ele mostra no que essa virtude consiste. E depois ele mostra as razões (que estão na base) dessa virtude. Essa virtude consiste fundamentalmente em saber que Nossa Senhora como ele diz é ternura, é toda ternura e nEla não há senão ternura.

Quer dizer, não há severidade, não há juízo, não há justiça, não existe outra coisa nEla a não ser isso. E como isso é assim e essa é a disposição dEla em relação a todos os homens, é lógico, é forçoso, é inevitável que cada homem que sabe que isso é assim, tenha nEla uma confiança sem limites.

Uma confiança no quê? Em duas gamas: em primeiro lugar, quanto à vida terrena; em segundo lugar, quanto à vida eterna.

Confiança de que Nossa Senhora vai gerir os interesses dele nessa vida. E é uma confiança que abrange portanto, de algum modo, também os interesses terrenos verdadeiramente ditos.

É verdade que ele era religioso e que não tinha, nesse sentido, interesse terreno. Ele tinha voto de pobreza, de castidade e de obediência; os interesses materiais dele estavam todos atendidos no convento. Mas é verdade também que ele fala aqui em termos gerais, não só para o religioso, mas é uma oração que qualquer fiel pode repetir e fazer sua. E aqui se entende que nós, nos nossos próprios interesses terrenos, naquilo que eles têm de legítimo,  de santificante, nós devemos confiar em Nossa Senhora.

  Pedir a Nossa Senhora que Ela tome conta disso, que Ela faça por nós aquilo que não somos capazes de fazer.

Todos nós sabemos que a Providência tem desígnios insondáveis e que pode, portanto, querer nos sujeitar, de um momento para o outro, a um sofrimento que nós não prevemos.

Nós sabemos também que a Providência quer, genericamente, daqueles a quem Ela ama, que passem por muitos sofrimentos. Nós sabemos, portanto, que nessa vida temos de sofrer.

Sem embargo disso, há interesses terrenos que por um movimento interno da graça, por um certo senso das proporções etc., nós sabemos e vemos que, muito provavelmente, a Providência não quer que se percam e não quer que se imolem. Estes interesses nós devemos entregar à Nossa Senhora.

Ela velará por eles, Ela os apoiará, Ela os protegerá, de tal maneira que nós não temos de estar com ansiedade, nós não temos de estar com “torcidas” [a palavra aqui é empregada no sentido de agitação, de frenesi], nós não temos de estar com sofreguidão e falta de distância psíquica.

Mas no pior das nossas angústias e das nossas preocupações, nós devemos nos lembrar daquilo que diz o Abbé de Saint-Laurent no “Livro da Confiança”: que quando o tormento ou a tormenta tenha chegado até o auge, é hora de preparar o incenso e todo o necessário para cantar o “Magnificat”. Porque quando o sofrimento chegou ao auge, Nossa Senhora intervirá e nos salvará. Quer dizer, essa é uma confiança inabalável.

Confiança que cresce de ponto quando não se trata de nossos interesses terrenos individuais, mas se trata das questões de apostolado.

Nossa Senhora quer nosso apostolado – Ela tem dado disso mil provas e está multiplicando essas provas continuamente. Se Ela quer nosso apostolado, Ela levará o apostolado ao sucesso.

E nós não temos que nos colocar nesse ponto de vista péssimo assim: "Eu, por mim, resolvo os assuntos comuns do apostolado com minhas forças e minha capacidade. Nossa Senhora resolva o extraordinário". Isso é péssimo.

  Nossa Senhora, como Medianeira onipotente junto a Deus, resolve tudo. Eu preciso de auxílio dEla para as coisas grandes e pequenas. Para as corriqueiras, como para as enormes.

E ainda que as coisas de apostolado possam parecer muito complicadas, muito comprometidas, eu devo confiar em que Nossa Senhora resolva; eu ponho a minha confiança nEla e não penso noutra coisa.

Isso se aplica ainda mais à nossa vida espiritual. Nossa Senhora nos chamou para a TFP, e dentro da [vocação da] TFP nos chama à santidade. Se Ela nos chama para a santidade, Ela não interromperá a obra que Ela começou e nos levará até lá se nós soubermos confiar.

Alguém dirá: “Dr. Plinio, belas palavras... Na realidade, elas são vácuas e não correspondem a nada, porque se eu pecar eu estou criando obstáculos à ação de Nossa Senhora. E se eu estou criando obstáculos à ação de Nossa Senhora, não posso supor que Ela vá me santificar. Quer dizer, o senhor está dizendo uma coisa que é muito bonita, mas que não vale nada, não tem consistência. É uma quimera”.

A resposta está aqui mesmo em São Bernardo. Ainda que a gente tenha a dor enorme de ter ofendido a Nossa Senhora, ainda que tenha a dor de ter ofendido gravemente, é preciso continuar a confiar nEla. Porque se a gente desconfiar dEla, então, está tudo perdido. A porta do Céu é Ela! E se nós, pela nossa falta de confiança, fecharmos a porta do Céu, nós mesmos nos condenamos.  

  Se, pelo contrário, nós continuarmos a confiar nEla contra toda confiança, Ela pelo menos receberá de nós essa forma de glória, que é a do pecador que confia nEla. É uma forma de glória. O pecado é um atentado à glória de Nossa Senhora.

Mas o pecador que continua a confiar nEla dá-lhe uma forma de glória que nenhum justo pode dar, e que é exatamente a glória da confiança daquele que ofendeu.

Então ter a confiança nisso, esperar contra toda esperança mesmo dentro das dificuldades e da buraqueira da nossa vida espiritual, é uma coisa que São Bernardo recomenda aqui intensamente.

E que lembra aquela palavra de São Francisco Xavier, que o pior do pecado ainda que o pecado seja um horror o pior do pecado não é tanto o pecado, mas é o fato de que a pessoa depois do pecado, perca a confiança em Deus. Aí é que vem o pior pecado.

Porque enquanto confia, o caminho ainda está aberto, tudo é possível. Mesmo para o pecado do tíbio, que é um pecado que Nosso Senhor diz: "Eu te vomitarei da minha boca."

  Ele acaba, então, falando depois da vida eterna. E ele diz essa coisa admirável: que quando chegar a hora da morte, ele confia que a confiança dele seja tal que ele morra com o coração dele recostado sobre o Imaculado Coração de Maria. É expressão, naturalmente, simbólica, mas é uma expressão que tem um valor enorme.

Lembra aquela posição de São João recostado sobre o Sagrado Coração de Jesus, na Ceia, e perguntando quem é que haveria de traí-Lo. Ouvindo, portanto, as pulsações do Sagrado Coração de Jesus.

Também aí vem uma esperança muito grande que Nossa Senhora, na hora da morte, nos ajude. Ela diminua os horrores desse transe, Ela até nos dê uma morte cheia dos sentimentos da presença dEla se isso for para maior glória dEla e para bem de nossa alma.

Em todo caso, ainda que nossa morte deva ser muito árida, ainda nesse caso, que essa aridez será para o bem de nossa alma para nós irmos para o Céu, passarmos o menor tempo possível no Purgatório, irmos o mais alto possível para o Céu, e que os sofrimentos da hora da morte nos ajudem a salvar muitas almas.

Este é o pensamento admirável contido nessa ficha de São Bernardo. Ficha tão bonita que se nós reeditarmos as Preces pro oportunitate dicendae, tenho impressão de que seria o caso de incluir esta ficha nas Preces, de tal maneira ela é carregada de sentido e admirável debaixo de todos os pontos de vista.

(Comentário do Sr. Dr. Plinio Corrêa de Oliveira sobre a oração “Ato cego de abandono e de amorosa confiança na doce Virgem Maria”, composta por São Bernardo (Acte d'aveugle abandon et d'amoureuse confiance en la douce Vierge Marie - cfr. "Livre d'Or - Manuel complet de la parfaite dévotion à la très sainte Vierge d'après S. Louis-Marie de Montfort", 6e. édition, Pères Montfortains, Louvain, 1960, pages 689-692), "Santo do Dia", 3 de janieor de 1967)

23 de Julho, Santa Brígida

    
Brígida nasceu em 1303, no castelo de Finstad, na Suécia. Descendia de uma casa real piedosa, que forneceu à Igreja vários santos e que usou da própria fortuna para construir muitos mosteiros, igrejas e hospitais. Manteve obras de caridade para os pobres e, desde a infância, Brígida teve o dom das revelações divinas, todas anotadas por ela no seu diário. Os seus escritos foram, posteriormente, traduzidos para o latim e somaram oito volumes.
     Muito jovem, casou-se com o nobre legislador chamado Ulf Gudmarsson, um cristão muito piedoso. O casal teve oito filhos, dentre os quais a filha que posteriormente foi venerada pela cristandade como santa Catarina da Suécia. Com rigor e exigência, o casal cuidava da educação religiosa e académica dos filhos. Durante um longo período, Brígida foi dama de companhia da rainha Bianca de Namur, frequentando várias cortes. Mesmo assim, não se deixou levar pelo ambiente frívola ali vividos. Pelo contrário, manteve-se fiel aos ensinamentos do Evangelho.
     Após a morte de um dos seus filhos, o casal resolveu fazer uma peregrinação ao santuário de Santiago de Compostela, em Espanha. No retorno, Ulf caiu gravemente enfermo. Brígida, em sonho, teve uma revelação de são Dionísio, que lhe disse que o marido não morreria. De facto foi curado, mas logo em seguida ingressou no mosteiro cisterciense de Alvastra, onde viveu com um dos seus filhos, e lá morreu, em 1344.
     Viúva, Brígida decidiu, ela também, retirar-se definitivamente para a vida monástica e fundar um mosteiro duplo, de homens e mulheres. Este seu velho projeto, deu origem à Ordem do Santo Salvador, uma instituição que vivia sob as Regras de São Agostinho. Ali viveu como fundadora até ao dia em que obteve a aprovação canônica, quando transferiu-se para Roma.
     Morou na Cidade Eterna por vinte e quatro anos, trabalhando pela reforma dos costumes e pela volta do papa de Avignon para Roma. Com o apoio do rei da Suécia, construiu e instaurou setenta e oito mosteiros por toda a Europa. A 23 de julho de 1373, durante uma romaria à Terra Santa, expirou.
      Desde então, a Ordem por ela fundada passou a ser dirigida por sua filha, Catarina da Suécia, alcançando grande notoriedade. Canonizada em 1391, apenas dezoito anos após a sua morte, Santa Brígida já tinha um culto muito vigoroso em todo o mundo cristão da Europa, sendo celebrada no dia de sua morte. O local onde residia em Roma foi transformado em um belíssima igreja dedicada a ela, na praça Farnese. Ela é Padroeira da Suécia e copadroeira da Europa.