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segunda-feira, 20 de abril de 2015

A Igreja e o Marketing – vence a Tradição

Poucos países sofreram tanto as consequências do pós-concílio quanto o Brasil, onde o número de católicos caiu 35% ao longo dos últimos trinta anos. Há alguns anos, preocupado com a hemorragia dos fiéis, os bispos brasileiros contrataram uma importante empresa de marketing, o ALMAP, cujo presidente, Alex Periscinoto, é tido como o “melhor gestor de marketing” do Brasil.

Os membros do Comitê Executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil esperavam de Periscinoto conselhos sobre como definir uma pastoral da Igreja, oferecendo uma melhor imagem da instituição, a fim de parar o sangramento de fiéis que, em sua maior parte, estão passando para a comunidade evangélica.

O resultado foi surpreendente. Perissinotto apresentou os resultados de seu estudo para duzentas pessoas, entre bispos e padres ligados à pastoral. Dizer que ficaram chocados com o discurso do especialista em marketing seria pouco. Talvez eles esperassem ser aconselhados a pintar igrejas com cores vivas, a introduzir mais música pop, mais liturgias aggiornatte e assim por diante. Mas, aos invés disso…

“A primeira ferramenta de marketing na história do mundo foi o sino – disse Periscinoto logo de início – e era a melhor. Quando ele tocava, não só atingia 90% dos habitantes de uma cidade, mas mudava o comportamento pessoal deles. Vocês, então, inventaram uma ferramenta que ainda é usada em marketing comercial. É chamado de ‘display’. A tela é algo que usamos para enfatizar, propor algo com força para o público. Quando todas as casas eram baixas, vocês construíam igrejas com torres seis vezes maiores. Isso permitia que o reconhecimento imediato da igreja: ali está!

“Vocês inventaram o primeiro logo da história. O logotipo é um símbolo usado para garantir que uma marca seja facilmente reconhecível. A de vocês era a melhor: a Cruz. Este logotipo foi sempre colocado sobre o ponto mais alto e visível do display. Ninguém poderia confundir: aquela era a Igreja Católica! Este logotipo inventado por vocês foi tão eficaz que até mesmo Hitler o utilizou, com pequenas modificações, para mobilizar as massas. E quase ganhou a guerra.

“Vocês também inventaram a campanha promocional. O que é uma procissão religiosa? Para uma cidade[1], ou mesmo para um bairro de uma cidade grande, nada é mais promocional do que uma procissão, por exemplo, em honra de Nossa Senhora. Quando nós, especialistas em marketing, organizamos um evento promocional, usamos muito do que a Igreja inventou. Nós desfraldamos bandeiras e banners, nós vestimos nossos representantes com trajes especiais de modo que eles possam ser facilmente reconhecidos. Procuramos criar uma mística comercial. Mas a nossa mística nunca será tão rica quanto a de vocês”.

“Infelizmente, vocês mudaram a maneira em que a missa é celebrada. Hoje a missa já não é em latim e de costas para o fiel. Vocês pensavam que talvez fizessem algo de bom. Ao invés vez disso, tenho uma má notícia. Minha mãe nunca pensou que o padre estava de costas. Ela sempre pensou que todos, fiel e celebrante, estavam voltados para Deus. Ela gostava do latim, mesmo quando não entendia muito. Para ela, o latim era a língua mística com o qual os ministros da Igreja falavam com Deus. Ela se sentia privilegiada e recompensada por assistir de joelhos uma cerimônia tão importante. Na minha opinião, a mudança feita na liturgia da Missa foi um erro terrível. Posso estar errado. Eu não sou um teólogo. Analiso o problema do ponto de vista do marketing. E a partir deste ponto de vista, a mudança foi um desastre.

“Vocês abandonaram seu traje particular, a batina, que identificava seus representantes comerciais, o sacerdote. Ao fazê-lo, jogaram fora uma marca.

“Vocês desnaturaram o seu display, tornando igrejas cada vez mais parecidas com prédios civis.

“Tudo o que se inventa contém uma oferta, algo que se quer vender. O produto de vocês é chamado fé. Mas eu também tenho uma boa notícia. Esta, hoje, é uma demanda crescente. O mercado, talvez, nunca foi tão favorável para a fé. Vocês, no entanto, falam mais de política do que fé. Assim, vocês podem reclamar se suas igrejas estão cada vez mais vazias, enquanto que os salões de grupos evangélicos estão cada vez mais cheios? “.

[1]Paesedicampagna – no original (Tradução Frates in Unum, Julio Loredo, 13 de abril de 2015)

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