Os membros do Comitê Executivo da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil esperavam de Periscinoto conselhos sobre como definir uma
pastoral da Igreja, oferecendo uma melhor imagem da instituição, a fim de parar
o sangramento de fiéis que, em sua maior parte, estão passando para a
comunidade evangélica.
O resultado foi surpreendente. Perissinotto apresentou os
resultados de seu estudo para duzentas pessoas, entre bispos e padres ligados à
pastoral. Dizer que ficaram chocados com o discurso do especialista em
marketing seria pouco. Talvez eles esperassem ser aconselhados a pintar igrejas
com cores vivas, a introduzir mais música pop, mais liturgias aggiornatte e
assim por diante. Mas, aos invés disso…
“A primeira ferramenta de marketing na história do mundo foi
o sino – disse Periscinoto logo de início – e era a melhor. Quando ele tocava,
não só atingia 90% dos habitantes de uma cidade, mas mudava o comportamento
pessoal deles. Vocês, então, inventaram uma ferramenta que ainda é usada em
marketing comercial. É chamado de ‘display’. A tela é algo que usamos para
enfatizar, propor algo com força para o público. Quando todas as casas eram
baixas, vocês construíam igrejas com torres seis vezes maiores. Isso permitia
que o reconhecimento imediato da igreja: ali está!
“Vocês inventaram o primeiro logo da história. O logotipo é
um símbolo usado para garantir que uma marca seja facilmente reconhecível. A de
vocês era a melhor: a Cruz. Este logotipo foi sempre colocado sobre o ponto
mais alto e visível do display. Ninguém poderia confundir: aquela era a Igreja
Católica! Este logotipo inventado por vocês foi tão eficaz que até mesmo Hitler
o utilizou, com pequenas modificações, para mobilizar as massas. E quase ganhou
a guerra.
“Vocês também inventaram a campanha promocional. O que é uma
procissão religiosa? Para uma cidade[1], ou mesmo para um bairro de uma cidade
grande, nada é mais promocional do que uma procissão, por exemplo, em honra de
Nossa Senhora. Quando nós, especialistas em marketing, organizamos um evento
promocional, usamos muito do que a Igreja inventou. Nós desfraldamos bandeiras
e banners, nós vestimos nossos representantes com trajes especiais de modo que
eles possam ser facilmente reconhecidos. Procuramos criar uma mística
comercial. Mas a nossa mística nunca será tão rica quanto a de vocês”.
“Infelizmente, vocês mudaram a maneira em que a missa é
celebrada. Hoje a missa já não é em latim e de costas para o fiel. Vocês
pensavam que talvez fizessem algo de bom. Ao invés vez disso, tenho uma má
notícia. Minha mãe nunca pensou que o padre estava de costas. Ela sempre pensou
que todos, fiel e celebrante, estavam voltados para Deus. Ela gostava do latim,
mesmo quando não entendia muito. Para ela, o latim era a língua mística com o
qual os ministros da Igreja falavam com Deus. Ela se sentia privilegiada e
recompensada por assistir de joelhos uma cerimônia tão importante. Na minha
opinião, a mudança feita na liturgia da Missa foi um erro terrível. Posso estar
errado. Eu não sou um teólogo. Analiso o problema do ponto de vista do
marketing. E a partir deste ponto de vista, a mudança foi um desastre.
“Vocês abandonaram seu traje particular, a batina, que
identificava seus representantes comerciais, o sacerdote. Ao fazê-lo, jogaram
fora uma marca.
“Vocês desnaturaram o seu display, tornando igrejas cada vez
mais parecidas com prédios civis.
“Tudo o que se inventa contém uma oferta, algo que se quer
vender. O produto de vocês é chamado fé. Mas eu também tenho uma boa notícia.
Esta, hoje, é uma demanda crescente. O mercado, talvez, nunca foi tão favorável
para a fé. Vocês, no entanto, falam mais de política do que fé. Assim, vocês
podem reclamar se suas igrejas estão cada vez mais vazias, enquanto que os
salões de grupos evangélicos estão cada vez mais cheios? “.
[1]Paesedicampagna
– no original (Tradução Frates in Unum, Julio Loredo, 13 de abril de 2015)