Com elas querem alguns dizer que o homem condenado a ganhar o pão com o suor do seu rosto, não pode estar sempre na Igreja; que desprezar os deveres do seu estado para gastar o seu tempo em exercícios de piedade não obrigatórios, é entender mal a piedade; que o lugar da mãe e do pai de família é no trabalho ou junto dos filhos. E dizem uma grande verdade, não há dúvida.
Mas, como fica o
reconhecimento que devemos a Deus?
É certo que Ele
quer que o trabalho nos sirva de oração.Por isso não circunscreveu as nossas homenagens num lugar determinado, nem a uma hora certa. Mas como Ele está sempre em toda a parte, em toda a parte e sempre Ele permite que Lhe rezemos.
Por isso, leva em consideração o nosso desejo de Lhe elevar a mente no meio do trabalho e, até considera o trabaho, empreendido com o fim de Lhe agradar, como uma verdadeira oração.
Não podemos, nem
devemos estar sempre na Igreja. Contudo, podemos e, até um certo ponto, devemos
orar sempre. Se, tudo o que empreendermos for feito à vista de Deus, todas as
nossas ações, ainda as mais indiferentes, serão outras tantas orações. Ora, se
isto é verdade, por maior força de razão o é trabalho, um instrumento
providencial de penitência, um refúgio seguro contra as tentações da
ociosidade, e o meio regular de ocorrer às nossas necessidades ou as da nossa
família.
Quer comais, quer bebais, dizia São Paulo, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus (1Cor
10, 31) . Uma Ave-Maria, ou, faltando ainda o tempo para isso, uma elevação
do pensamento para Deus, no momento em que se começa o trabalho; implorar a
proteção de São José e a do seu Divino Aprendiz, quando se nos apresenta alguma
dificuldade, sem receios, nem desanimos, desta foram não temamos em chamar o
nosso trabalho uma oração. Até pode ser a melhor de todas, a que Deus exige de
nós; e assim podemos dizer: Quem trabalha
reza.
Cuitdado,
contudo, porque outros entendem estas palavras de modo diverso, tornando-se, na
boca deles verdadeiramente perigosas.
Há maus cristãos
que, podendo fazer de outra maneira, trabalham ao domingo, ofendendo assim dois
preceitos, não indo à missa, e entregando-se a trabalhos dispensáveis. Alguns
destes homens, para se justicarem ou para induzirem outros a fazer o mesmo, têm
constantemente na boca estas palavras: “trabalhar é orar”, “trabalho ao
domingo, logo não preciso ir à missa”. Infelizes! Esquecem-se que o trabalho
não dispensa nunca, a menos que haja absoluta impossibilidade, obrigações
essenciais, como a da missa do domingo; esquecem-se além disso que o trabalho,
para ser oração, deve ser feito à vista de Deus, com intenção de obedecer a uma
lei, que Deus estabeleceu. Esquecem uma coisa, que nunca devemos esquecer: as
ações quasi nada são em si, a intenção é que, sobretudo, as torna meritórias ou
criminosas.
O que sofre tem
na sua mão um meio muito mais poderoso ainda de se aproximar de Deus, do que
aquele que trabalha. Pode, contudo, alguém crer que os seus sofrimentos operam
independentemente da sua própria vontade, e que ele esteja no direito de, por
exemplo, pedir a Deus uma recompensa pelas dores sofridas com um coração hostil
ou indiferente? Como podemos querer que o trabalho se converta em oração, isto
é numa elevação da alma a Deus, da parte daquele que não tem para com Deus nem
respeito nem amor, que vive tão estranho para com o seu Criador, como nós o
somos para com imperador do Japão, ou para com o chefe dos esquimós?
– Não , aquele
que sofre como cristão, só esse ora pelo seu sofrimento, porque oferece a Deus
as suas dores e os seus sofrimentos, assim também aquele que trabalha como
cristão, só esse pede e ora com o seu trabalho, porque oferece a Deus os seus
suores e os seus esforços.
Acontece muitas
vezes ouvirmos pessoas que não consideram o trabalho do espírito, e tratam de
ociosos aqueles que se dedicam ao trabalho da alma, à oração. Falam com soberbo
desprezo, desses entes inúteis; segundo eles entendem: padres, religiosos,
religiosas e beatas, que passam os dias a rezar.
Não nos
importemos com tais desprezos, e troquemos as palavras que apresentamos, que
nos mostrarão o contrário do que dizem os tais desprezadores: Quem reza trabalha.
Sim, por certo
que quem reza trabalha. – E para quem trabalha? – Para todo o mundo,
indiscriminadamente, e, principalmente, para aqueles que não rezam.
Quando o velho
pai se converteu no leito da morte, e quando as pessoas, por muito indiferente
que sejam, não podem conter as lágrimas, vendo a cristã serenidade dos seus
derradeiros momentos, quando o filho é arrancado, como que por milagre, a essa
doença cruel que os médicos tinham declarado mortal, a quem devem-se esses
benefícios? Certamente não será por aquele que talvez nunca reza, e pode, até, ter
esquecido o que é rezar.
Mas alguns
amigos, a esposa virtuosa, a mãe estremecida, correram aos templos, rezaram e
pediram orações, ofereceram com o padre o sacrifício incruento; e os pedidos de
alguém, que não os dessas pessoas, porque nem sequer disso se lembram, foram
ouvidos. Envoltos na matéria e em tudo materais, não podem admitir que as almas
candidas se elevem à região dos espíritos; mas, corridos e confusos, não podem
negar que as bênçãos do céu desceram sobre a casa deles. Se fosseis à igreja, lá
veriam a esposa, a mãe e os amigos pedindo por eles. Só Deus sabe quantas calamidades
públicas e particulares têm sido suspensas no seu curso pelo grande poder da
oração!
Respeitemos pois
as determinações e preceitos, que nos indicam que devemos cumprir os nossos
deveres religiosos, rezando, ouvindo missa e desempenhando os outros encargos
de cristãos, não nos esquecendo nunca que : Quem
trabalha cristãmente reza, quem reza trabalha.
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