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domingo, 28 de outubro de 2012

Quem trabalha reza

Quantas coisas nestas três palavras!
Com elas querem alguns dizer que o homem condenado a ganhar o pão com o suor do seu rosto, não pode estar sempre na Igreja; que desprezar os deveres do seu estado para gastar o seu tempo em exercícios de piedade não obrigatórios, é entender mal a piedade; que o lugar da mãe e do pai de família é no trabalho ou junto dos filhos. E dizem uma grande verdade, não há dúvida.

Mas, como fica o reconhecimento que devemos a Deus?
É certo que Ele quer que o trabalho nos sirva de oração.

Por isso não circunscreveu as nossas homenagens num lugar determinado, nem a uma hora certa. Mas como Ele está sempre em toda a parte, em toda a parte e sempre Ele permite que Lhe rezemos.
Por isso, leva em consideração o nosso desejo de Lhe elevar a mente no meio do trabalho e, até considera o trabaho, empreendido com o fim de Lhe agradar, como uma verdadeira oração.

Não podemos, nem devemos estar sempre na Igreja. Contudo, podemos e, até um certo ponto, devemos orar sempre. Se, tudo o que empreendermos for feito à vista de Deus, todas as nossas ações, ainda as mais indiferentes, serão outras tantas orações. Ora, se isto é verdade, por maior força de razão o é trabalho, um instrumento providencial de penitência, um refúgio seguro contra as tentações da ociosidade, e o meio regular de ocorrer às nossas necessidades ou as da nossa família.
Quer comais, quer bebais, dizia São Paulo, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus (1Cor 10, 31) . Uma Ave-Maria, ou, faltando ainda o tempo para isso, uma elevação do pensamento para Deus, no momento em que se começa o trabalho; implorar a proteção de São José e a do seu Divino Aprendiz, quando se nos apresenta alguma dificuldade, sem receios, nem desanimos, desta foram não temamos em chamar o nosso trabalho uma oração. Até pode ser a melhor de todas, a que Deus exige de nós; e assim podemos dizer: Quem trabalha reza.  

Cuitdado, contudo, porque outros entendem estas palavras de modo diverso, tornando-se, na boca deles verdadeiramente perigosas.
Há maus cristãos que, podendo fazer de outra maneira, trabalham ao domingo, ofendendo assim dois preceitos, não indo à missa, e entregando-se a trabalhos dispensáveis. Alguns destes homens, para se justicarem ou para induzirem outros a fazer o mesmo, têm constantemente na boca estas palavras: “trabalhar é orar”, “trabalho ao domingo, logo não preciso ir à missa”. Infelizes! Esquecem-se que o trabalho não dispensa nunca, a menos que haja absoluta impossibilidade, obrigações essenciais, como a da missa do domingo; esquecem-se além disso que o trabalho, para ser oração, deve ser feito à vista de Deus, com intenção de obedecer a uma lei, que Deus estabeleceu. Esquecem uma coisa, que nunca devemos esquecer: as ações quasi nada são em si, a intenção é que, sobretudo, as torna meritórias ou criminosas.

O que sofre tem na sua mão um meio muito mais poderoso ainda de se aproximar de Deus, do que aquele que trabalha. Pode, contudo, alguém crer que os seus sofrimentos operam independentemente da sua própria vontade, e que ele esteja no direito de, por exemplo, pedir a Deus uma recompensa pelas dores sofridas com um coração hostil ou indiferente? Como podemos querer que o trabalho se converta em oração, isto é numa elevação da alma a Deus, da parte daquele que não tem para com Deus nem respeito nem amor, que vive tão estranho para com o seu Criador, como nós o somos para com imperador do Japão, ou para com o chefe dos esquimós?
– Não , aquele que sofre como cristão, só esse ora pelo seu sofrimento, porque oferece a Deus as suas dores e os seus sofrimentos, assim também aquele que trabalha como cristão, só esse pede e ora com o seu trabalho, porque oferece a Deus os seus suores e os seus esforços.

Acontece muitas vezes ouvirmos pessoas que não consideram o trabalho do espírito, e tratam de ociosos aqueles que se dedicam ao trabalho da alma, à oração. Falam com soberbo desprezo, desses entes inúteis; segundo eles entendem: padres, religiosos, religiosas e beatas, que passam os dias a rezar.
Não nos importemos com tais desprezos, e troquemos as palavras que apresentamos, que nos mostrarão o contrário do que dizem os tais desprezadores: Quem reza trabalha.

Sim, por certo que quem reza trabalha. – E para quem trabalha? – Para todo o mundo, indiscriminadamente, e, principalmente, para aqueles que não rezam.
Quando o velho pai se converteu no leito da morte, e quando as pessoas, por muito indiferente que sejam, não podem conter as lágrimas, vendo a cristã serenidade dos seus derradeiros momentos, quando o filho é arrancado, como que por milagre, a essa doença cruel que os médicos tinham declarado mortal, a quem devem-se esses benefícios? Certamente não será por aquele que talvez nunca reza, e pode, até, ter esquecido o que é rezar.

Mas alguns amigos, a esposa virtuosa, a mãe estremecida, correram aos templos, rezaram e pediram orações, ofereceram com o padre o sacrifício incruento; e os pedidos de alguém, que não os dessas pessoas, porque nem sequer disso se lembram, foram ouvidos. Envoltos na matéria e em tudo materais, não podem admitir que as almas candidas se elevem à região dos espíritos; mas, corridos e confusos, não podem negar que as bênçãos do céu desceram sobre a casa deles. Se fosseis à igreja, lá veriam a esposa, a mãe e os amigos pedindo por eles. Só Deus sabe quantas calamidades públicas e particulares têm sido suspensas no seu curso pelo grande poder da oração!
Respeitemos pois as determinações e preceitos, que nos indicam que devemos cumprir os nossos deveres religiosos, rezando, ouvindo missa e desempenhando os outros encargos de cristãos, não nos esquecendo nunca que : Quem trabalha cristãmente reza, quem reza trabalha.

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