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domingo, 14 de outubro de 2012

Os Bispos, sucessores dos Apóstolos




Se a Igreja permanece intrépida no meio de tantas tempestades é porque foi instituída por Deus e goza da assistência permanente de Cristo que a seus Apóstolos prometeu estar com Ela até à consumação dos séculos.

Não fora a Igreja divina, há quantos séculos teria desaparecido da face da terra!

Origem da Igreja

Para libertar o homem do cativeiro do pecado Deus mandou à terra o Seu próprio Filho que, trazendo hipostaticamente unidas as naturezas divina e humanas, dando aos seus actos um valor infinito, como Mediador único e verdadeiro entre Deus e os homens e como eterno e Sumo-Sacerdote, consumando essencialmente pelo sacrifício da Cruz o seu múnus redentor, satisfez condigna, superabundante e infinitamente por todos os homens.

Mas ao vir Cristo ao mundo como Legado divino fundou o Seu reino na terra e propôs Sua doutrina como revelada pelo Pai para sucessivamente ser acreditada e seguida por todos os homens como condição indispensável à própria salvação.

Por isso, antes de chegar ao fim do mundo, “deve o Evangelho ser pregado a todas as nações” (Mc 13, 10).  “E o que acreditar e for batizado, será salvo; o que porém não acreditar será condenado” (Mc 16, 16).

Missão dos Apóstolos

Da intenção de Cristo urge, pois, que a doutrina revelada se conserve e seja levada a todos os homens para que acreditando se batizem, e batizando-se se salvem.

E assim, Jesus depois de cumprida a sua missão na terra, após a Ressurreição e antes de partir para o Pai, para de lá só voltar na consumação dos séculos cheio de poder e majestade, transferiu para os Apóstolos, tendo São Pedro como chefe, todo o poder que do Pai havia recebido, a própria Legação divina no seu tríplice múnus de Profeta, Sacerdote e Rei.

“Assim, como meu Pai me enviou, assim eu vos envio a vós. Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16, 15). “Eis que me foi dado todo o poder no Céu e na terra. Ensinai todas as gentes (…) ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei. Eis que estarei convosco até à consumação dos séculos”. (Mt 28, 18-20).

Pela eficaz assistência de Cristo a seus Apóstolos e pela necessidade de Sua doutrina, como meio de salvação, ser levada a todos os homens, indispensável se torna que os seus poderes sejam comunicados a outros, assegurando assim à Igreja uma hierarquia que goze de perenidade necessária, ou seja, de indefetibilidade relativa, condicionada, portanto, à existência de homens sobre a terra.

Se, portanto, a Igreja, como sociedade visível – que outra coisa não é que os próprios Apóstolos exercendo os múnus que lhes foram confiados por Cristo – é perene não só porque última e única economia de Redenção até ao fim do mundo, mas também porque goza da eficaz assistência do Espírito Santo, para que perene seja a sua hierarquia, duas condições se requerem: que perene seja o próprio múnus hierárquico, isto é, o tríplice poder de ensinar, santificar e governar, e que perene seja o modo hierárquico da constituição do sujeito do múnus.

Os Bispos, continuadores dos Apóstolos

Sendo a hierarquia da Igreja, como vimos, perene, importa saber quem foi o sujeito que após a morte dos Apóstolos obteve tal poder hierárquico.

Percorrendo as páginas da história da Igreja, dos escritos dos Padres Apostólicos e dos Santos Padres, nós vemos que, desde o tempo dos Apóstolos, as Igrejas eram presididas por homens de porte nobre e santidade esmerada, a quem chamavam Bispos.

Já o Apóstolo São João inclui no Apocalipse sete cartas aos “sete” anjos das sete Igrejas que enumera.

Analisando este texto, pelo próprio contexto, chegamos à conclusão que esses anjos não podiam significar anjos protetores das Igrejas porque se diziam dignos de louvor e repreensão pelos seus atos, nem as personificações das próprias Igrejas, pois estas são distintas, quer pelos símbolos quer pela explicação dos mesmos símbolos.

Por exclusão de partes resta-nos, pois, a opinião de Santo Agostinho que nos parece a mais provável e conforme ao texto: os anjos representam os Bispos das sete Igrejas.

Ora este facto de modo algum se poderia explicar se, por direito divino de sucessão, os Bispos não sucedessem aos Apóstolos no seu múnus ordinário.

O próprio concílio Vaticano explicitamente define que os Bispos são sucessores dos Apóstolos por instituição divina no poder ordinário de jurisdição.

Eusébio de Cesareia, Tertuliano, Santo Irineu e Hegesipo, ripostando aos que negavam a origem divina da Igreja ou a legitimidade de tal sucessão, apresentavam como argumento principal e mais convincente os catálogos dos Bispos de várias Igrejas remontando-os aos próprios Apóstolos.
Santo Inácio mártir, numa das suas cartas escritas a caminho do martírio, afirma que o Bispo ocupa o lugar de Deus e é mandado por Deus.

Se a Igreja sempre acreditou em tal sucessão e se só aos Bispos a atribuiu, é porque não duvida de que, por instituição divina, eles são os legítimos sucessores dos Apóstolos em todo o seu poder ordinário.

Assim como o Pai enviou o Filho, assim o Filho enviou os Apóstolos, e os Apóstolos os Bispos.
Causas da devoção ao Bispo

Daqui o amor, carinho e devoção que devemos ter ao nosso Bispo. O Papa como Bispo da Igreja Universal e o Bispo diocesano dentro dos seus limites jurisdicionais, são a presença viva e palpável de Deus que lhes conferiu, na pessoa dos Apóstolos, o múnus de mestres, legisladores e juízes.
Os Bispos receberam o seu poder dos Apóstolos: “Os Apóstolos foram feitos pregadores do Evangelho pelo Senhor; e Jesus mandado por Deus” (S. Clemente Romano, Epistola ad Corinthios, apud M. J. Rouet de Journel, Enchiridion Patristicum, nº 20). Cristo, portanto, por Deus, os Apóstolos por Cristo e os Bispos pelos Apóstolos.

Daqui, as causas desta devoção ao Bispo. De facto, seu poder vem diretamente de Deus. “Aquele que vos recebe a Mim recebe, e o que Me recebe, recebe Aquele que Me enviou” (Mt 10, 40).
Já aconselhava Flávio Josefo: “elegei bispos dignos do Senhor, homens mansos, verdadeiros e provados”  (Flavius Joseph, Antiquitates, Apud Konradus Kirch, Enchiridion Fontium Historiae Ecclesiasticae Atinquae” nº 6).

O Bispo é Cristo visível no meio de nós, é a vida da própria Igreja. Se a Igreja lhe falta a Hierarquia tal qual Deus a constituiu, logo ruirá nos seus fundamentos, pois faltar-lhe-á a seiva que a vivifica.
O Bispo “é a palavra que ilumina, a vontade que dirige, a fonte que dá vida e purifica e dessedenta. A Igreja sem Bispo seria um corpo sem cérebro, sem coração, portanto, sem vida” (D. Manuel, Bispo de Priene, em Ação Católica Portuguesa, setembro-outubro de 1955).

Por isso jamais a Santa Igreja sucumbirá pois que, na sua Hierarquia e pela eficaz assistência do Espírito Santo, Cristo está até à consumação dos séculos.

Ruem as instituições do mundo, esquecem-se os homens no tropel vertiginoso do tempo, a Igreja, contudo, louvada e venerada ou desprezada e perseguida, continua indefetível a sua missão de luz, paz e santificação.

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