O vinho exprime a excelência da criação, dá-nos a festa em
que ultrapassamos os limites da quotidianidade: o vinho "alegra o
coração", diz o Salmo. Assim o vinho, e com ele a videira, tornaram-se
imagem também do dom do amor, em que podemos fazer alguma experiência do sabor
do Divino (Bento XVI, homilia, 2 de outubro de 2005).
O cristianismo não é uma coisa do passado, vivido como se olhássemos sempre para trás, para os tempos evangélicos, mas sempre novo, pois está marcado pela presença constante de Jesus Cristo, que está no meio de nós, e que é de hoje, ontem, amanhã e toda a eternidade. Na história da humanidade, encontramos “pegadas” de Deus. Este blogue procura, humildemente, mostrar alguma delas.
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terça-feira, 3 de setembro de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Nossa Senhora de Cárquere e Virgem do Leite
Não obstante ter sido o monarca português de maior
longevidade (morreu aos 76 anos), Afonso Henriques não teve, segundo a
tradição, um prometedor começo de vida. Com efeito o príncipe veio ao mundo com
um grande defeito nas pernas, aparentemente incurável ou, nas palavras de
Duarte Galvão na sua "Crónica de D. Afonso Henriques", a criança
nasceu "com tal aleijão (...) tolhido de maneira que todos julgavam que
nunca mais se curaria, nem seria homem".
Por insistência de Egas Moniz, a educação da
"criatura" foi-lhe entregue, cumprindo-se, assim, a promessa do Conde
D. Henrique de lhe confiar como pupilo o seu primeiro filho varão.
Ainda segundo a lenda, Egas Moniz terá procurado por
todos os meios a cura da criança. Mas só quando o pequeno Afonso tinha quatro
anos as suas canseiras teriam fim: uma visão da Virgem, durante o sono,
indicou-lhe que encontraria a cura numa sua imagem existente nas ruínas de uma
velha igreja abandonada nas margens altas do Douro. As buscas que então inicia
cedo dariam resultado já que, pouco tempo depois, encontra tal imagem e tal
local em Cárquere. Cumprindo as indicações que lhe haviam sido transmitidas no
sono, Egas Moniz colocou o príncipe no altar e aí faz uma noite de vigília. Na
manhã seguinte o jovem Afonso estava curado.
É na sequência deste famoso milagre de Cárquere que,
alguns anos depois, Egas Moniz, segundo uns, ou o Conde D. Henrique ou mesmo o
próprio Afonso Henriques, segundo outros, manda construir a igreja e o mosteiro
cuja fundação parece, de facto, relacionar-se com a construção do templo.
Sabe-se que aí se estabeleceram cónegos regrantes de Sto. Agostinho e, em
meados do século XVI, Jesuítas. Com a expulsão destes pelo Marquês de Pombal, o
Mosteiro foi abandonado a partir de 1775, dele restando hoje apenas ruínas.
Quanto à igreja, nela são evidentes diferentes estilos
e épocas de construção. Se a torre ameada é tipicamente românica, datando dos
finais do século XII, já a capela-mor, gótica, é mais tardia cerca de um
século. Por seu lado o corpo da igreja, tal como o observamos na actualidade,
de estilo manuelino, datará dos princípios do século XVI. Curiosamente, a parte
mais antiga de todo o conjunto monumental situa-se no exterior, ao lado da
sacristia. Referimo-nos à Capela Funerária dos Condes de Resende, datada do
século XII onde, entre outros, salientamos a janela românica e os quatro
sarcófagos, cujas tampas apresentam o brasão dos Resende.
Voltemos ao interior. Duas imagens devem despertar a
atenção do visitante. A minúscula representação em marfim de Nossa Senhora de
Cárquere, de apenas 29 mm
de altura e de atribuição cronológica muito discutível, mas que segundo a
tradição foi a que Egas Moniz encontrou entre as ruínas da igreja preexistente;
e uma imagem da Senhora-a-Branca, datada do século XIV e feita em pedra de
Ançã. Esta última está na base de uma tradição que durante séculos aqui fez
acorrer imensas mulheres que, para evitar que lhes secasse o leite com que amamentavam
os filhos, raspavam da pedra da imagem pó para posteriormente misturar na água
que bebiam.
Ainda no interior da igreja, junto das escadas que dão
acesso ao coro, o visitante pode contemplar numa parede a pele do enorme sardão
que, segundo a lenda, surgiu a uma mulher que se dirigia ao mosteiro com um
cesto de novelos à cabeça. Face à evidência do bicho a querer comer e ao filho
que a acompanhava, implorou o auxílio de Nossa Senhora de Cárquere que, de
imediato, lhe terá aparecido e indicado que atirasse os novelos ao lagarto,
ficando, no entanto, com todas as pontas dos fios nas mãos. Ora, depois de o
animal os ter engolido, a mulher puxou todos os fios em simultâneo provocando a
morte do sardão por "engasgamento".
Uma visão mais atenta do visitante revelará, no
entanto, que não estamos perante a pele de um gigantesco sardão, mas antes de
um pequeno jacaré ou crocodilo, possivelmente oferta de algum devoto de Nossa
Senhora de Cárquere que a ela terá recorrido numa situação de aflição em terras
distantes e provavelmente enfrentando o referido animal.
Suzana
Faro e Joel Cleto
quarta-feira, 10 de julho de 2013
O inferno existe
"O facto não deixa nenhuma dúvida, pois foi até incluído
no processo de canonização de São Francisco Jerónimo, e atestado sob juramento
por muitas testemunhas oculares.
No ano de 1707, o jovem sacerdote Jesuíta, São Francisco de
Jerónimo pregava, como de costume, nos subúrbios de Nápoles e não hesitava em falar
sobre o inferno e os terríveis castigos reservados aos pecadores obstinados. Uma mulher insolente, chamada Catarina, que morava na redondeza, aborrecida com aqueles sermões que lhe traziam amargos remorsos, procurou interrompê-lo com gestos e gritos, desde a janela de sua casa. Uma vez, o santo voltou-se e disse-lhe: 'Ai de ti, filha, se resistes à graça! Não passarão oito dias, sem que Deus te castigue.'
A mulher não se perturbou com a ameaça e continuou com as suas más intenções. Passaram-se oito dias, e o santo foi pregar de novo perto daquela casa, mas desta vez as janelas estavam fechadas e ninguém o importunava. Os vizinhos que o ouviam, consternados, contaram-lhe que Catarina tinha morrido de improviso, pouco antes. 'Morreu? Disse o servo de Deus; pois bem, agora pergunto-vos: de que valeu zombar do inferno? Vamos perguntar-lhe.' Os ouvintes sentiram que o santo pronunciara aquelas palavras por inspiração divina, e por isso todos esperaram um milagre.
Acompanhado pela multidão, subiu à sala da casa, convertida em câmara ardente, e após breve oração, descobriu o rosto da morta e disse: 'Catarina, fala! Diz-nos onde estás!' A esta ordem, a defunta ergueu a cabeça, o seu rosto voltou a ganhar cor, abriu os olhos e, em atitude de tremendo desespero, proferiu, com voz lúgubre estas palavras: 'No inferno! Eu estou no inferno!'
Logo em seguida, voltou ao estado de frio cadáver. 'Eu estava presente e assisti ao facto, afirma uma das testemunhas que depuseram no tribunal eclesiástico, mas não saberia explicar a impressão que causou em mim e nos circunstantes; ainda hoje, passando perto daquela casa e olhando a tal janela, fico muito impressionado. Quando vejo aquela funesta moradia, parece-me ouvir a lúgubre voz: No inferno! Eu estou no inferno.' "
(BELTRAMI, Padre André. O inferno existe – Provas e exemplos. Artpress, São Paulo: 2007, p. 37-38)
terça-feira, 9 de julho de 2013
Ser mãe
Mãe é a pessoa mais importante da terra.
Ela não pode reivindicar para si a honra de ter construído, por exemplo, uma Catedral como a de Notre Dame. E ela não precisa. Ela construiu algo mais grandioso do que qualquer catedral - a morada para uma alma imortal, a perfeição do corpo minúsculo do seu filho. Os anjos não foram abençoados com tal graça. Eles não podem compartilhar do milagre criativo de Deus para gerar novos santos para o Céu. Só uma mãe humana pode.
Ela não pode reivindicar para si a honra de ter construído, por exemplo, uma Catedral como a de Notre Dame. E ela não precisa. Ela construiu algo mais grandioso do que qualquer catedral - a morada para uma alma imortal, a perfeição do corpo minúsculo do seu filho. Os anjos não foram abençoados com tal graça. Eles não podem compartilhar do milagre criativo de Deus para gerar novos santos para o Céu. Só uma mãe humana pode.
As mães estão mais perto de Deus Criador do que qualquer outra criatura; Deus une forças com as mães para realizar esse ato da criação.
O que na boa terra de Deus é mais glorioso do que isso, ser mãe?
Cardeal Mindszenty
domingo, 30 de junho de 2013
A Russia espalhará os seus erros pelo mundo inteiro
Quando Nossa
Senhora de Fátima apareceu aos três pastorinhos, a 13 de julho de 1917, e
disse-lhes que a “a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo inteiro”, não se
podia compreender o significado destas palavras proféticas.
Com mais de 90
anos de recuo histórico, o que vemos? O
que a história tem para nos contar, ou mostrar?
O comunismo tolheu direitos sagrados e
inalienáveis
Como reação
natural contra os abusos espoliadores do liberalismo económico, surgiu no
século XIX uma corrente económica-politico-social, que teve em Karl Marx o seu
cérebro e a sua estrutura.
O marxismo propos-se
libertar o operário de uma exploração capitalista iníqua, mas não fez mais que
enredá-lo numa escravidão mais aviltante e mais baixa do que a vivida nos
tempos anteriores ao advento da era cristã. Com efeito, esqueceu a dignidade
humana e cristã da pessoa humana, redimida por Cristo e por Ele exaltada ao pedestal
de filha de Deus, e despojou-a de direitos sagrados e inalienáveis, tais como :
o direito à liberdade, o direito a constituir família, o direito à
propriedade...
Acima de todas
estas negações, de si já graves e comprometedoras, pretendiam os sistemas
socialistas arrancar do coração do homem a sua dimensão mais nobre, ou seja, a
noção de um destino humano superior ao destino terrestre. Insurgiram-se assim,
contra uma constante ininterrupta da história multimilenária da Humanidade,
condensada na definição de Mark Twain: “O homem é um aninal religioso” (Mark
Twain, cartas da Terra).
Luta
ideológica: ciência contra a religião
Os marxistas
tentaram mostrar o fundamento terreno da religião e o seu caráter historicamente
acidental, sempre dependente das variadas formas de consciência social dos
homens e determinada pelas condições concretas da sua existência vivida em
comum.
Engels escreveu
que “toda a religião não é mais que um reflexo fantástico na mente humana
daquelas forças que dominam a vida diária, reflexo em que as forças terrenas
assumem a forma de forças sobrenaturais” (Anti-During, N. I. p. 353 apud
Charles J. Mc Fadden, tradução A. Alves de Campos, Filosofia do Comunismo,
União Gráfica, Lisboa, 1961, p. 145).
Por outro lado,
Marx afirma: “a religião não vive no Céu, mas na Terra. Morrerá por si mesma,
logo que seja destruída a realidade perversa de que ela é a teoria” (L’athéisme
militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº 115, p. 13),
referindo-se à estrutra social exploradora imperante, que era o capitalismo.
Bukharin, intelectual
e político bolchevique, defende que a “religião foi no passado, como ainda hoje
o é, um dos mais poderosos meios de que dispõem os opressores, para manter a
desigualdade, o despotismo e a obediência servil dos trabalhadores” (O ABC do
comunismo, Londres, 1922, p. 247, apud Charles J. Mc. Fadden, op. Cit. P. 149).
E Lenine conclui que “o proletariado tem que empreender uma luta aberta para
abolir a escravidão económica que é a fonte real do engano religioso da
humanidade” (Lenine, Religião, 1935, ibid. P. 152).
No programa do
Partido Comunista da URSS foi inscrito: “a realização da planificação e da
tomada de consciência, em toda a atividade social e económica das classes,
trará consigo a total destruição de preconceitos religiosos” (L’atheisme militant
en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº 115, Paris, p. 14).
Leonid Ilitchev, presidente
da Comissão ideológica do Comité Central do Partido Comunista, proclamou-se
fiel à nova tática, inaugurada em 1945 e estilizada no slogan : “ciência contra
a religão”. São dele estas palavras: “o nosso dever consiste em combater
ativamente a ideologia religiosa, criando em todos os sovietes uma concepção
científica do mundo, uma ideologia científica, uma maneira científica de agir e
de pensar” (Le rapport Ilitchev, Informations Catholiques Internationales, nº
211, p. 16).
Lamentamos não poder
transcrever na íntegra o extenso relatório Ilitchev, pois da sua simples
leitura se concluiria a intensidade da dramática ofensiva anti-religiosa de que
se revestiu a URSS no século XX, até aos anos 90. Para Ilitchev, “a religião
representa a imagem fantástica e desnaturada do mundo que paralisa o espírito
do homem com os dogmas e asfixia todo o pensamento criador” (Ibid. p.16).
Missa secreta num bosque da Ucrânia |
Encontramos em
Lenine palavras, que são expressão inequívoca
de uma linha de agir, tendente a arrancar do coração do povo as últimas
fibras de sentimento religioso: “a luta contra a Religião não deve limitar-se,
nem reduzir-se a uma disputa abstrata ou ideológica. Deve ligar-se ao movimento
prático e concreto de classes. Será sua finalidade arrancar as raízes da
Religião” (Lenine, Religião, p.14, apud Charles J. Mac Fadden, op. Cit., p.
153).
E do “programa do Partido Comunista” de 1936 salientamos: “Uma das tarefas mais importantes da revolução cultural que afeta as grandes massas, é a maneira de combater, sistemática e implacavelmente, a Religião, o ópio do povo (...). Enquanto o Estado proletário concede liberdade de cultos e suprime a posição privilegiada da Religião antes dominante (Igreja Ortodoxa), prossegue a propaganda anti-religiosa por todos os meios e reconstroi a totalidade da sua empresa educadora sobre a base de um Materialismo Científico” (Programa da Internacional Comunista, 1936, p. 54, ibid. p. 154).
Luta Política para propagar a instrução científica
e anti-religiosa, seguida de perseguição
Se no campo
ideológico manifestou-se uma hostilidade irredutível e demolidora de todos os
princípios tradicionais cristãos, que dizer da política seguida pela URSS, para
traduzir em atos essa ideologia perversa?
Para responder a
esta pergunta bastar-nos-á recorrer à história e pedir-lhe alugns depoimentos
relativos ao modo como, desde a Revolução de Outubro de 1917, até os anos
noventa, foi tratada a Religião. Não pretendemos, evidentemente, em simples
artigo, ser exaustivo em assunto, infelizmente, tão vasto e complexo.
Como medida
legislativa, foi logo incluída no artigo 9 do Decreto de 23 de Janeiro de 1918,
a nacionalização dos bens da Igreja e a interdição do ensino religioso em
estabelecimentos de ensino público e privado. O artigo 121 do Código Penal
ameaçava, além disso, com um ano de trabalhos forçados, quem se atrevesse a
ensinar matérias religiosas a jovens que não houvessem ainda atingido a
maioridade.
Em 1919, o
Partido definia assim a finalidade da sua existência: “ajudar as massas
trabalhadoras a libertar-se dos preconceitos religiosos e desenvolver para isso
a mais larga propaganda de instrução científica e anti-religiosa. Neste
trabalho, é conveniente evitar cuidadosamente qualquer ofensa aos sentimentos
dos crentes, o que iria reforçar mais o fanatismo religioso” (L’atheisme
militant en URSS, Informations Catholiques Internationales, nº cit., p. 14).
Esta cláusula do
Partido não foi, porém, seguida e dizem as estatísticas que, nos três primeiros
anos após a Revolução, foram liquidados 1.215 sacerdotes e 28 bispos.
Faltam-nos elementos para poder concretizar em números as prisões, as
deportações e as torturas, com que foi provada a fidelidade dos cristãos à sua
Fé.
Durante alguns
anos, os métodos violentos deram lugar a uma intensa campanha de doutrinação
materialista, levada até ao extremo de ironizar os meios de salvação, postos
pela Igreja à disposição dos seus fiéis.
Coincidindo com a
medida governamental da coletivização forçada, em 1929, desencadeou-se uma nova
ofensiva anti-religiosa. A “liga dos ateus militantes”, já fundada em 1925 pro
Yaroslawski, intensificou a sua ação de destruição e de ódio: foram profanadas
muitas igrejas e transformadas em armazéns ou cinemas; organizaram-se
concentrações espetaculares, para nelas serem ridicularizadas e destruídas
imagens; nas escolas é introduzido um ensino anti-religioso progressivo e
adaptado à mentalidade e desenvolvimento dos alunos.
Por volta de
1936, verificou-se uma certa distenção, visivelmente acentuada em 1941, quando
a Alemanha invadiu a Rússia. Estaline concedeu, então, aos chefes da Igreja
Ortodoxa russa, autorização de livremente organizarem a vida religiosa das suas
igrejas. Ocultar-se-ia por detás dessa medida, qualquer manovra? O que se sabe
é que essa liberdade foi “sol de pouca dura”.
Com efeito, data
de 1945 a mais diabólica perseguição, movida pelo comunismo contra as
sobrevivências religiosas; a sua arma mais poderosa, foi o uso do já citado
slogan: “ciência contra a religão”.
Em 1947, foi
fundada a Sociedade Pan-Unionista para a “Disseminação dos Conhecimentos
Políticos e Científicos”, que preenchendo, de certo modo, o vazio deixado pelo
desaparecimento da “Liga dos Ateus Militantes”, em 1941, se obstinou desde o
seu início, “em propagar a concepção materialista do mundo e lutar contra as
sobrevivências de uma ideologia estranha à consciência dos homens” (ibid. p.
15). Nos anos 60, em plena laboração, chegou a publicar por ano centenas brochuras
em várias línguas, organizou conferências nas fábricas e nas empresas, promoveu
colóquios, com o objetivo de provar a contradição intrínseca existente entre a
ciência e a religião.
Reflitamos agora sobre
o papel relevante que desempenharam na doutrinação materialista, além da Sociedade Pan-Unionista, as diversas
organizações do Partido, os Sindicatos e as “Casas e Clubes do Ateismo”. As “Casas
do Ateismo” foram instuições existentes nas principais cidades e aglomerados
populacionais, sobretudo da Ucrânia, zona onde estavam ainda mais profundamente
arreigadas as crenças religiosas. Sujeitando-se , segundo a especialidade, por
cada uma das 7 seções em que estão divididas, dedicavam-se ao estudo e à
propaganda das mais eficazes experiências
anti-religiosas. Para obter essa finalidade, as “Casas e Clubes”
organizavam serões especializados para jovens de todos os setores, para
intelectuais, para mulheres, etc., e exposições itinerantes de quadros de
pintores ucranianos e russos dos séculos XIX e XX sobre temas religiosos.
No mês de agosto
de 1959, o jornal “Pravda”, explorando talvez a presença em Moscovo de Giorgio
la Pira, Presidente da Câmara de Florença, católico convicto e amigo pessoal de
Kruschtchev, publicou um artigo bastante venenoso. Depois de recordar “que não
é permitido ofender o sentimento religioso dos crentes, usando um tom pouco
respeitoso”, insurgia-se contra o clero e os sectários, por quererem adaptar a
religião às condições modernas. E um pouco adiante, acrescentava “... para
eliminiar as superstições religiosas, é preciso um trabalho longo e difícil,
uma grande paciência e muita seriedade” (ibid., p. 17).
Foi
extraordinariamente intensa a propaganda anti-religosa na Ucrânia. Eliminado em
1946 o quadro administrativo da Igreja Católica, a vida religiosa passsou a ser
aí alimentada quase exclusivamente pela Igreja Ortodoxa Russa. Porém, também
esta foi submetida a uma autêntica perseguição, cada vez mais feroz e sanrenta.
Soube-se, por exemplo, por alguns turistas, que por lá passaram, a existência
de um “plano septenal”, que se propunha liquidar totalmente a religão até 1965.
Essa perseguição traduziu-se: no encerramenteo de mais de 500 igrejas, no curto
espaço de três anos; na supressão de mosteiros e seminários; na atribuição dos
piores crimes a bispos e sacerdotes, que foram arrastados aos tribunais e
condenados; no asfixiamento do múnus
paroquial, através da imposição brutal de impostos; enfim, no apoio de todas as
formas de manifestações e de propaganda anti-religiosa. Eis mais alguns números
que, na sua eloquência muda, apresentam aquela que era uma realidade
confrangedora:
Desde 1959 até aos
anos 90, as autoridades soviéticas fecharam ou destruíram mais de 10.000
igrejas, dispersaram umas 40 comunidades monásticas das 67 existentes, restaram
apenas 3 seminários dos 8 em atividade, foi interdita a frequência da igreja e
a recepção dos sacramentos aos jovens desde os 3 aos 18 anos...
Esta revelação
pungente, quando foi conhecido no Ocidente, levou François Mauriac a exclamar
numa reunião do Comité interconfessional francês, para esclarecer a situação
dos cristãos na URSS: “Quando o Cristo é crucificado em Moscovo e lança um
grande grito sobre a cruz, nós ouvimos em Paris! Cristo está em agonia. Nós não
devemos dormir durante este tempo”.
A “nova carta da
propaganda anti-religiosa”, a extensa declaração de Ilitchev, a que atrás nos
referimos e que foi publicada em Moscovo em 17 de Janeiro de 1964 confirma, de
maneira arrepiante, a fidelidade à ideologia marxista-leninista.
Devido a
circunstâncias, ou motivos especiais, variou por vezes a atitude do regime
soviético relativamente à Igreja: não mudou, porém, jamais, nas suas linhas
estruturais, a posição teórico-ideológica relativamente à religião.
Posição católica sobre o comunismo
Assentando, o
Cristianismo sobre a ideia de Deus, a Quem o comunismo considera “um mito”, e
sendo uma religião de vida, a que o comunismo, pela pena de Karl Marx, chama “ópio
do povo”, tendo em conta ainda o que até agora se escreveu, vem a propósito
perguntar: será possível uma aproximação, um trabalho de colaboração, o
estabelecimento de um diálogo entre a Igreja e o comunismo”.
Reproduzimos as
palavras de Pio XI, no dia 19 de março de 1937:
“... no que se
refere a erros do comunismo, já no ano de 1846, o Nosso Venerando Predecessor,
Pio IX, solenemente os condenou e confirmou tal condenação no Sylabus(...).
Mais tarde, outro
Nosso Predecessor de imortal memória, Leão XIII, na Carta Encíclica “Quod
Apostolici Muneris”, descreveu e definiu os mesmos erros como “peste mortífera
que, serpeando através das íntimas articulações da sociedade humana a
prostraria no extremo perigo de ruina e de morte”. Com visão clara de espírito
penetrante, Leão XIII revelou que o movimento de difusão e louvor ao sistema de
cultura técnica, provocando impiamente as massas para o ateísmo, tinha origem
naquela concepção filosófica, que já de há séculos se esforçava por separar a
ciência e a vida da Fé e da Igreja.
Nós também, não
por uma só vez no decurso do Nosso Pontificado, tornámos públicas com
solicitude instante essas correntes de ateismo, ferventes de ameaças e a
avolumarem-se, de contínuo, dia a dia. De verdade, quando em 1924 a Nossa
missão de socorro regressava da Rússia, em especial alocução dirigida ao orbe
católico condenamos a doutrina e o sistema comunista (18 de Dezembro de 1924).
Nas Nossas Encíclicas “Miserentissimus
Redemptor”, “Quadragesimo Anno”, “Caritate Christi”, “Acerba animi”, “Dilectissima
Nobis”, queixámo-nos doloridamente, reclamando contra as cruentas perseguições
ao nome cristão levantadas quer na Rússia, quer no México, quer finalmente na
Espanha. (Divini Redemptoris, in A Igreja e a questão social, União Gráfica,
Lisboa, 1935, pp. 200-201).
Decreto do Santo
Ofício, hoje Congregação para a Doutrina da Fé, de 1 de Julho de 1949
Foram dirigidas a
esta Suprema Congregação as seguintes perguntas:
1)
É
lícito inscrever-se em partidos comunistas ou prestar-lhes apoios?
2)
É
lícito publicar, difundir ou ler livros, periódicos, diários ou folhas volantes
que defendem a doutrina ou a prática do comunismo, ou colaborar neles com
escritos?
3)
Se os
fiéis realizam, consciente e livremente, actos a que se referem as perguntas 1
e 2 do presente Decreto, podem ser admitidos aos Sacramentos?
4)
Os
fiéis que professam a doutrina do comunismo materialista e anti-cristão, e
sobretudo os que a defendem ou propagam, incorrem “ipso facto”, como apóstatas
da fé católica, na excomunhão especialmente reservada à Sé Apostólica?
Os Eminentíssimos e reverendíssimos Padres encarregados da tutela da fé e
dos costumes, tendo presente o parecer dos Reverendíssimos Consultores na
reunião plenária de terça-feira (em vez de quarta-feira), no dia 28 de junho de
1949, decretaram que se respondesse:
Ao número 1: Negativamente: o comunismo, de facto, é materialista e
anti-cristão; e portanto, os dirigentes do comunismo, mesmo quando às vezes,
por palavras, declaram não combater a religião, de facto, contudo, na teoria e
na ação, mostram-se hostis a Deus, à verdadeira religião e à Igreja de Cristo.
Ao número 2: Negativamente, porque são actos proibidos pelo próprio direito
canónico (can. 1399).
Ao número 3: Negativamente, conforme os princípios que se referem a não
administrar os sacramentos àqueles que não têm a devida disposição.
Ao número 4: Afirmativamente (Acta Apostolicae Sedes, de 13 de julho de
1949. Cf. Joaquim Azpiazu, S. J. Firecciones Pontificias en el Ordem Social,
Madrid, 1960, pp. 361-362).
Petição de 213 Padres conciliares
“... Posto que já se vê que uma constituição doutrinária e pastoral a
respeito do marxismo, socialismo e comunismo não criará o mínimo obstáculo à ação
da Santa Sé em prol da existência pacífica de todos os homens e de todas as
nações, rogo, fundamentado nas gravíssimas razões que expus, digne-se a
Comissão para Assuntos Extraordinários do II Concílio Vaticano apresentar ao
Sumo Pontífice o desejo de muitos Bispos, e de numerosos fiéis, no sentido de
que o Santíssimo Padre determine a elaboração e o estudo de um esquema de
constituição conciliar no qual:
1)
Se
exponha com grande clareza a doutrina social católica, e se denunciem os erros
do marxismo, do socialismo e do comunismo, sob os aspectos filosófico,
sociológico e económico;
2)
Sejam
profligados aqueles erros e aquela mentalidade que preparam o espírito dos
católicos para a aceitação do socialismo, do comunismo, e que tornam propensos
aos mesmos” (Esta petição foi dirigida ao Cardeal Amelto Cicognâni, Secretário
de Estado do Vaticano, em 3 de Dezembro de 1963 e foi largamente divulgada
pelos média.
O triunfo do Imaculado
Coração de Maria
Passados os anos, vemos que os erros do comunismo esplaram-se pelo mundo
inteiro. Não há nação do Ocidente, onde a doutrina anti-cristã não tenha
progredido, perseguindo, com cada vez mais sanha, os que tem fé.
Como cristãos, uma única conclusão se nos impõe: rogar ao Senhor que nos
liberte deste terrível flagelo e que aos homens sejam universalmente
reconhecidos os seus inalienáveis direitos à liberdade de crença e de
publicamente se afirmar em sociedade.
E porque o Cristianismo é essencialmente a religião da esperança, importa
saber esperar, mesmo contra toda a esperança, de olhos fitos na Mensagem de
Nossa Senhora de Fátima: “Por fim o meu Imaculado Coração Triunfará!”
quarta-feira, 26 de junho de 2013
Jesus não pediu-nos nada em troca
É bonito fazer parte de uma associação, composta por homens de diferentes
idades, unidos no desejo comum de dar um testemunho especial da vida cristã,
servindo à Igreja e aos irmãos sem pedir nada em troca. Isso é bonito: servir
sem pedir nada em troca, como Jesus. Jesus serviu a todos nós e não nos pediu
nada em troca! Jesus fez as coisas com gratuidade; façam as coisas com
gratuidade vocês também. A sua recompensa é justamente esta: a alegria de
servir ao Senhor, e juntos! Conheçam-no sempre mais, com a oração, com as
jornadas de retiro, com a meditação da Palavra, com o estudo do catecismo, para
amá-lo mais e mais e servi-lo com um coração generoso e grande, com
magnanimidade. Esta é uma bela virtude cristã: a magnanimidade, ter um coração
grande, ampliar o coração sempre, com paciência, amar a todos; e não aquelas
pequenezas que nos fazem tanto mal, mas a magnanimidade. O seu testemunho será
mais convincente e eficaz, e o seu serviço também será melhor e mais alegre.
(Papa Francisco, Audiência, 24 junho 2013)
domingo, 23 de junho de 2013
Falando um pouco de religião
Sob o título “Falando um pouco de religião” Danuza Leão,
articulista, resolveu escrever sobre matéria que desconhece: a Igreja Católica, na Folha de São Paulo do
domingo, dia 15 de março de 2009.
Como as acusações continuam a ser repetidas e refletem uma
corrente de pessoas preconceituosas, reproduzo o artigo repleto de lacunas e de
falta de conhecimento religioso e a resposta do Prof. Felipe Aquino, doutor em
engenharia mecânica. Recentemente, recebeu o título de Cavaleiro de São Gregório
Magno, conferido pelo Papa Bento VI.
Falando um pouco de religião – Danuza Leão
EU ESTUDEI em colégio de freiras e posso falar de cadeira
dos recreios que perdi aos sete, oito anos, ajoelhada no milho na capela, para
pagar os meus pecados. Isso não é sadismo em alto grau? Fico tentando lembrar
que pecados seriam esses. Teria falado na hora da aula? Teria comido um pedaço
da sobremesa antes do almoço? Teria deixado de fazer algum dever? E as freiras
ainda nos induziam a fazer sacrifícios, tipo deixar de comer uma mariola ou uma
paçoca por amor a Deus. Sacrifício, a palavra que define a Santa Igreja
Católica. E a missa obrigatória em todos os domingos e dias santificados?
Depois disso, igreja, para mim, só em excursão turística -e assim mesmo só
algumas.
É possível considerar o desejo sexual um pecado, um orgasmo
um pecado, ter relações sexuais, mesmo de casais casados na igreja, sem outra
intenção, a não ser a de procriar, um pecado? E ao considerar quase tudo que dá
prazer um pecado, não dá para perceber o quanto as mentes católicas são
doentes? E malvadas? Os sacrifícios, tão cultuados entre os católicos -cordas
apertando a cintura, debaixo do vestido, até sangrar, eram um grande sinal de
amor a Deus. Mas o que deve acontecer naqueles conventos e seminários, com
aquele monte de moças e rapazes com seus hormônios explodindo, mas tendo que seguir
o sentido contrário ao da natureza para amar a Deus sobre todas as coisas, isso
é segredo, e jamais saberemos o que lá se passa - mas minha mão no fogo eu não
boto. Será que são todos castos? Dos padres pedófilos se fala um pouquinho, mas
logo o assunto é esquecido. E da
excomunhão dos médicos que fizeram o aborto na menina de nove anos estuprada
não vou nem falar, porque tudo já foi dito.
Para a Santa Madre Igreja, quanto mais se sofre mais se tem
direito ao reino dos céus. Quem tiver uma doença grave será recompensado, se
for cego, surdo, mudo e paralítico, é considerado um santo, praticamente, e ai
dos que são felizes, dão risadas e gostam da vida. Estes estão condenados às
trevas do inferno. Para ser um católico de verdade é preciso sofrer, e quanto
mais, melhor. Como têm prestígio as carolas vestidas de preto, com um véu na
cabeça e um terço na mão, falando que este mundo está perdido (e levando um
pratinho de biscoitos para os padres). Perdido está quem não aproveitou esta
vida e nunca ouviu falar em felicidade, pois o
que vem depois ninguém sabe direito. Pelo menos, ninguém voltou pra
contar.
Mas também me revoltam as invenções praticadas em nome de
Deus, das mais banais às mais revoltantes. Quem pode, em sã consciência, jurar
amor "até que a morte nos separe?" Quem faz uma jura dessas é
hipócrita, porque até as crianças do jardim-de-infância sabem que a vida não é
assim. Mas do que os cardeais gostam mesmo é dos paramentos, das vestes de
brocado, dos cálices de ouro, dos tronos incrustados de pedrarias, do luxo das
igrejas de ouro, dos quadros mais preciosos deste mundo e de dar declarações
absolutamente inúteis, tipo "o papa está muito preocupado com a fome no
mundo", como se essa preocupação resolvesse alguma coisa. Esse papa,
aliás, que veste Armani e sapatos vermelhos de Prada. Se o Vaticano se
desfizesse de metade de seus tesouros, é bem possível que não houvesse mais
fome no mundo. Fui batizada, crismada e
fiz a primeira comunhão, mas não cheguei ao ponto de me casar no religioso; e
não me incomodaria nem um pouco se fosse excomungada.
Carta do professor Felipe Aquino para a articulista,
escritora e socialite Danuza Leão.
"Com muito
respeito gostaria de lhe escrever. Que você não se importe de ser excomungada,
não me surpreende, falta-lhe o dom da fé; mas dizer que se a Igreja vendesse os
seus bens acabaria com a fome no mundo, isso é demais! Você sabia que o Vaticano é proibido de
vender a menor peça do Museu do Vaticano, uma vez que o Direito Internacional o
proíbe por ser o Vaticano apenas o
guarda disso tudo, segundo o Tratado do Latrão assinado com a Itália? Você sabe
qual é o tamanho do Vaticano? Resposta: 0,44 km quadrados; não cabe nem um campo de
aviação. Aliás, sabe quantos aviões tem o Papa? Zero. E ele é um Chefe de
Estado; existe algum que seja tão carente?
Fiquei arrepiado com
tanta bobagem e preconceito que você destilou em sua matéria.
Como você, eu também
estudei em colégio católico, salesiano, graças a Deus; e assistia a missa todos
os dias, graças a Deus, e ainda hoje a assisto todos os dias, graças a Deus; é
a grande alegria do meu dia (o Sacrifício do Calvário) que nos salva. Você
despreza o seu Batismo e a sua Crisma; eu quero lhe dizer que o único diploma
que eu tenho coragem de expor na parede do meu escritório é a minha certidão de
Batismo; ele me abriu as portas do Céu, me deu a graça de ser membro de Cristo,
da Igreja, herdeiro do Céu. O resto... vai ficar na terra.
Estudei física e matemática, fiz mestrado na Universidade
Federal de Itajubá e doutorado no ITA em Ciências Aeroespaciais, fiz pós-doutorado
na UNESP; fui diretor de um campus da USP em Lorena, SP, por quase vinte anos,
sempre eleito por meus pares. Digo isso para você saber que não sou um
ignorante que faz da religião uma fuga; ou da Igreja um escudo de proteção; sou
católico convicto.
O que lhe faltou, Danuza, infelizmente, foi ter conhecido a
Igreja mais a fundo, mais de perto; faltou a você e a tantos que hostilizam a
Igreja, nossa Mãe, Corpo místico de Cristo, estudar um pouquinho de teologia:
cristologia, história da Igreja, escatologia, mariologia, dogmática, exegese
bíblica, hermenêutica, liturgia, moral, mística... Se você tivesse estudado um
pouquinho disso tudo; se os seus conhecimentos de Religião não ficassem apenas
do tamanho do seu vestidinho de Primeira Comunhão, tudo seria diferente em sua
vida; e você não estaria pisando tanto e maldosamente na Igreja que Cristo
fundou para a nossa Salvação; mas, ainda é tempo...
O que de melhor seus
pais bondosos lhe deram, foi a Fé; não a jogue fora. A vida terrena passa, o
corpo se extingue, a velhice chega, a morte se aproxima, mas a alma sobrevive.
CUIDE DELA!
Jesus disse: "de que vale ao homem ganhar o mundo
inteiro se vier a perder a sua alma"?
domingo, 5 de maio de 2013
Retrato de mãe
Existe uma mulher que tem algo de Deus pela imensidão do seu amor, e muito de anjo pela incansável solicitude dos seus cuidados; uma mulher que, sendo jovem, tem a prudência de uma anciã e, sendo idosa, trabalha com o vigor da juventude.
A mulher que, se é ignorante, descobre os segredos da vida com mais acerto que um sábio e, se é instruída, adapta-se à simplicidade das crianças; uma mulher que, sendo rica, daria com gosto o seu tesouro para não sofrer no coração a ferida da ingratidão.
Uma mulher que, sendo débil, se reveste, às vezes, com a bravura do leão; uma mulher que, enquanto vive, não a sabemos estimar porque ao seu lado todos as dores são esquecidas, mas que, depois da morte, daríamos tudo o que somos e temos para a ver novamente, um instante que fosse, para receber dela um abraço, para ouvir o suave timbre da sua voz.
Não me exija pronunciar o nome desta mulher, se não quiser que ensope de lágrimas este álbum: porque eu a vi passar pelo meu caminho.
Quando os seus filhos crescerem, leia para eles esta página; e eles, cobrindo a sua fronte beijos, saberão que um pobre viajante, em troca da suntuosa hospedagem recebida, deixou-lhes aqui o retrato da sua mãe.
A mulher que, se é ignorante, descobre os segredos da vida com mais acerto que um sábio e, se é instruída, adapta-se à simplicidade das crianças; uma mulher que, sendo rica, daria com gosto o seu tesouro para não sofrer no coração a ferida da ingratidão.
Uma mulher que, sendo débil, se reveste, às vezes, com a bravura do leão; uma mulher que, enquanto vive, não a sabemos estimar porque ao seu lado todos as dores são esquecidas, mas que, depois da morte, daríamos tudo o que somos e temos para a ver novamente, um instante que fosse, para receber dela um abraço, para ouvir o suave timbre da sua voz.
Não me exija pronunciar o nome desta mulher, se não quiser que ensope de lágrimas este álbum: porque eu a vi passar pelo meu caminho.
Quando os seus filhos crescerem, leia para eles esta página; e eles, cobrindo a sua fronte beijos, saberão que um pobre viajante, em troca da suntuosa hospedagem recebida, deixou-lhes aqui o retrato da sua mãe.
(Dom Ramon Angel Jara, Bispo de La Serena,Chile)
Dom Ramón Ángel Jara nasceu em Santiago do
Chile no dia 2 de agosto de 1852. Começou os seus estudos como os padres franceses no Colegio dos Sagrados Corações de Valdivia e em 1862 incorporou-se no
seminario de Santiago, onde alcançou o grau de bacharel em humanidades. Posteriormente ingressou na Universidade do Chile para seguir advocacia, mas em 1874 abandonou os estudos de direito para ser sacerdote. Foi ordenado no dia 16 de setembro de 1876. Cheou a ser o quinto bispo de San
Carlos de Ancud e também o quinto bispo de La Serena. Distinguiu-se pela sua grande eloquência, a qual lhe valeu os títulos de "primeiro orador
eclesiástico do Chile”, “primeiro orador católico do século”, “cisne da
eloquência sagrada” e “o Crisóstomo chileno”. Faleceu na cidade de Serena
no dia 9 de março de 1917, sendo sepultado na catedral diocesana.
Escreveu este retrato no álbum de visita de uma hospedagem em Lo Nieve, Los Ángeles, Chile.
Escreveu este retrato no álbum de visita de uma hospedagem em Lo Nieve, Los Ángeles, Chile.
segunda-feira, 22 de abril de 2013
O judeu Raposo Tavares e os jesuítas
Há um mistério em torno da vida de Raposo Tavares. Foi o verdadeiro explorador de um continente mas, em seu tempo, totalmente ignorado
Pesquisas recentes acrescentaram um fato novo à história dos bandeirantes: a origem judaica de Antônio Raposo Tavares.
Natural do Alentejo, Raposo foi criado pela madrasta, Maria da Costa, em uma casa onde se praticavam as cerimônias e festas judaicas clandestinamente. Maria foi presa pela Inquisição, juntamente com vários membros da família, e confessou sob tortura seu judaísmo secreto.
Raposo Tavares chegou em São Paulo aos 18 anos, com seu pai e um irmão. Em 1628, atacou as reduções jesuíticas, expulsou os jesuítas do Paraguai, fez recuar a expansão castelhana e apossou-se das terras, que foram incorporadas ao Brasil. Descrentes e iconoclastas, os bandeirantes demoliam as igrejas, quebravam as imagens sagradas e matavam os jesuítas.
A historiografia brasileira tem atribuído a fúria devastadora com que os bandeirantes se lançaram contra as reduções jesuíticas a motivações econômicas, como a posse dos índios e a busca de metais preciosos. Sem excluir esses interesses, um mergulho nos documentos revela que uma forte razão ideológica os movia, pois quase todos os bandeirantes tinham membros da família nos cárceres inquisitoriais.
De fato, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lima já funcionava desde 1570, e exatamente entre 1635 e 1639, no auge das Bandeiras, foram condenadas por ele 80 pessoas, 64 das quais por judaísmo.
Os jesuítas do Brasil já eram cúmplices da Inquisição portuguesa desde que esta enviou ao país, em 1591, a primeira visitação. Toda correspondência dos inquisidores referente à prisão dos hereges brasileiros era enviada ao provincial da Companhia de Jesus.
Nessas cartas, os paulistas eram apontados como "judeus encobertos", "falsos cristãos" e acusados dos crimes mais vis. E nas crônicas jesuíticas, os bandeirantes, além de judeus, eram chamados de corsários, facínoras, bestas e feras.
Felipe 6º ordenou ao vice-rei do Brasil que Raposo Tavares fosse entregue à Inquisição. Um acaso impediu que o bandeirante fosse preso e morresse queimado: eclodiu então a revolução que separou Portugal da Espanha e a ordem ficou sem efeito.
Em 1647, Raposo Tavares partiu para a maior expedição de descobrimento de todo o mundo. Um dos seus mais surpreendentes resultados foi conhecer, pela primeira vez, a extensão da América do Sul. Raposo Tavares dilatou o Brasil e foi o descobridor de um continente. Júlio de Mesquita Filho o caracterizou como "o herói de uma das mais famosas façanhas de que guarda memória a história da humanidade".
Há um mistério até hoje não desvendado em torno da vida de Raposo Tavares. Entre 1642 e 1647, seu nome não aparece nas atas da Câmara e em nenhum documento. Foi o verdadeiro explorador de um continente mas, em seu tempo, totalmente ignorado. Jaime Cortesão, o famoso historiador português, chama esse fato de "conspiração do silêncio" e pergunta: onde esteve Raposo durante esses anos e como explicar esse silêncio? Até que ponto está relacionado à sua origem judaica?
Na verdade, não sabemos qual foi a dimensão de seu judaísmo. Sabemos que Raposo Tavares, questionado sobre qual lei o autorizava a se contrapor aos jesuítas, respondeu: "A lei que Deus deu a Moisés". E sabemos, principalmente, que ele representou os contestadores dos regimes de opressão e do fanatismo.
Além de explorador, foi um revolucionário, um político e um idealista. Cortesão ergueu Raposo Tavares ao pedestal dos homens que construíram o Brasil.
ANITA WAINGORT NOVINSKY, historiadora, é professora livre-docente da USP
sábado, 20 de abril de 2013
Toda ideologia falsifica o Evangelho
A voz de Jesus "passa pela nossa mente e vai ao coração, porque Jesus procura a nossa conversão”. Paulo e Ananias, acolhendo a Cristo na sua vida, “respondem como os grandes da história da salvação, com Jeremias, Isaías”.
A confusão e a incerteza são típicos de todos os profetas, incluindo Moisés, que se pergunta: "Mas, Senhor, eu não sei falar, como irei dizer isso aos egípcios?" enquanto a Virgem Maria encontra-se a conceber o Filho de Deus, o Salvador da humanidade, sem ser casada, ou "conhecer homem".
O salto de qualidade típico de todos os profetas e santos é a "resposta de humildade", ou a aceitação da Palavra de Deus "com o coração". Todo o contrário da lei, que “respondem só com a cabeça” e assim se fazem impermeáveis para qualquer conversão.
Atualizando o conceito, Papa Francisco identificou nos “grandes teólogos” do nosso tempo, outra categoria de pessoas que “respondem somente com a cabeça”, e não compreendem que a Palavra de Jesus “vai para o coração porque é Palavra de amor, é palavra bonita e traz o amor, nos faz amar”
Quando eles descobrem que quem não comer a carne de Jesus e não beber Seu sangue, não vai ganhar a vida eterna, entram em crise: não conseguem ir além do conceito material e convencional do ato de comer carne.
Entra portanto um “problema de intelecto” e quando a ideologia entra “na inteligência do Evangelho, não se entende nada”, observou o Pontífice.
Nem mesmo o "moralismo" é uma estrada viável: mesmo quem insiste em ver em Jesus uma mera “estrada do dever”, de fato, cai na armadilha da pretensão de compreender tudo somente “com a cabeça”. Quem tem uma atitude assim carrega tudo “sobre os ombros
Toda ideologia “é uma falsificação do Evangelho” e aqueles que a sustentam são “intelectuais sem talento, eticistas sem bondade”; não entendem nem sequer de beleza. Ao longo da estrada do amor, da beleza e do Evangelho avançam pelo contrário os Santos que, com a humildade da sua conversão, “levam adiante a Igreja”.
A oração final do Santo Padre foi portanto por uma Igreja de coração aberto, livre de “qualquer interpretação ideológica” e fundamenta somente no Evangelho “que nos fala do amor e nos leva ao amor” e “nos faz belos”, dando-nos “a beleza da santidade”.
Papa Francisco, Homilia, Santa Marta, 19 de abril de 2013
A confusão e a incerteza são típicos de todos os profetas, incluindo Moisés, que se pergunta: "Mas, Senhor, eu não sei falar, como irei dizer isso aos egípcios?" enquanto a Virgem Maria encontra-se a conceber o Filho de Deus, o Salvador da humanidade, sem ser casada, ou "conhecer homem".
O salto de qualidade típico de todos os profetas e santos é a "resposta de humildade", ou a aceitação da Palavra de Deus "com o coração". Todo o contrário da lei, que “respondem só com a cabeça” e assim se fazem impermeáveis para qualquer conversão.
Atualizando o conceito, Papa Francisco identificou nos “grandes teólogos” do nosso tempo, outra categoria de pessoas que “respondem somente com a cabeça”, e não compreendem que a Palavra de Jesus “vai para o coração porque é Palavra de amor, é palavra bonita e traz o amor, nos faz amar”
Quando eles descobrem que quem não comer a carne de Jesus e não beber Seu sangue, não vai ganhar a vida eterna, entram em crise: não conseguem ir além do conceito material e convencional do ato de comer carne.
Entra portanto um “problema de intelecto” e quando a ideologia entra “na inteligência do Evangelho, não se entende nada”, observou o Pontífice.
Nem mesmo o "moralismo" é uma estrada viável: mesmo quem insiste em ver em Jesus uma mera “estrada do dever”, de fato, cai na armadilha da pretensão de compreender tudo somente “com a cabeça”. Quem tem uma atitude assim carrega tudo “sobre os ombros
Toda ideologia “é uma falsificação do Evangelho” e aqueles que a sustentam são “intelectuais sem talento, eticistas sem bondade”; não entendem nem sequer de beleza. Ao longo da estrada do amor, da beleza e do Evangelho avançam pelo contrário os Santos que, com a humildade da sua conversão, “levam adiante a Igreja”.
A oração final do Santo Padre foi portanto por uma Igreja de coração aberto, livre de “qualquer interpretação ideológica” e fundamenta somente no Evangelho “que nos fala do amor e nos leva ao amor” e “nos faz belos”, dando-nos “a beleza da santidade”.
Papa Francisco, Homilia, Santa Marta, 19 de abril de 2013
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