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domingo, 19 de fevereiro de 2023

Como era o Carnaval em Roma há duzentos anos?

 


Roma foi a cidade em que se celebrava, com maior brilho e variedade, o Carnaval, uma palavra que deriva do latim “carnelevare” (carne levare), ou seja, remover a carne.

Nestes dias, tinha-se a impressão de que as hierarquias tinham sido abolidas. Os trabalhadores manuais da mais simples condição, conviviam com os grandes senhores, quebrando as normas sociais, à semelhança dos dias de “Saturnália” na Roma Antiga, em que os senhores serviam os seus escravos.

O Carnaval começava onze dias antes da Quarta-feira de Cinzas e durava até à noite da Terça-feira, chamada “gorda”, excetuando as sextas-feiras e domingos. No total, eram oito dias de festividade. Segundo o escritor Jacques Marquet de Montbreton, barão de Norvins, que chegou a ser Chefe de Polícia em Roma, quando esta cidade fora ocupada por Napoleão, em 1818, o Carnaval só durava um dia, tendo sido o Papa Pio VII a acrescentar sete outros.

Já nos dias que precediam a festa, a cidade passava por uma enorme agitação. Era o vai-e-vem de pessoas que compravam as suas fantasias, tecidos e tudo o que fosse necessário para a fantasia escolhida. Os mais pobres, como nos nossos dias, faziam empréstimos ou até mesmo vendiam parte da mobília das suas casas, para adquirem um traje de Carnaval ou uma simples máscara. Trabalhadores montavam andaimes sobre alguns pontos estratégicos e arquibancadas para os espectadores. 

A Via do Corso, antiga Via Lata, as Praças do Popolo, Colonna, de Veneza, etc., e as ruas adjacentes eram o teatro das animações e com muita antecedência, as janelas já estavam alugadas, por romanos ou estrangeiros, a preços muito elevados e até mesmo exorbitantes em alguns pontos mais procurados. Todas as janelas ou varandas desta parte da cidade ficavam cobertas com tecidos de cores vivas, sedas, veludos damascos, etc.

Na manhã do primeiro dia, erguia-se a "Mannaia", o cadafalso. Sim, um patíbulo! Para não estragar a festa, quando um criminoso era condenado à morte nestes dias, antecipava-se a execução, antes do toque do sino do Capitólio, que dava início ao Carnaval.

À uma da tarde, este sino, conhecido como "Patarina", tinha sido levado de Viterbo para Roma pelo exército papal (naquela época o Papa também era Rei e tinha exército para defender os Estados Pontifícios!). Ele só tocava para anunciar a eleição de um Papa e a abertura do Carnaval. Assim que era soado, as carruagens de dois, quatro ou seis cavalos entravam no Corso, já repleto de "Pierrots", palhaços, dominós, marqueses, camponeses, cavaleiros e pessoas vestidas com todo o tipo de fantasias. As carruagens desciam em cortejo de duas filas, uma subia e a outra descia a rua, assediadas pela multidão que caminhava mascarada e fantasiada. Alguns grupos reproduziam cenas mitológicas, outros cenas históricas, mas não com conotações políticas (pois tinham sido proibidas pelo Papa), outros ainda juntavam-se para dar corpo a animais fabulosos, gigantes, monstros e apresentarem-se no Corso. Muitos lançavam confeitos (confetti), do tamanho de ervilhas, que eram de açúcar, quando atirados pelos nobres, e em gesso quando vinham dos burgueses ou plebeus. Eles “choviam” de todos os lados, das janelas, das carruagens, e as crianças disputavam as que caiam ao chão, quando valia a pena.

De algumas carruagens, eram atiradas flores, sacos de papel, laranjas e até ovos cheios de farinha.

O pintor Vien deixou-nos desenhos a preto e branco e colorido com a caravana do Sultão da Meca, onde podemos apreciar a riqueza de algumas carruagnes e dos belos trajes do Carnaval de Roma de 1748.




Os últimos três dias de Carnaval, ou seja, sábado, segunda-feira e terça-feira, a animação crescia nas ruas, sendo o último dia o mais tumultuoso. Às quinze horas, da Praça do Popolo e de Veneza o som das caixas anunciava que a corrida de cavalos ia começar. Estes cavalos tinham o nome de Barberi, dos Bérberes, apesar de poucos acreditarem ser verdadeiramente desta raça.

As caixas tocavam durante meia hora, a fim de que todas as carruagens pudessem deixar livre a Via do Corso. A polícia, com espada na mão, passava à galope para expulsar quem ainda ali estivesse. Um cabo grosso era estendido na Praça do Popolo e atrás dele, doze ou quinze cavalos, cobertos com belíssimas fitas de ouropel, sem selas, mas com jóqueis destemidos que seguravam as suas crinas. Sobre as cabeças dos animais, plumas de diversas cores, permitiam distinguir facilmente o vencedor.  


A multidão impacientava-se diante do espetáculo e começava a gritar: “La mossa! La mossa!”, ou seja, o início da corrida! De repente, o cabo caia, e os “barberi” avançavam. Em dois minutos percorriam 1.686 metros, até chegarem diante de um grande tecido que barrava a Via del Corso, entre os palácios Torlonia e Veneza. Do alto de uma varanda do Palácio de Veneza, o juiz da corrida proclamava o vencedor. Ovacionado, o joquei recebia o prémio: um rolo de tecido precioso, fornecido pelos israelitas de Roma. Com efeito, por um trato com o governo, deixavam de ser obrigados a correr, eles também, no meio dos insultos da população, pelo facto de terem pedido e serem, de alguma forma, responsáveis pela morte de Jesus.

Esta corrida dos "barbieri" repetia-se todos os dias e com ela, concluía-se um dia de Carnaval. Contudo, na terça-feira gorda, assim que a corrida acabava, ouvia-se o grito: “moccoli ou moccoletti”. 



Tratavam-se de pequenas “velas”, que aos poucos começavam a iluminar o Corso. A multidão pulava e mexia as suas velas até ouvirem o sino que indicava a morte do Carnaval. A obscuridade a mais profunda sucedia à iluminação feérica. Jantava-se em casa ou nas “tratorias” e, à meia-noite Roma calava-se. A Quaresma, tempo de oração, de penitência e caridade, substituía a festa, os dias de Carnaval.

Ao ler este relato, retirado do livro “As festas celebradas: da Antiguidade, da Idade Média e dos tempos modernos”, de autoria de Frédéric Bernard, editado em Paris no ano de 1883, podemos ter uma noção da evolução do mundo em menos de dois séculos. De uma festa alegre, inocente e popular, como tantas outras da nossa sociedade, o Carnaval passou a ser uma celebração em que tudo é permitido, especialmente do ponto de vista da imoralidade. Estamos a evoluir ou a regredir?


domingo, 5 de fevereiro de 2023

Orgulho e independência, espírito protestante e modernista: o risco do cisma alemão

 

Lutero diante da Dieta de Worms

O Sínodo Alemão está a propor a aprovação do casamento homossexual, ordenação de mulheres, fim do celibato obrigatório dos sacerdotes, e outros pontos contrários à doutrina católica.

Já no ano passado, o Vaticano, citando as palavras de Francisco contidas na Carta ao Povo de Deus, relembrou: "A Igreja universal vive nas e das Igrejas particulares, assim como as Igrejas particulares vivem e florescem na e da Igreja universal, e se se encontram separadas de todo o corpo eclesial, se enfraquecem, apodrecem e morrem. Daí a necessidade de manter sempre viva e eficaz a comunhão com todo o corpo da Igreja". E lembra que o Sínodo "não tem poder para obrigar bispos e fiéis", nem criar "novas formas de governo e novas abordagens de doutrina e moral".

Em finais de janeiro deste ano, Dom Georg Batzing, presidente da Conferência Episcopal alemã admitiu que Roma e a Igreja alemã têm "ideias fundamentalmente diferentes sobre a sinodalidade": "O Papa a entende como uma ampla coleta de impulsos vindo de todos os cantos da Igreja, depois os bispos deliberam mais concretamente a respeito, e no final, tem um homem no vértice que toma a decisão. Eu não acredito que esse seja o tipo de sinodalidade sustentável no século XXI”.

Estas palavras mostram-nos como a Hierarquia Católica alemã está imbuída do espírito protestante e faz lembrar as palavras de São Pio X, referidas pelo Padre Emmanuel Bailly:

“A Alemanha é a nação que mais me preocupa. Não posso promulgar uma decisão, sem que os alemães pretendam não ter de se submeter e apresentem razões para não obedecer.

Encontro obstinações persistentes, seja entre os fiéis, seja entre os membros do clero. Eles adquiriram, sem dúvida, estas disposições de orgulho e de independência nas suas Universidades imbuídas do espírito protestante e modernista.

É o país menos submisso ao Papa. De lá vêm atualmente as dolorosas dificuldades no governo da Igreja”.  

Do século XIX ao XXI, a situação só piorou. Hoje, poucos ficariam espantados se começassem a ouvir que a Igreja Alemã se dividiu entre os que são fiéis aos ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao Evangelho, ao Magistério da Igreja e ao Papa e os que criaram uma nova seita, fiéis ao espírito do mundo, que se somaria às centenas de ramificações do protestantismo.

Que Deus nos livre de mais um cisma, que desfiguraria a Esposa Mística de Nosso Senhor Jesus Cristo e tanta confusão e dano ocasionaria nas consciências e corações dos católicos alemãs e de todo o mundo!

domingo, 15 de janeiro de 2023

Barbárie contra a Igreja católica na Nigéria

 


No passado dia 14 de janeiro, pelas 3 horas da madrugada, a residência paroquial da Igreja de São Pedro e de São Paulo em Kafin-Koro, na região de Paikoro, na Nigéria foi invadida por indivíduos armados. Neste brutal ataque, o pároco, Padre Isaac Achi foi queimado vivo e o P. Collins, seu assistente, ao tentar fugir, ficou gravemente ferido, atacado pelas costas.

Mais um ataque hediondo e covarde contra um ministro de Deus neste país africano. Uma notícia que começa a fazer-se constante nos noticiários, mas que recebe pouca difusão na Europa.

Fortes críticas do Cardeal Pell ao Pontificado de Francisco

 


Durante a Quaresma de 2022, no dia 15 de março de 2022, o jornalista italiano Sandro Magister publicou no seu Blogue Sétimo Céu, um memorando com fortes críticas ao Pontificado de Francisco. O documento estava assinado por um pseudónimo: Demos.

No dia 11 de janeiro de 2023, ficamos a saber que o seu autor, segundo Sandro Magister, é o Cardeal George Pell, que faleceu aos 81 anos, no dia 10 de janeiro de 2023, no Hospital Internacional Salvator Mundi de Roma, após ter sido submetido a uma cirurgia no quadril.

 No documento, podem-se ler as seguintes críticas:

 Os comentaristas de todas as escolas, mesmo que por razões diferentes, com a possível exceção do padre Spadaro, SJ, concordam que este pontificado é um desastre sob muitos ou mais aspetos, uma catástrofe.

 1)     O sucessor de São Pedro é a rocha sobre a qual está edificada a Igreja, uma grande fonte e causa de unidade mundial. Historicamente, a partir de Santo Irineu, o papa e a Igreja de Roma têm um papel único em preservar a tradição apostólica, a regra da fé, em garantir que as igrejas continuem ensinando aquilo que Cristo e os apóstolos ensinaram. Anteriormente, o lema era: “Roma locuta. Causa finita est” [Roma falou, a causa acabou]. Hoje é: “Roma loquitur. Confusio augetur” [Roma fala, cresce a confusão].

 a) O Sínodo alemão fala de homossexualidade, de mulheres sacerdotes, de comunhão para os divorciados. E o papado se cala.

            b) O cardeal Hollerich rejeita o ensino cristão sobre a sexualidade. E o papado se cala. Isso é duplamente significativo, porque o cardeal é explicitamente herético; não usa palavras em código ou alusões. Se o cardeal continuar sem a correção romana, isso representará outra rutura mais profunda na disciplina, com poucos (ou nenhum?) precedentes na história. A Congregação para a Doutrina da Fé deve agir e falar.

         c) O silêncio é ainda mais evidente quando se choca com a perseguição ativa dos tradicionalistas e dos mosteiros contemplativos.

     2)     A centralidade de Cristo no ensino se enfraquece; Cristo é removido do centro. Às vezes, Roma parece até confusa sobre a importância de um rigoroso monoteísmo, aludindo a um certo conceito mais amplo de divindade; não propriamente panteísmo, mas como uma variante do panteísmo hindu.

            a) Pachamama é idólatra, embora talvez não tenha sido entendida como tal inicialmente.

            b) As freiras contemplativas são perseguidas, e existem tentativas para mudar os ensinamentos dos carismáticos.

            c) A herança cristocêntrica de São João Paulo II na fé e na moral é objeto de ataques sistemáticos. Muitos professores do instituto romano para a família foram afastados; a maioria dos estudantes foi embora. A Academia para a Vida está gravemente prejudicada; por exemplo, alguns de seus membros recentemente defenderam o suicídio assistido. As pontifícias academias têm membros e oradores convidados que defendem o aborto.           

3)    O não respeito pela lei no Vaticano corre o risco de se tornar um escândalo internacional. Esses problemas foram concretizados no processo em andamento no Vaticano contra 10 acusados de negligência financeira, mas o problema é mais antigo e mais amplo.  

a) O papa mudou a lei quatro vezes durante o processo para ajudar a acusação.

            b) O cardeal Becciu não foi tratado com justiça, porque foi removido do seu cargo e destituído das suas dignidades cardinalícias sem nenhuma prova. Ele não recebeu o devido processo. Todos têm direito a um devido processo.

            c) Como chefe do Estado vaticano e fonte de toda autoridade de lei, o papa se serviu desse poder para interferir nos procedimentos judiciários. 

d) O papa às vezes, se não frequentemente, governa com decretos pontifícios, motu proprio, que eliminam o direito de apelação das pessoas afetadas.

            e) Muitos membros do pessoal, muitas vezes sacerdotes, foram expulsos às pressas da Cúria vaticana, muitas vezes sem uma razão válida.

            f) As escutas telefônicas são praticadas regularmente. Não tenho certeza do quão frequentemente isso é autorizado.

            g) No processo inglês contra Torzi, o juiz criticou duramente os acusadores públicos vaticanos. Estes ou são incompetentes e/ou foram condicionados, impedidos de fornecer o quadro completo.

            h) A irrupção da Gendarmeria vaticana sob o comando do Dr. Giani, em 2017, no escritório do auditor Libero Milone, em território italiano, provavelmente foi ilegal e, de todos os modos, foi intimidatória e violenta. É possível que as provas contra Milone tenham sido fabricadas.

4)    A situação financeira do Vaticano é grave. Nos últimos 10 anos (pelo menos) quase sempre houve déficits financeiros. Antes da Covid, esses défices eram de cerca de 20 milhões de euros ao ano. Nos últimos três anos, foram cerca de 30-35 milhões de euros ao ano. Os problemas remontam a antes do Papa Francisco e também do Papa Bento XVI.

            a) O Vaticano enfrenta um pesado déficit dos fundos de pensão. Por volta de 2014, os especialistas da Cosea [Comissão de Estudos sobre as Atividades Econômicas] estimavam que em 2030 o déficit seria de cerca de 800 milhões de euros. Isso antes da Covid.

            b) Estima-se que o Vaticano perdeu 217 milhões de euros no prédio da Sloane Avenue, em Londres. Nos anos 1980, o Vaticano foi obrigado a desembolsar 230 milhões de dólares após o escândalo do Banco Ambrosiano. Devido à ineficiência e à corrupção, nos últimos 25-30 anos, o Vaticano perdeu pelo menos outros 100 milhões de euros e provavelmente vários mais, talvez 150-200 milhões.

             c) Apesar da recente decisão do Santo Padre, os processos de investimento não foram centralizados (como recomendado pela Cosea em 2014 e tentado pela Secretaria da Economia em 2015-2016) e permanecem desprovidos do conselho de especialistas. Durante décadas, o Vaticano lidou com financistas de má reputação, evitados por todos os banqueiros que gozam de estima na Itália.

            d) O rendimento das 5.261 propriedades imobiliárias vaticanas continua escandalosamente baixo. Em 2019, a receita média (antes da Covid) era de quase 4.500 dólares por ano. Em 2020, era de 2.900 euros por propriedade.

            e) O papel mutável do Papa Francisco nas reformas financeiras (progressos incompletos, mas substanciais na redução da criminalidade, muito menos bem-sucedidos, exceto no IOR, em termos de rentabilidade) é um mistério e um enigma.

            Inicialmente, o Santo Padre defendeu fortemente as reformas. Depois, impediu a centralização dos investimentos, opôs-se às reformas e à maioria das tentativas de desmascarar a corrupção e defendeu (então) o arcebispo Becciu, no centro do establishment financeiro vaticano. Depois, em 2020, o papa se voltou contra Becciu, e, no fim, 10 pessoas foram processadas e acusadas. Ao longo dos anos, poucas ações penais foram iniciadas a partir das indicações de infração da AIF [Autoridade de Informação Financeira].

            Os auditores da Price Waterhouse & Cooper foram afastados, e o auditor geral Libero Milone foi forçado a renunciar em 2017, com acusações inventadas. Estavam chegando perto demais da corrupção na Secretaria de Estado.

 

5)    A influência política do Papa Francisco e do Vaticano é insignificante. Intelectualmente, os escritos papais mostram um declínio em relação aos níveis de São João Paulo II e do Papa Bento XVI. As decisões e as linhas políticas são muitas vezes “politicamente corretas”, mas houve graves falhas em defender os direitos humanos na Venezuela, em Hong Kong, na China continental e agora na invasão russa.

Não houve nenhum apoio público aos fiéis católicos na China que foram perseguidos intermitentemente pela sua fidelidade ao papado por mais de 70 anos. Nenhum apoio público vaticano à comunidade católica na Ucrânia, particularmente aos greco-católicos.

             Esses temas deveriam ser revisitados pelo próximo papa. O prestígio político do Vaticano está agora em um nível baixo.

 

6)    Em um nível diferente, menor, deveria ser regularizada a situação dos tradicionalistas tridentinos (católicos).

            Em um nível ainda mais modesto, deveria ser novamente permitida a celebração das missas “individuais” e com pequenos grupos pela manhã na Basílica de São Pedro. Neste momento, essa grande basílica, no início da manhã, é como um deserto.

            A crise da Covid encobriu a forte queda no número de peregrinos presentes nas audiências papais e nas missas.

            O Santo Padre tem pouco apoio entre seminaristas e jovens sacerdotes, e existe uma ampla desfiliação na Cúria vaticana.

            O próximo conclave

1) O Colégio dos Cardeais foi enfraquecido por nomeações excêntricas e não foi mais reconvocado após a rejeição das posições do cardeal Kasper no consistório de 2014. Muitos cardeais são desconhecidos uns dos outros, acrescentando uma nova dimensão de imprevisibilidade ao próximo conclave.

            2) Depois do Vaticano II, as autoridades católicas muitas vezes subestimaram o poder hostil da secularização, do mundo, da carne e do diabo, especialmente no mundo ocidental, e superestimaram a influência e a força da Igreja Católica.

            Estamos mais fracos do que há 50 anos, e muitos fatores estão fora do nosso controle, pelo menos em curto prazo, por exemplo, a queda no número dos fiéis, a frequência das presenças nas missas, o desaparecimento ou a extinção de muitas ordens religiosas.

             3) O papa não precisa ser o melhor evangelizador do mundo, nem uma força política. O sucessor de Pedro, como chefe do Colégio dos Bispos, que também são os sucessores dos apóstolos, tem um papel fundamental para a unidade e a doutrina. O novo papa deve entender que o segredo da vitalidade cristã e católica vem da fidelidade aos ensinamentos de Cristo e às práticas católicas. Não vem da adaptação ao mundo ou do dinheiro.

            4) As primeiras tarefas do novo papa serão a retomada da normalidade, a retomada da clareza doutrinal na fé e na moral, a retomada do justo respeito ao direito e a garantia de que o primeiro critério para a nomeação dos bispos seja a aceitação da tradição apostólica. A competência e a cultura teológica são uma vantagem, não um obstáculo para todos os bispos e sobretudo para os arcebispos.

 Esses são fundamentos necessários para viver e pregar o Evangelho.

5) Se as reuniões sinodais continuarem em todo o mundo, elas consumirão muito tempo e dinheiro, provavelmente desviando energias da evangelização e do serviço em vez de aprofundarem essas atividades essenciais.

            Se for dada autoridade doutrinal aos sínodos nacionais ou continentais, teremos um novo perigo para a unidade da Igreja mundial, razão pela qual a Igreja alemã, por exemplo, já agora tem posições doutrinais não compartilhadas por outras Igrejas e incompatíveis com a tradição apostólica.

            Se não houver uma correção romana de tais heresias, a Igreja se reduzirá a uma vaga federação de Igrejas locais, com visões diferentes, provavelmente mais próxima de um modelo anglicano ou protestante, do que de um modelo ortodoxo.

            Uma prioridade imediata para o próximo papa deve ser a de eliminar e evitar um desenvolvimento tão perigoso, exigindo unidade no essencial e não permitindo diferenças doutrinais inaceitáveis. A moralidade da atividade homossexual será um desses pontos críticos.

    6) Embora o clero jovem e os seminaristas sejam quase completamente ortodoxos, às vezes bastante conservadores, o novo papa deverá estar ciente das mudanças substanciais feitas na liderança da Igreja desde 2013, talvez especialmente na América do Sul e Central. Há um novo salto no avanço dos protestantes “liberais” na Igreja Católica.

            É improvável que um cisma ocorra à esquerda, onde habitualmente não se fazem dramas sobre as questões doutrinais. É mais provável que um cisma venha da direita, e isso é sempre possível quando as tensões litúrgicas são inflamadas e não atenuadas.

            Unidade nas coisas essenciais. Diversidade nas não essenciais. Caridade em tudo.

            7) Apesar do seu perigoso declínio no Ocidente e da intrínseca fragilidade e instabilidade em muitos lugares, se deveria levar seriamente em consideração a viabilidade de uma visita apostólica à ordem dos jesuítas. Eles estão em uma situação de catastrófico declínio numérico, de 36.000 membros durante o Concílio a menos de 16.000 em 2017 (provavelmente com 20-25% deles com mais de 75 anos de idade). Em alguns lugares, há também um catastrófico declínio moral.

            A ordem é altamente centralizada, suscetível à reforma ou ruína de cima. O carisma e a contribuição dos jesuítas foram e são tão importantes para a Igreja que não se deveria permitir que desapareçam imperturbáveis da história ou que simplesmente se reduzam a uma comunidade afro-asiática.

            8) É preciso enfrentar a desastrosa queda numérica dos católicos e a expansão dos protestantes na América do Sul. Isso foi muito pouco mencionado no Sínodo Amazônico.

            9) Obviamente, é preciso trabalhar muito nas reformas financeiras no Vaticano, mas esse não deveria ser o critério mais importante na escolha do próximo papa.

            O Vaticano não tem dívidas substanciais, mas os contínuos déficits anuais acabarão levando à falência. Obviamente, serão tomadas medidas para remediar, para separar o Vaticano de cúmplices criminosos e equilibrar receitas e despesas. O Vaticano deverá demonstrar competência e integridade para atrair doações substanciais que ajudem a resolver esse problema.

            Apesar da melhoria dos procedimentos e de uma maior transparência, as contínuas dificuldades financeiras representam um grande desafio, mas são muito menos importantes do que os perigos espirituais e doutrinais que a Igreja deve enfrentar, especialmente no Primeiro Mundo.

 Demos (Quaresma de 2022)

Cuidado com os smartphones e tablets para as crianças!

 


Segundo um estudo da Associação Italiana de Pediatria (SIP), a Federação Italiana de Pediatras (FIMP) e a Associação Cultura de Pediatras (ACPI) sobre o tempo e comportamento das crianças de 0 a 15 anos que usam as novas tecnologias, apenas metade dos pais italianos estão conscientes de um verdadeiro perigo para a saúde dos seus filhos. Os pais reconhecem que na faixa de 0 a 2 anos, 72% das famílias usam redes sociais e chats durante as refeições dos filhos, enquanto 26% permitem que as crianças usem os aparelhos com total autonomia.

O estudo – que envolveu um conjunto de pediatras voluntários e cerca de 800 famílias de todo o país, com um questionário anónimo – insere-se no projeto “Delicate Connections” que visa sensibilizar os pais para a utilização de dispositivos digitais com as crianças e promover boas práticas. O estudo tem a parceria da Fundação Carolina, nascida em memória de Carolina Picchio, a primeira vítima reconhecida de cyberbullying na Itália.

O questionário revelou pouca conscientização das famílias e uma condição de solidão nas crianças: 26% dos pais permitem que os seus filhos usem os dispositivos de forma independente entre 0 e 2 anos de idade, percentual que sobe para 62% para a faixa etária dos 3 a 5, 82% na faixa etária de 6 a 10 anos e 95% entre os 11 e 15 anos.

“Já numa declaração publicada em 2018 no Italian Journal of Pediatrics, a SIP destacou os riscos documentados para a saúde psicofísica de um uso precoce, prolongado e não controlado por adultos de dispositivos eletrónicos em crianças de 0 a 8 anos. Já foram detetadas interferências negativas no sono, na visão, no sistema musculoesquelético, no aprendizado e até no desenvolvimento cognitivo”, declara a presidente da SIP, Dra. Annamaria Staiano.

Daí a recomendação de evitar smartphones e tablets antes dos dois anos, limitar a sua utilização a um máximo de uma hora por dia entre os 2 e os 5 anos e a um máximo de duas para os que têm entre os 5 e os 8 anos.

Ainda assim, de acordo com o estudo, tablets e smartphones também invadem um momento precioso e íntimo como a amamentação. “A diminuição da atenção das mães aos sinais do seu bebé devido ao uso do smartphone, especialmente no início da vida nos contextos interativos primários de amamentação e interações face a face, pode ter repercussões negativas nas trajetórias de neurodesenvolvimento do bebé”, alerta o Dr. Antonio D' Avino, presidente da FIMP. Em suma, as mães que amamentam, olhando o écran do smartphone em vez de ter contato visual com o filho, perdem preciosos momentos de interação, essenciais para promover o crescimento fisiológico, cognitivo e socioemocional da criança e para desenvolver um saudável vínculo de mãe/pai-filho.

É aterrador verificar que na Itália, uma em cada quatro famílias na faixa de 0 a 2 anos e uma em cada cinco na faixa de 3 a 5 anos conta com inteligência artificial para colocar os seus filhos a dormir com canções de ninar produzidas por assistentes de voz, enquanto 35% dos pais, com filhos entre 0 e 2 anos, delegam a tarefa de contar histórias a aparelhos, percentual que chega a 80% na faixa etária de 3 a 5 anos. Além disso, a perceção das famílias sobre os riscos do uso indevido da tecnologia digital é fraca: desconhecem quase por completo os riscos de ansiedade, depressão, sobrepeso, transtornos alimentares; vício, cyberbullying, aliciamento online e sexting. Neste último, 66% dos pais de 6 a 10 anos nem sabem o que é.

Diante das perguntas que todos os pais deveriam colocar-se: Qual é a idade abaixo da qual o uso de tecnologia não é recomendado? Ou, por quantas horas crianças e jovens podem ficar expostos aos écrans? Cerca de metade das famílias envolvidas não sabem responder. Ora, “o cérebro de um adolescente não é igual ao de um adulto, a quantidade de mielina dobra e isso leva a uma propagação mais rápida das mensagens nervosas. A exposição a fatores traumáticos e tóxicos pode, portanto, alterar o seu desenvolvimento cognitivo”, explica a Dra. Stefania Manetti, presidente da ACP. Segundo o pedagogo Ivano Zoppi, secretário-geral da Fundação Carolina, "o bem-estar psicofísico das crianças deve ser protegido on-line exatamente como off-line, desde os primeiros anos de vida e é tarefa dos pais conhecê-lo e responsabilizá-lo com o apoio de especialistas competentes, e neste caso de médicos".

O projeto-piloto permitiu elaborar a primeira versão do “Relatório de Saúde Digital”, um documento valioso com vistas a expandir a iniciativa a nível nacional na próxima primavera.

 

A Fundação Carolina disponibilizou alguns pontos de reflexão para os pais, baseado em estudos científicos:

Para os tempos de exposição dos menores, a comunidade científica recomenda: De 0 a 2 anos não utilizar dispositivos digitais para entreter ou acalmar as crianças; De 2 a 5 anos não ultrapassar uma hora de exposição por dia; De 5 a 8 anos dedicar menos de duas horas por dia; Dos 9 a 15 anos limitar o uso a três horas por dia (independentemente do dispositivo).

Quanto ao conteúdo: Dos 3 a 6 anos sem acesso à internet; Dos 6 a 9 anos videojogos e acesso digital a música e vídeos mas sem dispositivos na sala; Dos 9 a 14 anos acesso gradual e controlado à internet, combinando as regras de uso dos aparelhos. Em geral, em qualquer idade, é recomendado não usar écrans ou aparelhos durante as refeições e proibir o seu uso pelo menos uma hora antes de dormir.

A Fundação Carolina recomenda:

Observação, escuta e presença emocional dos pais são o verdadeiro controle parental;

Se observarmos que o humor dos filhos mudou e percebermos atitudes como as abaixo, pode ter origem num uso distorcido da Web:

Sintomas:

• Nervosismo, inquietação, insônia

• Cansaço e fraqueza

• Fraco poder de concentração

• Perda de interesse ou afastamento das atividades habituais

• Aumento de comportamentos de risco

• Mudança repentina nos hábitos alimentares e alterações de peso

As crianças devem ser ajudadas a viverem a sua experiência online com segurança…

Dez dicas:

1. Baixe jogos e aplicativos adequados para a idade do seu filho (lembre-se de que, antes dos 13 anos, nada de redes sociais!);

2. Leia atentamente os termos e condições indicados nas diretrizes de cada rede social;

3. Decida as configurações de privacidade junto com o seu filho;

4. Avalie quais aplicativos devem manter a geolocalização ativada;

5. Ative os sistemas de proteção contra conteúdo impróprio;

6. Explique ao seu filho como bloquear pessoas indesejadas;

7. Explique ao seu filho como denunciar conteúdo impróprio;

8. Explique ao seu filho que ele não deve fornecer informações pessoais online;

9. Explique ao seu filho que ele não deve enviar fotos suas para estranhos;

10. Lembre-se de que o controle dos pais nunca pode substituir a sua presença;

…e para construir o seu relacionamento de confiança junto com o teu filho, procure entender e educar:

1. Tenha sempre em mente que online não é virtual, mas absolutamente real;

2. Interesse-se pela vida digital do teu filho (“O que viste de interessante hoje em ….”);

3. Leve a sério e não banalize o que está a acontecer na vida/experiência online do teu filho;

4. Dê o exemplo e trate outras pessoas com respeito, mesmo online;

5. Explique que on-line é para sempre e, depois de fazer uma postagem, perdes o controle dela;

6. Lembre-se de que outros contatos online devem ser tratados com o mesmo respeito que gostariam de receber;

7. Insista na importância de conversar contigo ou outro cuidador sobre qualquer desconforto que eles sintam online;

8. Lembre-se de que desafios ou exemplos de comportamento autodestrutivo são sempre perigosos;

9. Lembre-se de que o vício do écran geralmente é o sintoma, não a causa de uma doença;

10. Mostre ao teu filho que online é um mundo infinito no qual podemos extrair informações enriquecedoras: mas devemos ter cuidado com falsificações e selecionar fontes;

Estes são apenas alguns passos iniciais que todo o pai, que ama verdadeiramente o seu filho, deveria ter!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

“A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro”

 


A avareza é um amor descontrolado dos bens terrenos e principalmente do dinheiro. Como bem sabemos, amar os bens da terra não é um mal. Mas, desejá-lo com muito ardor e torná-lo objeto de afeição, é um defeito grave e um pecado mortal.

Em primeiro lugar, porque a avareza é uma idolatria! Para o avarento, o dinheiro passa a ser um deus.

Este defeito foi apontado por Nosso Senhor quando afirmou: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há-de odiar um e amar o outro, ou há-de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a riqueza”. (Mt 6, 24)

O amor desordenado à riqueza escraviza vergonhosa e tiranicamente, pois o avarento se submete inteiramente aos bens materiais e, para satisfazer a sua paixão, está disposto a vender até mesmo o seu corpo e a sua alma. “Não há coisa mais iníqua do que amar o dinheiro; o que o ama venderia até a sua alma, visto que se despojou, em vida, das próprias entranhas”. (Eclo 10, 10)

Mas qual são as consequências da ganância para a alma?

A avareza faz com que a pessoa viva numa perpétua inquietação, com medo de perder a fortuna meticulosamente acumulada! Muitos mestres de vida espiritual dizem que o avarento se esforça mais para manter os seus bens do que os santos para ganhar o céu.

Há um outro ponto, não menos grave. A avareza endurece o coração. O avarento é insensível. Nunca fale com ele sobre ajudar os irmãos! Ele vai, no máximo, dar conselhos e explicar como se deve fazer para ganhar dinheiro.

Por fim, a avareza cega a alma. Mesmo na hora da morte, o avarento não consegue fazer um exame de consciência, analisar o seu relacionamento com Deus e com o próximo. Ele pensa apenas em bens perecíveis.

Mas, se a ganância faz mal para a alma, ela afeta também o corpo. É uma paixão debilitante, pois o avarento não tem descanso nem de noite e nem de dia. Está sempre nervoso e irritado e a sua saúde é sempre fraca. É uma paixão que costuma levar ao suicídio ou à loucura. Quantos avarentos não conseguem sobreviver à menor perda, e quantos morrem de fome, mesmo tendo escondido uma verdadeira fortuna!?

São Paulo faz da avareza a raiz de todas as doenças; “Com efeito, a raiz de todos os males é o

amor ao dinheiro, por causa do qual alguns se desencaminharam da fé e se enredaram em muitas aflições.” (1 Tm 6:10).

Se sentirmos uma tendência muito forte para a avareza, o que podemos fazer?

Em primeiro lugar, para se curar da avareza, deve-se lembrar de que a vida é muito breve. Do que serve, arrecadar tanta riqueza se um dia devemos deixar tudo para trás?

Por outro lado, devemos considerar a vaidade dos bens terrenos. Os próprios pagãos aperceberam-se disso e formulavam a pergunta: Quando um avarento tiver todo o ouro do mundo, será mais feliz, mais amado, mais virtuoso do que os outros homens? A resposta é evidentemente negativa.

O homem ganancioso é um pobre homem, aos olhos dos outros. Nada da sua grande riqueza transparece para os outros. Todos zombam, desprezam e fogem deles. Apenas, os seus herdeiros tratam-no bem, preocupam-se dele e, infelizmente, muitos desejam a sua morte.

Assim, caro leitor, não procuremos acumular tesouros nesta terra, pois isto seria uma perda de tempo. Prefira preparar tesouros imperecíveis para o céu: “Não acumuleis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça (os) consumam, e onde os orifícios perfuram as paredes e roubam. Entesourai para vós tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem a traça (os) consuma, e onde os suportes não perfuram as paredes nem roubam. Porque onde, está o teu tesouro, aí está também o teu coração” (Mt 6, 19-21).

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

A apresentação do Menino Jesus no Templo e o cântico do velho Simeão


Quarenta dias depois do Natal, somos convidados a festejar a Apresentação de Jesus no Templo de Jerusalém e a Purificação de Nossa Senhora, meditada no quarto mistério gozoso do Rosário. Esta primeira manifestação de Nosso Senhor foi saudada por um cântico memorável, o “Nunc dimittis”, popularizado pela liturgia cristã, com palavras de gratidão e de alegria que irrompem em cada um dos seus versos.

A história pode assim ser resumida: Havia em Jerusalém um homem virtuoso, chamado Simeão. No entardecer de uma vida consagrada ao culto do Senhor, tinha apenas um desejo: poder contemplar, antes de morrer, o Salvador prometido a seus pais. E o Espírito Santo avisou-o de que essa alegria suprema lhe seria concedida.

Um dia, entrou no Templo com o pressentimento de que em breve se cumpririam as promessas divinas a seu favor. Viu diante do altar uma humilde mãe ajoelhada, oferecendo o seu Menino ao Senhor. De repente, iluminado por uma graça divina, reconheceu nas feições dessa Criança o Redentor esperado. Imediatamente, convidado pela Santíssima Virgem a apertá-lo em seus braços, o velho Simeão, inundado de felicidade, cantou: “Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a salvação, que oferecestes a todos os povos" (Lc 2, 29-31).

Ver Jesus e depois morrer foi a consolação do santo patriarca. Ver e contemplar este Messias, esperança dos seus pais, cujas grandezas e humilhações foram cantadas pelos profetas, foi para o santo ancião uma antecipação das alegrias do céu. A sua vida terminaria com a realização dos seus desejos mais queridos.

Que diferença do Antigo Testamento para o Novo! Não precisamos chegar ao limiar da velhice para conhecer e saborear essas alegrias. A fé, se cuidarmos de mantê-la intacta, protegida de todos os ataques, é um consolo que acalma as nossas angústias, uma luz que ilumina os nossos passos. Não gozamos hoje da presença divina? A sua morada está ao lado da nossa! Como não nos alegrarmos com as comunhões, quando Jesus Cristo vem repousar, não apenas entre nossos braços, mas no fundo dos nossos corações, inundando-nos de inexprimível felicidade e onde nos tornamos seu templo?

O velho Simeão viveu numa época em que os judeus padeciam humilhados, sob o domínio romano. Mas, impelido pela inspiração da profecia, vê no adorável Menino que repousa entre seus braços a luz e a glória do povo de Israel; e é para publicar o destino grandioso que lhes aguarda, que ele acrescenta: "Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo" (Lc 2, 32). O povo que o santo ancião previu e do qual Jesus seria a glória e a luz, era sobretudo o povo cristão. Com efeito, acompanhar o curso da história, a força, a prosperidade, os triunfos de um povo, tudo o que o prestigia e o engrandece, provém dos princípios da virtude, da luz e da civilização, que o cristianismo trouxe e conserva. Quanto mais uma nação é religiosa, mais ela cresce; quanto mais ela se esquece de Deus, mais se humilha.

Jesus deveria ser ainda mais a glória desta sociedade que é chamada de Igreja. No passado, o Divino Mestre passou por montanhas, vales e desertos, sempre caminhando e abençoando. Por sua vez, a Igreja, continuando a obra do Salvador, vai primeiro de Jerusalém a Samaria, depois espalha os seus ensinamentos pelo mundo para evangelizá-lo e santificá-lo; dando a conhecer o Evangelho até aos confins da terra.

Mas, para interpretar num sentido mais particular o cântico do profeta, Jesus Cristo não veio sobretudo para ser a luz do nosso coração, pelos admiráveis ensinamentos que nos deixou e pelas inspirações da Sua Graça que nele deposita constantemente?

Luz que devemos seguir sempre, se não quisermos nos desviar. Sim! Jesus Cristo é a nossa luz e será a nossa glória se permanecermos fiéis a Ele. Já não sei onde li estas palavras que me vêm à memória: “Há mais honra em servir a Deus do que em usar a mais bela coroa do mundo”. Admirável lema que deveria ser o lema de toda família cristã e sobre o qual nunca é demais meditar: "Há mais honra em servir a Deus do que em usar a mais bela coroa do mundo".

Como o Magnificat, é o hino de gratidão, o cântico do velho Simeão é o do ocaso, do pôr-do-sol da nossa vida, de todas as tarefas cumpridas, de todos os desejos realizados e de cada noite que aponta para o fim de uma etapa e o começo de uma outra esplendorosa.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Telemóveis: a proibição nas escolas e as conclusões impressionantes de um estudo do Senado italiano

 


Uma circular, assinada pelo Ministro da Educação e Mérito Giuseppe Valditara, datada de 19 de dezembro de 2022 e dirigida aos Gestores e Coordenadores Pedagógicos de instituições de ensino de todos os níveis do sistema de ensino italiano, confirma a proibição do uso de telemóveis e dispositivos eletrónicos análogos, como iPad ou tablets, nas salas de aula, por ser um elemento de distração e falta de respeito para com os professores, conforme já tinha sido estabelecido no Estatuto dos Estudantes de 1998 e pela Circular Ministerial n. 30 de 2007.

"Considerando a crescente difusão do uso de telemóveis e dispositivos eletrónicos análogos nas salas de aula italianas, é útil fornecer informações para neutralizar o seu uso impróprio ou não autorizado.

“A este respeito, já com a circular de 15 de março de 2007, n. 30, foram emitidos por este Ministério ‘orientações e indicações sobre o uso de telemóveis e outros dispositivos eletrónicos durante a atividade didática, com imposição de sanções disciplinares e o dever de vigilância e coresponsabilidade dos pais e professores’.

“Esse documento especificava como: ‘a proibição do uso de telemóveis durante o horário das classes responde a uma regra geral de correção que encontra a sua codificação formal no Estatuto dos alunos, nos termos do Decreto Presidencial 24 de junho 1998, nº. 249’; ‘o uso de telemóveis e outros dispositivos eletrónicos é um elemento de distração tanto para o usuário quanto para os seus companheiros, além de constituir grave falta de respeito para com o professor, configurando assim uma infração disciplinar punível com medidas, orientadas não só para prevenir e desencorajar tais comportamentos, mas também, segundo uma lógica própria da instituição de ensino, para estimular a conscientização do aluno e desvalorizar o uso dos mesmos’.

“Assim, como se depreende da referida circular, existe uma proibição geral da utilização de telemóveis nas salas de aula.

“Nesse sentido, o relatório final da pesquisa da 7ª Comissão Permanente do Senado da República ‘sobre o impacto da tecnologia digital nos alunos, particularmente nos processos de aprendizagem’, da XVIII Legislatura, destaca os efeitos nocivos decorrentes do uso continuado de telemóveis, incluindo, perda de capacidade de concentração, memória, espírito crítico, adaptabilidade, capacidade dialética.

“Por outro lado, é permitida a utilização destes dispositivos na sala de aula, como ferramenta compensatória nos termos da legislação em vigor, bem como, em cumprimento do Regulamento escolar, com o consentimento do professor, para fins inclusivos, educativos e formativos, também no âmbito do Plano ‘Escola Nacional Digital’ e os objetivos da ‘cidadania digital’m nos termos do art. 5 Lei 25 de agosto de 2019, n. 92.

“Em conclusão, convidamos os responsáveis a favorecer a observância do acima presentado, promovendo, quando necessário, os necessários acréscimos aos Regulamentos das respetivas instituições de ensino e aos acordos de corresponsabilidade educativa, visando contrariar o uso indevido ou não autorizado dos referidos dispositivos”.

A investigação do Senado

Com a circular, o Ministério da Educação italiana enviou o estudo feito pela Comissão de Educação do Senado, que está na base da decisão ministerial. Nele, são apontados danos físicos e riscos de prejuízos psicológicos, como os de uma droga, aos utilizadores de telemóveis e dispositivos eletrónicos análogos, como iPad ou tablets : «Existem danos físicos: miopia, obesidade, hipertensão, distúrbios músculo-esqueléticos, diabetes. E riscos de prejuízos psicológicos: vício, alienação, depressão, irascibilidade, agressividade, insônia, insatisfação, diminuição da empatia. Mas o que mais preocupa é a perda progressiva das faculdades mentais essenciais, que há milênios representam o que chamamos sumariamente de inteligência: a capacidade de concentração, memória, espírito crítico, adaptabilidade e capacidade dialética”.

O estudo compara o uso e abuso de smartphones ao vício do consumo de drogas. “Em nada diferente da cocaína, com as mesmas implicações neurológicas, biológicas e psicológicas”.

Em apoio a esta tese, são apresentadas as opiniões de neurologistas, psiquiatras, psicólogos, pedagogos, grafólogos e representantes das forças policiais "auditadas" durante a investigação realizada pelo Senador Andrea Cangini, do Partido “Força Itália”. 

O caso paradigmático apresentado é o da Coreia do Sul, onde "30% dos jovens entre os dez e dezanove anos são classificados como "demasiado dependentes" dos seus telemóveis e onde existem dezasseis "Centros" criados, especificamente, para tratar de doenças ligadas ao consumo excessivo da Web". 

Outro exemplo apresentado é o da China. No estudo, lemos que “vinte e quatro milhões de jovens estão ‘doentes’. O primeiro centro de reabilitação foi inaugurado há quinze anos, concebido segundo o estilo chinês: enquadramento militar, trabalhos forçados, eletrochoque, uso abundante de psicofármacos, ou seja, um campo de concentração, método brutal, regularmente utilizado pelo comunismo no passado e, atualmente, nos países onde é imposta esta ideologia ao povo. Desde então, mais de quatrocentos desses 'Centros' surgiram». Finalmente, para ficar no Extremo Oriente, faz-se também uma referência aos ‘hikikomori’ japoneses, onde os jovens "vegetam fechados nos seus quartos, perpetuamente ligados a algo que não existe na realidade. E já são um milhão de zumbis."

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Os meus votos para as festividades do nascimento do Menino Deus de 2022

 


Na proximidade das festas natalinas, é costume enviarmos postais de Natal, trocarmos mensagens, desejando “Boas Festas”, e um Ano Novo em que se tenha muita saúde, dinheiro, prazer e prosperidade.

Mas será que um ano, em que gozamos de boa saúde e recebemos bens materiais e prazeres, é sempre um bom ano?

É claro que a saúde, o conforto, a prosperidade nos negócios são bens reais que devemos pedir e agradecer a Deus que no-los concede.  

Mas há, acima deles, outros, mais excelentes, que bastam para tornar bons, e muito bons, os anos em que os possuímos e que, portanto, deveríamos desejar aos nossos familiares e amigos.

Quais são? Trata-se dos bens espirituais, das virtudes cristãs que nos preparam para a eternidade, com uma felicidade sem fim, superior a todas as nossas maiores esperanças. São as bênçãos e graças que Deus concede a quem procura viver na sua amizade e que são como o gérmen seguro de vida eterna. Quem os recebe tem anos verdadeiramente bons e felizes, parecidos aos dos nossos pais no Paraíso. E, pelo contrário, são tristes todos os outros anos, ainda que cheios dos bens temporais.

Portanto, os meus sinceros votos, aos meus familiares e amigos, nestas festividades do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo do ano da graça de 2022, são:

“Um Santo Natal e um Ano de 2023 com muitas consolações, graças místicas, alegria, paz com Deus, com o próximo, consigo mesmo, fruto da inocência, da caridade, da partilha, do coração puro e de uma consciência sem culpa, obtida através de uma vida espiritual, regada constantemente pela oração e pela prática das virtudes!”

sábado, 3 de dezembro de 2022

Notícias dos dias 1, 2 e 3 de dezembro de 2022

 


Site do Vaticano sofre ataque informático

Quem procurou aceder ao site oficial do Vaticano, Vatican.va, na tarde do dia 30 de novembro não conseguiu, aparecendo apenas: “404 not found”. O problema ficou solucionado apenas na madrugada do dia 3 de dezembro. Num primeiro momento, as autoridades informaram que o mesmo encontrava-se em manutenção. Todavia, mais tarde, foi confirmado o ataque informático. Terão as declarações e tomadas de posição de Francisco sobre a Guerra Russa-Ucraniana, motivado o ataque?

Mais um Instituto Comissariado pelo Vaticano

O Instituto Miles Christi (Soldados de Cristo), Associação Pública Clerical, fundada por Roberto Juan Yannuzzi em Buenos Aires e que conta com um ramo de religiosas e de leigos, vai ser comissionada pelo Vaticano.

O fundador, depois de uma investigação por abusos e irregularidades, foi reduzido ao estado laical em 2020 por “delitos contra o sexto mandamento com adultos, de absolvição do cúmplice e de abuso de autoridade”.

O Dicastério para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, liderado pelo Cardeal Braz de Aviz, nomeou Mons. Jorge Ignacio García Cuerva, Bispo de Rio Gallegos, como Comissário Pontifício do Instituto de direito diocesano.

Menos da metade dos britânicos diz-se cristão

O número de ateus cresce na Inglaterra e no Pais de Gales de maneira espantosa. 37,2% da população afirma não ter religião, enquanto os cristãos passaram de 59,3%, em 2011, para 27,5%, no último Censo, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas britânico. Os que professam a religião muçulmana são 15% e os hindus 5%. Em Londres, um em cada quatro habitantes, professa uma religião não cristã.

Redução das restrições contra o COVID na China

Depois de grandes manifestações contra as restrições impostas pelo governo chinês para tentar conter o contágio do COVID, grandes cidades como Pequim, Cantão, Shenzhen e Chongqing, por exemplo, estão a diminuir as restrições que impedem os habitantes de saírem das suas casas, ou terem de apresentar um teste PCR para entrar em estabelecimentos como supermercados, ou hospitais.

A informação oficial fala de apenas 5.233 mortos, vítimas deste vírus na China!

Cinquenta padres italianos proclamam a sua homossexualidade

A revista italiana “Domani” de Yoga, Filosofia e Cultura, publicou um documento intitulado “De todo o coração”, no qual cinquenta sacerdotes se opõem abertamente aos ensinamentos da Igreja e pedem maior abertura da Igreja para o tema. Os signatários “apontam o dedo à homofobia incutida durante a formação do seminário”, emitidas, como está na moda dizer, “sem respaldo científico, mas socialmente preconceituosas”. No texto não há referências bíblicas sobre a matéria.

“O feto não é um ser humano, mas uma pessoa”, afirma Francisco

Numa entrevista à “America Magazine” dos jesuítas americanos, respondendo a uma pergunta sobre o aborto, o Papa Francisco faz uma distinção entre pessoa e ser humano:

“Não digo que [o feto] seja uma pessoa, porque é contestado, mas é um ser humano”.

Uma distinção que espantou os católicos americanos, pois apoia a ideia das pessoas que sustentam o aborto, segundo a qual apesar de se ouvir o coração bater, ainda não podemos dizer que é uma pessoa. Como é possível haver seres humanos que não sejam pessoas e vice-versa? O Papa não explicou.

Ordenação de um bispo chinês sem consentimento da Santa Sé

No dia 24 de novembro, o Vaticano publicou um comunicado de imprensa no qual manifestava espanto pela ordenação de um bispo sem o conhecimento e aprovação de Roma. Com efeito John Peng Wizhao foi entronizado como bispo auxiliar de Nanchang, uma “diocese não reconhecida pela Santa Sé”.

Esta nomeação contraria o Acordo Provisório sobre a Nomeação de Bispos, muito contestado, assinado entre a Santa Sé e o Vaticano em 2018 e renovado até 2024. A Santa Sé “espera que tais episódios não se repitam”, enquanto a China despreza completamente o “diálogo respeitoso sobre todas as questões de interesse comum” proposto pelo Vaticano.

Dois conselhos do Papa: Antes de dormir, passem diante do Sacrário e não sejam viciados no telemóvel

O Papa Francisco recebeu a comunidade do Colégio Pio Latinoamericano e convidou os seminários e sacerdotes a serem missionários, pastores do Povo de Deus e não clérigos de Estado.

"Marcos em seu Evangelho resume o chamado de Jesus para ser discípulos e missionários. Ele chamou os apóstolos 'para estar com Ele e enviá-los a pregar'. Estar com Jesus e sair para anunciá-l’O".

Francisco convidou os membros da Comunidade do Pontifício Colégio Pio Latino Americano a não se esquecerem de voltar a Jesus, "todas as noites, depois de um longo dia. Mas atenção!" Voltar "para Ele, não para o écran do telemóvel". O Papa disse que fica muito triste quando vê "um sacerdote bom, trabalhador que se cansa e se esquece de ir ao sacrário, e vai dormir porque está cansado". "Ele tem razão, tem que dormir, mas primeiro saúda, certo? Não seja mal-educado". O Pontífice se entristece também quando um sacerdote procura refúgio no telemóvel. "Por favor, não sejam viciados nesse mundo de fuga. Não se viciem. Existem vários passos que vão tirando a força. Sejam viciados no encontro com Jesus. Ele sabe do que precisamos e tem uma palavra a nos dizer em todas as ocasiões".

Os saquinhos de açúcar vão desaparecer na Europa

Uma proposta de regulamentação de embalagens da União Europeia poderá fazer com que os saquinhos de açúcar desapareçam dos bares, hotéis e restaurantes. A intenção é "banir as as embalagens de utilização única, contendo porções individuais utilizadas para condimentos, conservas, molhos, cremes para café, açúcar e temperos, com exceção das tais embalagens fornecidas juntamente com alimentos prontos para consumo, destinados ao consumo imediato, sem necessidade de qualquer outra preparação".  Se for aprovada, voltaremos aos açucareiros tradicionais

A invenção do pacotinho de açúcar é controversa: alguns datam de 1862 na Filadélfia; outros a atribuem a dois parisienses, Loic de Combourg e François de la Tourrasse, que supostamente inventaram o 'sucre-pochette' em 1908. Outros ainda a atribuem ao nova-iorquino Benjamin Eisenstadt, nascido em 1906, inventor profissional e empresário, falecido em 1996. Ele Tinha uma cafeteria no Brooklyn, depois passou a fazer saquinhos de chá: para ampliar os ganhos, propôs aos grandes produtores de açúcar embalá-lo em saquinhos de poucos gramas. Como não tinha pedido a patente, os comerciantes de açúcar roubaram a sua ideia e não lhe pagaram nada. Eisenstadt não desanimou e em 1957 inventou a sacarina em pó. Agora, uma das suas invenções de maior sucesso acabará fora do mercado no Velho Continente, onde obteve grande sucesso.

A baguete francesa: património imaterial da Humanidade da UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) atribuiu o "estatuto de património cultural imaterial" à tradição de fazer a baguete, um símbolo da gastronomia francesa, definida pelo Presidente francês, Manuel Macron, em 2021 como “250 de magia e de perfeição”.

Mais do que o próprio produto, a UNESCO premeia com esta distinção o "savoir-faire", a forma particular de preparar, amassar e assar este pão que sofreu, como tantos outros sucessos da culinária francesa, os abusos da industrialização.

Esta inscrição "celebra também toda uma cultura: um ritual cotidiano, um elemento que estrutura as refeições, um sinónimo de troca e convivência", reagiu a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay.

"É um reconhecimento para a comunidade de padeiros e confeiteiros", explicou Dominique Anract, presidente da Confederação Francesa que reúne estes "artesãos" da farinha e do fermento.

O prémio é um reconhecimento às padarias tradicionais, que estão a encerrar em França, principalmente no interior.

Em 1970 havia cerca de 55.000 padarias artesanais (uma para cada 790 habitantes) e hoje há 35.000 (uma para cada 2.000 habitantes), segundo dados do Ministério da Cultura.

Seis milhões de baguetes são vendidas todos os anos.