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quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Telemóveis: a proibição nas escolas e as conclusões impressionantes de um estudo do Senado italiano

 


Uma circular, assinada pelo Ministro da Educação e Mérito Giuseppe Valditara, datada de 19 de dezembro de 2022 e dirigida aos Gestores e Coordenadores Pedagógicos de instituições de ensino de todos os níveis do sistema de ensino italiano, confirma a proibição do uso de telemóveis e dispositivos eletrónicos análogos, como iPad ou tablets, nas salas de aula, por ser um elemento de distração e falta de respeito para com os professores, conforme já tinha sido estabelecido no Estatuto dos Estudantes de 1998 e pela Circular Ministerial n. 30 de 2007.

"Considerando a crescente difusão do uso de telemóveis e dispositivos eletrónicos análogos nas salas de aula italianas, é útil fornecer informações para neutralizar o seu uso impróprio ou não autorizado.

“A este respeito, já com a circular de 15 de março de 2007, n. 30, foram emitidos por este Ministério ‘orientações e indicações sobre o uso de telemóveis e outros dispositivos eletrónicos durante a atividade didática, com imposição de sanções disciplinares e o dever de vigilância e coresponsabilidade dos pais e professores’.

“Esse documento especificava como: ‘a proibição do uso de telemóveis durante o horário das classes responde a uma regra geral de correção que encontra a sua codificação formal no Estatuto dos alunos, nos termos do Decreto Presidencial 24 de junho 1998, nº. 249’; ‘o uso de telemóveis e outros dispositivos eletrónicos é um elemento de distração tanto para o usuário quanto para os seus companheiros, além de constituir grave falta de respeito para com o professor, configurando assim uma infração disciplinar punível com medidas, orientadas não só para prevenir e desencorajar tais comportamentos, mas também, segundo uma lógica própria da instituição de ensino, para estimular a conscientização do aluno e desvalorizar o uso dos mesmos’.

“Assim, como se depreende da referida circular, existe uma proibição geral da utilização de telemóveis nas salas de aula.

“Nesse sentido, o relatório final da pesquisa da 7ª Comissão Permanente do Senado da República ‘sobre o impacto da tecnologia digital nos alunos, particularmente nos processos de aprendizagem’, da XVIII Legislatura, destaca os efeitos nocivos decorrentes do uso continuado de telemóveis, incluindo, perda de capacidade de concentração, memória, espírito crítico, adaptabilidade, capacidade dialética.

“Por outro lado, é permitida a utilização destes dispositivos na sala de aula, como ferramenta compensatória nos termos da legislação em vigor, bem como, em cumprimento do Regulamento escolar, com o consentimento do professor, para fins inclusivos, educativos e formativos, também no âmbito do Plano ‘Escola Nacional Digital’ e os objetivos da ‘cidadania digital’m nos termos do art. 5 Lei 25 de agosto de 2019, n. 92.

“Em conclusão, convidamos os responsáveis a favorecer a observância do acima presentado, promovendo, quando necessário, os necessários acréscimos aos Regulamentos das respetivas instituições de ensino e aos acordos de corresponsabilidade educativa, visando contrariar o uso indevido ou não autorizado dos referidos dispositivos”.

A investigação do Senado

Com a circular, o Ministério da Educação italiana enviou o estudo feito pela Comissão de Educação do Senado, que está na base da decisão ministerial. Nele, são apontados danos físicos e riscos de prejuízos psicológicos, como os de uma droga, aos utilizadores de telemóveis e dispositivos eletrónicos análogos, como iPad ou tablets : «Existem danos físicos: miopia, obesidade, hipertensão, distúrbios músculo-esqueléticos, diabetes. E riscos de prejuízos psicológicos: vício, alienação, depressão, irascibilidade, agressividade, insônia, insatisfação, diminuição da empatia. Mas o que mais preocupa é a perda progressiva das faculdades mentais essenciais, que há milênios representam o que chamamos sumariamente de inteligência: a capacidade de concentração, memória, espírito crítico, adaptabilidade e capacidade dialética”.

O estudo compara o uso e abuso de smartphones ao vício do consumo de drogas. “Em nada diferente da cocaína, com as mesmas implicações neurológicas, biológicas e psicológicas”.

Em apoio a esta tese, são apresentadas as opiniões de neurologistas, psiquiatras, psicólogos, pedagogos, grafólogos e representantes das forças policiais "auditadas" durante a investigação realizada pelo Senador Andrea Cangini, do Partido “Força Itália”. 

O caso paradigmático apresentado é o da Coreia do Sul, onde "30% dos jovens entre os dez e dezanove anos são classificados como "demasiado dependentes" dos seus telemóveis e onde existem dezasseis "Centros" criados, especificamente, para tratar de doenças ligadas ao consumo excessivo da Web". 

Outro exemplo apresentado é o da China. No estudo, lemos que “vinte e quatro milhões de jovens estão ‘doentes’. O primeiro centro de reabilitação foi inaugurado há quinze anos, concebido segundo o estilo chinês: enquadramento militar, trabalhos forçados, eletrochoque, uso abundante de psicofármacos, ou seja, um campo de concentração, método brutal, regularmente utilizado pelo comunismo no passado e, atualmente, nos países onde é imposta esta ideologia ao povo. Desde então, mais de quatrocentos desses 'Centros' surgiram». Finalmente, para ficar no Extremo Oriente, faz-se também uma referência aos ‘hikikomori’ japoneses, onde os jovens "vegetam fechados nos seus quartos, perpetuamente ligados a algo que não existe na realidade. E já são um milhão de zumbis."

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Os meus votos para as festividades do nascimento do Menino Deus de 2022

 


Na proximidade das festas natalinas, é costume enviarmos postais de Natal, trocarmos mensagens, desejando “Boas Festas”, e um Ano Novo em que se tenha muita saúde, dinheiro, prazer e prosperidade.

Mas será que um ano, em que gozamos de boa saúde e recebemos bens materiais e prazeres, é sempre um bom ano?

É claro que a saúde, o conforto, a prosperidade nos negócios são bens reais que devemos pedir e agradecer a Deus que no-los concede.  

Mas há, acima deles, outros, mais excelentes, que bastam para tornar bons, e muito bons, os anos em que os possuímos e que, portanto, deveríamos desejar aos nossos familiares e amigos.

Quais são? Trata-se dos bens espirituais, das virtudes cristãs que nos preparam para a eternidade, com uma felicidade sem fim, superior a todas as nossas maiores esperanças. São as bênçãos e graças que Deus concede a quem procura viver na sua amizade e que são como o gérmen seguro de vida eterna. Quem os recebe tem anos verdadeiramente bons e felizes, parecidos aos dos nossos pais no Paraíso. E, pelo contrário, são tristes todos os outros anos, ainda que cheios dos bens temporais.

Portanto, os meus sinceros votos, aos meus familiares e amigos, nestas festividades do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo do ano da graça de 2022, são:

“Um Santo Natal e um Ano de 2023 com muitas consolações, graças místicas, alegria, paz com Deus, com o próximo, consigo mesmo, fruto da inocência, da caridade, da partilha, do coração puro e de uma consciência sem culpa, obtida através de uma vida espiritual, regada constantemente pela oração e pela prática das virtudes!”

sábado, 3 de dezembro de 2022

Notícias dos dias 1, 2 e 3 de dezembro de 2022

 


Site do Vaticano sofre ataque informático

Quem procurou aceder ao site oficial do Vaticano, Vatican.va, na tarde do dia 30 de novembro não conseguiu, aparecendo apenas: “404 not found”. O problema ficou solucionado apenas na madrugada do dia 3 de dezembro. Num primeiro momento, as autoridades informaram que o mesmo encontrava-se em manutenção. Todavia, mais tarde, foi confirmado o ataque informático. Terão as declarações e tomadas de posição de Francisco sobre a Guerra Russa-Ucraniana, motivado o ataque?

Mais um Instituto Comissariado pelo Vaticano

O Instituto Miles Christi (Soldados de Cristo), Associação Pública Clerical, fundada por Roberto Juan Yannuzzi em Buenos Aires e que conta com um ramo de religiosas e de leigos, vai ser comissionada pelo Vaticano.

O fundador, depois de uma investigação por abusos e irregularidades, foi reduzido ao estado laical em 2020 por “delitos contra o sexto mandamento com adultos, de absolvição do cúmplice e de abuso de autoridade”.

O Dicastério para os Institutos de vida consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, liderado pelo Cardeal Braz de Aviz, nomeou Mons. Jorge Ignacio García Cuerva, Bispo de Rio Gallegos, como Comissário Pontifício do Instituto de direito diocesano.

Menos da metade dos britânicos diz-se cristão

O número de ateus cresce na Inglaterra e no Pais de Gales de maneira espantosa. 37,2% da população afirma não ter religião, enquanto os cristãos passaram de 59,3%, em 2011, para 27,5%, no último Censo, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas britânico. Os que professam a religião muçulmana são 15% e os hindus 5%. Em Londres, um em cada quatro habitantes, professa uma religião não cristã.

Redução das restrições contra o COVID na China

Depois de grandes manifestações contra as restrições impostas pelo governo chinês para tentar conter o contágio do COVID, grandes cidades como Pequim, Cantão, Shenzhen e Chongqing, por exemplo, estão a diminuir as restrições que impedem os habitantes de saírem das suas casas, ou terem de apresentar um teste PCR para entrar em estabelecimentos como supermercados, ou hospitais.

A informação oficial fala de apenas 5.233 mortos, vítimas deste vírus na China!

Cinquenta padres italianos proclamam a sua homossexualidade

A revista italiana “Domani” de Yoga, Filosofia e Cultura, publicou um documento intitulado “De todo o coração”, no qual cinquenta sacerdotes se opõem abertamente aos ensinamentos da Igreja e pedem maior abertura da Igreja para o tema. Os signatários “apontam o dedo à homofobia incutida durante a formação do seminário”, emitidas, como está na moda dizer, “sem respaldo científico, mas socialmente preconceituosas”. No texto não há referências bíblicas sobre a matéria.

“O feto não é um ser humano, mas uma pessoa”, afirma Francisco

Numa entrevista à “America Magazine” dos jesuítas americanos, respondendo a uma pergunta sobre o aborto, o Papa Francisco faz uma distinção entre pessoa e ser humano:

“Não digo que [o feto] seja uma pessoa, porque é contestado, mas é um ser humano”.

Uma distinção que espantou os católicos americanos, pois apoia a ideia das pessoas que sustentam o aborto, segundo a qual apesar de se ouvir o coração bater, ainda não podemos dizer que é uma pessoa. Como é possível haver seres humanos que não sejam pessoas e vice-versa? O Papa não explicou.

Ordenação de um bispo chinês sem consentimento da Santa Sé

No dia 24 de novembro, o Vaticano publicou um comunicado de imprensa no qual manifestava espanto pela ordenação de um bispo sem o conhecimento e aprovação de Roma. Com efeito John Peng Wizhao foi entronizado como bispo auxiliar de Nanchang, uma “diocese não reconhecida pela Santa Sé”.

Esta nomeação contraria o Acordo Provisório sobre a Nomeação de Bispos, muito contestado, assinado entre a Santa Sé e o Vaticano em 2018 e renovado até 2024. A Santa Sé “espera que tais episódios não se repitam”, enquanto a China despreza completamente o “diálogo respeitoso sobre todas as questões de interesse comum” proposto pelo Vaticano.

Dois conselhos do Papa: Antes de dormir, passem diante do Sacrário e não sejam viciados no telemóvel

O Papa Francisco recebeu a comunidade do Colégio Pio Latinoamericano e convidou os seminários e sacerdotes a serem missionários, pastores do Povo de Deus e não clérigos de Estado.

"Marcos em seu Evangelho resume o chamado de Jesus para ser discípulos e missionários. Ele chamou os apóstolos 'para estar com Ele e enviá-los a pregar'. Estar com Jesus e sair para anunciá-l’O".

Francisco convidou os membros da Comunidade do Pontifício Colégio Pio Latino Americano a não se esquecerem de voltar a Jesus, "todas as noites, depois de um longo dia. Mas atenção!" Voltar "para Ele, não para o écran do telemóvel". O Papa disse que fica muito triste quando vê "um sacerdote bom, trabalhador que se cansa e se esquece de ir ao sacrário, e vai dormir porque está cansado". "Ele tem razão, tem que dormir, mas primeiro saúda, certo? Não seja mal-educado". O Pontífice se entristece também quando um sacerdote procura refúgio no telemóvel. "Por favor, não sejam viciados nesse mundo de fuga. Não se viciem. Existem vários passos que vão tirando a força. Sejam viciados no encontro com Jesus. Ele sabe do que precisamos e tem uma palavra a nos dizer em todas as ocasiões".

Os saquinhos de açúcar vão desaparecer na Europa

Uma proposta de regulamentação de embalagens da União Europeia poderá fazer com que os saquinhos de açúcar desapareçam dos bares, hotéis e restaurantes. A intenção é "banir as as embalagens de utilização única, contendo porções individuais utilizadas para condimentos, conservas, molhos, cremes para café, açúcar e temperos, com exceção das tais embalagens fornecidas juntamente com alimentos prontos para consumo, destinados ao consumo imediato, sem necessidade de qualquer outra preparação".  Se for aprovada, voltaremos aos açucareiros tradicionais

A invenção do pacotinho de açúcar é controversa: alguns datam de 1862 na Filadélfia; outros a atribuem a dois parisienses, Loic de Combourg e François de la Tourrasse, que supostamente inventaram o 'sucre-pochette' em 1908. Outros ainda a atribuem ao nova-iorquino Benjamin Eisenstadt, nascido em 1906, inventor profissional e empresário, falecido em 1996. Ele Tinha uma cafeteria no Brooklyn, depois passou a fazer saquinhos de chá: para ampliar os ganhos, propôs aos grandes produtores de açúcar embalá-lo em saquinhos de poucos gramas. Como não tinha pedido a patente, os comerciantes de açúcar roubaram a sua ideia e não lhe pagaram nada. Eisenstadt não desanimou e em 1957 inventou a sacarina em pó. Agora, uma das suas invenções de maior sucesso acabará fora do mercado no Velho Continente, onde obteve grande sucesso.

A baguete francesa: património imaterial da Humanidade da UNESCO

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) atribuiu o "estatuto de património cultural imaterial" à tradição de fazer a baguete, um símbolo da gastronomia francesa, definida pelo Presidente francês, Manuel Macron, em 2021 como “250 de magia e de perfeição”.

Mais do que o próprio produto, a UNESCO premeia com esta distinção o "savoir-faire", a forma particular de preparar, amassar e assar este pão que sofreu, como tantos outros sucessos da culinária francesa, os abusos da industrialização.

Esta inscrição "celebra também toda uma cultura: um ritual cotidiano, um elemento que estrutura as refeições, um sinónimo de troca e convivência", reagiu a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay.

"É um reconhecimento para a comunidade de padeiros e confeiteiros", explicou Dominique Anract, presidente da Confederação Francesa que reúne estes "artesãos" da farinha e do fermento.

O prémio é um reconhecimento às padarias tradicionais, que estão a encerrar em França, principalmente no interior.

Em 1970 havia cerca de 55.000 padarias artesanais (uma para cada 790 habitantes) e hoje há 35.000 (uma para cada 2.000 habitantes), segundo dados do Ministério da Cultura.

Seis milhões de baguetes são vendidas todos os anos.

 


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Notícias do dia 30 de Novembro de 2022

 


Manifestações na China

Depois do fim de semana marcado por manifestações em todo o país contra a política “zero covid”, que bloqueia bairros e cidades inteiras, vídeos que circularam na internet mostram confrontos entre manifestantes e a polícia foram registados na cidade de Cantão, a maior do Sul da China. As manifestações iniciaram depois de mortes ocorridas durante o incêndio num prédio em Urumqi, no noroeste do país. Os bombeiros demoraram muito para aceder ao local, por estar o bairro bloqueado por causa da Covid e os moradores não puderam escapar pois as portas do prédio estavam fechadas.

A baguete francesa: património imaterial da Humanidade da UNESCO

Definida pelo Presidente francês, Manuel Macron, em 2021 como “250 de magia e de perfeição”, a baguete francesa passou a fazer parte do património imaterial da Humanidade da Unesco.

A OTAN adverte sobre o perigo da dependência com a China

Os países membros da OTAN reuniram-se em Bruxelas e alertaram para os riscos de se gerar dependência económica e tecnológica com a China.

“A guerra na Ucrânia demonstrou a nossa perigosa dependência de gás russo. Isto também deveria levar-nos a avaliar as nossas dependências de outros regimes autoritários, entre eles a China, no que diz respeito às nossas cadeias de fornecimento de tecnologia e infraestruturas”, assinalou o Secretário-Geral da OTAN, Jens Sotlbenberg.

Já no mês de junho, em Madrid, a OTAN tinha ressaltado que a China não era um adversário, mas advertia sobre o “ambicioso desenvolvimento militar” de Pequim e dos seus avances em matéria tecnológica e de ciberatividades.

 Presidente da Comunidade de Madrid acusa Pedro Sánchez de tirano

Isabel Díaz Ayuso, presidente da Comunidade de Madrid denunciou a falta de liberdade do governo de Pedro Sánchez ao ser expulsa do Parlamento uma deputado de VOX, Patricia Rueda, por ter-se recusado a retirar o inuslto aos representantes do partido EH Bildu, chamando-os de “filoetarra”:

“Não posso ignorar o que aconteceu ontem no Congresso dos Deputados, quando o vice-presidente, ao serviço do Governo e o Governo, a serviço de Bildu, expulsou um deputado do Plenário por ter dito a palavra filoetarra".

"Como líder político, como parlamentar da Assembleia de Madrid e, acima de tudo, como defensora da Democracia, quero dizer que é inaceitável o abuso que o Partido Socialista e a ultraesquerda estão fazendo das instituições", afirmou.

Segundo Ayuso, "é obrigação de todos os espanhóis dizer não ao autoritarismo do PSOE e da ultraesquerda" por expulsar "um deputado que define um partido liderado por membros que pertenceram ao ETA como filoetarra ".

A Presidente da Comunidade defendeu que não deviam ter falado em "filoetarras", mas "simplesmente em membros da ETA ou o que quer que considerem porque por isso são parlamentares no livre exercício da palavra".

“O divisionismo não é católico”, afirma Francisco

Em entrevista concedida à Revista America dos jesuítas norte-americanos, Francisco afirma que “o divisionismo não é católico. Um católico não pode pensar ‘ou, ou’ e reduzir tudo a posições irreconciliáveis. A essência do católico é ‘e, e’. O católico une o bem e o não tão bom. O povo de Deus é um”.

Aceitando que o Espírito Santo provoca inicialmente o espanto e a “perturbação”, Francisco refere que, depois, “Ele é autor de harmonia. O Espírito Santo na Igreja não reduz tudo a um único valor, mas harmoniza as diferenças dos contrários. Esse é o espírito católico. Quanto mais harmonia entre diferentes e entre opostos, mais católico”.

Sobre a ordenação das mulheres, Francisco esclarece: Porque a mulher não pode entrar nos ministérios, ser ordenada? Porque o princípio petrino não o permite”.

Sobre os abusos esclareceu: “O costume na Igreja era o usado nas famílias ou em algumas outras instituições: encobrir”, mas “a Igreja fez uma opção: não encobrir. E a partir daí avançou-se através dos processos judiciais, da criação da Pontifícia comissão para a Tutela dos Menores”. E acrescentou: “Quando as pessoas honestas veem como a Igreja assume esta monstruosidade, dão-se conta de que uma coisa é a Igreja e outra coisa são os abusadores que estão dentro da Igreja e que são punidos pela própria Igreja.

Fiasco do primeiro filme de animação 3D da Disney, Avalonia

O desinteresse do público pelo primeiro filme de animação 3D da Disney, Avalonia, com um herói abertamente homossexual tanto nos Estados Unidos, como no resto do mundo, anunciam perdas colossais que podem chegar aos 100 milhões de dólares. Trata-se de um filme de aventura e science fiction.

Dois padres presos ilegalmente em Donetsk, Ucrânia

Os Padres redentoristas Ivan Levystky e Bohan Geleta foram acusados de posse ilegal de armas, munições, livros sobre a história da Ucrânia, encontrados na igreja onde exerciam as suas atividades pastorais e foram detidos pelas tropas russas de Berdyansk, na região de Donetsk, acusados de atividade subversiva e de guerrilha.

Os bispos da Igreja Geco-Católica da Ucriania, ligada a Roma, denunciam a detenção furto de uma calúnia clara e uma falsa acusação e pediram a libertação imediata dos sacerdotes. Os dois presbíteros estavam presos quando as armas foram encontradas nas instalações paroquiais e, por isso, não podem assumir quaisquer responsabilidades pelas armas pretensamente encontradas no local.

Twitter já não controlará as informações sobre a Covid

Depois da compra do Twitter por Elon Musck, a plataforma informa que não controlará mais as informações sobre o vírus.

domingo, 23 de outubro de 2022

Com o nascimento de Jesus Cristo, Deus quis elevar as mulheres

 


Porquê o Verbo de Deus quis humilhar-Se a ponto de nascer de uma Mulher, uma pobre Virgem, desconhecida do mundo, e que afinal era apenas uma mera criatura?

Os Padres da Igreja e inúmeros santos dissertaram sobre este tema e escreveram vários volumes para responder a esta pergunta e não a esgotaram. Com efeito, para o expor digna e completamente seria preciso conhecer as razões divinas, que são infinitas de bondade, poder e sabedoria. E isto é impossível! Contudo, levantemos alguns pontos de reflexão:

Teria Deus querido nascer de Maria Santíssima, para glorificar os dois sexos, para as mulheres não terem inveja dos homens e vice-versa?

Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador, era homem, mas devia o seu nascimento a uma mulher. Maria comunicou-Lhe toda a natureza humana, dando-lhe a capacidade de ser homem. Assim, Cristo é Deus, mas Maria é sua mãe e este título, dá-lhe autoridade e até certa superioridade sobre o seu Filho.

Neste desígnio supremo da Providência, vemos como Deus quis elevar admiravelmente a mulher. Até então, as mulheres eram consideradas inferiores, brinquedos frágeis nas mãos dos homens, quando não eram as suas vítimas. Os Severianos, por exemplo, uma seita herética, chegaram a declarar que as mulheres não eram obra de Deus, mas de Satanás, e que não foram redimidas pelo sangue do Calvário.

Sem dúvida Eva, a primeira mulher, inoculou-nos a terrível doença do pecado original, mas que remédio admirável, infinitamente superior ao mal, Nossa Senhora deu-nos com a Encarnação!

O Filho de Deus feito homem, sem dúvida assumiu as enfermidades da natureza humana, mas também as grandezas, as prerrogativas que a honram. As mulheres têm um coração, impregnado de bondade. Por isso, na Encarnação, que é antes de tudo mistério de bondade, Deus quis fazer transparecer o melhor da mulher que é a ternura e misericórdia.

Leiamos os Evangelhos sob esta perspetiva: o Salvador, por exemplo, na parábola do filho pródigo, no julgamento da adúltera, quando se comove pelo filho do oficial de Cafarnaum, diante do caixão do filho da viúva de Naim, no túmulo de Lázaro, mostra-se como pai, com o rigor e dos homens? Não! Ele mostra-Se sobretudo como mãe. Em muitas outras partes da Sagrada Escritura vemos surgir em Nosso Senhor Jesus Cristo, além da sua divina mansidão, aquela bondade humana que herdou de Nossa Senhora, uma bondade mais terna, mais compassiva, mais delicadamente penetrante, sem qualquer traço de frieza ou impassibilidade, própria aos homens.

Além destes aspetos, o Seu nascimento de uma Virgem foi o único digno de Deus, a única "entrada verdadeiramente real no mundo", segundo as palavras de São Crisóstomo.

O Salvador não poderia vir ao mundo como um de nós! E a virgindade de Maria é uma das provas da sua divindade. A honra de Deus exigia este milagre único e incomparável, e na verdade não entenderíamos que Nosso Senhor Jesus Cristo pudesse ter nascido de outra forma, caso contrário ligaríamos sempre ao Seu nascimento uma ideia de impropriedade, desonra ou pelo menos desrespeito. Pelo contrário, sendo Maria Santíssima sua mãe e tendo permanecido virgem, tudo se explica e admiramos este meio maravilhoso, esta invenção divina que dá vida ao nosso Divino Salvador, sem que Ele carregue nenhuma das manchas ou vergonhas da carne.

Santo Agostinha perguntava-se no Sermão VI sobre a Natividade do Senhor: “Como poderia Cristo, em seu nascimento, violar a integridade virginal, Aquele que veio curar toda corrupção?”

Finalmente, a virgindade de Maria, continua Santo Agostinho, não era o símbolo da pureza virginal da Igreja? Como Jesus Cristo nasceu de uma Virgem, os seus membros deveriam nascer da Igreja virgem. Orgulhemo-nos de ser filhos da Igreja Católica, esta virgem ‘sem mancha, nem ruga´, esta mãe imaculada e fecunda, que em nossos dias está sendo impiedosamente atacada pelos seus inimigos internos e externos. Na nossa vida, acima de tudo, sejamos dignos d’Ela, dignos de Maria Santíssima, pela nossa pureza de costumes, conduta integra e piedade!

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Tomás de Canterbury, mártir da separação da Igreja e do Estado


Tomás de Canterbury foi um dos homens que mais brilhantemente lutou pela Igreja, na Inglaterra do século XII.

Bossuet, o famoso orador francês, no panegírico que fez deste santo, glorificou o Primaz da Inglaterra chamando-o de “heroico defensor das liberdades cristãs”: "A Igreja", disse ele, "precisava de sangue para fortalecer a sua autoridade, como o Sangue divino tinha sido derramado para o estabelecimento da sua doutrina". Foi para o triunfo desta nobre causa que Tomás Becket dedicou todos os seus esforços, tornando-se num modelo de coragem inflexível, intrépido até a morte.

A situação da Igreja da Inglaterra na segunda metade do século XII era aproximadamente aquela que muitos dos nossos legisladores gostariam de impor: a sujeição do poder religioso ao poder. civil. O homem que, então, sonhava em oprimir o catolicismo na Grã-Bretanha ou, pelo menos, substituí-lo por uma Igreja nacional, chamava-se Henrique Plantagenet: um príncipe traiçoeiro e violento, no qual, como bem assertivamente expressou o Beato Frederico Ozanam, "o espírito da tirania elevou-se ao poder supremo, mas encontrou na pessoa de Tomás Becket uma incalculável força de oposição”.

Depois de ter sido o primeiro dos ministros e dignitários da coroa, Tomás Becket ocupou a cátedra primacial de Canterbury. No dia da sua coroação, o bispo fez-lhe a seguinte pergunta: "Resta-me pedir-lhe que escolha entre duas coisas que não me parecem compatíveis e que declare o que prefere: os favores e obséquios do rei desta terra, ou a do Rei dos céus. — “Com a ajuda de Deus”, respondeu Tomás, “a minha escolha já está feita. Jamais, por amor de um rei desta terra e para preservar os seus favores, renunciarei à graça do Rei do Céu”.

Na sua nova morada, o Primaz, segundo as palavras de Ozanam, “não conservou outra pompa senão a da esmola e da hospitalidade”. Ali, levava a vida laboriosa e mortificada de um monge beneditino. Prevendo que, como sucessor, Santo Anselmo, teria de continuar os mesmos combates contra os poderes do mundo, escolheu-o como modelo: não deveria, aliás, a seu exemplo, fazer prevalecer sobre as exigências régias o non possimus da fé?

No primeiro debate, a questão polémica entre Henrique II e Tomás Becket foi uma questão da jurisdição. Um cônego de Canterbury insultou oficiais reais. De acordo com a disciplina da época, o tribunal do arcebispo, – o único autorizado, em tal caso – condenou o culpado a açoitamento e suspensão temporária do ministério e benefícios inerentes ao seu cargo. Mas Henrique II, considerando esta sentença muito leve, quis encaminhá-la ao tribunal civil. Tomás protestou em nome do direito da imunidade que os membros da Igreja tinham. Este foi o início de uma luta que seria tão longa, quanto dolorosa.

Henrique II, para atingir os seus objetivos, resolveu então restabelecer os chamados “costumes reais”, que tornavam qualquer dignitário eclesiástico sujeito à autoridade secular. A partir de então, desapareceu a hierarquia católica, cujos membros se renovavam e sucediam-se por transmissão legítima. Da mesma forma, o Papa e os Bispos perderam a sua jurisdição e não tinham mais poder coercitivo ou penal sobre os dissidentes em assuntos religiosos. Os “costumes reais” eram, portanto, uma verdadeira carta de servidão. Ao separar a Igreja da Inglaterra da grande sociedade cristã, ela foi despojada da sua liberdade primitiva para rebaixá-la aos pés do trono como uma aristocracia vassala. Basicamente, o que Henrique Plantagenet buscava era destruir a imunidade eclesiástica, colocar as duas espadas em suas mãos e fazer da Igreja um instrumento do reinado. A esta pretensão régia, Tomás opôs-se fortemente e respondeu que observaria os “costumes do reino”, "menos a honra e os direitos da sua ordem, salvo ‘ordine suo’" segundo a fórmula utilizada na ordenação episcopal.

No começo, o arcebispo de Canterbury expiará a sua coragem em opor-se ao poder usurpador, ficando seis meses exilado.

Obrigado a fugir da Inglaterra, o sucessor de Santo Anselmo de Cantuária desembarcou, após difícil travessia, a 2 de novembro de 1170, pouco antes do pôr-do-sol, nas praias do Boulonnais, a cerca de cinco quilómetros de Gravelines, para de lá, dirigir-se, imediatamente, a Soissons . Depois dali ter recebido a hospitalidade do rei da França que nele venerava um bispo perseguido injustamente, apressou-se a visitar o papa Alexandre III em Sens, ele próprio banido de Roma pelo imperador Frederico “Barba ruiva”, da Alemanha. Entre os dois ilustres exilados ­– um usando a coroa de espinhos do papado e representando o direito contra a força, e o outro que logo usaria a auréola do martírio – a entrevista foi tocante. Eles expuseram a tristeza mútua e fortaleceram-se na provação, pela troca de pensamentos mais corajosos.

Alexandre III, depois de renovar a confiança em Tomás Becket, implorou-lhe que fosse para a abadia cisterciense de Pontigny, que era filha de Citeaux. E foi o que sucedeu. Lá viveu pacificamente sob o hábito monástico, dividindo os seus dias entre oração e estudo.

Henrique II, informado da nova residência do Primaz, ameaçou suprimir imediatamente nos seus Estados todos os conventos da Ordem, se os monges não o afastassem, o mais rapidamente possível. E os monges cederam. O próprio rei da França, temendo o seu rival inglês, desistiu da causa do Bispo proscrito.

Como Tomás Becket foi perguntado onde esperava refugiar-se, respondeu: “Ouvi que nas margens do Saône e até às terras da Provença, os homens são livres... Irei para lá, e talvez vendo a minha aflição, as pessoas tenham pena de mim».

Em Lyon, onde foi acolhido, aproximou-se do túmulo de Santo Irineu, onde meditou sobre a ciência dos mártires. Em cartas admiráveis, que são um monumento precioso para a história da época, expôs as suas cruéis desventuras e verteu lágrimas pela sua Igreja enlutada.

Finalmente, Henrique II, temendo a excomunhão com que Roma o ameaçava, consentiu numa reconciliação oficial, ocorrida em 1170, no dia em que se comemorava a memória de Santa Maria Madalena. O rei prometeu, na presença de um grande número de notáveis, devolver à Igreja da Inglaterra o uso das suas liberdades e os seus direitos. Infelizmente, tratou-se de um perjúrio!

Ansioso em rever os seus fiéis, Tomás deixou a França. Assim que o navio que o transportava tocou a costa britânica, uma multidão correu até ele, ovacionando-o durante todo o caminho até à sua cidade episcopal. Nada mais era preciso para renovar e envenenar o ódio do rei.

Certo dia, vários cavaleiros da sua comitiva ouviram Henrique II pronunciar as seguintes palavras: "Quem me livrará deste homem?"

O projeto do crime foi imediatamente concebido, e os assassinos chegaram a Cantuária no dia seguinte, 29 de dezembro, festa dos Santos Inocentes. Era a hora da recitação das Vésperas. O Primaz acabara de entrar na velha e imponente catedral para cantar o ofício com os monges, quando os assassinos avançaram, espada na mão, perguntando: “Onde está o arcebispo?” Este desceu imediatamente os degraus do presbitério e exclamou: "Aqui estou. Eu sou o arcebispo! Se é a minha cabeça que estão à procura, ofereço-a. Morro de bom grado pela paz e pela liberdade da Igreja”.


Sem mais delongas, um violento golpe de espada atingiu-o na cabeça, “no lugar da tonsura ou ‘coroa clerical’ e por onde escorreu os santos óleos, durante a sua sagração. Rapidamente, o Santo Bispo caiu e morreu como o bom Pastor no meio do seu rebanho". Nenhum traço de alteração apareceu nas suas feições", narra o seu último historiador. “Os olhos e lábios pareciam suavemente fechados, indicando uma paz celestial, e o sangue das suas feridas, coagulado, formou um círculo de rubis ao redor da sua cabeça».

Tal era a sua fama de santidade, que bastaram dois anos e dois meses para que Tomás fosse canonizado, no dia 21 de fevereiro de 1173. Toda a sua vida pode ser resumida nestas belas palavras, tiradas da Bula da sua canonização: “Pro iustitia Dei et Eclesiae libertate decertavit. Lutou pelos direitos de Deus e pela liberdade da Igreja”. Por outro lado, a mão da Providência foi visivelmente pesada com a casa real da Inglaterra: não apenas Henrique II foi odiosamente traído pelo seu próprio filho, mas logo veríamos a dinastia Plantageneta extinta com a Guerra das Duas Rosas. É assim que a Igreja triunfa!

A história de São Tomás Becket é parecida com a de muitas figuras eclesiásticas. Foi a de Santo Ambrósio diante de Teodósio, a do Papa Pio VII face a Napoleão I. O seu desenvolvimento constitui um dos episódios mais gloriosos da luta entre o sacerdócio e o império.

Ainda hoje, como no passado, muitos cristãos, ao venerarem as relíquias de São Tomás Becket, pedem-lhe coragem para defender a fé.

O'Connell, por exemplo, líder nacionalista irlandês da primeira metade do século XIX, conhecido como o “Libertador” ou “Emancipador”, ao visitar a Inglaterra e ao passar por Canterbury venerou "as lajes da incomparável catedral, manchada com o sangue de um mártir, cujo relicário está lindamente adornado de pedras preciosas e esmaltes".

Recordemos ainda a história do arcebispo Dom Georges Darboy que recebeu no dia em que tomou posse da Catedral de Paris, em 1863, a cruz que São Tomás de Cantuária carregava quando foi assassinado. "Aceitei o presságio", disse.  Pouco tempo depois, no dia 4 de abril de 1871, durante a Comuna de Paris, foi encarcerado e no dia 24 assassinado. A batina ensanguentada de Dom Darboy e a cruz de São Tomás encontram-se depositadas no tesouro de Notre-Dame, retiradas durante o incêndio de 15 de abril de 2019.

Que ensinamento podemos tirar da história de São Tomás Becket?

Em primeiro lugar, que a Igreja, cidadela sagrada da liberdade de consciência, foi sempre perseguida, no passado, como hoje continua a ser, fazendo com o sangue dos mártires seja derramado pela fidelidade aos ensinamentos de Cristo, à sua causa e às suas leis.

Em segundo lugar, ela convida-nos a permanecer sempre filhos devotados da Igreja; a não nos calarmos quando pretenderem retirar os seus direitos; a ouvi-la quando fala, ensinando o Evangelho; e a apoiá-la quando é atacada pelos seus inimigos internos e externos. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Ne jamais perdre l'espérance de son salut: l'exemple du Bon Larron

Normalement, la sainteté consiste à vivre en présence de Dieu, à obéir à ses commandements, à s'efforcer d'être parfait comme notre Père céleste est parfait. Cependant, avec Saint Dimas, le Bon Larron, la miséricorde de l’Homme Dieu a touché son cœur au dernier moment et son repentir a été parfait, ouvrant ainsi pour lui les portes du Ciel, avant même les Apôtres. Jésus a voulu nous laisser cet exemple pour que nous ne désespérions jamais de notre salut. C'est ce qu'explique saint Jean Chrysostome dans son septième Sermon sur la Genèse :

 « Le diable a chassé Adam du paradis, le Christ y a introduit le voleur. Examinez la différence. Le premier a chassé l'homme qui ne portait pas un péché mais une seule souillure de désobéissance, le Christ a introduit, comme cela, dans le paradis, un voleur qui traînait de lourdes fautes. La chose étonnante, est-ce donc seulement le fait qu'il ait introduit un voleur dans le paradis, et rien d'autre ?

« Il faut ajouter quelque chose d'encore plus grand. En effet, il n'a pas seulement introduit un voleur mais encore il l'a fait devant toute la terre et devant les apôtres, afin que personne, par la suite, ne désespère de sa possibilité d'entrer au paradis et ne perde l'espérance de son salut, en voyant séjourner dans les demeures royales un homme chargé de maux innombrables.

« Le voleur a-t-il mis en avant ses efforts et ses bonnes actions et leurs fruits ? Non, mais, par une simple parole, par la foi seule, il a fait, devant les apôtres, irruption dans le paradis – et cela afin que tu apprennes que ce n'est pas tant la noblesse de ses sentiments qui a prévalu que la bienveillance du Seigneur qui a tout fait.

« En effet, qu'a dit le voleur ? qu'a-t-il fait ? a-t-il jeûné ? pleuré ? déchiré ses vêtements ? a-t-il mis en avant une longue pénitence ? nullement ; mais c'est sur la croix elle-même qu'il a obtenu le salut, avec sa déclaration. Voyez la rapidité : de la croix au ciel, de la condamnation au salut.

« Quelles sont donc ces paroles ? quel pouvoir ont-elles qu'elles lui aient apporté de tels biens ? « Souviens-toi de moi, dit-il, dans ton royaume » (Lc 23,42). Qu'est-ce que cela signifie ? il demanda à recevoir des biens, il ne mit absolument pas en avant ses propres actes, mais, connaissant son cœur, il ne se préoccupa pas de ses actions, mais de ses dispositions intérieures.

« En effet, ceux qui avaient profité de l'enseignement des prophètes, vu les signes et contemplé les miracles, disaient du Christ : « Il est possédé d'un démon », et : « Il égare la foule » (Mt 11,18). Mais le voleur, qui n'avait pas écouté les prophètes ni vu les miracles, en le voyant cloué sur la croix, ne se préoccupa pas du mépris, et ne regarda pas le déshonneur mais regardant vers la nature divine elle-même, il dit : « Souviens-toi de moi dans ton royaume » (Lc 23,42). C'est ceci qui est inattendu et extraordinaire. Tu vois une croix : te souviens-tu du royaume ? Qu'as-tu vu qui ait la valeur du royaume ? un homme mis en croix, giflé, tourné en dérision, décrié, couvert de crachats, fouetté ; tout cela a-t-il la valeur du royaume, dis-moi ?

« Comprenez-vous qu'il regardait par les yeux de la foi et qu'il ne s'attachait pas aux apparences ? C'est pourquoi Dieu non plus ne s'attacha pas à ses actions seules mais, comme cet homme avait regardé à la nature divine, de même Dieu regarda au cœur du voleur et dit : « Aujourd'hui tu seras avec moi dans le paradis » (Lc 23,43) ».


segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A oração é um medicamento e fortificante para a fé


“É preciso que nos convençamos de que da oração depende todo o nosso bem. Da oração depende a nossa mudança de vida, o vencer das tentações; dela depende conseguirmos o amor de Deus, a perfeição, a perseverança e a salvação eterna”, afirmava Santo Afonso de Ligório.

No Angelus do dia 16 de outubro, o Papa Francisco comparou a oração a um medicamento que deve ser tomado sempre para que a nossa fé não fique tíbia e não seque. Através dela, Deus derrama amor, paz, alegria, força, esperança em nós todos os dias.

Para quem não tem muito tempo para rezar, Francisco aconselha a recitação de jaculatórias, orações muito curtas, fáceis de memorizar, que podem ser repetidas frequentemente durante o dia, no decorrer de várias atividades, para ficar “sintonizado” com o Senhor.

“Muitas vezes, concentramo-nos em tantas coisas urgentes, mas desnecessárias, ocupamo-nos e preocupamo-nos com muitas realidades secundárias; e talvez, sem nos darmos conta, negligenciamos o que mais importa e permitimos que o nosso amor por Deus arrefeça, arrefeça pouco a pouco. Hoje, Jesus oferece-nos o remédio para aquecer uma fé tíbia. E qual é o remédio? Oração. A oração é o remédio da fé, a restauradora da alma. Deve, no entanto, ser uma oração constante. Se tivermos de seguir uma cura para melhorar, é importante segui-la bem, tomar os medicamentos de forma correta e no momento estabelecido, com constância e regularidade. Em tudo na vida há uma necessidade disto. Pensemos numa planta que temos em casa: devemos nutri-la com constância todos os dias, não a podemos encharcar e depois deixá-la sem água durante semanas! Isto é válido para oração: não podemos viver apenas de momentos fortes ou de encontros intensos de vez em quando e depois “entrar em hibernação”. A nossa fé secará. Precisamos da água diária da oração, precisamos de tempo dedicado a Deus, para que Ele possa entrar no nosso tempo, na nossa história; momentos constantes em que abrimos o nosso coração a Ele, para que Ele possa derramar amor, paz, alegria, força, esperança em nós todos os dias; isto é, alimentar a nossa fé.

“Por isso Jesus fala hoje aos seus discípulos - a todos, não apenas a alguns! - «sobre a obrigação de orar sempre, sem desfalecer». Mas pode-se objetar: “Mas como faço? Não vivo num convento, não tenho muito tempo para rezar”. Talvez uma prática espiritual sábia possa vir em auxílio desta dificuldade, que é verdadeira, que hoje está um pouco esquecida, que os nossos idosos, especialmente as nossas avós, conhecem bem: a das chamadas orações jaculatórias. O nome está um pouco desatualizado, mas a substância é boa. Do que se trata? Orações muito curtas, fáceis de memorizar, que podemos repetir frequentemente durante o dia, no decorrer de várias atividades, para ficarmos “sintonizados” com o Senhor. Tomemos alguns exemplos. Assim que acordamos, podemos dizer: “Senhor, agradeço-te e ofereço-te este dia”: esta é uma breve oração; depois, antes de uma atividade, podemos repetir: “Vem, Espírito Santo”; e entre uma coisa e outra podemos rezar assim: “Jesus, confio em ti, Jesus, amo-te”. Pequenas orações, mas que nos mantêm em contacto com o Senhor. Quantas vezes enviamos “pequenas mensagens” a pessoas que amamos! Façamo-lo também com o Senhor, para que o coração permaneça ligado a Ele. E não nos esqueçamos de ler as suas respostas. O Senhor responde, sempre. Onde as encontramos? No Evangelho, que   deve sempre estar à mão para ser aberto algumas vezes durante o dia, para receber uma Palavra de vida dirigida a nós.

“E voltemos àquele conselho que tantas vezes dei: tende convosco um pequeno Evangelho, no bolso, na bolsa, e assim, quando tiverdes um minuto, abri-o e lede algo, e o Senhor responderá.

“Que a Virgem Maria, fiel na escuta, nos ensine a arte de rezar sempre, sem nos cansar”.


Após sessenta anos, a constatação do fracasso do Concílio Vaticano II


Para celebrar os sessenta anos do Concílio Vaticano II, o prestigiado jornal New York Times publicou um comentário de Ross Douthat, católico convertido, que não pretende fazer uma análise enigmática ou reacionária, mas aponta o fracasso do Concílio Vaticano II.

“O Concílio Vaticano II falhou nos termos estabelecidos pelos seus próprios partidários. Ele pretendia tornar a Igreja mais dinâmica, mais atraente para os tempos modernos, mais evangelizadora, menos fechada, obsoleta e autorreferencial. Nada disto aconteceu. A Igreja entrou em declínio em todo o mundo desenvolvido após o Vaticano II, sob papas conservadores e liberais, mas o declínio foi mais rápido, onde a influência do Concílio foi maior.

“A nova liturgia deveria envolver mais os fiéis na Missa; em vez disso, os fiéis começaram a passar as manhãs de domingo na cama e renunciaram às práticas quaresmais. A Igreja perdeu grande parte da Europa para o secularismo e grande parte da América Latina para o pentecostalismo: contextos e desafios muito diferentes, mas resultados surpreendentemente semelhantes”.

Em política, quando não se consegue o objetivo pretendido, analisa-se, constata-se o fracasso e traça-se um novo caminho.  

Veremos, portanto, as autoridades eclesiásticas proporem um caminho verdadeiramente espiritual para a Igreja, voltada para a Evangelização, para a salvação das almas, muito mais do que para a salvação dos corpos e da Natureza?

Quando deixaremos de ser prisoneiros de uma experiência fracassada e permitiremos que o Espírito Santo renove a face da Terra, concedendo um sopro de graças, qual nova Pentecostes, capaz de atrair os homens e conduzi-los ao Reino de Cristo, que é também o Reino de Maria, profetizado por Nossa Senhora de Fátima e, insistentemente, pedido por nós no Pai Nosso?

Segue abaixo o texto completo do artigo publicado no dia 12 de outubro de 2022. 


How Catholics Became Prisoners of Vatican II

The New York Times, Oct. 12, 2022, By Ross Douthat

Opinion Columnist

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The Second Vatican Council, the great revolution in the life of the modern Catholic Church, opened 60 years ago this week in Rome. So much of that 1960s-era world has passed away, but the council is still with us; indeed for a divided church its still-unfolding consequences cannot be escaped.

For a long time this would have been a liberal claim. In the wars within Catholicism that followed the council, the conservatives interpreted Vatican II as a discrete and limited event — a particular set of documents that contained various shifts and evolutions (on religious liberty and Catholic-Jewish relations especially) and opened the door to a revised, vernacular version of the Mass. For the liberals, though, these specifics were just the starting place: There was also a “spirit” of the council, similar to the Holy Spirit in its operation, that was supposed to guide the church into further transformations, perpetual reform.

The liberal interpretation dominated Catholic life in the 1960s and 1970s, when Vatican II was invoked to justify an ever-wider array of changes — to the church’s liturgy and calendar and prayers, to lay customs and clerical dress, to church architecture and sacred music, to Catholic moral discipline. Then the conservative interpretation took hold in Rome with the election of John Paul II, who issued a flotilla of documents intended to establish an authoritative reading of Vatican II, to rein in the more radical experiments and alterations, to prove that Catholicism before the 1960s and Catholicism afterward were still the same tradition.

Now in the years of Pope Francis, the liberal interpretation has returned — not just in the reopening of moral and theological debates, the establishment of a permanent listening-session style of church governance, but also in the attempt to once again suppress the older Catholic rites, the traditional Latin liturgy as it existed before Vatican II.

The Francis era has not restored the youthful vigor that progressive Catholicism once enjoyed, but it has vindicated part of the liberal vision. Through his governance and indeed through his mere existence, this liberal pope has proved that the Second Vatican Council cannot be simply reduced to a single settled interpretation, or have its work somehow deemed finished, the period of experimentation ended and synthesis restored.

Instead, the council poses a continuing challenge, it creates intractable-seeming divisions, and it leaves contemporary Catholicism facing a set of problems and dilemmas that Providence has not yet seen fit to resolve.

Here are three statements to encapsulate the problems and dilemmas. First, the council was necessary. Maybe not in the exact form it took, an ecumenical council summoning all the bishops from around the world, but in the sense that the church of 1962 needed significant adaptations, significant rethinking and reform. These adaptations needed to be backward-looking: The death of throne-and-altar politics, the rise of modern liberalism and the horror of the Holocaust all required fuller responses from the church. And they also needed to be forward-looking, in the sense that Catholicism in the early 1960s had only just begun to reckon with globalization and decolonization, with the information age and the social revolutions touched off by the invention of the contraceptive pill.

Tradition has always depended on reinvention, changing to remain the same, but Vatican II was called at a moment when the need for such change was about to become particularly acute.

This isn’t a truculent or reactionary analysis. The Second Vatican Council failed on the terms its own supporters set. It was supposed to make the church more dynamic, more attractive to modern people, more evangelistic, less closed off and stale and self-referential. It did none of these things. The church declined everywhere in the developed world after Vatican II, under conservative and liberal popes alike — but the decline was swiftest where the council’s influence was strongest.

The new liturgy was supposed to make the faithful more engaged with the Mass; instead, the faithful began sleeping in on Sunday and giving up Catholicism for Lent. The church lost much of Europe to secularism and much of Latin America to Pentecostalism — very different contexts and challengers, yet strikingly similar results.

And if anything, post-1960s Catholicism became more inward-looking than before, more consumed with its endless right-versus-left battles, and to the extent it engaged with the secular world, it was in paltry imitation — via middling guitar music or political theories that were just dressed-up versions of left-wing or right-wing partisanship or ugly modern churches that were outdated 10 years after they were built and empty soon thereafter.

There is no clever rationalization, no intellectual schematic, no sententious Vatican propaganda — a typical recent document refers to “the life-giving sustenance provided by the council,” as though it were the eucharist itself — that can evade this cold reality.

But neither can anyone evade the third reality: The council cannot be undone.

By this I don’t mean that the Mass can never return to Latin or that various manifestations of post-conciliar Catholicism are inevitable and eternal or that cardinals in the 23rd century will still be issuing Soviet-style praise for the council and its works.

I just mean that there is no simple path back. Not back to the style of papal authority that both John Paul II and Francis have tried to exercise — the former to restore tradition, the latter to suppress it — only to find themselves frustrated by the ungovernability of the modern church. Not to the kind of thick inherited Catholic cultures that still existed down to the middle of the 20th century, and whose subsequent unraveling, while inevitable to some extent, was clearly accelerated by the church’s own internal iconoclasm. Not to the moral and doctrinal synthesis, stamped with the promise of infallibility and consistency, that the church’s conservatives have spent the last two generations insisting still exists, but that in the Francis era has proved so unstable that those same conservatives have ended up feuding with the pope himself.

The work of the French historian Guillaume Cuchet, who has studied Vatican II’s impact on his once deeply Catholic nation, suggests that it was the scale and speed of the council’s reforms, as much as any particular substance, that shattered Catholic loyalty and hastened the church’s decline. Even if the council’s changes did not officially alter doctrine, to rewrite and renovate so many prayers and practices inevitably made ordinary Catholics wonder why an authority that suddenly declared itself to have been misguided across so many different fronts could still be trusted to speak on behalf of Jesus Christ himself.

After such a shock, what kind of synthesis or restoration is possible? Today all Catholics find themselves living with this question, because every one of the church’s factions is in tension with some version of church authority. Traditionalists are in tension with the Vatican’s official policies, progressives with its traditional teachings, conservatives with the liberalizing style of Pope Francis, the pope himself with the conservative emphasis of his immediate predecessors. In this sense, all of us are the children of Vatican II, even if we critique or lament the council — or perhaps never more so than when we do.

Here, again, the liberals have a point. The most traditionalist Catholics are stamped by what began in 1962 as surely as this anti-traditionalist pope, and the merely conservative — such as, well, myself — are often in the position described by Peter Hitchens, writing about the European high culture shattered by World War I: We may admire the lost world’s intensity and rigors, but “none of us, now, could bear to return to it even if we were offered the chance.”

But this point does not vindicate the council, let alone the ever-evolving liberal interpretation of its spirit. The church has to live with Vatican II, wrestle with it, somehow resolve the contradictions it bequeathed us, not because it was a triumph but precisely because it wasn’t: Failure casts a longer and more enduring shadow, sometimes, than success.

You begin from where you are. The lines of healing run along the lines of fracture, the wounds remain after the resurrection, and even the Catholicism that arrives, not today but someday, at a true After Vatican II will still be marked by the unnecessary breakages created by its attempt at a necessary reform.


quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A caridade feita às almas prevalece sobre a atenção dada aos corpos

 


Em todas as circunstâncias, até mesmo nos detalhes, a caridade deve ser exercida de maneira respeitosa e delicada.

Quando Nossa Senhora foi visitar a sua prima Santa Isabel, o seu primeiro gesto foi o de cumprimentar o casal. Na multiplicação dos pães, Nosso Senhor Jesus Cristo fez com que a multidão se sentasse e, só depois, ofereceu os alimentos. Muitos santos ajoelhavam-se diante dos pobres, como o Salvador na noite da Quinta-feira Santa, diante dos seus discípulos, para lavar-lhes os pés e até as chagas. Para eles, servir aos pobres era servir a Jesus na pessoa do infeliz. Era a Ele que davam comida, enquanto saciavam os famintos; era a Ele que refrescavam, quando davam de beber aos sedentos; era a Ele que acolhiam, quando recebiam nas suas casas os que viviam nas ruas ou quando lhes ofereciam roupas; era a Ele que visitavam quando regularmente se dirigiam aos hospitais e prisões.

Quando a pessoa do doente, do pobre, do indigente é vista sob este prisma, ela fica engrandecida e até enobrecida. Muitas vezes, Deus quis encorajar os santos a revelarem aos que os cercavam qual era o verdadeiro motivo da sua caridade, operando milagres. Às portas de Amiens, em França, São Martinho cortou a sua capa em dois para vestir um pobre que tremia de frio. Pouco depois, Jesus apareceu-lhe, vestindo o manto dado ao infeliz. Santa Isabel da Hungria cuidou de um leproso e chegou a oferecer o seu leito, deitando-o sobre a sua cama. Como o gesto foi praticado por caridade, seu marido não viu o leproso, mas um crucifixo. São Francisco de Assis cavalgava por uma planície, quando avistou na estrada um leproso. Normalmente, um jovem elegante, como era o Pobre de Assis, tapava o nariz para não sentir o cheiro forte das partes do corpo apodrecidas pela doença. Naquele dia, a graça de Deus tocou o seu coração. Ele desmonta, deposita a sua esmola na mão enfaixada e beija-a com respeito. Antes de retomar a viagem, feliz pela sua boa ação, volta-se e vê que o pobre homem desaparecera misteriosamente, sugerindo-lhe que era o próprio Cristo que tinha aparecido ao seu servo na forma de leproso.

Talvez hoje, com a diminuição da fé, tenhamos perdido algo desse respeito pelos pobres, pelos doentes, pelos sofredores. A nossa atenção vai mais para os excelentes avanços científicos, para os remédios que devem tomar, do que com a suavidade, o respeito e carinho que merecem. Por vezes, esses infelizes não pedem caridade, mas justiça e chegam, eles mesmos, a ajudar quem é ainda mais miserável ​​do que eles, porque sabem que há mais alegria no dar, do que no receber.

Tomando novamente o exemplo de Nossa Senhora, durante a visitação, consideremos que Ela ficou com Santa Isabel por aproximadamente três meses. Não se tratava de fazer uma visita rápida: cumprimentar, felicitar e sair. Ela quis ensinar-nos que o sucesso de todas as obras de caridade está na perseverança. O demónio leva tempo, dez, vinte, quarenta anos para levar uma alma à sua perdição, e nós, para levarmos uma alma a Deus, para a trazer de volta a Ele pelo exercício da caridade, devemos ter paciência, sermos perseverantes, pois só assim os nossos esforços não serão em vão.

É claro que para se chegar à alma, é preciso primeiro ajudar os corpos, dar pão aos famintos, antes de lhes consolar com belas palavras, contar-lhes um fato edificante, um exemplo de vida e convidar-lhes a voltarem-se para Deus e Nossa Senhora. Ninguém, a menos que não tenha coração, recusaria alimento a um miserável exausto e fraco. Contudo, não devemos esquecer-nos de que o fim último da nossa caridade deve ser sempre chegar, para além do corpo, ao coração.

Quando ocorre um acidente, uma guerra, como foi o caso da invasão da Ucrânia pelas tropas russas, a Europa inteira emocionou-se e foram organizados envios de bens, que aliviavam o sofrimento material, o que é excelente num primeiro momento. Mas qual foi a ajuda para o aplacar a dor dos corações? Já o grande São Bernardo de Claraval afirmava que a angústia das almas, move-nos menos do que a do corpo. E ele dava o exemplo, adaptado à sua época onde os animais substituíam os tratores, etc: “Um animal cai e muitos braços são oferecidos para o levantar. Uma alma afunda-se no pecado, ninguém vem em seu auxílio”. No entanto, concluía o Santo, a caridade feita às almas prevalece sobre a atenção dada aos corpos.

E isto, porque devemos amar o nosso próximo como Jesus o ama. O Bom Pastor veio para dar a vida às suas ovelhas, não a do corpo, mas a vida sobrenatural da alma, abrindo-lhes as portas do Céu. É para garantir esta salvação das almas que Jesus pregou, viveu e morreu na cruz. À beira do poço de Jacó, Ele esperou a mulher samaritana. Ele ansiava por essa alma, pelo seu retorno a Deus. Ele via a angústia moral dela e teve pena, porque conhecia a sua fraqueza.

Também hoje Nosso Senhor tem pena das nossas fraquezas! Para que não caiamos pelo caminho, fez-Se alimento, esconde-Se, sob as espécies de pão, na Eucaristia. Fortalecidos por este alimento celestial, temos mais coragem para escalar o árduo caminho do dever e sermos fiéis à nossa vocação específica, como pais de família, solteiros, sacerdotes ou religiosos.

No Horto das Oliveiras, Nosso Senhor pensou nas almas e especialmente naquelas que não iriam querer saber da sua Paixão e Morte, e sofreu ainda mais no seu coração. Ainda na cruz, esquecendo-Se das enormes torturas pelas quais passou, continuou a pensar nelas e bradou: “Tenho sede!” Não era um pouco de água que os seus lábios ressecados pediam. O seu Divino Coração queria almas, é delas que Ele tinha sede.

Seguindo o exemplo do Divino Mestre, a Igreja continua a sua missão evangelizadora de salvar almas. O missionário deixa os seus pais, os seus entes queridos, o seu país e parte para terras longínquas, não para fazer fortuna, mas para conquistar almas para Cristo. A religiosa que deixa o mundo e trabalha infatigavelmente num hospital ou numa enfermaria, também espera ganhar almas para Deus. E é, justamente, por temerem que essa caridade abra os corações para Deus e Nossa Senhora que uma corrente moderna e alguns políticos querem expulsá-los e não os querem à junto do leito dos moribundos, aceitando, no máximo, que tratem do corpo, mas nunca da alma.

Salvar almas também deve ser o objetivo de todo o cristão. À nossa volta, na nossa família, no nosso local de trabalho, há almas mortas que precisam de ser ressuscitadas, almas doentes que requerem cuidados delicados, almas perdidas que procuram o seu caminho. Conviver com essas angústias sem ajudá-las é indigno de um discípulo de Jesus.

Este apostolado é um esforço enorme, especialmente nos nossos dias! Mas recordemos de que seremos julgados pela nossa fé, nossas orações, por termos sido bons samaritanos, por termos cumprido os mandamentos e estejamos confiantes de que, com a ajuda de Nossa Senhora, um dia ouviremos o doce convite dirigido àqueles que praticaram a caridade: "Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo" (Mt 25, 34).