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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Um meio fácil de se chegar à perfeição

 


Durante muitos anos, dois anacoretas pediram a Deus que lhes indicasse qual deveria ser a melhor maneira de O servir na perfeição.

Certo dia, cada um, separadamente, ouviu uma voz interior que lhes dizia para irem até à cidade de Alexandria, onde encontrariam um homem chamado Eucaristo, cuja mulher chamava-se Maria, que serviam a Deus mais perfeitamente que eles. Com este casal, aprenderiam a melhor honrar e amar a Deus.

Apesar de idosos e com dificuldades de locomoção, os eremitas não hesitaram em fazer-se rapidamente à estrada. Uma vez chegados a Alexandria, bateram de porta a parte, mas sem sucesso. Ninguém conhecia Eucaristo. Depois de três dias, começaram a duvidar da auteno cidade da voz interior e já prestes a voltar para a recolhimento, quando se aperceberam de uma mulher, que se encontrava de pé ao lado de uma pobre casa. Numa última tentativa, perguntaram-lhe:

- Senhora! Por acaso, conhece um homem chamado Eucaristo?

Qual não foi o espanto ao ouvirem a resposta:

- Claro que sim! É o meu marido.

Então, a senhora, chama-se Maria?

- Quem lhes informou sobre o meu nome?

Ouvimos uma voz interior que nos disse para vir a Alexandria, para falar com o Eucaristo e a sua mulher, Maria.

Eucaristo demorou ainda algum tempo a chegar, pois passara o dia no campo, com o seu rebanho de ovelhas. Os anacoretas correram ao seu encontro, saudaram-no e pediram-lhe que lhes contasse como era o seu estilo de vida.

- Sou um pobre pastor!

Mas, não era isto o que os eremitas queriam saber.

-  Dizei-nos, por favor, a maneira com que o senhor e a sua esposa louvam e servem a Deus.

Surpreso, Eucaristo replicou:

- Irmãos, sois vós que deveis nos ensinar como fazer! Somos ignorantes e não sabemos nem amar, nem servir a Deus.

Não importa, responderam os dois anciãos. Viemos aqui da parte de Deus, para saber de vós, como O servis.

Sentindo-se que se tratava de uma ordem, Eucaristo começou a contar-lhes:

- Minha mãe amava e temia muito a Deus. Desde a minha mais tenra infância, ensinou-me que devia fazer tudo e suportar tudo por amor de Deus. Segui este conselho desde muito jovem. Obedeci, por amor de Deus. Sofri todas as correções, por amor de Deus. Privei-me de pequenas guloseimas, tão desejadas quando somos crianças, ou de certas brincadeiras, próprias às estas idades, por amor de Deus. Continuei toda a minha vida com esta prática, procurando reportar tudo a Deus. Ainda hoje, pela manhã, levanto-me, por amor de Deus. Rezo e ofereço-Lhe o meu dia. Trabalho, por amor a Ele. Descanso, quando necessito, por amor de Deus e para melhor O servir. Sofro fome, frio, calor, a minha pobreza, as minhas doenças, as más colheitas do ano, por amor de Deus. Não tive filhos, vivi sempre com a minha mulher, como minha irmã e em grande paz. Isto é tudo o que eu e a minha mulher fazemos.

Mas, vocês têm bens? Perguntaram os eremitas.

- Temos poucas coisas, respondeu Eucaristo, como este rebanho, que herdei dos meus pais. Mas Deus abençoa o que temos e nada nos tem faltado. Pelo contrário, temos conseguido poupar e utilizar apenas um terço do que ganhamos. O resto, dividimos: metade para a Igreja e a outra metade para os pobres e os viandantes. Confesso que como muito pouco, mas não posso reclamar por falta de alimentos. Aceitamos tudo o que temos, por amor de Deus.

E quanto a inimigos. Tendes? Questionou o anacoreta mais velho.

- Quem não os tem? Respondeu rapidamente Eucaristo. Procuro não fazer mal a ninguém e não falar mal de ninguém. Mesmo assim, temos inimigos. São pessoas invejosas, mas não queremos mal a eles. Procuro ajudá-las, por amor de Deus. Quando alguém fala mal da minha mulher ou de mim ou lesa-me em alguma coisa, sofro em silêncio, por amor de Deus.  

E com um sorriso, concluiu:

- Assim somos e esta é a minha conduta e a da minha mulher Maria.

Ao ouvirem este testemunho de vida santa, os anacoretas despediram-se e retornaram para o seu isolamento, cheios de admiração e consolados, por terem aprendido um meio fácil de se chegar à perfeição, acessível a todos.

No século XXI, ainda se deve falar de temor de Deus?

 


Numa era em que só ouvimos falar do amor e da misericórdia infinita de Deus - tão necessários para a nossa salvação - ainda faz sentido considerarmos o temor de Deus, um conceito relegado ao esquecimento?

Todos estimamos a virtude, mas, infelizmente, poucos procuram adquiri-la.  Muitos nem sabem o que ela significa, pois não sabem discernir a verdadeira da falsa virtude.

Enchemos a boca para dizer que queremos ser virtuosos, contudo cada um de nós tem um conceito diferente do que isto significa, julgando cada um segundo a sua própria inclinação.

Uns imaginam que ser virtuoso é não ter certos vícios e não ser mau. Outros fazem consistir a virtude em não cometer certos pecados, como não matar e não roubar, e não ter certos defeitos grosseiros - mesmo tendo outros enormes - que não conhecem e não querem sequer ver. Outros, finalmente, crêem-se virtuosos porque praticam certos atos externos de piedade, mas negligenciam o interior das suas consciências e dos seus corações e os seus deveres de estado, como pais, religiosos, sacerdotes, etc.

Todos as pessoas que entram nas características acima descritas estão muito erradas! E o pior é que muitos estão convencidos de estarem no caminho que os conduzirá ao Céu, apesar de se encontrarem na via que, se não corrigida, será de perdição, pois como diz o livro do Provérbio: “Há caminhos que ao homem parecem retos, mas que afinal conduzem à morte” (Pr 16, 25).

A virtude não depende das ideias dos homens, nem do tempo no qual se vive, mas de Deus, que indica e prescreve como quer ser servido.

Vejamos o que Ele diz nas Escrituras e compreenderemos que a virtude consiste em temê-L’O e em fugir de tudo o que Lhe possa desagradar. Ele ensinou aos homens, diz Job, que “o temor do Senhor é a verdadeira sabedoria” (Jo 28, 28). “Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque este é dever de todo o homem (Ecl 12, 13).

Temos nesta frase de Qoelet a indicação clara da nossa obrigação, de como devemos fazer para adquirirmos a virtude, a perfeição e a alegria: o temor de Deus e a observância da Lei Divina, no seu todo e não apenas em alguns mandamentos que temos mais facilidade em praticar, por uma graça de Deus. Para isto, nascemos! Este é o fim da vida, que nos conduz à verdadeira felicidade.

Acontece que este temor de Deus não é só servil, ou seja, não deve ser simplesmente considerado pelo medo do castigo, mas é o temor salutar, que vem do Espírito Santo, que nos afasta do pecado, tendo em vista as penas que a justiça divina o puniria e a vista da infelicidade daqueles que o cometeram estarem separados de Deus. O verdadeiro temor de Deus faz-nos, portanto, odiar o pecado, porque desagrada a Deus, e amar o bem, porque agrada a Deus.

É preciso temer o Senhor, porque Ele é o nosso Mestre, o maior de todos os mestres, e o mais terrível de todos os Juízes! Receemos, portanto, de O irritar contra nós, e de nos tornamos seus inimigos. Se Ele é o nosso criador e o melhor de todos os Pais, temamos desagradá-L’O. Se Ele é o nosso Deus e nosso Soberano, receemos de nos separarmos d’Ele e de O perder. Como fazer para ter este temor salutar? Devemos temer o pecado, fugir de toda a tentação, pois só o incumprimento dos mandamentos Lhe desagrada, irrita-O contra nós, separa-nos d’Ele e faz-nos perdê-Lo.

Esta é a verdadeira virtude! Tudo o que não conduz para esta regra é uma falsa virtude.  Aquele que não teme ofender a Deus em qualquer um dos dez mandamentos, e não apenas em alguns, não é virtuoso ou, pior ainda, possui uma falsa e hipócrita virtude.

Peçamos, pois, a Deus por intercessão de Nossa Senhora, que nos conceda este temor. Se o obtivermos, seremos verdadeiramente virtuosos, felizes, protegidos e abençoados, porque toda a malícia dos homens e dos demónios nada poderão contra nós.

terça-feira, 20 de setembro de 2022

La première communion de Chateaubriand

 


L'époque de ma première communion approchait, moment où l'on décidait dans la famille de l'état futur de l'enfant. Cette cérémonie religieuse remplaçait parmi les jeunes chrétiens la prise de la robe virile chez les Romains. Madame de Chateaubriand était venue assister à la première communion d'un fils qui, après s'être uni il son Dieu, allait se séparer de sa mère.

Ma piété paraissait sincère ; j'édifiais tout le collège ; mes regards étaient ardents ; mes abstinences répétées allaient jusqu'à donner de l'inquiétude à mes maîtres. On craignait l'excès de ma dévotion ; une religion éclairée cherchait à tempérer ma ferveur.

J'avais pour confesseur le supérieur du séminaire des Eudistes, homme de cinquante ans, d'un aspect rigide. Toutes les fois que je me présentais au tribunal de la pénitence, il m'interrogeait avec anxiété.

Surpris de la légèreté de mes fautes, il ne savait comment accorder mon trouble avec le peu d'importance des secrets que je déposais dans son sein. Plus le jour de Pâques s'avoisinait, plus les questions du religieux étaient pressantes. « Ne me cachez-vous rien ? » me disait-il. Je répondais : « Non, mon père : — N'avez-vous pas fait telle faute ? — Non, mon père. » Et toujours : « Non, mon père. » Il me renvoyait en doutant, en soupirant, en me regardant jusqu'au fond de l'âme, et moi, je sortais de sa présence, pâle et défiguré comme un criminel.

Je devais recevoir l'absolution le mercredi saint. Je passai la nuit du mardi au mercredi en prières, et à lire avec terreur le livre des Confessions mal faites.

Le mercredi, à trois heures de l'après-midi, nous partîmes pour le séminaire ; nos parents nous accompagnaient.

Tout le vain bruit qui s'est depuis attaché à mon nom n'aurait pas donné à madame de Chateaubriand un seul instant de l'orgueil qu'elle éprouvait comme chrétienne et comme mère, en voyant son fils prêt à participer au grand mystère de la religion.

En arrivant à l'église, je me prosternai devant le sanctuaire et j'y restai comme anéanti. Lorsque je me levai pour me rendre à la sacristie, où m'attendait le supérieur, mes genoux tremblaient sous moi. Je me jetai aux pieds du prêtre ; ce ne fut que de la voix la plus altérée que je parvins à prononcer mon Confiteor.

« Eh bien, n'avez-vous rien oublié ? » me dit l'homme de Jésus-Christ. Je demeurai muet. Ses questions recommencèrent, et le fatal non, mon père, sortit de ma bouche. Il se recueillit, il demanda des conseils à Celui qui conféra aux apôtres le pouvoir de lier et de délier les âmes. Alors, faisant un effort, il se prépare à me donner l'absolution.

La foudre que le ciel eût lancée sur moi m’aurait causé moins d'épouvante, je m'écriai : « Je n’ai pas tout dit ! » Ce redoutable juge, ce délégué du Souverain Arbitre, dont le visage m'inspirait tant de crainte, devient le pasteur le plus tendre ; il m embrasse et fond en larmes. « Allons, me dit-il, mon cher fils, du courage ! »

Je n'aurai jamais un tel moment dans ma vie. Si l'on m'avait débarrassé du poids d'une montagne, on ne m'eut pas plus soulagé : je sanglotais de bonheur. J'ose dire que c'est de ce jour que j'ai été créé honnête homme ; je sentis que je ne survivrais jamais à un remords : quel doit donc être celui du crime, si j'ai pu tant souffrir pour avoir tu les faiblesses d'un enfant ! Mais combien elle est divine cette religion qui se peut emparer ainsi de nos bonnes facultés !

Quels préceptes de morale suppléeront jamais à ces institutions chrétiennes ?

Le premier aveu fait, rien ne me coûta plus : mes puérilités cachées, et qui auraient fait rire le monde, furent pesées au poids de la religion. Le supérieur se trouva fort embarrassé ; il aurait voulu retarder ma communion ; mais j'allais quitter le collège de Dol et bientôt entrer au service dans la marine. Il découvrit avec une grande sagacité, dans le caractère même de mes juvéniles) tout insignifiantes qu'elles étaient, la nature de mes penchants ; c'est le premier homme qui ait pénétré le secret de ce que je pouvais être. Il devina mes futures passions ; il ne me cacha pas ce qu'il croyait voir de bon en moi, mais il me prédit aussi mes maux il venir. « Enfin, ajouta-t-il, le temps manque à votre pénitence ; mais vous êtes lavé de vos péchés par un aveu courageux, quoique tardif. »

Il prononça, en levant la main, la formule de l'absolution. Cette seconde fois, ce bras foudroyant ne fit descendre sur ma tête que la rosée céleste ; j'inclinai mon front pour la recevoir ; ce que je sentais participait de la félicité des anges. Je m'allai précipiter, dans le sein de ma mère qui m'attendait au pied de l'autel. Je ne parus plus le même il mes maîtres et à mes camarades ; je marchais d'un pas léger, la tête haute, l'air radieux, dans tout le triomphe du repentir.

Le lendemain, jeudi saint, je fus admis il cette cérémonie touchante et sublime dont j'ai vainement essayé de tracer le tableau dans le Génie dit Christianisme. J'y aurais pu retrouver mes petites humiliations accoutumées : mon bouquet et mes habits étaient moins beaux que ceux de mes compagnons ; mais ce jour-là tout fut à Dieu et pour Dieu. Je sais parfaitement ce que c'est que la Foi : la présence réelle de la victime dans le saint sacrement de l'autel m'était aussi sensible que la présence de ma mère à mes côtés. Quand l'hostie fut déposée sur mes lèvres, je me sentis comme tout éclairé en dedans. Je tremblais de respect, et la seule chose matérielle qui m 'occupât était la crainte de profaner le pain sacré.

Le pain que je vous propose sert aux anges d'aliment, Dieu lui-même le compose de la fleur de son froment. (RACINE.)

Je conçus encore le courage des martyrs ; j'aurais pu dans ce moment confesser le Christ sur le chevalet ou au milieu des lions. J'aime à rappeler ces félicités qui précédèrent de peu d'instants dans mon âme les tribulations du monde. En comparant ces ardeurs aux transports que je vais peindre ; en voyant le même cœur éprouver, dans l'intervalle de trois ou quatre années, tout ce que l'innocence et la religion ont de plus doux- et de plus salutaire, et tout ce que les passions ont de plus séduisant et de plus funeste, on choisira des deux joies ; on verra de quel côté il faut chercher le bonheur et surtout le repos.

Mémoires d’Outre-Tombe, François-René de Chateabriand, Garnier Frères, Libraires-Éditeurs, Paris, 1899, pp. 102 – 106

domingo, 18 de setembro de 2022

Que significa propriamente "manipulação"?

 


Segundo os dicionários correntes da língua portuguesa, manipulação significa, entre outras coisas, preparar com a mão, imprimir forma a alguma coisa com a mão. Mas não mencionam eles aplicações necessariamente pejorativas. O “Dictionnaire du Français Contemporain” (Larousse, Paris, 1966), inclui dois sentidos pejorativos: transformar por operações suspeitas (por exemplo, manipular estatísticas) e realizar manobra que vise enganar, fraudar (por exemplo, manipulações eleitorais).

Nestes sentidos, já entrou também para o português corrente. Diz-se, por exemplo, que um órgão de imprensa “manipula” as notícias antes de as apresentar ao público. Isto é, "arranja" os dados de tal forma que a notícia saia de acordo com os pressupostos ideológicos ou a linha política do jornal. Acusa-se um governo de “manipular” os índices de inflação, a propaganda comercial de “manipular” os consumidores, criando neles necessidades artificiais ou impingindo-lhes produtos de segunda categoria como sendo os melhores etc.

Outro dicionário francês moderno, o “Petit Robert” (PAUL ROBERT, “Dictionnaire Alphabétique Analogique de la Langue Française”, Société du Nouveau Littré, Paris, 1979) já regista em “manipulation” o significado de "domínio [emprise] oculto exercido sobre um grupo (ou um indivíduo)".

Assim, a palavra "manipulação", de uns tempos a esta parte, veio tomando aos poucos um sentido "talismânico" (cf. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, “Baldeação ideológica inadvertida e Diálogo”, Editora Vera Cruz, São Paulo, 1974, 5º. ed., pp. 49 a 59). E passou a ter um significado cada vez mais amplo e indefinido, que lhe é conferido sobretudo por hábeis formas de a utilizar. Poder-se-ia dizer que essa mesma palavra vem sendo cada vez mais "manipulada" em sua significação...

Ela pode significar tudo e ao mesmo tempo nada. Quando utilizada de modo a criar suspense e mistério, se transforma numa terrível "arma semântica". Difama e pode tornar suspeita qualquer pessoa ou grupo contra o qual seja lançada, à maneira de uma acusação evidente que dispensa provas.

Provas, para quê? -- Tal como acontece com outras palavras de efeito "talismânico", basta dizer que tal ou tal atitude é “manipuladora”, para que muitas pessoas -- com base apenas em sensações inexplícitas que adquiriram não sabem como nem onde, e impressionadas pela carga emocional que acompanha o uso da palavra -- julguem que de facto a acusação está demonstrada sem necessidade de provas.


O que fica frequentemente insinuado, na utilização talismânica da palavra, é que a manipulação envolve um tipo de influência maléfica e coercitiva sobre as pessoas. Maléfica porque oculta e inadvertida, visando tão-só atender a algum interesse inconfessado do manipulador. E coercitiva porque subjuga a vontade das vítimas que, o mais das vezes, nem teriam recursos para se defender contra tal forma de influência soez.

Em outros termos, manipulação seria uma forma de "coerção mental" muito análoga a "lavagem cerebral".

Não deixa de ser desconcertante, por sinal, que em certos órgãos de comunicação social se fale tanto em manipulação, nesta época de domínio tirânico da televisão. Tal meio de influenciar penetra livremente em todos os lares, e induz crianças e adultos, por vezes nações inteiras, sem que o percebam claramente (mas não sem darem o seu consentimento, ao menos remoto, pois é voluntariamente que se expõem a tal influência), a modificarem radicalmente este ou aquele costume e, mesmo, a sua própria psicologia. A tal ponto chega, em muitos casos, esta dependência da televisão, que o seu efeito foi comparado ao de uma droga (cfr. MARIE WINN, “The Plug-in-Drug”, Bantam Books, Nova York, 2ºa. edição, 1978, 258 pp.). Tudo isto -- é de notar -- sem protesto global e eficaz da grande maioria dos responsáveis. Com que lógica, pois, temer tanto a manipulação e os manipuladores?

É um erro imaginar o homem como mero recetor passivo das influências de seu ambiente, “assim como a ideia de "lavagem cerebral" parte de um falso pressuposto -- a negação da liberdade natural e "inconfiscável" da inteligência e da vontade do homem -- também os que utilizam expressões correlatas, tais como "manipulação mental", "controle da mente", "persuasão coercitiva" etc. partem de erro análogo.

Com efeito, negam eles algo de si evidente. Ou seja, que toda pessoa está, em relação ao seu ambiente, num processo cognoscitivo e volitivo de interação. Todos influenciam a todos. Mas a todos é dado, se quiserem, conhecer e rejeitar as ações que recebem. E, portanto, não se pode imaginar uma influência como que mecânica e irresistível em sentido único, como se o homem pudesse ser reduzido duravelmente a mero recetor passivo de informações, influências e pressões.

É o que explica a psicóloga social Trudy Solomon, da “National Science Foundation”, de Washington. Após destacar que conceitos como "controle mental", "reforma de pensamento", "persuasão coercitiva" etc. não passam de reencarnações da desprestigiada expressão "lavagem cerebral", ela mostra que praticamente toda forma de influência humana pode ser abrangida por tais designações: "Pouco depois de sua introdução o conceito de lavagem cerebral foi aplicado a uma variedade de contextos, incluindo técnicas de doutrinação .... e a fenômenos do passado como a Inquisição e certos processos de bruxaria. Por causa das conotações predominantemente más e negativas que rapidamente ficaram associadas com a expressão lavagem cerebral, foram inventados vários derivados semânticos mais neutros, como controle da mente, coerção mental, reforma do pensamento, persuasão coercitiva e menticídio”. É nestas últimas encarnações que o conceito de lavagem cerebral tem sido usado ao longo dos anos, para designar praticamente toda forma de influência humana, inclusive o hipnotismo, a psicoterapia, os meios de comunicação de massa, a propaganda, a educação, a socialização [isto é, a integração das pessoas na sociedade, a educação das crianças, as mudanças de comportamento e uma miríade de formas conexas de técnicas de mudança de atitude e de comportamento" (TRUDY SOLOMON, Programming and Deprogramming the Moonies: Social Psychology Applied2, in DAVID G. BROMLEY and JAMES T. RICHARDSON, “The Brainwashing ? Deprogramming Controversy: Sociological, Psychological, Legal and Historical Perspectives”, The Edwin Mellen Press, New York-Toronto, 1983, pp. 165-166).

Depois de citar o papel de Kurt Lewin na teorização do comportamento humano sob a influência social, da interação que se dá entre a pessoa e a influência do meio social, a psicóloga afirma que "do ponto de vista cognoscitivo, o indivíduo submetido a técnicas de influência social dentro do contexto de um grupo é visto como sendo um organismo ativo, continuamente empenhado em estruturar e avaliar as informações que recebe” (TRUDY SOLOMON, op. cit., p. 172).

Portanto, carece de qualquer fundamento a ideia, muito explorada sensacionalisticamente, de um indivíduo que sofre passivamente a influência de um grupo social sem ter noção disso, e sem capacidade para apreciar as informações que lhe chegam.

(CORRÊA DE OLIVEIRA, PLINIO, Guerreiros da Virgem, Editora Vera Cruz, São Paulo, dezembro de 1985, pp. 88 a 92)

sábado, 17 de setembro de 2022

O sofrimento, a cruz e o amor

 


Cada um de nós pode dizer que o sofrimento é o companheiro inseparável de sua vida.

Desde o momento em que nos recebe à nossa entrada no mundo, o sofrimento faz-se presente com maior ou menor intensidade, mas nunca se esquece por completo de nós. Vigia-nos, por assim dizer, em cada um dos nossos dias e sabemos que no final abater-se-á sobre nós e conduzir-nos-á para fora deste mundo.

O sofrimento, como todos sabemos, assume mil formas: a doença, a pobreza, a perda daqueles que amamos, a incompreensão, o ciúme, a inveja, o ódio, as dificuldades da vida, a incerteza do amanhã, o isolamento, etc.

Se considerarmos a vida como um todo, poucos são aqueles que podem dizer que viveram mais felizes, do que tristes e preocupados.

Mas, porque acontece isto?

Como somos cristãos, devemos considerar em primeiro lugar tudo sobre o prisma da religião e do Divino Mestre. E é muito fácil, ao voltarmos o olhar para a cruz, compreendermos o sentido da dor, a sua justiça e a sua ação fecunda e benéfica.

Sim! Há uma ação fecunda e benéfica na dor!

Consideremos Nosso Senhor Jesus Cristo, o Inocente por excelência, que foi pregado na cruz, a sofrer para nos resgatar.

Se Ele, o Cordeiro Imaculado, sofreu, é justo que nós, pecadores, tenhamos nossa cota de sofrimento, que levemos, nós também a nossa cruz, que é uma parte daquela mesma que Nosso Senhor carregou.

Muito facilmente, manifestamos o nosso desejo de festejar e compartilhar a ressurreição de Jesus Cristo, a sua glória, a sua felicidade, mas quem considera com honestidade e clareza a necessidade de compartilhar também a sua cruz?

Sobre o sofrimento, que não queremos ver de frente, engamo-nos. Olhamos à nossa volta e parece-nos que os outros sofrem menos do que nós. Mas, não nos deixemos enganar pelas aparências.

O nosso dever é de nos compararmos com Jesus Cristo! Sofremos mais do que este Justo que depois de sofrer toda a Paixão ainda deu a vida por amor a cada um de nós?

Assim, para todos nós que sofremos, encontramos o grande e o verdadeiro consolo na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Quando sofremos e aceitamos carregar a nossa cruz, estamos a ter o mais precioso traço de semelhança com Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte onde Deus tira o perdão dos nossos pecados, o peso mais poderoso na balança da justiça, a causa mais segura da nossa salvação eterna.

Sofrer por amor e não só por justiça


Se ao menos, conseguíssemos compreender que Deus nos envia o sofrimento como um presente de predestinação, a fim de que cada um de nós sejamos outros Cristo...

Mas não paremos por aí e vamos mais longe. Não é só por um dever de justiça, pelos nossos pecados que devemos sofrer, mas seguindo o exemplo de Jesus, também pelo amor que Lhe devemos.

Deus poderia ter-nos dado as estrelas, o sol, os perfumes e harmonias da natureza, todas as riquezas da terra. Mas isto não teria sido suficiente para mostrar o seu infinito amor para connosco. Só quando Ele sucumbiu sob o peso da Cruz, depois de ter sofrido as dores da Paixão, da Crucifixão e da morte, tivemos a prova infinita do seu amor.

Também connosco acontece o mesmo. Não é quando estamos felizes que mais mostramos o nosso amor a Deus, mas quando sofremos com a incompreensão dos que nos são mais próximos, com o peso do trabalho quotidiano, com a doença que nos deixa acamados e com tantas dificuldades. Nestes momentos podemos bradar: “Senhor, eu Vos amo! Dai-me forças para suportar a dor. E se for da Vossa vontade que eu sucumba, que seja cravado convosco na Vossa Cruz!”

Este foi o ensinamento do Salvador: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos céus”. Se conseguirmos viver com este estado de espírito em relação ao sofrimento, poderemos compreender melhor os primeiros cristãos, que açoitados injusta e vergonhosamente nos tribunais ou nas arenas, mostravam-se muito felizes, porque estavam a sofrer como Jesus Cristo.

Foi assim durante toda a história da Humanidade, dos Apóstolos e mártires, passando por Santa Teresa de Jesus, por Santa Catarina de Siena, Padre Pio, os Santos pastorinhos de Fátima, etc. e será assim até ao fim do mundo. Estes heróis, reconheciam que todo o sofrimento era glorioso, se comparado com a Cruz de Cristo.

Assim, quer compreender melhor a sua vida, as suas lutas, as suas fadigas e as suas dores? Aceite-as com coragem. Verá que será consolado e viverá mais feliz, pois sofrerá por Aquele que mais ama.

O vazio dos inimigos da Cruz

Por outro lado, quão triste são aqueles que não só não aceitam a Cruz de Cristo, como querem bani-la completamente da nossa sociedade.


É deplorável a cegueira dessas pessoas, inclusive legisladores, que fazem de tudo para retirar o crucifixo, dos hospitais, das escolas e dos tribunais, lugares onde durante séculos os doentes, as crianças e até os criminosos foram consolados.

Agora, um facto curioso! Ao serem retirados os crucifixos, não existe nada que se possa colocar no seu lugar e que forme o coração no sentido do dever, nos pensamentos generosos, no incentivo da prática do bem, evitando o mal. O que se têm para apresentar a quem sofre, para o consolar? O que têm para apresentar ao homem feliz e afortunado, para lhe dizer que tem deveres de caridade para com os pobres e os mais necessitados?

Nada. Eles não têm nada!

Procura-se retirar, com cada vez maior frequência e radicalidade, Deus, a religião, a moral, os crucifixos da vida dos homens e o resultado é patente: os corações estão a ficar cada vez mais desamparados e vazios. Tornam-se rapidamente egoístas e vis, uns sempre prontos a reclamar e a revoltar-se, outros sempre duros e insaciáveis pelas riquezas, em vez de repousarem na luz, na força e consolação divina.

Assim, depois de ler este artigo, adore a cruz, com ainda maior fervor e tenha-a sempre exposta na sua casa, no seu lugar de trabalho, no seu carro e, sobretudo, no seu coração para viver e morrer em união com ela, como Jesus Cristo nosso Salvador, pois ela é penhor da ressurreição e da felicidade eterna!

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

¿Qué sería de la Europa si no hubiera sacerdotes ni soldados?


Toda civilización verdadera viene del cristianismo. Es esto tan cierto, que la civilización toda se ha reconcentrado en la zona cristiana; fuera de esa zona no hay civilización, todo es barbarie; y es esto tan cierto, que antes del cristianismo no ha habido pueblos civilizados en el mundo, ni uno siquiera.

Ninguno, señores; digo que no ha habido pueblos civilizados, porque el pueblo romano y el pueblo griego no fueron pueblos civilizados; fueron pueblos cultos, que es cosa muy diferente. La cultura es el barniz, y nada más que el barniz de las civilizaciones. El cristianismo civiliza al mundo haciendo estas tres cosas: ha civilizado al mundo haciendo de la autoridad una cosa inviolable, haciendo de la obediencia una cosa santa, haciendo de la abnegación y del sacrificio, o, por mejor decir, de la caridad, una cosa divina. De esa manera el cristianismo ha civilizado a las naciones. Ahora bien (y aquí está la solución de ese gran problema), ahora bien: las ideas de la inviolabilidad de la autoridad, de la santidad, de la obediencia y de la divinidad del sacrificio, esas ideas no están hoy en la sociedad civil: están en los templos donde se adora al Dios justiciero y misericordioso, y en los campamentos donde se adora al Dios fuerte, al Dios de las batallas, bajo los símbolos de la gloria. Por eso, porque la Iglesia y la milicia san las únicas que conservan íntegras las nociones de la inviolabilidad de la autoridad, de la santidad de la obediencia y de la divinidad de la caridad; por eso son hoy los dos representantes de la civilización europea.

No sé, señores, si habrá llamado vuestra atención, como ha llamado la mía, la semejanza, cuasi la identidad entre las dos personas que parecen más distintas y más contrarias: la semejanza entre el sacerdote y el soldado; ni el uno ni el otro viven para sí, ni el uno ni el otro viven para su familia; para el uno y para el otro, en el sacrificio, en la abnegación está la gloria. El encargo del soldado es velar por la independencia de la sociedad civil. El encargo del sacerdote es velar por la independencia de la sociedad religiosa. El deber del sacerdote es morir, dar la vida, como el buen pastor, por sus ovejas. El deber del soldado, como buen hermano, es dar la vida por sus hermanos. Si consideráis la aspereza de la vida sacerdotal, el sacerdocio os parecerá, y lo es, en efecto, una verdadera milicia. Si consideráis la santidad del ministerio militar, la milicia cuasi os parecerá un verdadero sacerdocio. ¿Qué sería del mundo, qué sería de la civilización, qué sería de la Europa si no hubiera sacerdotes ni soldados? Y en vista de esto, señores, si hay alguno que, después de expuesto lo que acabo de exponer, crea que los ejércitos deben licenciarse, que se levante y lo diga. Si no hay ninguno, señores, yo me río de todas vuestras economías, porque todas vuestras economías son utopías. ¿Sabéis lo que pretendéis hacer cuando queréis salvar la sociedad con vuestras economías sin licenciar el ejército? Pues lo que pretendéis hacer es apagar el incendio de la nación con un vaso de agua. Esto es lo que pretendéis. Queda, pues, demostrado, como me propuse demostrar, que las cuestiones económicas no son las más importantes; que no ha llegado la ocasión de tratarlas aquí exclusivamente, y que las reformas económicas no son fáciles, y, hasta cierto punto, no son posibles.

 

Donoso Cortés, Discurso sobre Europa, Congreso de los Diputados, 30 de enero de 1850

domingo, 10 de julho de 2022

L'eredità di San Benedetto

 


Alla morte di san Benedetto di Norcia rimanevano tre centri almeno di vita monastica, ordinati secondo la sua Regola, e impregnati del suo spirito: Subiaco, Montecassino, Terracina.

Del monastero di Terracina oggi non rimane più che il ricordo. Travolti, e alcuni senza lasciar traccia, dall'invasione longobarda, sugli inizi del secolo VII i dodici monasteri sublacensi, essi risorsero, in maggior conformità con la concezione del santo Patriarca, nell'unico grande cenobio di Santa Scolastica, sviluppatosi dalla cellula primitiva dedicata ai santi Cosma e Damiano, mentre la pietà dei figli non tardò a imporre l'erezione di un nuovo monastero al Sacro Speco, dove, il santuario, ricco di memorie e di insigni opere d'arte, custodisce nel suo cuore la grotta che conobbe il segreto fiorire della santità di Benedetto.

In pieno rigoglio di vita soprannaturale e di attività operosa Montecassino, fino a che nel 577 i Longobardi non vi portarono la devastazione riducendo il monastero a un informe cumulo di rovine. Sulla tomba sempre venerata del Santo, tra il 717 e 248 il 720 Petronace riedificava i chiostri distrutti, e la vita monastica tornò a riordinarsi tranquilla.

Ma nell'883 i Saraceni, invasa l'Abbazia, la saccheggiarono e demolirono in gran parte, dopo averne trucidato i monaci con a capo l'abate san Bertario. Per un secolo e mezzo circa fu ancora la desolazione e lo squallore intorno al sepolcro di san Benedetto.


Da questa disastrosa situazione doveva però sorgere, sotto il governo dell'abate Aligerno, intorno alla metà del secolo X, una nuova rigogliosa primavera di vita durante la quale Montecassino avrebbe raggiunto l'apogeo della sua grandezza. Una terza volta il monastero, che appariva ai contemporanei «il più bello della cristianità», sembrò votato alla distruzione, e tornò a divenire un ammasso di macerie. Questa volta, però, non fu per mano di uomini, ma per lo spaventoso terremoto del 9 settembre 1349; in complesso la ricostruzione degli edifici monastici fu rapida, e poté condursi a termine in pochi decenni, soprattutto per l'interesse personale ed efficacissimo del pontefice Urbano V.

L'alba del secolo XVI portò nuove devastazioni a causa della guerra tra spagnoli e francesi che appunto si decise alla fine del 1503 nella battaglia del Garigliano, e «per la veneranda casa di san Benedetto i danni della guerra, combattuta nei suoi chiostri e conchiusasi alle sue porte, sarebbero rimasti forse inguaribili, se la Provvidenza non fosse di nuovo intervenuta pronta al suo soccorso in una maniera fuor dell'usato, ma più consona ai tempi e tale da segnare una svolta nella sua ormai millenaria storia » (LECCISOTTI T., Montecassino, p. 68, Vallecchi, Firenze.).

Giorni tristi si conobbero ancora sotto il dominio francese, e poi durante tutto il secolo XIX per le vicende politiche d'Italia, ma dopo ogni raffica la vita tornava a scaturire più rigogliosa, fino a che, mentre la badia era in pieno fervore di opere sante non si abbatté su di essa, a stendervi «la desolazione estrema» l'ultima bufera che il 15 febbraio 1944 «ha distrutto e annientato quella celebre sede di studi e di pietà che quasi luce vincitrice delle tenebre, era emersa dalle onde dei secoli» (Encicl. «Fulgens radiatur» ) per la quarta volta nel corso di quattordici secoli. «Al presente, ove prima risplendevano artistici monumenti, vi sono mura pericolanti, macerie e rovine, che i rovi miseramente ricoprono.» (Encicl. «Fulgens radiatur» ). È rimasta illesa solo la tomba del santo Patriarca, ma oggi intorno ad essa la vita inestinguibile di Montecassino è tornata ad affermarsi vigorosa; sfuggendo alla violenza degli uomini, perché è spirito e attinge in Dio la sua perennità.

Non erano trascorsi ancora cinquant'anni dalla morte di san Benedetto, quando un monaco, che fu insieme uno dei Papi più grandi della Chiesa, san Gregorio Magno, ammiratore e fervido restauratore della vita monastica, abbracciando col suo sguardo illuminato tutto il valore dell'opera compiuta dal santo di Norcia, dopo aver contribuito, scrivendone la vita nel libro II dei Dialoghi a divulgarne la memoria, dette il più forte impulso alla diffusione della Regola che divenne così ben presto l'unica norma di vita nei monasteri già esistenti e nei nuovi che si venivano formando.

Abbazia di Subiaco

Qualunque sia il valore che noi vogliamo dare alla tradizione la quale lega alla memoria di san Mauro l'introduzione della Regola benedettina in Francia, non si può però dubitare che essa vi si stabilisse molto presto, benché dapprima in genere insieme a quella di san Colombano, che finì poi rapidamente col soppiantare del tutto, così che nel 630 lo stesso monastero di Lureuil, considerato come la roccaforte del monachismo celtico, adottava in pieno la Regola di san Benedetto.

Già nel 596, san Gregorio Magno aveva affidato a una colonia monastica, guidata dal monaco Agostino, l'ardua impresa di evangelizzare l'Inghilterra ancora pagana, spingendo così i figli di san Benedetto fino alle regioni più settentrionali dell'Europa.

La seconda metà del secolo VII vede i monaci benedettini nel Belgio, mentre altri confratelli più arditi, dalle coste dell'Anglia sbarcano nella Frisia per muovere di lì alla conversione del mondo germanico; impresa audace dagli ampi sviluppi, che culminerà nel 754, quando ormai il cristianesimo avrà messo salde radici nella Germania, col martirio di san Bonifacio, massacrato con i suoi compagni mentre si accingeva a conquistare alla fede la Frisia del Nord.

Nello stesso tempo che Bonifacio lavorava alla fondazione e al consolidamento della Chiesa nella Germania centrale, nelle regioni meridionali san Pirmino, fondata nel 724 l'Abbazia di Reichenau, compiva uno sforzo analogo, riuscendo a far penetrare la Regola benedettina, e con essa la vita cristiana, nella Svizzera, dove fondò il monastero di Pfafers.

Sul principio del secolo IX moriva san Ludgero, l'apostolo della Westphalia, e contemporaneamente penetrava nella Catalogna la Regola di san Benedetto, forse già da prima stabilita nelle altre parti della Spagna. Fu questa stessa prima metà del IX secolo che vide gli sforzi di sant' Anscario per la conversione della Scandinavia e della Danimarca, operata tra difficoltà d'ogni genere e sigillata col martirio del Santo.

Anche in Polonia i figli di san Benedetto introdussero con la vita monastica il cristianesimo, nella seconda metà del X secolo, mentre un altro monaco, sant'Adalberto, portando il Vangelo agli Slavi, ne ricevette il martirio. Contemporaneamente dal monastero di Einsiedeln, in Svizzera, ricevevano le prime nozioni del cristianesimo gli Ungheresi, dei quali con molta verità si è potuto dire che sono stati generati spiritualmente e intellettualmente dall'ordine benedettino.

Prima che tramontasse il secolo X fu fondato in Boemia il primo monastero benedetttino a Brewnov, e finalmente, col XII secolo, i monaci penetravano nell'Albania, portandovi, come nel secolo precedente avevano fatto nella Dalmazia, la cultura e le tradizioni latine.

«Come nelle epoche precedenti, lungo le vie consolari, avanzavano le legioni romane, nello sforzo di soggiogare al dominio dell'Alma Città tutte le genti, così ora coorti innumerevoli di monaci che non hanno "armi terrene, ma la potenza che viene da Dio", come affermava San Paolo ai Corinzi, vengono mandate dal Sommo Pontefice a propagare gloriosamente fino agli estremi confini del mondo il regno pacifico di Gesù Cristo, non con la spada, la violenza, o le stragi, ma con la croce e l'aratro, con la verità e la carità. Ed ecco che dovunque si stabilivano tali inermi coorti, formate da predicatori della religione cristiana, da operai, da, agricoltori, da maestri delle scienze divine e umane, ivi venivano solcate con l'aratro le terre inselvatichite e incolte; sorgevano le abitazioni degli operai e degli artisti, e da una vita selvaggia e rozza gli uomini venivano formati al civile consorzio, e ad abitudini più progredite, mentre brillava davanti a loro la luce della dottrina e della virtù evangelica. «Apostoli innumerevoli, brucianti di divina carità, percorsero sconosciute e turbolenti regioni d'Europa, le bagnarono col loro sudore generoso e col sangue e dopo averne pacificato le popolazioni vi introdussero la luce della santità e della verità. Perciò si può nettamente affermare che quantunque Roma, già dilatatasi per le molte vittorie, abbia esteso il suo dominio per terra e per mare, pur tuttavia" fu meno ciò che a lei sottomise il travaglio delle guerre di quel che non le soggiogò la pace cristiana". (S. LEONE MAGNO, Serm. I in natali App. Petri et Pauli).

In maniera che non solo la Britannia, la Gallia, la Batavia, la Frisia, la Danimarca, la Germania, la Pannonia e la Scandinavia, ma anche non poche nazioni slave si fanno vanto dell'apostolato di questi monaci e li stimano gloria propria e illustri padri della loro civiltà» (Encicl. «Fulgens radiatur»).

L'età di mezzo conobbe la massima diffusione del monachesimo benedettino. Orderico Vitale, nella prima metà del secolo XII assegnava alla sola osservanza di Cluny duemila monasteri, la massima parte in Francia, e a migliaia si contavano negli altri paesi d'Europa quelli di diversa osservanza, così che una fitta rete di abbazie, di priorati, di semplici «celle» mantenevano la società sotto l'influsso santificante della Regola di san Benedetto attraverso quei centri irradiatori che stendevano le loro propaggini in tutte le categorie sociali permeandone e spesso elevandone la vita a un piano superiore di valori soprannaturali.

Avvenne anche, purtroppo, a varie riprese, che lo spirito e la mentalità del mondo, fatta breccia nella clausura monastica, minacciasse di travolgere e snaturare la sua vita profonda, ma a ogni periodo di decadenza seguirono epoche di ripresa e maggior splendore di santità. La Riforma protestante dapprima, i moti rivoluzionari dei secoli XVIII e XIX poi, sembrarono colpire mortalmente l'ordine monastico.

In realtà, lo stesso secolo XIX assistette al suo rifiorire accompagnato dal diffondersi della Regola benedettina nel mondo intero, fino nella lontana Australia. Per spiegare l'influsso sociale del monachesimo benedettino, bisogna anzitutto rendersi conto dell'attività economica necessariamente connessa fin dalle origini con ogni monastero, nucleo centrale e stabile intorno al quale si sviluppava la proprietà fondiaria sotto le diverse forme comuni agli usi del tempo, e in processo continuo di arricchimento per via di acquisto o, più comunemente, di donazione.

La coltivazione di questi domini, spesso assai vasti non poteva essere compiuta in maniera diretta dai monaci che dovettero ricercare il concorso della mano d'opera estranea, sotto forma di braccianti, di servi, o di coloni. Le opere da compiere erano gigantesche: dissodamento delle foreste, bonifica dei terreni insalubri, coltivazione razionale dei campi, vasti allevamenti di bestiame. Tutto questo importava un'attrezzatura complessa, direzione intelligente e mezzi proporzionati alle esigenze di un lavoro da eseguirsi su larga scala. In epoche di totale disorganizzazione, l'Abbazia era il centro che solo aveva la possibilità di questo impianto, e per naturale conseguenza i monaci si trovarono nella necessità di divenire gli educatori economici del popolo: «i loro domini sono esemplari compiuti di buono sfruttamento agricolo e di saggia amministrazione, e se numerosi abati hanno lasciato fama di santità, più di uno ha insieme meritato fama di abile agronomo» (PIRENNE H., Histoire de Belgique, t. I, p. 146.).


Conseguenza dell'operosità monastica e del complesso di interessi che ad essa vennero ben presto a intrecciarsi, con l'urgente necessità di sbocco per la produzione eccedente i bisogni di consumo del monastero e delle sue dipendenze, e di scambi con altri generi, fu l'organizzazione del commercio, dapprima in forma rudimentale, poi con un raggio sempre maggiore così da imporre il problema di provvedere adeguate possibilità di trasporto delle merci, per via di terra, di mare, o fluviale.

Cominciarono a fiorire anche le industrie, nelle officine monastiche dove numerosi operai venivano addestrati ai vari lavori richiesti dai bisogni della comunità intorno alla quale si stringevano le famiglie di tutti questi dipendenti, spesso così numerose da formare dei veri villaggi, dai quali non di rado ebbero origine le stesse città. Le rendite, che potevano così divenire considerevoli, oltre al mantenimento del monastero stesso, venivano impiegate o nell'incremento del patrimonio monastico, o, in ben più larga misura, in opere di beneficenza di incalcolabile valore in quei tempi e nelle condizioni di vita che vi erano legate.

Opere di pubblica utilità, strade, ponti, canali, andarono moltiplicandosi nelle terre dipendenti dalle abbazie, mentre concedendo dei crediti senza interesse, col semplice deposito di un pegno, si preludeva alla geniale istituzione dei «monti di pietà», e ospedali, ospizi, larghe elemosine ai bisognosi, venivano incontro, nei modi più opportuni e multiformi a tutte le miserie alle quali nessun altro avrebbe pensato a prestar soccorso. Per secoli interi la beneficenza, sotto tutte le sue forme, può dirsi gloria benedettina. Non doveva però limitarsi a questo l'influsso sociale dei monaci, ché esso ebbe risonanze non meno profonde anche nel campo intellettuale, e si poté senza esagerare attribuire ad essi la salvezza del patrimonio culturale del mondo antico, tra le distruzioni operate dalle invasioni barbariche.

Fin dalle origini i monasteri ebbero le loro scuole, indispensabili alla formazione dei piccoli oblati che si venivano educando alla vita monastica la quale esige una non indifferente preparazione anche intellettuale; a queste scuole interne, in un intento di carità della quale forse oggi non è facile misurare la portata, non tardarono ad aggiungersi anche le scuole esterne che

raggiunsero in alcuni luoghi grande celebrità e dalle quali uscirono gli uomini più grandi del loro secolo, determinando così un irraggiamento luminoso di dottrina che doveva gettare fasci di luce in mezzo all'oscurità della barbarie.

Biblioteca dell'Abbazia di Admont - Austria

Accanto alla scuola, e strettamente connesso con essa, ogni monastero ebbe lo «scriptorium» ossia un laboratorio di copiatura e trascrizione dei codici; organo silenzioso nel quale il lavoro paziente degli amanuensi moltiplicava i libri, facilitandone la conoscenza e lo studio, e con esso l'amore della cultura classica e delle grandi opere religiose dell'antichità. Questi codici, spesso artisticamente miniati, erano ricercati con avidità e gelosamente custoditi nelle biblioteche, di importanza maggiore o minore a seconda delle diverse esigenze dei monasteri, ma sempre considerate come uno dei più preziosi tesori della comunità. San Benedetto Biscopo morente imita sant'Agostino vescovo di Ippona, e lascia come testamento ai suoi monaci due raccomandazioni solenni: la regolarità della vita e l'amore della biblioteca.

Essi pensavano come san Girolamo: «Se tu preghi parli allo Sposo, ma quando leggi è Lui che parla a te.»

I libri erano la loro luce, la loro forza. Molte biblioteche si sono compiaciute di scrivere sulla porta d'ingresso: «Claustrum sine armario quasi castrum sin e armamentario» espressione tradotta in un proverbio medievale francese: «Monastero senza libri, fortezza senz'armi» (SCHMITZ, Histoire de l'Ordre de Saint Benoit, t. II, pa. 71. Ediz. Maredsous, 1942.).  

Oggi ancora la vita benedettina ha una sua parola profonda da dire alle anime. Diversa nei suoi aspetti esteriori, offre nell'America le sue grandi abbazie operose di una multiforme e intensa attività; porta come nei secoli remoti la luce del Vangelo e i benefici della civiltà nell'Australia e nell'Africa, dove intorno ai monasteri si sono formate missioni fiorentissime; in Europa, a Solesmes, il canto gregoriano è scientificamente studiato in una scuola di risonanza mondiale; a Einsiedeln, i monaci curano magnifiche opere di carattere religioso e sociale; in Italia, nel Belgio, in Inghilterra, in Germania, in Austria, in Spagna, le grandi abbazie svolgono una operosità intensa nel campo liturgico, scientifico, educativo, per non dire del lavoro che si compie nel campo specificamente religioso con quelle forme di ministero che sono più confacenti alla vita monastica. Ed è dei nostri giorni una promettente fioritura di santità che attesta la fecondità inesausta della Regola santa che da quattordici secoli continua a indicare alle anime che sentono più viva l'urgenza del soprannaturale, la via faticosa per la quale «tornare a Colui dal quale per la pigrizia della disobbedienza ci eravamo allontanati» (Regola, prologo).

São Marcos Ji Tianxiang: Um santo pouco conhecido, viciado em ópio, mas que nunca perdeu a fé

 


Todos nós somos atormentados por vícios e defeitos dos quais, por alguma razão, parece nunca conseguirmos libertar-nos. Por causa desses pecados, continuamente magoamo-nos – e pior ainda, magoamos os nossos entes queridos, os nossos amigos, os nossos cônjuges e os nossos filhos. Muitos de nós católicos, por causa deles, voltamos repetidamente ao confessionário, frustrados por continuarmos confessando os mesmos pecados de sempre.

Isso não quer dizer que não saibamos, no fundo do coração, que essas afeições são erradas. No entanto, às vezes algo em nós não quer assumir o compromisso de mudar. E assim rezamos como o jovem Santo Agostinho: “Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora!”

Mas esta não é a única razão para o nosso fracasso em mudar. De facto, às vezes não é por causa de qualquer apego ou falta de vontade consciente, mas apenas pela experiência incapacitante da nossa própria incapacidade. Sem a graça de Deus, somos espiritualmente coxos, e esse facto faz-se sentir dolorosamente nos nossos repetidos fracassos, que continuam a infligir dor aos nossos entes queridos e a nós mesmos. Infinitamente frustrados pelos nossos próprios fracassos, rezamos uma oração ligeiramente diferente daquela que Santo Agostinho rezou quando era jovem. Confrontados com a nossa incapacidade, aproximamo-nos do Senhor quando estamos perto do ponto de total desânimo e rezamos: “Ó Senhor, faça-me santo AGORA!”

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Podemos inspirar-nos para esta oração num santo muito menos conhecido: o mártir chinês São Marcos Ji Tianxiang, um cristão devoto e médico do final do século XIX. O que diferencia Ji de muitos outros santos é que ele morreu atolado num vício do qual nunca conseguiu libertar-se: o vício paralisante do ópio. Depois de contrair uma dolorosa doença estomacal, automedicou-se com a droga viciante e viu-se irreparavelmente dependente dela pelo resto da vida.

Enquanto os avanços na medicina moderna permitem-nos ver o vício como uma doença a ser curada ou controlada, Ji e os seus entes queridos certamente experimentaram a sua dependência como uma falha moral também.

A devoção de Ji à fé católica nunca diminuiu, apesar do seu vício ao ópio. Ele voltava fiel e frequentemente ao confessionário, trazendo o seu pecado diante de Nosso Senhor e pedia-Lhe perdão. No entanto, seu vício também nunca o deixou. Não importa quantas vezes ele se confessou, e não importa quantas vezes ele pronunciou a sua resolução de mudar de vida. Ele continuava a cair sempre no vício. Aqueles ao seu redor, incluindo a sua família, seus amigos e até mesmo o padre a quem ele confessava regularmente os seus pecados, suspeitavam que ele tinha abandonado todo o desejo de viver uma vida verdadeiramente cristã, virtuosa. De fato, o confessor chegou até a proibi-lo de receber os sacramentos até que se tivesse libertado do vício. Essa situação continuou por 30 anos – e ainda assim, em todo esse tempo, Ji permaneceu comprometido com a sua fé e com a Igreja. Ele nunca abandonou a sua esperança na graça de Deus.

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Santo Agostinho ensinou que o desejo de rezar sempre é equivalente a orar sempre de fato. Obviamente, sendo criaturas temporais, não podemos rezar literalmente com as nossas palavras a cada momento do dia. Devemos dormir, comer, caminhar, trabalhar, ocupar-nos de inúmeras atividades que acarretam interações sociais, etc. Os homens não são de facto tão proficientes em realizar multitarefas, então a injunção de São Paulo para se rezar sempre parece impraticável. No entanto, a solução simples de Agostinho para esse problema é a de afirmar que o desejo em si conta. Desenvolver uma vida de oração saudável e holística é, portanto, uma questão de cultivar esse desejo e manter a chama sempre viva.

Da mesma forma, a santidade é, em última análise, uma questão de ter um desejo sincero por Deus. O desejo sincero de ser santo é em si um sinal de que Deus já plantou as sementes da santidade no coração da pessoa. Por causa disso, o pecador que tem este desejo pode estar confiante na graça salvadora de Deus.

Isso não quer dizer, obviamente, que ele pode ser presunçoso e tomar a graça divina como certa e continuar a pecar sem qualquer resolução real para mudar de vida. Esta é a atitude que caracterizou a oração defeituosa do jovem Agostinho: “Faça-me santo, mas não agora”. É a disposição de quem diz a si mesmo: “Está tudo bem, continua a pecar. Ainda não é preciso mudar de vida!”.

No entanto, se a pessoa está consciente de que precisa de mudar de vida já, confia na graça de Deus e alimenta um desejo sincero dentro de si mesmo de ser santo, a oração “torna-me santo agora” não significa presunção, mas manifestação da virtude teologal da esperança e, portanto, contém as próprias sementes da santidade. O pecador que reza assim, sinceramente, pode assegurar-se de que “está tudo bem” – não que esteja tudo bem, por ele ser imperfeito e continuar pecando, mas porque é imperfeito e precisa mudar. Pois ele é amado por Deus e, desde que responda a esse amor com sinceridade de coração, pode ter a certeza de que Deus o mudará - embora o tempo de Deus, não seja o mesmo dele.

E foi o que aconteceu com São Marcos Ji Tianxiang, celebrado pela Igreja no dia 7 de julho.

Em 1900, surgiu na China a violenta Rebelião dos Boxers, que pretendia expulsar pela força todos os estrangeiros e colonialistas da China. Inevitavelmente, a presença do cristianismo ali passou a ser percebida pelos rebeldes como herança do colonialismo ocidental, e assim a rebelião também levou muitos cristãos ao martírio. Milhares foram massacrados, Ji e sua família entre eles. Ainda viciado em ópio, Ji mostrou uma coragem maravilhosa diante dos seus carrascos e implorou para ser morto por último para poder ficar com cada um dos membros da sua família, confortando-os enquanto eram decapitados um a um. Finalmente, ele também foi decapitado, enquanto entoava confiantemente a Ladainha à Santíssima Virgem.

A história de São Marcos Ji Tianxiang faz um contraste interessante com a de Santo Agostinho, que viveu na lama do vício durante a sua juventude – enquanto fazia a oração insincera da presunção – mas acabou sendo salvo desses vícios pela intervenção milagrosa de Deus. Ji, pelo contrário, nunca se libertou dos seus vícios, mas manteve fielmente uma sincera devoção, do fundo do coração, até ao momento do seu heroico martírio. Ji foi salvo dos seus vícios apenas no momento da sua morte - confirmando que o tempo de Deus, não era o seu e que a sua esperança não era vã.

Jonathan Culbreath 06 de julho de 2022, traduzido do inglês da revista “America”, com pequenas adaptações.

quinta-feira, 7 de abril de 2022

Quem resiste à calúnia?

 


Segundo um ditado português, a calúnia é como o carvão, quando não queima, suja a mão.

Um professor de música dos filhos do Rei Luís XV, chamado Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, escreveu em 1775 uma comédia para teatro intitulada “O Barbeiro de Sevilha”, transformada em ópera por Giovanni Paisielo em 1782 e mais tarde, em 1816, orquestrada também por Rossini. Nela, encontramos uma descrição clara e viva de como se espalha uma calúnia:

“A calúnia? Oh! O senhor não sabe o que desdenha. Já vi as mais honradas pessoas quase aniquiladas por ela. Creia-me que não há maldade banal, horror, história absurda, que não se consiga, com algum jeito, propalar entre os ociosos de uma cidade grande; e temos aqui gente de uma habilidade!… Primeiro, um leve ruído, como uma andorinha rasando o chão antes da tempestade, pianíssimo murmura e toma voo, e semeia correndo o traço envenenado. Uma boca o recolhe e, piano, piano, insinua-o habilmente num ouvido. O mal está feito, ele germina, alastra-se, caminha, e rinforzando de boca em boca, segue o seu destino; depois de repente, não se sabe como, vê-se a calúnia erguer-se, silvar, inflar-se, crescer a olhos vistos; ela lança-se, alarga o seu voo, turbilhona, envolve, arranca, arrasta, rebenta e reboa, e torna-se, graças ao Céu, num clamor geral, num crescendo público, num coro universal de ódio e proscrição. Quem lhe resistiria?”

“O Barbeiro de Sevilha”, Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais,  ato II, cena 8

sábado, 26 de março de 2022

Oração pela paz


 

Ó Mãe de Deus e Mãe nossa, Padroeira da Ucrânia, nestes tempos de guerra, o nosso coração volta-se para Vós!

Socorrei os vossos filhos ucranianos, tão necessitados da vossa maternal proteção. Ponde-Vos ao seu lado, dando-lhes força e ânimo para enfrentar com coragem as misérias e as agruras da guerra, e confortai-os nas dores e sofrimentos indizíveis que padecem. Tende piedade de tantas mães, angustiadas pelo destino dos seus filhos, de tantos órfãos, de milhares de cidadãos comuns que se tornaram soldados sem preparação. Tende piedade da Ucrânia, sobre a qual se avizinha tanta ruína!

Incuti-lhes a firme confiança, no Vosso socorro e triunfo final, ó Mãe de Misericórdia.


(Rezar 3 Ave-Marias).