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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

No século XXI, ainda se deve falar de temor de Deus?

 


Numa era em que só ouvimos falar do amor e da misericórdia infinita de Deus - tão necessários para a nossa salvação - ainda faz sentido considerarmos o temor de Deus, um conceito relegado ao esquecimento?

Todos estimamos a virtude, mas, infelizmente, poucos procuram adquiri-la.  Muitos nem sabem o que ela significa, pois não sabem discernir a verdadeira da falsa virtude.

Enchemos a boca para dizer que queremos ser virtuosos, contudo cada um de nós tem um conceito diferente do que isto significa, julgando cada um segundo a sua própria inclinação.

Uns imaginam que ser virtuoso é não ter certos vícios e não ser mau. Outros fazem consistir a virtude em não cometer certos pecados, como não matar e não roubar, e não ter certos defeitos grosseiros - mesmo tendo outros enormes - que não conhecem e não querem sequer ver. Outros, finalmente, crêem-se virtuosos porque praticam certos atos externos de piedade, mas negligenciam o interior das suas consciências e dos seus corações e os seus deveres de estado, como pais, religiosos, sacerdotes, etc.

Todos as pessoas que entram nas características acima descritas estão muito erradas! E o pior é que muitos estão convencidos de estarem no caminho que os conduzirá ao Céu, apesar de se encontrarem na via que, se não corrigida, será de perdição, pois como diz o livro do Provérbio: “Há caminhos que ao homem parecem retos, mas que afinal conduzem à morte” (Pr 16, 25).

A virtude não depende das ideias dos homens, nem do tempo no qual se vive, mas de Deus, que indica e prescreve como quer ser servido.

Vejamos o que Ele diz nas Escrituras e compreenderemos que a virtude consiste em temê-L’O e em fugir de tudo o que Lhe possa desagradar. Ele ensinou aos homens, diz Job, que “o temor do Senhor é a verdadeira sabedoria” (Jo 28, 28). “Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque este é dever de todo o homem (Ecl 12, 13).

Temos nesta frase de Qoelet a indicação clara da nossa obrigação, de como devemos fazer para adquirirmos a virtude, a perfeição e a alegria: o temor de Deus e a observância da Lei Divina, no seu todo e não apenas em alguns mandamentos que temos mais facilidade em praticar, por uma graça de Deus. Para isto, nascemos! Este é o fim da vida, que nos conduz à verdadeira felicidade.

Acontece que este temor de Deus não é só servil, ou seja, não deve ser simplesmente considerado pelo medo do castigo, mas é o temor salutar, que vem do Espírito Santo, que nos afasta do pecado, tendo em vista as penas que a justiça divina o puniria e a vista da infelicidade daqueles que o cometeram estarem separados de Deus. O verdadeiro temor de Deus faz-nos, portanto, odiar o pecado, porque desagrada a Deus, e amar o bem, porque agrada a Deus.

É preciso temer o Senhor, porque Ele é o nosso Mestre, o maior de todos os mestres, e o mais terrível de todos os Juízes! Receemos, portanto, de O irritar contra nós, e de nos tornamos seus inimigos. Se Ele é o nosso criador e o melhor de todos os Pais, temamos desagradá-L’O. Se Ele é o nosso Deus e nosso Soberano, receemos de nos separarmos d’Ele e de O perder. Como fazer para ter este temor salutar? Devemos temer o pecado, fugir de toda a tentação, pois só o incumprimento dos mandamentos Lhe desagrada, irrita-O contra nós, separa-nos d’Ele e faz-nos perdê-Lo.

Esta é a verdadeira virtude! Tudo o que não conduz para esta regra é uma falsa virtude.  Aquele que não teme ofender a Deus em qualquer um dos dez mandamentos, e não apenas em alguns, não é virtuoso ou, pior ainda, possui uma falsa e hipócrita virtude.

Peçamos, pois, a Deus por intercessão de Nossa Senhora, que nos conceda este temor. Se o obtivermos, seremos verdadeiramente virtuosos, felizes, protegidos e abençoados, porque toda a malícia dos homens e dos demónios nada poderão contra nós.

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