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quinta-feira, 7 de abril de 2022

Quem resiste à calúnia?

 


Segundo um ditado português, a calúnia é como o carvão, quando não queima, suja a mão.

Um professor de música dos filhos do Rei Luís XV, chamado Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais, escreveu em 1775 uma comédia para teatro intitulada “O Barbeiro de Sevilha”, transformada em ópera por Giovanni Paisielo em 1782 e mais tarde, em 1816, orquestrada também por Rossini. Nela, encontramos uma descrição clara e viva de como se espalha uma calúnia:

“A calúnia? Oh! O senhor não sabe o que desdenha. Já vi as mais honradas pessoas quase aniquiladas por ela. Creia-me que não há maldade banal, horror, história absurda, que não se consiga, com algum jeito, propalar entre os ociosos de uma cidade grande; e temos aqui gente de uma habilidade!… Primeiro, um leve ruído, como uma andorinha rasando o chão antes da tempestade, pianíssimo murmura e toma voo, e semeia correndo o traço envenenado. Uma boca o recolhe e, piano, piano, insinua-o habilmente num ouvido. O mal está feito, ele germina, alastra-se, caminha, e rinforzando de boca em boca, segue o seu destino; depois de repente, não se sabe como, vê-se a calúnia erguer-se, silvar, inflar-se, crescer a olhos vistos; ela lança-se, alarga o seu voo, turbilhona, envolve, arranca, arrasta, rebenta e reboa, e torna-se, graças ao Céu, num clamor geral, num crescendo público, num coro universal de ódio e proscrição. Quem lhe resistiria?”

“O Barbeiro de Sevilha”, Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais,  ato II, cena 8

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