Segundo um
ditado português, a calúnia é como o carvão, quando não queima, suja a
mão.
Um professor
de música dos filhos do Rei Luís XV, chamado Pierre-Augustin Caron de
Beaumarchais, escreveu em 1775 uma comédia para teatro intitulada “O Barbeiro
de Sevilha”, transformada em ópera por Giovanni Paisielo em 1782 e mais tarde,
em 1816, orquestrada também por Rossini. Nela, encontramos uma descrição clara
e viva de como se espalha uma calúnia:
“A calúnia?
Oh! O senhor não sabe o que desdenha. Já vi as mais honradas pessoas quase aniquiladas
por ela. Creia-me que não há maldade banal, horror, história absurda, que não
se consiga, com algum jeito, propalar entre os ociosos de uma cidade grande; e
temos aqui gente de uma habilidade!… Primeiro, um leve ruído, como uma
andorinha rasando o chão antes da tempestade, pianíssimo murmura e toma voo, e
semeia correndo o traço envenenado. Uma boca o recolhe e, piano, piano, insinua-o
habilmente num ouvido. O mal está feito, ele germina, alastra-se, caminha, e
rinforzando de boca em boca, segue o seu destino; depois de repente, não se
sabe como, vê-se a calúnia erguer-se, silvar, inflar-se, crescer a olhos vistos;
ela lança-se, alarga o seu voo, turbilhona, envolve, arranca, arrasta, rebenta e
reboa, e torna-se, graças ao Céu, num clamor geral, num crescendo público, num coro
universal de ódio e proscrição. Quem lhe resistiria?”
“O Barbeiro de Sevilha”, Pierre-Augustin Caron de Beaumarchais,
ato II, cena 8
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