Durante muitos anos, dois anacoretas pediram a Deus que lhes indicasse qual deveria ser a melhor maneira de O servir na perfeição.
Certo dia, cada um, separadamente, ouviu uma voz interior que
lhes dizia para irem até à cidade de Alexandria, onde encontrariam um homem chamado
Eucaristo, cuja mulher chamava-se Maria, que serviam a Deus mais perfeitamente
que eles. Com este casal, aprenderiam a melhor honrar e amar a Deus.
Apesar de idosos e com dificuldades de locomoção, os eremitas não
hesitaram em fazer-se rapidamente à estrada. Uma vez chegados a Alexandria, bateram de porta a parte, mas sem sucesso. Ninguém conhecia Eucaristo. Depois de três dias, começaram a duvidar da auteno cidade da voz interior e já
prestes a voltar para a recolhimento, quando se aperceberam de uma mulher,
que se encontrava de pé ao lado de uma pobre casa. Numa última tentativa,
perguntaram-lhe:
- Senhora! Por acaso, conhece um homem chamado Eucaristo?
Qual não foi o espanto ao ouvirem a resposta:
- Claro que sim! É o meu marido.
Então, a senhora, chama-se Maria?
- Quem lhes informou sobre o meu nome?
Ouvimos uma voz interior que nos disse para vir a Alexandria,
para falar com o Eucaristo e a sua mulher, Maria.
Eucaristo demorou ainda algum tempo a chegar, pois passara o
dia no campo, com o seu rebanho de ovelhas. Os anacoretas correram ao seu
encontro, saudaram-no e pediram-lhe que lhes contasse como era o seu estilo de
vida.
- Sou um pobre pastor!
Mas, não era isto o que os eremitas queriam saber.
- Dizei-nos, por favor,
a maneira com que o senhor e a sua esposa louvam e servem a Deus.
Surpreso, Eucaristo replicou:
- Irmãos, sois vós que deveis nos ensinar como fazer! Somos
ignorantes e não sabemos nem amar, nem servir a Deus.
Não importa, responderam os dois anciãos. Viemos aqui da parte
de Deus, para saber de vós, como O servis.
Sentindo-se que se tratava de uma ordem, Eucaristo começou a
contar-lhes:
- Minha mãe amava e temia muito a Deus. Desde a minha mais tenra
infância, ensinou-me que devia fazer tudo e suportar tudo por amor de Deus.
Segui este conselho desde muito jovem. Obedeci, por amor de Deus. Sofri todas as
correções, por amor de Deus. Privei-me de pequenas guloseimas, tão desejadas
quando somos crianças, ou de certas brincadeiras, próprias às estas idades, por
amor de Deus. Continuei toda a minha vida com esta prática, procurando reportar
tudo a Deus. Ainda hoje, pela manhã, levanto-me, por amor de Deus. Rezo e ofereço-Lhe
o meu dia. Trabalho, por amor a Ele. Descanso, quando necessito, por amor de
Deus e para melhor O servir. Sofro fome, frio, calor, a minha pobreza, as minhas
doenças, as más colheitas do ano, por amor de Deus. Não tive filhos, vivi
sempre com a minha mulher, como minha irmã e em grande paz. Isto é tudo o que eu
e a minha mulher fazemos.
Mas, vocês têm bens? Perguntaram os eremitas.
- Temos poucas coisas, respondeu Eucaristo, como este rebanho,
que herdei dos meus pais. Mas Deus abençoa o que temos e nada nos tem faltado.
Pelo contrário, temos conseguido poupar e utilizar apenas um terço do que ganhamos.
O resto, dividimos: metade para a Igreja e a outra metade para os pobres e os viandantes.
Confesso que como muito pouco, mas não posso reclamar por falta de alimentos.
Aceitamos tudo o que temos, por amor de Deus.
E quanto a inimigos. Tendes? Questionou o anacoreta mais velho.
- Quem não os tem? Respondeu rapidamente Eucaristo. Procuro não
fazer mal a ninguém e não falar mal de ninguém. Mesmo assim, temos inimigos.
São pessoas invejosas, mas não queremos mal a eles. Procuro ajudá-las, por amor
de Deus. Quando alguém fala mal da minha mulher ou de mim ou lesa-me em alguma
coisa, sofro em silêncio, por amor de Deus.
E com um sorriso, concluiu:
- Assim somos e esta é a minha conduta e a da minha mulher
Maria.
Ao ouvirem este testemunho de vida santa, os anacoretas
despediram-se e retornaram para o seu isolamento, cheios de admiração e
consolados, por terem aprendido um meio fácil de se chegar à perfeição,
acessível a todos.
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