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quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Um meio fácil de se chegar à perfeição

 


Durante muitos anos, dois anacoretas pediram a Deus que lhes indicasse qual deveria ser a melhor maneira de O servir na perfeição.

Certo dia, cada um, separadamente, ouviu uma voz interior que lhes dizia para irem até à cidade de Alexandria, onde encontrariam um homem chamado Eucaristo, cuja mulher chamava-se Maria, que serviam a Deus mais perfeitamente que eles. Com este casal, aprenderiam a melhor honrar e amar a Deus.

Apesar de idosos e com dificuldades de locomoção, os eremitas não hesitaram em fazer-se rapidamente à estrada. Uma vez chegados a Alexandria, bateram de porta a parte, mas sem sucesso. Ninguém conhecia Eucaristo. Depois de três dias, começaram a duvidar da auteno cidade da voz interior e já prestes a voltar para a recolhimento, quando se aperceberam de uma mulher, que se encontrava de pé ao lado de uma pobre casa. Numa última tentativa, perguntaram-lhe:

- Senhora! Por acaso, conhece um homem chamado Eucaristo?

Qual não foi o espanto ao ouvirem a resposta:

- Claro que sim! É o meu marido.

Então, a senhora, chama-se Maria?

- Quem lhes informou sobre o meu nome?

Ouvimos uma voz interior que nos disse para vir a Alexandria, para falar com o Eucaristo e a sua mulher, Maria.

Eucaristo demorou ainda algum tempo a chegar, pois passara o dia no campo, com o seu rebanho de ovelhas. Os anacoretas correram ao seu encontro, saudaram-no e pediram-lhe que lhes contasse como era o seu estilo de vida.

- Sou um pobre pastor!

Mas, não era isto o que os eremitas queriam saber.

-  Dizei-nos, por favor, a maneira com que o senhor e a sua esposa louvam e servem a Deus.

Surpreso, Eucaristo replicou:

- Irmãos, sois vós que deveis nos ensinar como fazer! Somos ignorantes e não sabemos nem amar, nem servir a Deus.

Não importa, responderam os dois anciãos. Viemos aqui da parte de Deus, para saber de vós, como O servis.

Sentindo-se que se tratava de uma ordem, Eucaristo começou a contar-lhes:

- Minha mãe amava e temia muito a Deus. Desde a minha mais tenra infância, ensinou-me que devia fazer tudo e suportar tudo por amor de Deus. Segui este conselho desde muito jovem. Obedeci, por amor de Deus. Sofri todas as correções, por amor de Deus. Privei-me de pequenas guloseimas, tão desejadas quando somos crianças, ou de certas brincadeiras, próprias às estas idades, por amor de Deus. Continuei toda a minha vida com esta prática, procurando reportar tudo a Deus. Ainda hoje, pela manhã, levanto-me, por amor de Deus. Rezo e ofereço-Lhe o meu dia. Trabalho, por amor a Ele. Descanso, quando necessito, por amor de Deus e para melhor O servir. Sofro fome, frio, calor, a minha pobreza, as minhas doenças, as más colheitas do ano, por amor de Deus. Não tive filhos, vivi sempre com a minha mulher, como minha irmã e em grande paz. Isto é tudo o que eu e a minha mulher fazemos.

Mas, vocês têm bens? Perguntaram os eremitas.

- Temos poucas coisas, respondeu Eucaristo, como este rebanho, que herdei dos meus pais. Mas Deus abençoa o que temos e nada nos tem faltado. Pelo contrário, temos conseguido poupar e utilizar apenas um terço do que ganhamos. O resto, dividimos: metade para a Igreja e a outra metade para os pobres e os viandantes. Confesso que como muito pouco, mas não posso reclamar por falta de alimentos. Aceitamos tudo o que temos, por amor de Deus.

E quanto a inimigos. Tendes? Questionou o anacoreta mais velho.

- Quem não os tem? Respondeu rapidamente Eucaristo. Procuro não fazer mal a ninguém e não falar mal de ninguém. Mesmo assim, temos inimigos. São pessoas invejosas, mas não queremos mal a eles. Procuro ajudá-las, por amor de Deus. Quando alguém fala mal da minha mulher ou de mim ou lesa-me em alguma coisa, sofro em silêncio, por amor de Deus.  

E com um sorriso, concluiu:

- Assim somos e esta é a minha conduta e a da minha mulher Maria.

Ao ouvirem este testemunho de vida santa, os anacoretas despediram-se e retornaram para o seu isolamento, cheios de admiração e consolados, por terem aprendido um meio fácil de se chegar à perfeição, acessível a todos.

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