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segunda-feira, 4 de março de 2019

São Casimiro, padroeiro da Polónia e modelo de pureza


São Casimiro, príncipe da Polónia, foi o terceiro dos treze filhos que Casimiro III, rei da Polónia, teve de Isabel da Áustria, filha do imperador Alberto II. Veio ao mundo em 5 de outubro de 1458 e demonstrou, desde a infância, muita inclinação para a virtude. Teve por preceptor João Dlugosz, denominado Longino, cónego de Cracóvia e historiador da Polónia, homem que juntava rara piedade a grande extensão de conhecimentos e que recusou, por humildade, vários bispados que seu mérito extraordinário fizera lhe fossem oferecidos. Casimiro e os outros príncipes, seus irmãos, eram-lhe tão ternamente afeiçoados que não podiam tolerar que os separassem dele um momento; mas nosso santo foi aquele que mais aproveitou as lições de tão hábil mestre.

Viram-no, na flor da idade, entregar-se com ardor aos exercícios da piedade e às práticas da mortificação. Tinha profundo horror pelo luxo e pela ociosidade reinantes na Corte dos reis; trazia um cilício debaixo das vestes, que eram sempre muito simples; muitas vezes, deitava-se no chão nu e passava grande parte da noite a orar e meditar. A paixão de Jesus Cristo era o assunto mais costumeiro das suas meditações. Saía frequentemente à noite para ir rezar à porta das igrejas, onde esperava se abrissem para assistir às matinas. Espírito e coração continuamente unidos a Deus, a paz interior da sua alma manifestava-se a toda a gente pela serenidade do rosto. Cheio de respeito por tudo o que concernia o culto divino, as menores cerimónias da Igreja interessavam-lhe a piedade. Uma coisa se lhe tornava cara a partir do momento em que a glória de Deus fosse dela objeto. Tinha particular devoção a Jesus, que sofreu e jamais pensava no mistério da nossa redenção sem se desfazer em lágrimas e se sentir abrasado de amor. Quanto ao santo sacrifício da Missa, a ele assistia com tanto fervor e recolhimento que parecia maravilhado em êxtase. Para marcar a confiança que possuía na proteção da Santa Virgem, compôs, ou ao menos recitava frequentemente, em sua honra, o hino “Omni die dic Mariae laudes animae” [Minha alma, cada dia, dirija um canto a Maria] que traz seu nome e, ao morrer, quis que uma cópia lhe fosse posta no túmulo. Amava tão ternamente os pobres que sentia, de certo modo, as suas misérias. Não contente de lhes distribuir os bens, empregava ainda, para os aliviar, tudo o que possuía de crédito junto a seu pai e a seu  irmão Uladislau, rei da Boémia.

Os húngaros, descontentes com Matias, seu rei, quiseram elevar o São Casimiro ao trono, em 1471; enviaram para esse fim uma deputação ao rei da Polónia, seu pai. O jovem Casimiro, que não tinha ainda treze anos completos, desejava muito recusar a coroa que lhe ofereceram; mas, para agradar ao pai, partiu à testa de um exército, a fim de sustentar o direito da sua eleição. Tendo chegado às fronteiras da Hungria, soube que Matias acabava de reunir dezasseis mil homens para ir à frente dos poloneses e que tornara a conquistar o coração dos súditos. Soube também que o papa Sisto IV declarara-se pelo rei destronado e enviara uma embaixada a seu pai, para o fazer abandonar a empresa. Todas essas circunstâncias reunidas deram secreta alegria ao jovem príncipe. Pediu ao pai que voltasse sobre os próprios passos, o que só com muita dificuldade lhe foi concedido; mas, para não aumentar o desgosto que o pai sentia por ter visto malograr os seus desígnios, evitou a princípio aparecer em sua presença; em lugar de ir direito a Cracóvia, retirou-Se ao castelo de Dobzski, que fica a uma légua, e lá passou três meses na prática de austera penitência. Tendo reconhecido, em seguida, a injustiça da expedição que o tinham forçado a empreender contra o rei da Hungria, recusou constantemente render-se ao segundo convite que lhe fizeram os húngaros, e isso malgrado as solicitações e ordens reiteradas do pai.
Casimiro empregou os doze últimos anos de vida em consumar a obra da sua santificação. Viveu na maior continência, malgrado as razões prementes que se alegavam para o levar ao casamento. Morreu de tísica em Vilna, capital da Lituânia, a 4 de março de 1483, com a idade de vinte e quatro anos e cinco meses. Predissera a morte antes que ela chegasse e para ela estava preparado por um redobramento de fervor e pela recepção dos sacramentos da Igreja.

Foi enterrado na igreja de Santo Estanislau. Grande número de milagres foi operado por sua intercessão. O papa Leão X canonizou-o no ano 1522. Cento e vinte anos após sua morte, tendo sido encontrado o seu corpo incorrupto. Os ricos tecidos com os quais o tinham envolvido foram também achados inteiros, malgrado a excessiva umidade do jazigo onde fora enterrado.

Mandaram construir uma capela magnífica de mármore para nela serem depositadas as suas relíquias. São Casimiro é patrono da Polónia, e proposto comumente aos jovens como perfeito modelo de pureza.

(Rohrbacher, Vida dos Santos, volume II, pp. 177-180)

Comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre São Casimiro, tirado de uma reunião, sem revisão do autor:

“Há vários aspectos que valem a pena notar de modo mais especial.

“Temos falado muito a respeito dos santos que são fundadores de povos, santos que são fundadores de ciclos de civilização e que por sua ação extraordinária movem a história. Nós podemos considerar uma outra categoria de santos que nascem e se tornam exímios na prática de uma virtude a qual vão representar em toda a vida da Igreja. Mas parece que, a fim de que a atenção dos fiéis não se desvie desse aspecto central de sua existência, esses santos morrem relativamente jovens e sua vida fica realçada pela prática daquela virtude.

“Os senhores considerem, por exemplo, São Luís Gonzaga: fazer, propriamente, ele fez pouca coisa. Mas morreu no apogeu da virtude, ainda adolescente. Se tivesse feito muita coisa, as atenções se voltariam para o que ele realizou e se desviariam talvez daquilo que ele foi.

“Esses santos assim nos mostram que a santidade consiste sobretudo em ser, consiste sobretudo numa ação de presença dentro da Igreja; no difundir o aroma dessa santidade, não só enquanto estão vivos, mas depois de mortos. E que a vida deles – tão precocemente imolada e em geral oferecida em benefício da Igreja Católica – é um elemento preciosíssimo para a salvação das almas. Mas é um elemento valioso na ordem do oferecer, na ordem de sacrificar-se e não é valioso na ordem da ação. Com isso fica bem mostrado como sendo a ordem da ação muito preciosa, entretanto não é a mais preciosa de todas. A ordem do exemplo, a ordem do sacrifício, a ordem da realização interior de uma obra própria que justifica inteiramente a existência, embora externamente não se tenha feito nada. Isso é o ensinamento que santos como São Domingos Sávio, São Casimiro, São Luís Gonzaga e como tantos outros nos trazem à mente. É um outro aspecto desse sol de santidade que é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

“Há um outro aspecto interessante a se considerar: a atitude de São Casimiro vestindo roupas régias e levando cilício sob elas. Os senhores estão vendo bem aí o equilíbrio do verdadeiro santo: ele quer fazer penitência, mas sabe que sua condição lhe impõe que se vista com a pompa inerente à sua categoria. E como ele não é um igualitário, não é  um progressista, não é um filho das trevas, usa tudo quanto é necessário para a manutenção de seu estado. A penitência ele faz também: ele a leva consigo, mas às ocultas.

“Por fim, há outro elemento interessante: esse santo teve dificuldades com seu pai, o qual queria que ele conquistasse a Hungria e não compreenderia que por uma razão que para si parecia frívola (a saber que o Papa dava razão a um outro e que, pois, São Casimiro seria um usurpador) não queria que seu filho se abstivesse de conquistar esse reino.

“São Casimiro foi muito jeitoso: ficou rezando três meses fora, até que as coisas se acalmassem e depois voltou. Há aqui um apuro e depois um santo ardil, que deve servir de inspiração para todos nós”.

domingo, 3 de março de 2019

Transmitir os valores espirituais e morais aos filhos


“Não quero impor nada ao meu filho! Quando ele crescer, decidirá o que fazer da sua vida!”

São cada vez mais numerosos os pais que respondem desta maneira, quando interrogados sobre a formação religiosa que dão aos seus filhos.

O curioso é que estes mesmos pais não deixam de obrigar os seus filhos a estudarem, elegendo para eles, às vezes, desde pequenos, a profissão que deverão exercer quando crescerem; escolhem as roupas que devem vestir, obedecendo a moda ou o estilo que eles, pais, mais gostam; impõem-lhes regras de educação a serem cumpridas no lar, na escola e em todos os lugares por onde andam os seus filhos, não deixando, por exemplo, que escolham se querem comer com as mãos e constantemente ensinam-lhes regras elementares do convívio humano. Ou seja, para algumas coisas eles, com razão, educam os filhos, transmitindo-lhes tudo aquilo que acreditam ser o melhor para eles. Mas porque com a religião deveria ser diferente?

São Paulo afirma que “quem se descuida dos seus, e principalmente dos de sua própria família, é um renegado, pior que um infiel.” (1Tm 5,8). E o livro de Provérbios ensina que desde pequenos os filhos devem ser formados nos caminhos do Senhor, pois mesmo quando eles envelhecerem, não se desviarão (Pv 22. 6).

É preciso, portanto, que os pais transmitam a seus filhos os valores espirituais e morais, que ajudarão na formação da sua personalidade e até na construção da sua cidadania. Em primeiro lugar, devem fazê-lo dando-lhes o exemplo, através de uma vida coerente com os princípios ensinados. Esta formação passa pelo batismo na mais tenra idade, pela assistência à Missa dominical, pela vida de oração em família, muitas vezes até pela recitação do terço diariamente e pela conversa sobre temas ligados à espiritualidade cristã, histórias bíblicas, vidas de santos ou contos de fundo moral.

Matrimónio e família, a batalha final

Hoje em dia a família é desprezada, atacada e vão-se perdendo pouco a pouco os ensinamentos que se relacionam com a santidade do matrimónio cristão e a obediência às leis da Igreja que regulam os deveres dos esposos e dos filhos.

Numa longa carta enviada ao Cardeal Carlo Caffarra, Arcebispo de Bolonha (Itália), a Irmã Lúcia, vidente de Fátima, advertia contra “a batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás” que “será sobre o matrimónio e a família”.

No dia 16 de fevereiro de 2008, o Arcebispo italiano, depois de ter celebrado uma Missa junto à tumba de São Pio de Pietrelcina, concedeu uma entrevista à ‘Tele Radio Padre Pio’ e comentou as palavras da Irmã Lúcia. Nesta ocasião, O Cardeal Caffarra explicou a origem da carta da religiosa. A pedido de São João Paulo II, começou a trabalhar na criação do Instituto Pontifício para os Estudos do Matrimónio e da Família e escreveu uma carta à Irmã Lúcia de Fátima através do seu bispo, pois ele não podia fazê-lo diretamente.

“Inexplicavelmente, como não esperava uma resposta, vendo que só havia pedido as suas orações, recebi uma longa carta assinada por ela, que se encontra atualmente nos arquivos do Instituto”, comentou o Arcebispo italiano.

“Nela encontramos escrito: ‘A batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás será a respeito do matrimónio e da família. Não temam, acrescentou, porque qualquer pessoa que atue a favor da santidade do Matrimónio e da Família sempre será combatida e enfrentada em todas as formas, porque este é o ponto decisivo. Depois concluiu: entretanto, Nossa Senhora já esmagou sua cabeça’”.

sábado, 2 de março de 2019

Vestíbulo de uma época cheia de sofrimentos e lutas



Cada vez mais se acentua em mim a impressão de que estamos no vestíbulo de uma época cheia de sofrimentos e lutas. Por toda a parte, o sofrimento da Igreja torna-se mais intenso, e a luta aproxima-se mais. Tenho a impressão de que as nuvens do horizonte político estão baixando. Não tarda a tempestade, que deverá ter uma guerra mundial como simples prefácio. Mas esta guerra espalhará pelo mundo inteiro uma tal confusão, que revoluções surgirão em todos os cantos, e a putrefação atingirá o seu auge. Aí, então, surgirão as forças do mal que, como os vermes, somente aparecem nos momentos em que a putrefação culmina. Todo o “bas-fond” da sociedade subirá à tona, e a Igreja será perseguida por toda a parte. Mas… “Et ego dico tibi quia tu es Petrus et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam, ET PORTAE INFERI NON PRAEVALEBUNT ADVERSUS EAM” [“Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (MT 16,18)]. Como consequência, ou teremos “un nouveau Moyen Âge”, [uma nova Idade Média], ou teremos o fim do mundo*.

Eis a nossa principal tarefa: prepararmo-nos para a luta, e preparar a Igreja, como o marinheiro que prepara o navio antes da tempestade.

(Bilhete do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a um dos seus discípulos)

(Revista Dr. Plinio, nº 1, p. 15)

A hipótese do fim do mundo, na realidade, não se coloca. Dr. Plinio não se cansava de recordar a promessa que Nossa Senhora fez em Fátima: “Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará!” e o ensinamento de São Luís Maria Grignion de Montfort, que no seu “Tratado da verdadeira devoção a Nossa Senhora”, escreve sobre a época de esplendor e de glória em que Nossa Senhora reinará nos corações. E, na sua “Oração abrasada”, pede a Deus pela vinda do “Reino de Maria”:

"Lembrai-vos, Senhor... É tempo de cumprir o que prometestes. Vossa divina fé é transgredida; vosso Evangelho desprezado; abandonada, vossa religião; torrentes de iniquidade inundam toda a terra, e arrastam até os vossos servos; a terra toda está desolada, a impiedade está sobre um trono; vosso santuário é profanado, e a abominação entrou até no lugar santo. E assim deixareis tudo ao abandono, justo Senhor, Deus das vinganças? Tornar-se-á tudo afinal como Sodoma e Gomorra? Calar-vos-eis sempre? Não cumpre que seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu, e que a nós venha o vosso reino?

Não mostrastes antecipadamente a alguns dos vossos amigos uma futura renovação da vossa Igreja? Não se devem os judeus converter à verdade? Não é esta a expectativa da Igreja? Não vos clamam todos os santos do céu:

‘Senhor Jesus, Lembrai-vos de dar à vossa Mãe uma nova Companhia, a fim de por ela renovar todas as coisas, e a fim de terminar por Maria Santíssima os anos de graça, assim como por ela os começastes...

‘Ó Divino Espírito Santo, lembrai-vos de produzir e de formar filhos de Deus, com Maria, vossa divina e fiel Esposa. Formastes Jesus Cristo, cabeça dos predestinados com ela e nela, e com ela e nela deveis formar todos os seus membros; nenhuma pessoa divina engendrais na Divindade, mas só vós, unicamente vós, formais todas as pessoas divinas, fora da Divindade, e todos os santos que têm existido e hão de existir até ao fim do mundo, são outros tantos produtos de vosso amor unido a Maria Santíssima. O reino especial de Deus Pai durou até ao dilúvio, e foi terminado por um dilúvio de água; o reino de Jesus Cristo foi terminado por um dilúvio de sangue, mas o vosso reino, Espírito do Pai e do Filho, está continuando presentemente, e há de ser terminado por um dilúvio de fogo, de amor e de justiça’.

Quando virá esse dilúvio de fogo do puro amor, que deveis atear em toda a terra de um modo tão suave e tão veemente que todas as nações hão de arder nele e converter-se? Seja ateado esse divino fogo que Jesus Cristo veio trazer à terra, antes que ateeis o fogo de vossa cólera, que há de reduzir tudo a cinzas".


sexta-feira, 1 de março de 2019

A recusa do Papa São Estêvão I às novidades doutrinárias

Debates sobre o donatismo

Quanto mais se cresce no fervor e na piedade, com maior presteza se põe barreira às novidades doutrinárias.

Existe uma grande quantidade de exemplos, mas para não alongar-me muito, citarei apenas um, adequadíssimo para a nossa finalidade, tomando-o da história da Sé Apostólica.

Todos poderão ver, com mais clareza do que a própria luz, com quanta fortaleza, diligência e zelo os veneráveis sucessores dos santos Apóstolos têm defendido sempre a integridade da doutrina recebida uma vez para sempre.

Sucedeu que o bispo de Cartago, Agripino, de piedosa memória, teve a ideia de fazer com que os hereges fossem rebatizados; e isto contra a Escritura, a norma da Igreja universal, a opinião dos seus colegas, os costumes e os usos dos Padres. Isto deu origem a grandes males, porque não só oferecia a todos os hereges um exemplo de sacrilégio, mas também foi ocasião de erro para não poucos católicos.

Dado que em todas as partes se protestava contra esta novidade, e em cada sítio os bispos tomavam diferentes posturas com respeito a ela, segundo lhes ditava o seu próprio zelo, o Papa Estevão, de santa memória, bispo da Sé Apostólica, somou-se com maior força à oposição dos seus colegas, pois entendia que devia superar a todos na proteção à fé, dada a autoridade da sua Sé.

Escreveu então uma carta à África e decretou nestes termos: “Nenhuma novidade, mas só o que tem sido transmitido”.
Sabia aquele homem santo e prudente que a mesma natureza da religião exige que tudo seja transmitido aos filhos com a mesma fidelidade com a qual tenha sido recebido dos pais, e que, ademais, não nos é lícito levar e trazer a religião por onde nos pareça, mas temos que a seguir por onde quer que ela nos conduza.

E é próprio da humanidade e da responsabilidade cristã não transmitir aos que nos sucedem as nossas opiniões pessoais, mas conservar o que foi recebido dos nossos antecessores e superiores.

Como ficou, então, a situação? Como haveria de acabar senão da maneira comum e normal? Foram fiéis aos ensinamentos da tradição e rechaçaram a novidade. Então não houve quem defendesse a inovação? Muito pelo contrário, houve um tal desdobramento de ingénuos, uma tal profusão de eloquência, um número tão grande de partidários, tanta verosimilhança nas teses, tal acúmulo de citações da Sagrada Escritura, ainda que interpretada num sentido totalmente novo e errado, que de nenhuma maneira, creio eu, se poderia superar toda aquela concentração de forças, se a inovação tão fortemente abraçada, defendida, louvada, não tivesse caído por si mesma, precisamente por causa da sua novidade.

O que ocorreu com os decretos daquele Concílio africano e quais foram suas consequências? Graças a Deus não serviram para nada. Tudo se dissipou como num sonho e numa fábula e foi abolido como coisa inútil, desprezado, não levado em conta. Mas foi aqui que se produziu uma situação paradoxal.

Os autores daquela opinião são considerados católicos, e em troca os seus seguidores são hereges; os mestres foram perdoados e os discípulos condenados.

Quem escreveu os livros erróneos serão chamados filhos do reino, enquanto o inferno acolherá os seus defensores. Quem pode ser tão louco até o ponto de pôr em dúvida que o beato Cipriano, luz esplendorosa entre todos os santos bispos e mártires, reina junto com os seus colegas, eternamente, com Cristo? E, ao contrário, quem poderia ser tão sacrílego que negasse que os donatistas e as outras pestes, que presunçosamente queriam rebatizar, apoiando-se na autoridade daquele Concílio, arderão, eternamente, com o diabo?

(São Vicente de Lerins, Commonitorio, Regras para conhecer a Verdadeira Fé)

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

As heresias e as loucuras das inovações

No tempo de Donato, de quem tomaram o nome os donatistas, uma parte considerável da África seguiu as delirantes aberrações deste homem (que sustentava que a Igreja não devia perdoar e admitir pecadores e que o batismo administrados pelos que negaram a fé durante a perseguição de Dioclesiano e que foram posteriormente perdoados e readmitidos na Igreja, eram inválidos). Esquecendo-se do seu nome, sua religião e a sua profissão de fé, antepuseram à Igreja, a sacrílega temeridade de um só indivíduo. 

Os que se opuseram então ao ímpio cisma permaneceram unidos às Igrejas do mundo inteiro e só eles entre todos os africanos puderam permanecer a salvo no santuário da Fé católica. Agindo assim, deixaram àqueles que viriam o exemplo egrégio de como se deve preferir sempre o equilíbrio de todos os demais à loucura de uns poucos.

Ário de Alexandria
Um caso semelhante aconteceu quando o veneno da heresia ariana contaminou não apenas uma pequena região, mas o mundo inteiro, até o ponto de que quase todos os bispos latinos cederam ante a heresia, alguns obrigados com violência, outros sacerdotes diminuídos e enganados. Uma espécie de névoa ofuscou então as suas mentes, e já não podiam distinguir, no meio de tanta confusão de ideias, qual era o caminho seguro que deviam seguir. Somente o verdadeiro e fiel discípulo de Cristo que preferiu a antiga Fé à nova perfídia não foi contaminado por aquela peste contagiosa. 

O que se sucedeu, então, mostra suficientemente os graves males a que podem dar lugar um dogma inventado. Tudo se revolucionou: não só relações, parentescos, amizades, famílias, mas também cidades, povos, regiões. Até mesmo o Império Romano foi sacudido até aos seus fundamentos e transtornado, de cima a baixo, quando a sacrílega inovação ariana, como nova Bellona ou Fúria, seduziu inclusive o Imperador, o primeiro de todos os homens.

Depois de ter submetido as suas novas leis inclusive aos mais insignes dignatários da corte, a heresia começou a perturbar, transtornar, ultrajar todas as coisas, privada e pública, profana e religiosa. 

Sem fazer distinção entre o bom e o mau, entre o verdadeiro e o falso, atacava a mão livre todos que estivessem à sua frente. As esposas foram desonradas, as viúvas ultrajadas, as virgens profanadas. Se demoliram mosteiros, se dispersaram os clérigos; os diáconos foram açoitados com varas e os sacerdotes foram mandados ao exílio. Cárceres e minas encheram-se de santos. Muitos, expulsos das cidades, andavam errantes sem pousada até que nos desertos, nas covas, entre as rochas abruptas pereceram miseravelmente, vítimas das feras selvagens e da desnudez, fome e sede. 

E qual foi a causa de tudo isto? 

Uma só: a introdução de crenças humanas em lugar do dogma vindo do céu. Isto ocorre quando, pela introdução de uma inovação vazia, a antiguidade fundamentada nos mais seguros embasamentos é demolida, velhas doutrinas são pisoteadas, os decretos dos Padres são desgarrados, as definições de nossos maiores são anuladas; e isto, sem que a desenfreada concupiscência de novidades profanas consiga manter-se nos nítidos limites de uma tradição sagrada e incontaminada.

(São Vicente de Lerins, Commonitorio, Regras para conhecer a Verdadeira Fé)


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Não se deve considerar alguém como irremediavelmente perdido


Imitemos o exemplo do Bom Pastor! 

Porque o modelo, à imagem do qual fostes criados, é Deus, procurai imitar o Seu exemplo. Sois cristãos, e com o vosso nome declarais a vossa dignidade humana, portanto, sejais imitadores de Cristo que Se fez homem.

Considerai as riquezas da sua bondade. Ele, quando estava para vir entre os homens, através da Encarnação, enviou à sua frente João, como arauto e mestre de penitência; e antes de João, tinha enviado todos os profetas para ensinarem aos homens o arrependimento, o retorno ao bom caminho e a conversão para uma vida melhor.

Pouco depois, quando Ele mesmo veio, proclamou diretamente com a sua voz: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Portanto, aos que ouviram as suas palavras, concedeu um perdão completo dos pecados e libertou-os de tudo o que os angustiava. O Verbo santificou-os, o Espírito fortificou-os, o homem velho foi sepultado na água e foi gerado o homem novo, que floresceu na graça.
E depois, o que seguiu? Aquele que era inimigo fez-se amigo, o estrangeiro passou a ser filho, o ímpio tornou-se santo e pio.
Imitemos o exemplo que nos deu Nosso Senhor, o Bom Pastor. Contemplemos os Evangelhos e admirando o modelo de solicitude e bondade neles espelhado, procuremos assimilá-los bem.

Nas parábolas, encontramos um pastor que tem cem ovelhas. Tendo uma delas se afastado do rebanho e, vagando sem rumo, não permaneceu com as outras que pastavam ordenadamente. O pastor sai à sua procura, atravessa vales e florestas, escala altos e escarpados montes, percorrendo desertos com grande esforço, procura-a por todo o lado, até a encontrar.

Tendo-a encontrado, não a castiga nem a obriga com violência a voltar para o rebanho; pelo contrário, coloca-a sobre os ombros, trata-a com doçura, leva-a para o aprisco, alegrando-se mais por esta única ovelha recuperada do que por todas as outras.

Consideremos a realidade velada desta parábola. Aquela ovelha não é uma ovelha, nem este pastor é um pastor, mas significam outra coisa. São figuras que contêm um grande significado religioso e ensinam-nos que não é justo considerar os homens como condenados e sem esperança; e que não devemos desinteressar-nos daqueles que estão em perigo; nem sermos preguiçosos em lhes ajudar, sendo o nosso dever reconduzir ao bom caminho aqueles que dele se afastaram ou se perderam. Devemos alegrar-nos com o regresso deles e reconduzi-los ao aprisco seguro, junto dos que vivem bem e na piedade.

Astério de Amaseia, Homelia 13; PG 40, 355-358. 362

domingo, 27 de janeiro de 2019

Podemos estar enfermos e não doentes?

A cura da filha de Nain - Paolo Veronese

     Para os médicos, doente e enfermo são palavras sinónimas. Contudo, para um católico, como afirma Santo Agostinho, os dois termos são bem diferentes.

     Um doente é aquele que passa por alguma alteração do seu estado de saúde física, enquanto o enfermo é aquele que “não está parado”, ou seja “in-firmus”, obcecado com a sua própria inquietude ligada ao pecado e que não tem firmeza na vontade, que é espelhada depois na falta de constância de todo o seu ser. Seria, portanto, uma doença espiritual que leva à morte eterna, pois faz com que o Homem viva para os prazeres exteriores, procurando a grandeza, a beleza, a verdade não em Deus, mas nas criaturas e nos objetos sensíveis que não as podem oferecer.

     Ora se é assim, será que muita gente hoje não estará enferma e não sabe? É verdade que a vida do homem sobre a terra é uma contínua tentação que coloca em risco a nossa saúde espiritual. Mas Deus, o Divino Médico, é misericordioso. Se estivermos unidos a Ele, procurarmos servi-Lo e amá-Lo acima de todas as coisas, seremos curados das nossas enfermidades.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Santa Estratonice e Santo Seleuco, mártires


A graça de Deus penetra nos corações muitas vezes inesperadamente e, se a alma não se opuser à ação de Deus, ela provoca mudanças muito rápidas. Foi o aconteceu com Santa Estratonice e São Seleuco.
Esta impressionante paixão deu-se no tempo da cruel perseguição exercida contra a Igreja de Deus pelo Imperador Galério Maximino (305-311). Sobre as muralhas de Cízico, na Mísia (atual Turquia), a filha do prefeito da cidade, Estratonice, quis ver de perto, aos pés da muralha, os suplícios pelos quais passavam um grande número de cristãos, que eram levados para lá, vindos de várias partes da região. Ela era pagã, como o seu pai Apolónio, como o seu marido Seleuco, um dos jovens mais distinguidos da cidade. Estratonice era jovem, rica, amada e sonhava ter, certamente, uma vida sem muitas preocupações.
Contudo, o espetáculo, que ela presenciara, perturbou-a profundamente. Aqueles homens, aquelas mulheres, aqueles idosos que padeciam tormentos atrozes com os olhos postos no Céu, com uma serenidade na fisionomia, com o nome de Jesus nos lábios, encheram-na de espanto e de estupor. E virando-se para aqueles que a acompanhavam, disse: “Que estranho! Os outros condenados vão para morte a tremer e a lamentar-se. Estes aqui, caminham para ela com calma e até com alegria. Mas, com que esperança? Quem é este Jesus que eles invocam quando dão o último suspiro?”
Um jovem cristão ouviu-a. Ele estava ali, escondendo a sua fé por medo, como dizem os Atos. Mas, o desejo de fazer bem a Estratonice foi mais forte do que o de permanecer desconhecido. Aproximando-se, disse-lhe em voz baixa: “Depois desta vida, esperamos uma outra imortal. Àqueles que sofrem sem desfalecer têm-na garantida, pois oferecendo a sua vida por Deus, eles terão no Céu uma recompensa eterna”.
Estratonice interessou-se, e perguntou-lhe: “Quem me revelará esta vida bem-aventurada que me referiu?”
As suas amigas, que conheciam o seu temperamento altivo e seguro, espantaram-se ao vê-la falar com um desconhecido. Mas, qual não foi a estupefação delas ao ver que, de repente, levantando-se da sua cadeira, Estratonice fez o sinal da Cruz, pronunciando em alta voz : “Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus dos cristãos, abri os meus olhos para a vossa luz e dai-me um sinal da verdade!”
A graça que acabava de penetrar naquela alma, abriu-lhe os olhos. Ela viu uma coluna de luz descer do Céu sobre os pobres corpos despedaçados, enquanto as suas almas subiam nas alturas.
De seguida, ela deixou os seus servos, desceu em direção à porta mais próxima da cidade, passou pela multidão, sem se preocupar com o seu rango e a sua família e ajoelhou-se aos pés dos mártires. Ela osculou as suas chagas, e chorando, exclamou: “Senhor Jesus Cristo, dai-me a graça de morrer, eu também, por Vós!”
Rapidamente, correram até à casa de Apolónio para lhe contar o que estava sucedendo com a sua filha. Apavorado, ele correu para junto dela, viu-a debruçada sobre os corpos santos, manchada com o sangue deles e perguntou-lhe: “Minha filha, minha filha, o que fazes? Desonras assim a tua família aos olhos de todos os habitantes de Cízico?
Ao que, ela respondeu-lhe: “Não meu pai, não lha desonro. Se quiser e se abjurar os falsos deuses, como fiz, salvo-lha.”
Apolónio começou a derramar lágrimas e não lhe respondeu. O juiz, indeciso e inquieto, emocionado diante do comportamento de Apolónio, ordenou que jogassem os corpos no mar.   Por sua vez, levaram à força a jovem para a casa dos pais.
Ali passou Estratonice a noite, em oração. "Senhor Jesus, dizia, não me abandonai, pois acredito em Vós". Enquanto ela rezava e chorava, um anjo apareceu-lhe e pronunciou as seguintes palavras:" Coragem, Stratonice! Após os tormentos dos mártires, a glória dos santos!” E desapareceu.
No dia seguinte, depois de outra tentativa do seu pai, desta vez com muito mais ternura, ela saiu de casa e voltou para o lugar da sua conversão. No portão da cidade, encontrava-se Seleuco, seu marido, no meio de um grupo de amigos. Ela correu até ele e disse-lhe: "Seleuco, meu irmão, convido-te a começar uma nova vida. Andemos juntos ao Salvador do mundo, entremos juntos na felicidade eterna!”
Seleuco, que amava a jovem esposa com ternura, ouviu atentamente as suas palavras. E, já tocado pela graça, respondeu-lhe: "Quem é, querida Estratonice, esse novo Deus a quem adoras? Está acima dos nossos?”
E Estratonice explicou-lhe: Os nossos deuses são apenas ídolos ociosos. Jesus, que acaba de me deslumbrar com a Sua luz, é o verdadeiro Deus; Ele fez-Se homem, deixou-Se crucificar, salvando assim todo o género humano." E caindo de joelhos, prosseguiu: "Senhor Jesus, iluminai-o, tocai-o! Que ele também acredite em Vós! Que ele entenda que Vós sois o verdadeiro Deus!"
Levantando-se, tomou a mão de Seleuco, e colocou-a sobre o solo ainda húmido com o sangue dos mártires. Ambos prosternaram-se e rezaram a Deus, pedindo-Lhe que lhes fosse propício.
Esta mudança repentina indignou os amigos e servos de Seleuco, que se dirigiram à casa de Apolónio, que estava reunido com o juiz. Eles foram advertidos do comportamento de Estratonice e do novo prosélito. Apolónio pediu e obteve um atraso de sete dias para tentar convencê-la. Entretanto, todas as tentativas foram vãs: lágrimas, orações, apelo ao amor filial, ameaças; nada resultou.
Então ele trancou-a com Seleuco num quarto escuro. À noite, enquanto rezavam, um anjo visitou-os. Cobriu as portas da casa e da cidade, e levou o casal ao lugar onde os mártires foram mortos. Ali encontraram os dois, de joelhos, na manhã seguinte.
O juiz decidiu, então, intervir. Perguntou quem tinha libertado os dois jovens. Ao que Estratonice, respondeu-lhe: “Ninguém! Ninguém a não ser Jesus Cristo, Aquele que trancado e fechado num túmulo guardado pelos soldados, passou através da pedra."
E com um conhecimento que só podia ter recebido de Deus, ela expôs a fé católica, citou as Escrituras, para admiração de todos. Furioso, o juiz mandou deitarem-na sobre um cavalete, açoitando-a com uma correia sobre a qual haviam colocado vários espinhos. Depois, foi a vez de Seleuco. No começo, ao ser condenado a espancamentos cruéis, ele tremeu. Mas Estratonice pegou a sua mão e encorajou-o. E ele gritava: "Ajudai-me, Senhor Jesus!” E a coragem não mais lhe falhou.
No dia seguinte, ambos foram conduzidos ao tribunal. Em vão o juiz tentou sufocar os mártires no meio de vapores de enxofre. Eles se transformavam em perfumes. Também não deu resultado o suplício das lâminas de ferro em brasa nas quais seriam enrolados, pois elas perdiam o calor. Depois de os terem dilacerado o corpo com golpes, ordenou que fossem encarcerados novamente.
Três dias se passaram. No quarto, foram retirados da prisão e levados novamente ao juiz. Eles não tinham sido alimentados, nem tinham mudado de roupas. No entanto, eles reapareceram cheios de vigor, sem nenhum traço de ferimento. O carcereiro protestou, dizendo que não deixara ninguém entrar na prisão. Quando perguntados qual era o nome do médico que lhes tinha tratado, Estratonice gracejou, dizendo: "O que fará com este médico, se eu o nomear? E o juiz respondeu: “Pelos deuses! Vou submetê-lo aos tormentos mais terríveis.” Interrompendo-o, afirmou:  "Este médico é Cristo; Foi Ele que curou as feridas que a sua crueldade nos fez. Quem poderia ter sido, senão Ele? "
E os tormentos recomeçaram. Durante três horas os flancos dos mártires foram rasgados com pregos de ferro, chegando a expor os seus ossos. Mas diante da impassibilidade de Estratonice, o juiz exclamou: “Parece que você não sofre!”
"Não, respondeu-lhe. Dou assim testemunho de Jesus Cristo. Tenho algo em mim que me impede de sentir a dor: é a esperança de uma felicidade que será tanto maior quanto mais você me atormentar. "
O que fazer? O que poderia o juiz inventar para castigá-los ainda mais? Aceitando o parecer dos seus conselheiros mais experientes, decidiu coloca-los num porão apertado, onde permaneceriam junto ao corpo em decomposição de quinze miseráveis, deixando-os assim apodrecer. No meio das lágrimas dos seus pais, dos gritos de compaixão da multidão, Estratonice e Seleuco foram levados para sofrer esta estranha e ignóbil tortura.
Com grande pressa e com muito cuidado para não serem infectados, os coveiros jogaram os cônjuges na cova e selaram-na com uma pedra. Mas Deus, infinitamente bom, expulsou os odores pestilentos, substituindo-os por aromas deliciosos.
Quando ao fim de sete dias foram constatar a morte dos mártires, qual não foi o espanto geral ao encontra-los cheios de vida e sorrindo. A multidão, ao vê-los, começou a gritar que se tratava de um milagre. A prova já tinha durado o suficiente; a recompensa finalmente chegara. Os dois jovens foram sentenciados a serem decapitados por um golpe de espada. Quando o veredicto foi pronunciado, Estratonice, levantando os olhos para o céu, exclamou: "Senhor Jesus, se por vós desprezei esta vida frágil, dai-me agora a vida eterna”.
Pondo-se de joelhos e com os olhos voltados para o Céu bradou, enquanto o carrasco levantava a espada: "Senhor Jesus, ajudai-me"! E a sua cabeça rolou.
Seleuco, por sua vez, foi decapitado, pronunciando as mesmas palavras, tendo o seu corpo caído ao lado do da sua esposa.
Uma nobre dama, chamada Teotista, obteve autorização para recolher os santos corpos. Ela colocou-os no mesmo túmulo. E quando Constantino deu liberdade aos cristãos, ele construiu junto à campa de Santa Estratonice e de Santo Seleuco uma igreja.

domingo, 13 de janeiro de 2019

13 de janeiro: Santo Hilário (Bispo)

Santos do Dia

13 de janeiro
Santo Hilário (Bispo), Doutor da Igreja

Com a subida ao trono imperial de Constâncio II, filho de Constantino, o Grande (337), o arianismo voltou a erguer a cabeça. Esta heresia - que minou o cristianismo na sua base, ao não reconhecer o Verbo, senão como uma criatura, a mais perfeita de todas, é verdade, mas recusando-se a admitir que Jesus Cristo é Deus encarnado - já tinha sido condenada pelo Concílio de Nicéia (325) e, no princípio, vigorosamente reprimida por Constantino. Mas a intriga de Ário e os seus seguidores, especialmente de Eusébio, bispo de Nicomédia, fez com que, no final da sua vida, o velho imperador se tornasse mais conciliador para com os hereges. Quando Constâncio II sucedeu a seu pai, a balança parecia, humanamente falando, pender igualmente para a Ortodoxia e para a heresia. Mas, esta última ira quebrar o equilíbrio a seu favor, graças ao apoio da Imperatriz Eusébia (352).


Foram anos dolorosos aqueles vividos pela Igreja entre 352 e 361. As subtilezas, prevaricações, intrigas, inveja dos Orientais levaram a uma pergunta de bom senso e de justiça que os Ocidentais teriam resolvido rapidamente. As partes foram conseguindo cada vez maior apoio, dividindo-se a favor ou contra a adoção de uma palavra, primeiramente apresentada pelos Padres de Nicéia, e depois transformada em expressão necessária da verdade dogmática - necessária, já que se ela fosse retirada, parecia dar razão ao erro. Dir-se-ia que o Pai e o Filho eram da mesma substância (homoousioi) ou simplesmente de substância similar (hornoiou-síoz)? Se o segundo termo cavava entre eles um abismo, o primeiro não identificava as duas pessoas divinas?

A linguagem dos antigos Padres gregos confundia, por usar, muitas vezes, uma ou outra palavra, através das quais traduzimos hoje os conceitos diferentes de substância e de pessoa. Era fácil subtilizar sobre as palavras, para encontrar a ocasião, valiosa para o espírito litigioso dos gregos, discussões intermináveis, ​​de persistir em brigas exercidas com o intuito de dominar, à custa da verdade.

A intrusão do despotismo em questões de fé fez com que a controvérsia de ideias se transformasse em perseguição. Uma vez que o imperador tomou parte em favor de alguns homens, sem atingir talvez a sua fé pessoal, usou e abusou da sua autoridade omnipotente para tentar dobrar diante dele a fé de todo o mundo.

Quando Constâncio II morreu, a fé, como uma boa espada que volta a ficar direita depois de ser dobrada, voltou à normalidade, íntegra. Se o mundo, de acordo com a palavra de São Jerónimo, gemeu ao ver-se de repente ariano, ele não demorou para rejeitar o veneno. Ele voltou a ser católico para resistir à perseguição pagã de Juliano, o Apóstata.

Mesmo diante de Constâncio II, não faltaram defensores da ortodoxia. Ao lado do valente Atanásio, a verdadeira fé teve os seus confessores e mártires. O mais ilustre destes foi Santo Hilário.

Embora saibamos muito pouco sobre os seus primeiros anos, parece que "ele não nasceu cristão, mas tornou-se "(Tillemont).  Os seus pais, nobres e ricos, viviam em Poitiers (ou talvez Clere, no Anjou), quando este filho lhes foi dado. Eles instruíram-no com grande cuidado nas ciências, especialmente, nas letras e casaram-no, antes dele conhecer a verdade católica. Ele mesmo conta, no começo de seu livro sobre a Trindade, como a preocupação com a fim do homem e a vida eterna abriram-lhe os olhos. O absurdo dos dogmas pagãos, horrorizavam-no. E, o encontro com a Sagrada Escritura, especialmente o Evangelho de São João, fez o resto. Batizado, ele começou por trazer à sua fé a sua esposa e a sua filha. Mas não foram apenas com estas duas queridas criaturas que ele limitou o seu apostolado; o seu zelo era tão grande para com todos, que logo depois da morte de Maxêncio, bispo de Poitiers, o clero e os fiéis insistiram com ele para que aceitasse o episcopado. E ele achou impossível escapar a este chamamento.

A partir deste momento, de acordo com a lei já estabelecida de continência para os clérigos, ele pediu à sua esposa, e obteve o seu consentimento, para que ela o “visse no altar, transfigurado na chama do sacrifício, amando-o apenas como um irmão" (P. Largent).

Provavelmente por volta de 350, Hilário recebeu a unção episcopal. Pouco tempo depois, quando ele já era bispo, os hereges levantaram audaciosamente o estandarte de Ário. O Imperador, instigado por eles, declarou, primeiro, guerra a Atanásio, o patriarca de Alexandria e o defensor mais enérgico da Fé. Depois, pretendeu curvar o Ocidente e o Oriente às suas preferências dogmáticas. Ele baniu Lúcifer de Cagliari, Dionísio de Milão, Eusébio de Vercelli, que resistiam ao erro; logo depois, o velho e venerável Ósio, bispo de Córdoba e até o papa Libério tiveram que partir para o exílio. Clérigos e fiéis estavam aterrorizados. Hilário, atreveu-se a tomar então a palavra para defender a verdade. Primeiro, reuniu um Concílio de bispos, que condenou e rejeitou energicamente os principais fautores das medidas tirânicas. E ele não hesitou em apresentar ao imperador, em termos inteligentes e medidos, mas muito firme e muito explícito, a sua defesa à Igreja e aos bispos sancionados e exilados. Juliano, que seria posteriormente conhecido como o apóstata, governava a Gália. Diante da sua inércia e indiferença, Saturnino, Bispo de Arles, um dos excomungados do Concílio organizado por Hilário, convocou os seus partidários para uma reunião em Béziers. O bispo de Poitiers teve a ousadia de ir até lá. Mas o que fazer diante de oponentes que não quereriam ouvi-lo e que esperavam conseguir “enganar o próprio Cristo "?

A sua voz foi abafada pelo clamor e os seus opositores conseguiram de Juliano uma ordem de exílio. Em junho de 356, Hilário de Poitiers e Ródão, de Toulouse, tiveram que partir para a Frígia. Ródão morreria ali; Hilário, mais do que nunca se mostraria como soldado da verdade católica.

Assim que chegou ao exílio, preocupou-se em estabelecer, em face aos erros da heresia, a verdadeira doutrina tradicional. Esta é a origem do seu Tratado da Trindade, em doze volumes, onde a geração eterna do Verbo e a sua consubstancialidade com o Pai são, sucessivamente, estabelecidas. Hilário não foi o primeiro a tratar do assunto; mas o seu trabalho "excede o dos seus antecessores pela precisão da doutrina e pela extensão da execução. Ele é o primeiro dos latinos a lutar contra o arianismo e a criar uma linguagem, introduzindo num idioma até aquela altura rebelde as precisões da doutrina católica e das delicadezas do pensamento grego” (Largent).

Ao mesmo tempo, talvez, a pedido de alguns colegas do episcopado da Gália, enviou-lhes uma longa carta, onde, enquanto exortava-os a manterem-se firmes nas definições conciliares, pretendia esclarecer as suspeitas mútuas que separavam os bispos orientais, dos ocidentais; e deixando a linha de uma inflexibilidade intransigente e de uma indulgência comprometedora ou suspeita, estendeu uma mão compassiva àqueles que uma fraqueza humana retinha nas fileiras semi-arianas. Esta carta provocou muitas críticas da parte de alguns confessores da fé, como Lúcifer de Cagliari, que chegou ao ponto de cessar toda a comunicação com Hilário. Mas ele não acreditava ser necessário partir ainda mais a cana meio rachada, através de uma ortodoxia apresentada com ferocidade.

No entanto, no mesmo ano em que Hilário terminou o seu Tratado da Trindade, em 359, Constâncio II ainda estava tentando restaurar a unidade da fé, tal como sonhava o seu imperialismo. Ele, inicialmente, tinha pensado convocar um Concílio universal em Constantinopla; mas um terremoto assustador e, em seguida, um imenso incêndio, arruinaram a cidade e destruíram o seu plano. Os arianos, acreditando poder dominar mais facilmente qualquer resistência, aconselharam-no a convocar os bispos, simultaneamente em dois Concílios, um em Rimini, para o Ocidente e o outro em Selêucia da Isauria, para o Oriente.  Nenhum dos dois mereceriam o título de ecuménico. O de Rimini foi realizado, lamentavelmente, sob a violenta pressão dos bispos hereges Ursácia e Valens, diante de uma quase total deserção do episcopado. No outro de Selêucia, Hilário foi convocado e nele participou corajosamente. A sua bravura impediu os excessos de uma minoria de exaltados, comandados por Acácio, bispo de Cesaréia. Quando este, indignado, conseguiu fazer com que o Concílio fosse dissolvido pela partida irritada do representante de Constâncio II, Hilário seguiu Acácio até Constantinopla, provocando-o, desafiando-o a uma discussão, para a qual o herege, assim como seus seguidores, não queriam a qualquer preço. Para se livrar desse oponente intratável, pareceu-lhes não haver outra solução a não ser a de o mandar de volta para a Gália. Constâncio II concordou com o pedido, sem revogar, contudo, o decreto de exílio. Depois de defender a fé no Oriente, Deus permitiu que Hilário a levasse de volta ao Ocidente.

Mas ele não queria partir sem antes manifestar a sua oposição contra o perseguidor coroado, indignação que ele tinha conseguido conter até aquela altura, na esperança de ser ouvido. As suas invectivas contra Constâncio II estouraram como trovão e fulminaram o criminoso imperador que usava o seu poder para corromper os fiéis de Cristo. Entre os rumores desta raiva santa, ele caminhava em direção à sua terra natal. Diante desta notícia, Martinho, que acabara de deixar o exército e vivia numa ermida de uma ilha do golfo de Génova, apressou-se a encontrar com este mestre ilustre, com quem se afeiçoara. Mas, só conseguiu encontrá-lo em Poitiers. Colocando-se sob o seu cuidado e direção, não demorou em fundar, não longe da sua cidade, a ilustre abadia de Ligugé, onde nos últimos anos da sua vida, Hilário procurou hospedagem para seguir um regime de penitência monástica.

O bispo viajava lentamente em direção à Gália, acolhido e aclamado por todos como um vencedor, em todos os lugares reforçava a coragem, abafava as intrigas, pacificava os corações. Graças a ele, os líderes oficiais do arianismo francês, como Saturnino de Arles e Paterne de Périgueux, foram deposto das suas sedes episcopais, os outros, os fracos, os arrependidos, encontraram misericórdia.

Esta sabedoria restaurou a paz, arruinando a heresia, e o seu sucesso fez com que Hilário fosse chamado a resolver na Itália as mesmas questões de divisão provocadas pelo arianismo. Constâncio II tinha acabado de morrer em Mopsuestia (361). Juliano, o Apóstata, sucedeu-o e, com o desejo de perturbar a Igreja e não com intuitos de justiça, permitiu a todos os exilados, ortodoxos ou hereges, retornarem às suas igrejas. Assim, Eusébio de Vercelli retornou do exílio. Passando por Alexandria, consultou Atanásio e os dois santos concordaram em prosseguir uma política de conciliação, posição concorde com a de Hilário. Ele esforçou-se por unir os seus esforços aos do bispo de Poitiers. A ação deles foi coroada de sucesso, quase que universalmente, tendo sido abençoada pelo Papa Libério, apesar da oposição irredutível de Lúcifer de Cagliari. Apesar disto, a heresia tinha fortificado a sua posição em Milão, governada pelo bispo Auxêncio. Em vão, Hilário dirigiu-se à consciência reta e cristã do Imperador Valentiniano (364). Auxêncio conseguiu enganar Valentiniano que era melhor político que teólogo, ordenando a saída de Hilário de Milão. O santo obedeceu; mas não sem antes proferir palavras muito duras contra o imperador, como tinha feito contra Constâncio. Doce e misericordioso para os fracos, Hilário guardava toda a sua energia vingativa contra aqueles que ao erro juntavam a trapaça ou a violência.

Depois disto, ele viveu inteiramente para o seu rebanho. Provavelmente, durante este período escreveu os seus comentários sobre os Salmos, onde "Ele adopta uma medida certa entre os que, fixando-se no sentido literal e puramente histórico, acreditam não dever procurar outro significado, e os que, referindo tudo a Jesus Cristo, imaginam que os salmos não têm nenhum sentido literal "(Dom Ceillier).

A sua caridade foi exercida não só por palavras e esmolas, mas por milagres. Ele fez muitos e a sua reputação como taumaturgo aumentou consideravelmente depois da sua morte, ocorrida no dia 13 de janeiro de 368.

Ele foi enterrado ao lado da sua esposa e da sua filha Abra, na basílica São João e São Paulo, que hoje traz o seu nome. Ele é venerado por grandes estudiosos e multidões.

Santo Hilário recebeu o título Hilário foi enterrado ao lado da sua
de Doutor da Igreja concedido pelo Beato Papa Pio IX em 13 de maio de 1851.



sábado, 12 de janeiro de 2019

12 de janveiro: Santo Arcádio – Mártire

Santo do dia
12 de janeiro 
Santo Arcádio


Se a existência e o suplício de Santo Arcádio não podem ser colocados em dúvida, os historiadores, de acordo com a autenticidade dos Atos do seu martírio, hesitam quando se trata de precisar a persecução durante a qual ele morreu e o lugar onde ele confessou a fé. Parece que ele deve ser contado entre as vítimas feitas pelo cruel imperador romano Valeriano. Pode ser, também, que ele tenha sido espanhol, nascido na cidade de Osuna, que o tem como patrono. Mas, é bem provável que tenha sido em Cesareia da Mauritânia, hoje Cherchel (Algéria)l, o lugar onde ele tenha recebido a coroa do martírio. Pouco importa que os documentos antigos não façam menção sobre este ponto. O exemplo da sua coragem heróica não deixa de ter menos força; e ele tem mais valor do que a determinação exata de uma data ou de um lugar.

É certo, contudo, que no país onde ele habitava os inimigos da Santa Igreja reprimiam com furor. "Em todos os lugares onde se suspeitava estar presente um servo de Cristo, a perseguição começava. O tirano forçava o povo cristão a comparecer em sacrifícios idólatras para fazer libações sacrílegas, a apresentar vítimas coroadas com flores, a unir-se a cantos impuros em meio à fumaça do incenso.»

Agora um cristão, conhecido por sua grande fortuna, - Arcádio era o seu nome, - detestava estas assembleias; resolvido a não tomar parte nelas, pensando, no entanto, não dever enfrentar a morte reservada a todos aqueles que se recusavam a nelas participar, sem ser especialmente chamado por Deus. Além disso, de acordo com o conselho do próprio Senhor, mais de um devoto fugiu da perseguição. Longe de culpá-los, os bispos davam o mesmo conselho. Não era covardia, certamente; muitos mostraram isto morrendo mais tarde heroicamente. Era prudência, desconfiança da falta das próprias forças e medo de tentar a Deus. Para os chefes, tratava-se de manter vivos pastores e guias para os fiéis. Arcádio fez o mesmo. Deixou a sua casa e escondeu-se num local retirado, onde passava os dias em oração e penitência. Mas, por causa da sua situação social, a sua ausência não podia deixar de ser notada. E ela a foi. Começaram a procurar por ele e revistaram a sua habitação. Mas, ela estava vazia. Conseguiram apenas prender e interrogar um parente que tinha passado por ali para fazer uma visita a Arcádio. Ele tentou justificar o ausente, mas em vão. Furioso com o insucesso, o governador da província, mandou prender o parente até que ele indicasse com precisão o lugar onde se escondia Arcádio.

A notícia da prisão não tardou a chegar aos ouvidos do escondido, que não podia suportar a ideia de ver outra pessoa sofrer torturas horríveis e morrer no seu lugar. Além disto, a sua vida de oração inflamara o seu coração do desejo do martírio; ele sentiu que Deus consentia, e até mesmo pedia-lhe para confessar corajosamente a sua fé, dando assim exemplo aos covardes e fortificando os cristãos. Assim, deixando o seu esconderijo, Arcádio foi até à cidade, apresentou-se diante do governador e disse-lhe: "Você tem o meu parente na prisão por minha causa. Solte-o, pois estou aqui, pronto para lhe ensinar o que ele não pôde dizer-lhe e para prestar contas de todas as minhas ações."

O governador tentou primeiro mostrar clemência, dizendo-lhe: "Consinto em fechar os olhos sobre a sua fuga. Você não tem nada a temer, se aceitar apresentar sacrifícios aos deuses, mais tarde. O que me diz?”

“Ó mais inútil dos juízes”, exclamou o mártir. “Você acha que pode assustar os servos de Deus pelo medo de perder uma vida fugaz ou de ver a morte próxima? Para eles, a vida é Cristo, e morrer é um ganho”. E com a força da graça, acrescentou: “Invente todas as torturas que quiser; você não nos separará de Deus."

Esta provocação feriu profundamente o juiz. Cheio de ódio, ele achou que o cavalete, as unhas de ferro ou os chicotes de chumbo eram muito leves. Rapidamente a sua cruel imaginação encontrou um novo e rebuscado tormento que, em sua lenta atrocidade, faria sofrer mil mortes ao valente cristão. Ele deu uma ordem; os lictores entenderam; eles apanharam Arcádio e levaram-no para o local das execuções. Ele caminhava, recomendando-se a Deus; Ajoelhou-se e esticou o pescoço, pensando que iria receber rapidamente a coroa do martírio. Mas ele deveria sofrer mais. O carrasco fez com que ele estendesse a mão; Com golpes sucessivos e medidos, ele cortou os dedos, talhou os pulsos e deslocou os cotovelos e os ombros. Arcádio, no entanto, ofereceu os seus sofrimentos a Deus: "As Vossas mãos, ó Senhor, me fizeram, moldaram-me; dai-me  inteligência!”

O tirano não tinha pensado cortar-lhe a língua. Assim, todo o tempo da sua longa agonia, ele usou-a para louvar o seu Criador.

Depois das mãos, braços, o carrasco virou-se para os dedos dos pés, pés e pernas; procedendo lentamente a esta horrível dissecação. Tudo o que restou do santo foi um tronco inundado de sangue. E ele, no entanto, continuava a felicitar os seus membros pelo sacrifício feito: "Bem-aventurado sois vós! Nunca foste mais querido para mim do que quando vos vejo separado do meu corpo e oferecidos à glória de Deus!”

E como as últimas gotas de sangue ainda não se tinham esvaído, reunindo as suas forças, corajosamente, disse aos assistentes em voz agonizante: "Não é nada, não é nada! Tudo isto é fácil de se suportar quando se tem o hábito de pensar no céu. Pensem nisto. Deixem os falsos deuses, adorem o único verdadeiro Mestre, aquele que me apoiou com a sua graça, aquele que me receberá como vencedor e me protegerá para sempre!"

Assim faleceu Santo Arcádio, em paz. Os pagãos ficaram maravilhados com tanta paciência, e os cristãos animaram-se com este exemplo de sofrimento por Cristo.