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segunda-feira, 4 de março de 2019

São Casimiro, padroeiro da Polónia e modelo de pureza


São Casimiro, príncipe da Polónia, foi o terceiro dos treze filhos que Casimiro III, rei da Polónia, teve de Isabel da Áustria, filha do imperador Alberto II. Veio ao mundo em 5 de outubro de 1458 e demonstrou, desde a infância, muita inclinação para a virtude. Teve por preceptor João Dlugosz, denominado Longino, cónego de Cracóvia e historiador da Polónia, homem que juntava rara piedade a grande extensão de conhecimentos e que recusou, por humildade, vários bispados que seu mérito extraordinário fizera lhe fossem oferecidos. Casimiro e os outros príncipes, seus irmãos, eram-lhe tão ternamente afeiçoados que não podiam tolerar que os separassem dele um momento; mas nosso santo foi aquele que mais aproveitou as lições de tão hábil mestre.

Viram-no, na flor da idade, entregar-se com ardor aos exercícios da piedade e às práticas da mortificação. Tinha profundo horror pelo luxo e pela ociosidade reinantes na Corte dos reis; trazia um cilício debaixo das vestes, que eram sempre muito simples; muitas vezes, deitava-se no chão nu e passava grande parte da noite a orar e meditar. A paixão de Jesus Cristo era o assunto mais costumeiro das suas meditações. Saía frequentemente à noite para ir rezar à porta das igrejas, onde esperava se abrissem para assistir às matinas. Espírito e coração continuamente unidos a Deus, a paz interior da sua alma manifestava-se a toda a gente pela serenidade do rosto. Cheio de respeito por tudo o que concernia o culto divino, as menores cerimónias da Igreja interessavam-lhe a piedade. Uma coisa se lhe tornava cara a partir do momento em que a glória de Deus fosse dela objeto. Tinha particular devoção a Jesus, que sofreu e jamais pensava no mistério da nossa redenção sem se desfazer em lágrimas e se sentir abrasado de amor. Quanto ao santo sacrifício da Missa, a ele assistia com tanto fervor e recolhimento que parecia maravilhado em êxtase. Para marcar a confiança que possuía na proteção da Santa Virgem, compôs, ou ao menos recitava frequentemente, em sua honra, o hino “Omni die dic Mariae laudes animae” [Minha alma, cada dia, dirija um canto a Maria] que traz seu nome e, ao morrer, quis que uma cópia lhe fosse posta no túmulo. Amava tão ternamente os pobres que sentia, de certo modo, as suas misérias. Não contente de lhes distribuir os bens, empregava ainda, para os aliviar, tudo o que possuía de crédito junto a seu pai e a seu  irmão Uladislau, rei da Boémia.

Os húngaros, descontentes com Matias, seu rei, quiseram elevar o São Casimiro ao trono, em 1471; enviaram para esse fim uma deputação ao rei da Polónia, seu pai. O jovem Casimiro, que não tinha ainda treze anos completos, desejava muito recusar a coroa que lhe ofereceram; mas, para agradar ao pai, partiu à testa de um exército, a fim de sustentar o direito da sua eleição. Tendo chegado às fronteiras da Hungria, soube que Matias acabava de reunir dezasseis mil homens para ir à frente dos poloneses e que tornara a conquistar o coração dos súditos. Soube também que o papa Sisto IV declarara-se pelo rei destronado e enviara uma embaixada a seu pai, para o fazer abandonar a empresa. Todas essas circunstâncias reunidas deram secreta alegria ao jovem príncipe. Pediu ao pai que voltasse sobre os próprios passos, o que só com muita dificuldade lhe foi concedido; mas, para não aumentar o desgosto que o pai sentia por ter visto malograr os seus desígnios, evitou a princípio aparecer em sua presença; em lugar de ir direito a Cracóvia, retirou-Se ao castelo de Dobzski, que fica a uma légua, e lá passou três meses na prática de austera penitência. Tendo reconhecido, em seguida, a injustiça da expedição que o tinham forçado a empreender contra o rei da Hungria, recusou constantemente render-se ao segundo convite que lhe fizeram os húngaros, e isso malgrado as solicitações e ordens reiteradas do pai.
Casimiro empregou os doze últimos anos de vida em consumar a obra da sua santificação. Viveu na maior continência, malgrado as razões prementes que se alegavam para o levar ao casamento. Morreu de tísica em Vilna, capital da Lituânia, a 4 de março de 1483, com a idade de vinte e quatro anos e cinco meses. Predissera a morte antes que ela chegasse e para ela estava preparado por um redobramento de fervor e pela recepção dos sacramentos da Igreja.

Foi enterrado na igreja de Santo Estanislau. Grande número de milagres foi operado por sua intercessão. O papa Leão X canonizou-o no ano 1522. Cento e vinte anos após sua morte, tendo sido encontrado o seu corpo incorrupto. Os ricos tecidos com os quais o tinham envolvido foram também achados inteiros, malgrado a excessiva umidade do jazigo onde fora enterrado.

Mandaram construir uma capela magnífica de mármore para nela serem depositadas as suas relíquias. São Casimiro é patrono da Polónia, e proposto comumente aos jovens como perfeito modelo de pureza.

(Rohrbacher, Vida dos Santos, volume II, pp. 177-180)

Comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira sobre São Casimiro, tirado de uma reunião, sem revisão do autor:

“Há vários aspectos que valem a pena notar de modo mais especial.

“Temos falado muito a respeito dos santos que são fundadores de povos, santos que são fundadores de ciclos de civilização e que por sua ação extraordinária movem a história. Nós podemos considerar uma outra categoria de santos que nascem e se tornam exímios na prática de uma virtude a qual vão representar em toda a vida da Igreja. Mas parece que, a fim de que a atenção dos fiéis não se desvie desse aspecto central de sua existência, esses santos morrem relativamente jovens e sua vida fica realçada pela prática daquela virtude.

“Os senhores considerem, por exemplo, São Luís Gonzaga: fazer, propriamente, ele fez pouca coisa. Mas morreu no apogeu da virtude, ainda adolescente. Se tivesse feito muita coisa, as atenções se voltariam para o que ele realizou e se desviariam talvez daquilo que ele foi.

“Esses santos assim nos mostram que a santidade consiste sobretudo em ser, consiste sobretudo numa ação de presença dentro da Igreja; no difundir o aroma dessa santidade, não só enquanto estão vivos, mas depois de mortos. E que a vida deles – tão precocemente imolada e em geral oferecida em benefício da Igreja Católica – é um elemento preciosíssimo para a salvação das almas. Mas é um elemento valioso na ordem do oferecer, na ordem de sacrificar-se e não é valioso na ordem da ação. Com isso fica bem mostrado como sendo a ordem da ação muito preciosa, entretanto não é a mais preciosa de todas. A ordem do exemplo, a ordem do sacrifício, a ordem da realização interior de uma obra própria que justifica inteiramente a existência, embora externamente não se tenha feito nada. Isso é o ensinamento que santos como São Domingos Sávio, São Casimiro, São Luís Gonzaga e como tantos outros nos trazem à mente. É um outro aspecto desse sol de santidade que é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

“Há um outro aspecto interessante a se considerar: a atitude de São Casimiro vestindo roupas régias e levando cilício sob elas. Os senhores estão vendo bem aí o equilíbrio do verdadeiro santo: ele quer fazer penitência, mas sabe que sua condição lhe impõe que se vista com a pompa inerente à sua categoria. E como ele não é um igualitário, não é  um progressista, não é um filho das trevas, usa tudo quanto é necessário para a manutenção de seu estado. A penitência ele faz também: ele a leva consigo, mas às ocultas.

“Por fim, há outro elemento interessante: esse santo teve dificuldades com seu pai, o qual queria que ele conquistasse a Hungria e não compreenderia que por uma razão que para si parecia frívola (a saber que o Papa dava razão a um outro e que, pois, São Casimiro seria um usurpador) não queria que seu filho se abstivesse de conquistar esse reino.

“São Casimiro foi muito jeitoso: ficou rezando três meses fora, até que as coisas se acalmassem e depois voltou. Há aqui um apuro e depois um santo ardil, que deve servir de inspiração para todos nós”.