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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Santa Estratonice e Santo Seleuco, mártires


A graça de Deus penetra nos corações muitas vezes inesperadamente e, se a alma não se opuser à ação de Deus, ela provoca mudanças muito rápidas. Foi o aconteceu com Santa Estratonice e São Seleuco.
Esta impressionante paixão deu-se no tempo da cruel perseguição exercida contra a Igreja de Deus pelo Imperador Galério Maximino (305-311). Sobre as muralhas de Cízico, na Mísia (atual Turquia), a filha do prefeito da cidade, Estratonice, quis ver de perto, aos pés da muralha, os suplícios pelos quais passavam um grande número de cristãos, que eram levados para lá, vindos de várias partes da região. Ela era pagã, como o seu pai Apolónio, como o seu marido Seleuco, um dos jovens mais distinguidos da cidade. Estratonice era jovem, rica, amada e sonhava ter, certamente, uma vida sem muitas preocupações.
Contudo, o espetáculo, que ela presenciara, perturbou-a profundamente. Aqueles homens, aquelas mulheres, aqueles idosos que padeciam tormentos atrozes com os olhos postos no Céu, com uma serenidade na fisionomia, com o nome de Jesus nos lábios, encheram-na de espanto e de estupor. E virando-se para aqueles que a acompanhavam, disse: “Que estranho! Os outros condenados vão para morte a tremer e a lamentar-se. Estes aqui, caminham para ela com calma e até com alegria. Mas, com que esperança? Quem é este Jesus que eles invocam quando dão o último suspiro?”
Um jovem cristão ouviu-a. Ele estava ali, escondendo a sua fé por medo, como dizem os Atos. Mas, o desejo de fazer bem a Estratonice foi mais forte do que o de permanecer desconhecido. Aproximando-se, disse-lhe em voz baixa: “Depois desta vida, esperamos uma outra imortal. Àqueles que sofrem sem desfalecer têm-na garantida, pois oferecendo a sua vida por Deus, eles terão no Céu uma recompensa eterna”.
Estratonice interessou-se, e perguntou-lhe: “Quem me revelará esta vida bem-aventurada que me referiu?”
As suas amigas, que conheciam o seu temperamento altivo e seguro, espantaram-se ao vê-la falar com um desconhecido. Mas, qual não foi a estupefação delas ao ver que, de repente, levantando-se da sua cadeira, Estratonice fez o sinal da Cruz, pronunciando em alta voz : “Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus dos cristãos, abri os meus olhos para a vossa luz e dai-me um sinal da verdade!”
A graça que acabava de penetrar naquela alma, abriu-lhe os olhos. Ela viu uma coluna de luz descer do Céu sobre os pobres corpos despedaçados, enquanto as suas almas subiam nas alturas.
De seguida, ela deixou os seus servos, desceu em direção à porta mais próxima da cidade, passou pela multidão, sem se preocupar com o seu rango e a sua família e ajoelhou-se aos pés dos mártires. Ela osculou as suas chagas, e chorando, exclamou: “Senhor Jesus Cristo, dai-me a graça de morrer, eu também, por Vós!”
Rapidamente, correram até à casa de Apolónio para lhe contar o que estava sucedendo com a sua filha. Apavorado, ele correu para junto dela, viu-a debruçada sobre os corpos santos, manchada com o sangue deles e perguntou-lhe: “Minha filha, minha filha, o que fazes? Desonras assim a tua família aos olhos de todos os habitantes de Cízico?
Ao que, ela respondeu-lhe: “Não meu pai, não lha desonro. Se quiser e se abjurar os falsos deuses, como fiz, salvo-lha.”
Apolónio começou a derramar lágrimas e não lhe respondeu. O juiz, indeciso e inquieto, emocionado diante do comportamento de Apolónio, ordenou que jogassem os corpos no mar.   Por sua vez, levaram à força a jovem para a casa dos pais.
Ali passou Estratonice a noite, em oração. "Senhor Jesus, dizia, não me abandonai, pois acredito em Vós". Enquanto ela rezava e chorava, um anjo apareceu-lhe e pronunciou as seguintes palavras:" Coragem, Stratonice! Após os tormentos dos mártires, a glória dos santos!” E desapareceu.
No dia seguinte, depois de outra tentativa do seu pai, desta vez com muito mais ternura, ela saiu de casa e voltou para o lugar da sua conversão. No portão da cidade, encontrava-se Seleuco, seu marido, no meio de um grupo de amigos. Ela correu até ele e disse-lhe: "Seleuco, meu irmão, convido-te a começar uma nova vida. Andemos juntos ao Salvador do mundo, entremos juntos na felicidade eterna!”
Seleuco, que amava a jovem esposa com ternura, ouviu atentamente as suas palavras. E, já tocado pela graça, respondeu-lhe: "Quem é, querida Estratonice, esse novo Deus a quem adoras? Está acima dos nossos?”
E Estratonice explicou-lhe: Os nossos deuses são apenas ídolos ociosos. Jesus, que acaba de me deslumbrar com a Sua luz, é o verdadeiro Deus; Ele fez-Se homem, deixou-Se crucificar, salvando assim todo o género humano." E caindo de joelhos, prosseguiu: "Senhor Jesus, iluminai-o, tocai-o! Que ele também acredite em Vós! Que ele entenda que Vós sois o verdadeiro Deus!"
Levantando-se, tomou a mão de Seleuco, e colocou-a sobre o solo ainda húmido com o sangue dos mártires. Ambos prosternaram-se e rezaram a Deus, pedindo-Lhe que lhes fosse propício.
Esta mudança repentina indignou os amigos e servos de Seleuco, que se dirigiram à casa de Apolónio, que estava reunido com o juiz. Eles foram advertidos do comportamento de Estratonice e do novo prosélito. Apolónio pediu e obteve um atraso de sete dias para tentar convencê-la. Entretanto, todas as tentativas foram vãs: lágrimas, orações, apelo ao amor filial, ameaças; nada resultou.
Então ele trancou-a com Seleuco num quarto escuro. À noite, enquanto rezavam, um anjo visitou-os. Cobriu as portas da casa e da cidade, e levou o casal ao lugar onde os mártires foram mortos. Ali encontraram os dois, de joelhos, na manhã seguinte.
O juiz decidiu, então, intervir. Perguntou quem tinha libertado os dois jovens. Ao que Estratonice, respondeu-lhe: “Ninguém! Ninguém a não ser Jesus Cristo, Aquele que trancado e fechado num túmulo guardado pelos soldados, passou através da pedra."
E com um conhecimento que só podia ter recebido de Deus, ela expôs a fé católica, citou as Escrituras, para admiração de todos. Furioso, o juiz mandou deitarem-na sobre um cavalete, açoitando-a com uma correia sobre a qual haviam colocado vários espinhos. Depois, foi a vez de Seleuco. No começo, ao ser condenado a espancamentos cruéis, ele tremeu. Mas Estratonice pegou a sua mão e encorajou-o. E ele gritava: "Ajudai-me, Senhor Jesus!” E a coragem não mais lhe falhou.
No dia seguinte, ambos foram conduzidos ao tribunal. Em vão o juiz tentou sufocar os mártires no meio de vapores de enxofre. Eles se transformavam em perfumes. Também não deu resultado o suplício das lâminas de ferro em brasa nas quais seriam enrolados, pois elas perdiam o calor. Depois de os terem dilacerado o corpo com golpes, ordenou que fossem encarcerados novamente.
Três dias se passaram. No quarto, foram retirados da prisão e levados novamente ao juiz. Eles não tinham sido alimentados, nem tinham mudado de roupas. No entanto, eles reapareceram cheios de vigor, sem nenhum traço de ferimento. O carcereiro protestou, dizendo que não deixara ninguém entrar na prisão. Quando perguntados qual era o nome do médico que lhes tinha tratado, Estratonice gracejou, dizendo: "O que fará com este médico, se eu o nomear? E o juiz respondeu: “Pelos deuses! Vou submetê-lo aos tormentos mais terríveis.” Interrompendo-o, afirmou:  "Este médico é Cristo; Foi Ele que curou as feridas que a sua crueldade nos fez. Quem poderia ter sido, senão Ele? "
E os tormentos recomeçaram. Durante três horas os flancos dos mártires foram rasgados com pregos de ferro, chegando a expor os seus ossos. Mas diante da impassibilidade de Estratonice, o juiz exclamou: “Parece que você não sofre!”
"Não, respondeu-lhe. Dou assim testemunho de Jesus Cristo. Tenho algo em mim que me impede de sentir a dor: é a esperança de uma felicidade que será tanto maior quanto mais você me atormentar. "
O que fazer? O que poderia o juiz inventar para castigá-los ainda mais? Aceitando o parecer dos seus conselheiros mais experientes, decidiu coloca-los num porão apertado, onde permaneceriam junto ao corpo em decomposição de quinze miseráveis, deixando-os assim apodrecer. No meio das lágrimas dos seus pais, dos gritos de compaixão da multidão, Estratonice e Seleuco foram levados para sofrer esta estranha e ignóbil tortura.
Com grande pressa e com muito cuidado para não serem infectados, os coveiros jogaram os cônjuges na cova e selaram-na com uma pedra. Mas Deus, infinitamente bom, expulsou os odores pestilentos, substituindo-os por aromas deliciosos.
Quando ao fim de sete dias foram constatar a morte dos mártires, qual não foi o espanto geral ao encontra-los cheios de vida e sorrindo. A multidão, ao vê-los, começou a gritar que se tratava de um milagre. A prova já tinha durado o suficiente; a recompensa finalmente chegara. Os dois jovens foram sentenciados a serem decapitados por um golpe de espada. Quando o veredicto foi pronunciado, Estratonice, levantando os olhos para o céu, exclamou: "Senhor Jesus, se por vós desprezei esta vida frágil, dai-me agora a vida eterna”.
Pondo-se de joelhos e com os olhos voltados para o Céu bradou, enquanto o carrasco levantava a espada: "Senhor Jesus, ajudai-me"! E a sua cabeça rolou.
Seleuco, por sua vez, foi decapitado, pronunciando as mesmas palavras, tendo o seu corpo caído ao lado do da sua esposa.
Uma nobre dama, chamada Teotista, obteve autorização para recolher os santos corpos. Ela colocou-os no mesmo túmulo. E quando Constantino deu liberdade aos cristãos, ele construiu junto à campa de Santa Estratonice e de Santo Seleuco uma igreja.

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