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domingo, 13 de janeiro de 2019

13 de janeiro: Santo Hilário (Bispo)

Santos do Dia

13 de janeiro
Santo Hilário (Bispo), Doutor da Igreja

Com a subida ao trono imperial de Constâncio II, filho de Constantino, o Grande (337), o arianismo voltou a erguer a cabeça. Esta heresia - que minou o cristianismo na sua base, ao não reconhecer o Verbo, senão como uma criatura, a mais perfeita de todas, é verdade, mas recusando-se a admitir que Jesus Cristo é Deus encarnado - já tinha sido condenada pelo Concílio de Nicéia (325) e, no princípio, vigorosamente reprimida por Constantino. Mas a intriga de Ário e os seus seguidores, especialmente de Eusébio, bispo de Nicomédia, fez com que, no final da sua vida, o velho imperador se tornasse mais conciliador para com os hereges. Quando Constâncio II sucedeu a seu pai, a balança parecia, humanamente falando, pender igualmente para a Ortodoxia e para a heresia. Mas, esta última ira quebrar o equilíbrio a seu favor, graças ao apoio da Imperatriz Eusébia (352).


Foram anos dolorosos aqueles vividos pela Igreja entre 352 e 361. As subtilezas, prevaricações, intrigas, inveja dos Orientais levaram a uma pergunta de bom senso e de justiça que os Ocidentais teriam resolvido rapidamente. As partes foram conseguindo cada vez maior apoio, dividindo-se a favor ou contra a adoção de uma palavra, primeiramente apresentada pelos Padres de Nicéia, e depois transformada em expressão necessária da verdade dogmática - necessária, já que se ela fosse retirada, parecia dar razão ao erro. Dir-se-ia que o Pai e o Filho eram da mesma substância (homoousioi) ou simplesmente de substância similar (hornoiou-síoz)? Se o segundo termo cavava entre eles um abismo, o primeiro não identificava as duas pessoas divinas?

A linguagem dos antigos Padres gregos confundia, por usar, muitas vezes, uma ou outra palavra, através das quais traduzimos hoje os conceitos diferentes de substância e de pessoa. Era fácil subtilizar sobre as palavras, para encontrar a ocasião, valiosa para o espírito litigioso dos gregos, discussões intermináveis, ​​de persistir em brigas exercidas com o intuito de dominar, à custa da verdade.

A intrusão do despotismo em questões de fé fez com que a controvérsia de ideias se transformasse em perseguição. Uma vez que o imperador tomou parte em favor de alguns homens, sem atingir talvez a sua fé pessoal, usou e abusou da sua autoridade omnipotente para tentar dobrar diante dele a fé de todo o mundo.

Quando Constâncio II morreu, a fé, como uma boa espada que volta a ficar direita depois de ser dobrada, voltou à normalidade, íntegra. Se o mundo, de acordo com a palavra de São Jerónimo, gemeu ao ver-se de repente ariano, ele não demorou para rejeitar o veneno. Ele voltou a ser católico para resistir à perseguição pagã de Juliano, o Apóstata.

Mesmo diante de Constâncio II, não faltaram defensores da ortodoxia. Ao lado do valente Atanásio, a verdadeira fé teve os seus confessores e mártires. O mais ilustre destes foi Santo Hilário.

Embora saibamos muito pouco sobre os seus primeiros anos, parece que "ele não nasceu cristão, mas tornou-se "(Tillemont).  Os seus pais, nobres e ricos, viviam em Poitiers (ou talvez Clere, no Anjou), quando este filho lhes foi dado. Eles instruíram-no com grande cuidado nas ciências, especialmente, nas letras e casaram-no, antes dele conhecer a verdade católica. Ele mesmo conta, no começo de seu livro sobre a Trindade, como a preocupação com a fim do homem e a vida eterna abriram-lhe os olhos. O absurdo dos dogmas pagãos, horrorizavam-no. E, o encontro com a Sagrada Escritura, especialmente o Evangelho de São João, fez o resto. Batizado, ele começou por trazer à sua fé a sua esposa e a sua filha. Mas não foram apenas com estas duas queridas criaturas que ele limitou o seu apostolado; o seu zelo era tão grande para com todos, que logo depois da morte de Maxêncio, bispo de Poitiers, o clero e os fiéis insistiram com ele para que aceitasse o episcopado. E ele achou impossível escapar a este chamamento.

A partir deste momento, de acordo com a lei já estabelecida de continência para os clérigos, ele pediu à sua esposa, e obteve o seu consentimento, para que ela o “visse no altar, transfigurado na chama do sacrifício, amando-o apenas como um irmão" (P. Largent).

Provavelmente por volta de 350, Hilário recebeu a unção episcopal. Pouco tempo depois, quando ele já era bispo, os hereges levantaram audaciosamente o estandarte de Ário. O Imperador, instigado por eles, declarou, primeiro, guerra a Atanásio, o patriarca de Alexandria e o defensor mais enérgico da Fé. Depois, pretendeu curvar o Ocidente e o Oriente às suas preferências dogmáticas. Ele baniu Lúcifer de Cagliari, Dionísio de Milão, Eusébio de Vercelli, que resistiam ao erro; logo depois, o velho e venerável Ósio, bispo de Córdoba e até o papa Libério tiveram que partir para o exílio. Clérigos e fiéis estavam aterrorizados. Hilário, atreveu-se a tomar então a palavra para defender a verdade. Primeiro, reuniu um Concílio de bispos, que condenou e rejeitou energicamente os principais fautores das medidas tirânicas. E ele não hesitou em apresentar ao imperador, em termos inteligentes e medidos, mas muito firme e muito explícito, a sua defesa à Igreja e aos bispos sancionados e exilados. Juliano, que seria posteriormente conhecido como o apóstata, governava a Gália. Diante da sua inércia e indiferença, Saturnino, Bispo de Arles, um dos excomungados do Concílio organizado por Hilário, convocou os seus partidários para uma reunião em Béziers. O bispo de Poitiers teve a ousadia de ir até lá. Mas o que fazer diante de oponentes que não quereriam ouvi-lo e que esperavam conseguir “enganar o próprio Cristo "?

A sua voz foi abafada pelo clamor e os seus opositores conseguiram de Juliano uma ordem de exílio. Em junho de 356, Hilário de Poitiers e Ródão, de Toulouse, tiveram que partir para a Frígia. Ródão morreria ali; Hilário, mais do que nunca se mostraria como soldado da verdade católica.

Assim que chegou ao exílio, preocupou-se em estabelecer, em face aos erros da heresia, a verdadeira doutrina tradicional. Esta é a origem do seu Tratado da Trindade, em doze volumes, onde a geração eterna do Verbo e a sua consubstancialidade com o Pai são, sucessivamente, estabelecidas. Hilário não foi o primeiro a tratar do assunto; mas o seu trabalho "excede o dos seus antecessores pela precisão da doutrina e pela extensão da execução. Ele é o primeiro dos latinos a lutar contra o arianismo e a criar uma linguagem, introduzindo num idioma até aquela altura rebelde as precisões da doutrina católica e das delicadezas do pensamento grego” (Largent).

Ao mesmo tempo, talvez, a pedido de alguns colegas do episcopado da Gália, enviou-lhes uma longa carta, onde, enquanto exortava-os a manterem-se firmes nas definições conciliares, pretendia esclarecer as suspeitas mútuas que separavam os bispos orientais, dos ocidentais; e deixando a linha de uma inflexibilidade intransigente e de uma indulgência comprometedora ou suspeita, estendeu uma mão compassiva àqueles que uma fraqueza humana retinha nas fileiras semi-arianas. Esta carta provocou muitas críticas da parte de alguns confessores da fé, como Lúcifer de Cagliari, que chegou ao ponto de cessar toda a comunicação com Hilário. Mas ele não acreditava ser necessário partir ainda mais a cana meio rachada, através de uma ortodoxia apresentada com ferocidade.

No entanto, no mesmo ano em que Hilário terminou o seu Tratado da Trindade, em 359, Constâncio II ainda estava tentando restaurar a unidade da fé, tal como sonhava o seu imperialismo. Ele, inicialmente, tinha pensado convocar um Concílio universal em Constantinopla; mas um terremoto assustador e, em seguida, um imenso incêndio, arruinaram a cidade e destruíram o seu plano. Os arianos, acreditando poder dominar mais facilmente qualquer resistência, aconselharam-no a convocar os bispos, simultaneamente em dois Concílios, um em Rimini, para o Ocidente e o outro em Selêucia da Isauria, para o Oriente.  Nenhum dos dois mereceriam o título de ecuménico. O de Rimini foi realizado, lamentavelmente, sob a violenta pressão dos bispos hereges Ursácia e Valens, diante de uma quase total deserção do episcopado. No outro de Selêucia, Hilário foi convocado e nele participou corajosamente. A sua bravura impediu os excessos de uma minoria de exaltados, comandados por Acácio, bispo de Cesaréia. Quando este, indignado, conseguiu fazer com que o Concílio fosse dissolvido pela partida irritada do representante de Constâncio II, Hilário seguiu Acácio até Constantinopla, provocando-o, desafiando-o a uma discussão, para a qual o herege, assim como seus seguidores, não queriam a qualquer preço. Para se livrar desse oponente intratável, pareceu-lhes não haver outra solução a não ser a de o mandar de volta para a Gália. Constâncio II concordou com o pedido, sem revogar, contudo, o decreto de exílio. Depois de defender a fé no Oriente, Deus permitiu que Hilário a levasse de volta ao Ocidente.

Mas ele não queria partir sem antes manifestar a sua oposição contra o perseguidor coroado, indignação que ele tinha conseguido conter até aquela altura, na esperança de ser ouvido. As suas invectivas contra Constâncio II estouraram como trovão e fulminaram o criminoso imperador que usava o seu poder para corromper os fiéis de Cristo. Entre os rumores desta raiva santa, ele caminhava em direção à sua terra natal. Diante desta notícia, Martinho, que acabara de deixar o exército e vivia numa ermida de uma ilha do golfo de Génova, apressou-se a encontrar com este mestre ilustre, com quem se afeiçoara. Mas, só conseguiu encontrá-lo em Poitiers. Colocando-se sob o seu cuidado e direção, não demorou em fundar, não longe da sua cidade, a ilustre abadia de Ligugé, onde nos últimos anos da sua vida, Hilário procurou hospedagem para seguir um regime de penitência monástica.

O bispo viajava lentamente em direção à Gália, acolhido e aclamado por todos como um vencedor, em todos os lugares reforçava a coragem, abafava as intrigas, pacificava os corações. Graças a ele, os líderes oficiais do arianismo francês, como Saturnino de Arles e Paterne de Périgueux, foram deposto das suas sedes episcopais, os outros, os fracos, os arrependidos, encontraram misericórdia.

Esta sabedoria restaurou a paz, arruinando a heresia, e o seu sucesso fez com que Hilário fosse chamado a resolver na Itália as mesmas questões de divisão provocadas pelo arianismo. Constâncio II tinha acabado de morrer em Mopsuestia (361). Juliano, o Apóstata, sucedeu-o e, com o desejo de perturbar a Igreja e não com intuitos de justiça, permitiu a todos os exilados, ortodoxos ou hereges, retornarem às suas igrejas. Assim, Eusébio de Vercelli retornou do exílio. Passando por Alexandria, consultou Atanásio e os dois santos concordaram em prosseguir uma política de conciliação, posição concorde com a de Hilário. Ele esforçou-se por unir os seus esforços aos do bispo de Poitiers. A ação deles foi coroada de sucesso, quase que universalmente, tendo sido abençoada pelo Papa Libério, apesar da oposição irredutível de Lúcifer de Cagliari. Apesar disto, a heresia tinha fortificado a sua posição em Milão, governada pelo bispo Auxêncio. Em vão, Hilário dirigiu-se à consciência reta e cristã do Imperador Valentiniano (364). Auxêncio conseguiu enganar Valentiniano que era melhor político que teólogo, ordenando a saída de Hilário de Milão. O santo obedeceu; mas não sem antes proferir palavras muito duras contra o imperador, como tinha feito contra Constâncio. Doce e misericordioso para os fracos, Hilário guardava toda a sua energia vingativa contra aqueles que ao erro juntavam a trapaça ou a violência.

Depois disto, ele viveu inteiramente para o seu rebanho. Provavelmente, durante este período escreveu os seus comentários sobre os Salmos, onde "Ele adopta uma medida certa entre os que, fixando-se no sentido literal e puramente histórico, acreditam não dever procurar outro significado, e os que, referindo tudo a Jesus Cristo, imaginam que os salmos não têm nenhum sentido literal "(Dom Ceillier).

A sua caridade foi exercida não só por palavras e esmolas, mas por milagres. Ele fez muitos e a sua reputação como taumaturgo aumentou consideravelmente depois da sua morte, ocorrida no dia 13 de janeiro de 368.

Ele foi enterrado ao lado da sua esposa e da sua filha Abra, na basílica São João e São Paulo, que hoje traz o seu nome. Ele é venerado por grandes estudiosos e multidões.

Santo Hilário recebeu o título Hilário foi enterrado ao lado da sua
de Doutor da Igreja concedido pelo Beato Papa Pio IX em 13 de maio de 1851.