Santo do dia
12 de janeiro
Santo Arcádio
Se a existência
e o suplício de Santo Arcádio não podem ser colocados em dúvida, os
historiadores, de acordo com a autenticidade dos Atos do seu martírio, hesitam
quando se trata de precisar a persecução durante a qual ele morreu e o lugar
onde ele confessou a fé. Parece que ele deve ser contado entre as vítimas
feitas pelo cruel imperador romano Valeriano. Pode ser, também, que ele tenha
sido espanhol, nascido na cidade de Osuna, que o tem como patrono. Mas, é bem
provável que tenha sido em Cesareia da Mauritânia, hoje Cherchel (Algéria)l, o lugar
onde ele tenha recebido a coroa do martírio. Pouco importa que os documentos
antigos não façam menção sobre este ponto. O exemplo da sua coragem heróica não
deixa de ter menos força; e ele tem mais valor do que a determinação exata de
uma data ou de um lugar.
É certo,
contudo, que no país onde ele habitava os inimigos da Santa Igreja reprimiam com
furor. "Em todos os lugares onde se suspeitava estar presente um servo de
Cristo, a perseguição começava. O tirano forçava o povo cristão a comparecer em
sacrifícios idólatras para fazer libações sacrílegas, a apresentar vítimas
coroadas com flores, a unir-se a cantos impuros em meio à fumaça do incenso.»
Agora um
cristão, conhecido por sua grande fortuna, - Arcádio era o seu nome, - detestava
estas assembleias; resolvido a não tomar parte nelas, pensando, no entanto, não
dever enfrentar a morte reservada a todos aqueles que se recusavam a nelas
participar, sem ser especialmente chamado por Deus. Além disso, de acordo com o
conselho do próprio Senhor, mais de um devoto fugiu da perseguição. Longe de
culpá-los, os bispos davam o mesmo conselho. Não era covardia, certamente;
muitos mostraram isto morrendo mais tarde heroicamente. Era prudência,
desconfiança da falta das próprias forças e medo de tentar a Deus. Para os chefes,
tratava-se de manter vivos pastores e guias para os fiéis. Arcádio fez o mesmo.
Deixou a sua casa e escondeu-se num local retirado, onde passava os dias em
oração e penitência. Mas, por causa da sua situação social, a sua ausência não
podia deixar de ser notada. E ela a foi. Começaram a procurar por ele e
revistaram a sua habitação. Mas, ela estava vazia. Conseguiram apenas prender e
interrogar um parente que tinha passado por ali para fazer uma visita a Arcádio.
Ele tentou justificar o ausente, mas em vão. Furioso com o insucesso, o
governador da província, mandou prender o parente até que ele indicasse com
precisão o lugar onde se escondia Arcádio.
A notícia da
prisão não tardou a chegar aos ouvidos do escondido, que não podia suportar a
ideia de ver outra pessoa sofrer torturas horríveis e morrer no seu lugar. Além
disto, a sua vida de oração inflamara o seu coração do desejo do martírio; ele
sentiu que Deus consentia, e até mesmo pedia-lhe para confessar corajosamente a
sua fé, dando assim exemplo aos covardes e fortificando os cristãos. Assim,
deixando o seu esconderijo, Arcádio foi até à cidade, apresentou-se diante do
governador e disse-lhe: "Você tem o meu parente na prisão por minha causa.
Solte-o, pois estou aqui, pronto para lhe ensinar o que ele não pôde dizer-lhe e
para prestar contas de todas as minhas ações."
O governador
tentou primeiro mostrar clemência, dizendo-lhe: "Consinto em fechar os
olhos sobre a sua fuga. Você não tem nada a temer, se aceitar apresentar
sacrifícios aos deuses, mais tarde. O que me diz?”
“Ó mais inútil
dos juízes”, exclamou o mártir. “Você acha que pode assustar os servos de Deus
pelo medo de perder uma vida fugaz ou de ver a morte próxima? Para eles, a vida
é Cristo, e morrer é um ganho”. E com a força da graça, acrescentou: “Invente
todas as torturas que quiser; você não nos separará de Deus."
Esta provocação
feriu profundamente o juiz. Cheio de ódio, ele achou que o cavalete, as unhas
de ferro ou os chicotes de chumbo eram muito leves. Rapidamente a sua cruel
imaginação encontrou um novo e rebuscado tormento que, em sua lenta atrocidade,
faria sofrer mil mortes ao valente cristão. Ele deu uma ordem; os lictores
entenderam; eles apanharam Arcádio e levaram-no para o local das execuções. Ele
caminhava, recomendando-se a Deus; Ajoelhou-se e esticou o pescoço, pensando
que iria receber rapidamente a coroa do martírio. Mas ele deveria sofrer mais. O
carrasco fez com que ele estendesse a mão; Com golpes sucessivos e medidos, ele
cortou os dedos, talhou os pulsos e deslocou os cotovelos e os ombros. Arcádio,
no entanto, ofereceu os seus sofrimentos a Deus: "As Vossas mãos, ó
Senhor, me fizeram, moldaram-me; dai-me inteligência!”
O tirano não
tinha pensado cortar-lhe a língua. Assim, todo o tempo da sua longa agonia, ele
usou-a para louvar o seu Criador.
Depois das
mãos, braços, o carrasco virou-se para os dedos dos pés, pés e pernas; procedendo
lentamente a esta horrível dissecação. Tudo o que restou do santo foi um tronco
inundado de sangue. E ele, no entanto, continuava a felicitar os seus membros
pelo sacrifício feito: "Bem-aventurado sois vós! Nunca foste mais querido
para mim do que quando vos vejo separado do meu corpo e oferecidos à glória de
Deus!”
E como as
últimas gotas de sangue ainda não se tinham esvaído, reunindo as suas forças,
corajosamente, disse aos assistentes em voz agonizante: "Não é nada, não é
nada! Tudo isto é fácil de se suportar quando se tem o hábito de pensar no céu.
Pensem nisto. Deixem os falsos deuses, adorem o único verdadeiro Mestre, aquele
que me apoiou com a sua graça, aquele que me receberá como vencedor e me protegerá
para sempre!"
Assim
faleceu Santo Arcádio, em paz. Os pagãos ficaram maravilhados com tanta paciência,
e os cristãos animaram-se com este exemplo de sofrimento por Cristo.