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domingo, 1 de dezembro de 2024

Santo André protege um bispo



 Hoje, 30 de novembro, celebramos a festa de Santo André, irmão de São Pedro, no começo, discípulo de São João Batista e depois de Nosso Senhor Jesus Cristo, de quem foi o primeiro discípulo.


Santo André quase não aparece no Evangelho. Pronuncia algumas palavras na cena da multiplicação dos pães. É ele que diz: “Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas o que é isto para tanta gente?” (Jo 6,9). Em escritos apócrifos, aprendemos que, depois da dispersão dos Apóstolos, Santo André dirigiu-se ao país dos citas, povo iraniano de pastores nómades, que evangelizou, depois desceu à Grécia, onde, na Tessália, conheceu São Mateus. Finalmente teria ido ao Peloponeso e teria evangelizado a cidade de Patras. Aí converteu muitos pagãos, entre os quais se encontrava Maximila, esposa do procônsul Egeas. Este magistrado fez com que o apóstolo comparecesse perante o seu tribunal e, dizem os Actos apócrifos, Santo André falou-lhe da Paixão de Jesus Cristo, acrescentando que a cruz era um grande e formidável mistério. “A cruz”, respondeu Egeas, “não é um mistério, mas uma tortura. Farei com que também experimenteis este mistério”, e ordenou aos seus homens que prendessem André e o amarrassem à cruz pelas mãos e pelos pés, para que sofresse mais tempo. Quando André viu a cruz, em forma de X, cumprimentou-a de longe, dizendo: “Ó santa cruz, venho até Vós cheio de segurança e alegria para que que recebas o discípulo daquele que em Vós morreu. Ó venerável cruz, fazei com que volte para o meu mestre! “.

 

Um facto muito bonito é relatado sobre a proteção de Santo André.

 

Um bispo que levava uma vida piedosa e tinha uma veneração muito particular por Santo André, chegou ao ponto de ter o piedoso costume de escrever no cabeçalho de todas as suas obras: “Em honra de Deus e de Santo André.”

 

O demónio, que não suportava a virtude deste santo homem, quis atacá-lo e assumiu a aparência de uma mulher de maravilhosa beleza. Ela foi ao palácio episcopal e manifestou o desejo de se confessar. O bispo consentiu e ela revelou-lhe ser filha de um grande rei e que tinha fugido da casa paterna porque seu pai a queria casar com um jovem príncipe. “Dediquei-me a Jesus Cristo”, disse-lhe ela, “e venho refugiar-me sob as suas asas, na esperança de poder encontrar um refúgio tranquilo para poder levar uma vida contemplativa”.

 

O bispo, admirado com tamanho fervor numa pessoa tão bonita e com tanta firmeza e tanta eloquência, tranquilizou-a e convidou-a a partilhar a sua refeição. Sentaram-se então à mesa e ela sentou-se à sua frente; os outros convidados colocaram-se à sua direita e à sua esquerda, e o bispo tinha os olhos fixos na senhora, não deixando de contemplar a sua beleza. Ao ao sentir prazer nesta contemplação, o demónio, inimigo da raça humana, infligiu-lhe uma grave ferida no coração.

 

De repente ouve-se um estranho a bater com força à porta e a pedir, em voz alta, que se lhe deixassem entrar. O bispo perguntou à senhora se concordava em receber aquele estranho. Ela respondeu: “Antes de o recebermos, devemos fazer-lhe algumas perguntas um pouco difíceis. Propomos-lhe, pois, dois enigmas que é inútil contar e que o estranho soube resolver perfeitamente. A mulher disse então: “Façamos-lhe uma terceira pergunta, muito difícil, pergunte-lhe qual é a distância entre a terra e o céu. O estranho respondeu ao mensageiro incumbido de lhe fazer a pergunta: “Diga-lhe que responda ela mesma, pois viajou pelo espaço que separa a terra do céu, quando foi lançada do céu para o abismo”.

 

Quando o enviado relatou as palavras do estranho, a mulher desapareceu subitamente e todos ficaram surpreendidos. O bispo quis conhecer o estranho, mas este tinha desaparecido também e não foi encontrado.

 

Nessa mesma noite foi revelado ao bispo que este estranho era Santo André que viera em socorro do seu devoto.

 

Nossa Senhora é seguríssimo refúgio e fidelíssimo auxílio de todos os que estão em perigo. Não há mãe verdadeiramente católica que não sinta receio pelo que possa suceder a seu filho. Ora, Maria Santíssima, a melhor de todas as mães, quanta solicitude não terá para com os seus filhos que vivem neste mundo, sujeitos a toda a sorte de riscos?

 

Plinio Corrêa de Oliveira

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

A morte de um fundador


"A morte de um fundador de ordem religiosa ou congregação quase sempre ocorre entre sinais ou associações à santidade por seus filhos espirituais, que buscam nas graças dos céus concedidas a ele, o reforço da missão à qual dedicou a vida e sobre a qual se dedicarão, a partir dali, os seus membros a exemplo do fundador. Nem sempre, porém, os sinais são tão evidentes ou claros quanto o que vimos no final da última semana, diante do falecimento do fundador dos Arautos do Evangelho.

"Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias, 85 anos, morreu na sexta-feira, 1 de novembro. Fundador dos Arautos do Evangelho, a entrega de sua alma ocorreu em meio a diversos sinais vistos por muitos, e diante dos quais não pairam dúvidas. Em primeiro lugar, se dá um dia após o aniversário de sua Primeira Comunhão, ocasião em que pôde receber também pela última vez o Corpo de Cristo. Aos que acusam os Arautos de uma devoção exagerada ou veneração precipitada ao fundador, não se pode dizer que essa coincidência foi inventada por eles. Depois, o dia 1 de novembro, data em que o mundo inteiro celebra o Dia de Todos os Santos, exceto no Brasil, terra do Monsenhor, que repete talvez o ditado que “santo de casa não faz milagres”. O Brasil é conhecido por ter seus heróis valorizados mais fora do que dentro de nossas fronteiras, ao menos oficialmente: a Igreja, no Brasil, transfere a solenidade para o domingo seguinte, diferente da maior parte da Igreja Católica no mundo. Ainda assim, a Solenidade do domingo marcou a despedida e última missa exequial do Fundador que teve como mestre espiritual Plinio Corrêa de Oliveira, também chamado fora do Brasil pelo título de Cruzado do Século XX.

"Uma foto que vem circulando entre seus membros mostra um arco-íris bem acima da Basílica em que foi velado o corpo do Monsenhor, na cerimônia de três dias que se encerrou neste domingo. Esta simbologia poderia ser comparada àquela de uma outra foto, a do famoso raio no Vaticano. O raio como símbolo do castigo e o arco-íris, da esperança. A tibieza de parte do clero será certamente cobrada com altos juros, ao passo que a verdadeira esperança que a Igreja oferece é aquela de sempre: o desejo pela santidade pela radicalidade do serviço às almas, do apostolado vivo que parece só poder renascer no mundo quando há uma ordem forte e devota de seu fundador. O amor ao fundador é, ao contrário do que prega a malícia do mundo, o fermento da verdadeira ação da graça na Igreja, tendo disso tanto exemplos na história: jesuítas, franciscano, dominicanos e tantos outros, que tiveram seus fundadores como sinais visíveis de Deus na Terra.

"A estrutura criada pelos Arautos do Evangelho tem sido fundamental para a manutenção da vida religiosa, por meio de uma criteriosa educação católica de meninos e meninas, buscando a preservação da inocência e a verdadeira formação para a santidade entre uma multidão crescente de famílias. Neste crescimento, decerto um tanto silencioso, avança aquela contrarrevolução sonhada por Plinio Correa, posta em ação de maneira ainda mais profunda por Monsenhor João ao seguir radicalmente os passos de seu mestre, o seu fundador.

"O exemplo contrarrevolucionário dos Arautos deveria servir de grande alerta e admoestação a todos os que pensam enfrentar um mundo moderno anticristão por meio de suas próprias forças, sejam políticas, retóricas ou intelectuais, esquecendo-se que todo sucesso vem de Deus e que ninguém vencerá absolutamente nada sem estar radicalmente unido a Ele. E esta união, defendida por Plinio Corrêa, só poderia ser feita através da Virgem Maria, Mãe do Redentor, canal de graças por onde o próprio Deus quis vir ao mundo e forma perfeitíssima de acesso a Ele neste mundo. Não por acaso, todas as obras marianas da história da Igreja tiveram uma profusão de graças e realizações incríveis, sendo, porém, igualmente perseguidas em alguma medida pelas forças das trevas representadas pelos poderes deste mundo.

"Os Arautos são radicais na devoção à Eucaristia: seus membros, religiosos, religiosas e sacerdotes, recebem o Corpo de Cristo duas vezes por dia, o máximo que é permitido. Isso se deve a uma percepção do fundador, de que, se o mundo amplia a cada dia as oportunidades de pecado, como vemos, é preciso que se amplie ainda mais as oportunidades de graça, sob pena de não perseverar. Para eles, que são tidos como exagerados e radicais por um mundo indiferente e tíbio, uma alma que não se esforce ao máximo para obter a santidade por meio da graça, disponível exclusivamente na Igreja Católica, não mantém estabilidade nem mesmo na obediência aos 10 mandamentos, não podendo, portanto, salvar-se. Esta perceção vem de Plinio Corrêa, que viu o mundo caminhar pelos passos da Revolução, que evoluiria até o culto ao demônio em sua mais radical literalidade. Se vemos, hoje, o mal se apresentar de maneira cada vez mais radical, não é na radicalidade que os bons precisam se enfileirar?

"A metáfora da guerra, da batalha, sempre foi a que mais santificou na Igreja. Esta combatividade, no entanto, recebeu um recuo gigantesco no século XX, sendo esta a razão principal da crise atual e não outra".

Cristian Derosa, Instituto Estudos Nacionais

Jornalista e escritor, autor do livro O Sol Negro da Rússia: as raízes ocultistas do eurasianismo, além de outros 5 títulos sobre jornalismo e opinião pública. Editor e fundador do site do Instituto Estudos Nacionais

Falece um exímio formador, verdadeiro guerreiro de Maria Santíssima, filho espiritual de Plinio Correa de Oliveira e pai de uma grande família de almas


 Depois um longo período de sofrimento, no dia 1 de novembro de 2024, Solenidade de Todos os Santos, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, fundador dos Arautos do Evangelho, entregou a sua alma a Deus.

Não há maior amor do que sofrer e oferecer a sua vida pela Santa Igreja, pelos seus filhos espirituais e por uma Obra que congrega quase duzentos sacerdotes, milhares de religiosos e religiosas, bem como centenas de milhares de leigos, de famílias que vivem intensamente a vida cristã, segundo o carisma dos Arautos, em mais de 70 países.

O Salmista recorda que “Deus é admirável nos seus santos” (Sl 67, 36) e é verdade que Ele continua a “fazer” coisas extraordinárias através de homens bons e fiéis. Hoje os nossos pensamentos e as nossas orações voltam-se de forma particular para Mons. João Clá. Todos aqueles que tiveram a felicidade de serem formados por ele, de terem aprendido a amar a Sagrada Eucaristia e a louvar Nossa Senhora, a consagrarem-se a Ela, segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, graças a ele, manifestam com filial veneração a sua eterna gratidão a um exímio formador e um verdadeiro guerreiro da Santíssima Virgem.

Do Céu, certamente, Mons. João Clá continuará a inspirar os Arautos do Evangelho a fim de que sejam sempre fiéis ao seu carisma, que continuem a formar a juventude e que lutem pelo triunfo do Imaculado Coração de Maria, como Nossa Senhora prometeu em Fátima.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Nossa Senhora pede-nos o oferecimento da vida sem vermos a vitória

 



Deus quer almas que se Lhe entreguem inteiramente (...) para serem aventureiros da Virgem Maria, mas aventureiros de uma aventura singular, porque é uma aventura que tem consigo a certeza de que haverá risco, mas que haverá vitória! Não há dúvida sobre a vitória. Não há dúvida sobre o êxito inteiro da ação empreendida.

Sabemos que haverá muitos obstáculos. Mas, para além dos obstáculos, veremos a Santíssima Virgem, a Nossa Senhora dos Milagres, que pode fazer milagres, e que tem feito e que fará ainda. Ela pode fazer milagres para vencer. Mas a nossa aventura é tal que, ainda que se tenha que operar milagres, ela será conduzida a bom resultado.

Onde está Nossa Senhora não há derrotas possíveis, depois disso vem necessariamente uma pergunta de Deus, uma pergunta de Nossa Senhora: "Meu filho, pedi-te que entres nessa aventura. Tu entrastes na aventura porque te parecia boa, porque te parecia formosa. Foste atraído pela aventura. Mas Eu queria saber se o teu amor por Mim é tão grande, que mesmo que essa aventura não tivesse resultado, mesmo que não produzisse consequências, mesmo que tu e os teus companheiros de ação devêsseis ser derrotados, ignorados pela História, sob o riso dos Meus inimigos, esmagados para a Minha glória, para serdes heróis no Reino dos Céus e exclusivamente por amor a Mim, sem pensar nos resultados terrenos, Eu quero saber se o vosso entusiasmo, se a vossa dedicação iria bastante longe para aceitar também este risco. Aceitar também a possibilidade de um holocausto completo, de um oferecimento da vida, com a aceitação do insucesso. Ou seja, o oferecimento da vida, a aceitação da morte, sem ter a certeza da vitória".

Houve tantos e tantos que assim morreram pela Igreja. Pensem nos Cristeros do México no século passado. Pensem nos Chouans da França. Pensem nos carlistas da Espanha, pensem nos heróis da Reconquista castelhana, da Reconquista portuguesa. Esses heróis, na maior parte dos casos, morreram nos séculos da reconquista, durante os quais não tinham a certeza de que afinal os católicos venceriam os mouros. Não tinham certeza de que a guerra santa, na qual morriam, ia vencer.

Mas, eles aceitavam a morte com um olhar sobrenatural. Não lhes importava a vida, não lhes importava a glória terrena. Eles queriam o sacrifício, a integridade da sua dedicação a Nossa Senhora. E é porque a sua dedicação foi levada até este ponto que Nossa Senhora lhes deu a coroa. Porque a coroa da vitória final deve ser dada não aos que aceitam a luta para obter a vitória, mas para aqueles que aceitaram a luta, mesmo que não tivessem a vitória! Estes merecem a vitória.

Um que entra para uma luta olhando mais para a vitória que para o ideal, olhando mais a satisfação do amor-próprio de ser um vencedor, do que os direitos da Rainha destronada, pela qual é necessário morrer, este não tem condições de alma para ser uma pedra viva do Reino de Maria.

O Reino de Maria vencerá. O Reino de Maria será edificado, e será uma construção ainda mais magnífica do que a Idade Média! Mas, esta construção só terá sua força, se for edificada sobre homens absolutamente desinteressados! Homens capazes, na luta de todos os dias, de dizer duas coisas simultâneas a Nossa Senhora: "Minha Mãe, eu creio na vossa promessa e eu creio no sucesso, mas, minha mãe, mesmo que não me devesses dar o sucesso, eu igualmente lutaria por Vós, porque sois minha Mãe, e eu não quero o meu sucesso, mas o vosso. E se outros terão de colher o sucesso, eu terei semeado o sucesso pela minha dedicação, eu estarei contente, minha Mãe, porque terei vivido e terei morrido herói anônimo por Vós".

Esta é a prova de dedicação que Nossa Senhora nos pede. É de ter este estado de espírito, por onde ao mesmo tempo temos a certeza da vitória, mas sejamos completamente desapegados da vitória.

E qual é a maneira pela qual esta prova se dará? Ela dar-se-á pela vida de todos os dias. Há de suceder, necessariamente, que os senhores terão dificuldades. Há de suceder que rirão dos senhores. Há de suceder que em muitas ocasiões, os senhores comecem atividades apostólicas e não tenham o sucesso imediato. Há de suceder que algumas vezes, pela miséria humana, os senhores se entendam mal uns com os outros, e que haja dificuldades inclusive entre os senhores. Há de haver momentos em que não acontece nada de novo.

E os senhores veem então grandes forças internacionais, imensas que parecem furacões, que se levantam contra a Igreja Católica e a Civilização Cristã! E os senhores sentir-se-ão pequenos.

Nesse momento a vossa vocação vai ser posta à prova. E nesses momentos é preciso não ter indecisão, não ter nenhuma forma de dúvida. Ter uma dedicação completa. Vós deveis dizer: "Eu estou certo de que mais cedo ou mais tarde o sucesso virá. Eu esperarei o sucesso rezando, aceitando os insucessos parciais com coragem de um verdadeiro lutador, porque um dia Nossa Senhora me ajudará"!

Plinio Corrêa de Oliveira

Os fracassos da educação nascem do esquecimento do fim último das crianças



A edução das crianças depende do conceito da vida. Vive-se como se pensa e educa-se como se vive, ou como os meios de comunicação de massas diz que vivemos ou devemos viver. E este conceito da vida envolve uma doutrina da educação e toda doutrina de educação baseia-se numa filosofia de vida que, no fundo, pode ser resumida em duas perguntas: Que é o homem? Para que está neste mundo?

As diferentes respostas a estas perguntas indicam os rumos que as sociedades dão à educação.

Para nós católicos as respostas são simples.

Que é o homem? Ele é um ser composto de corpo e de alma, portanto, com inteligência, vontade e sensibilidade. Ele é uma pessoa irredutível e membro de uma família, uma pequena sociedade onde nasce, depois escolhe uma profissão e trabalha, finalmente, vive, seguindo as leis e regras do Estado. Como tem uma alma imortal, é filho do tempo, mas destinado à eternidade. Senhor absoluto dos seus atos, pelo livre-arbítrio, mas súdito incondicional de Deus, e submisso às justas leis da sociedade em que vive. O homem, com instintos que pedem satisfação, tem por outro lado, exigências morais que o obrigam a usar dos instintos dentro de normas que os precedem e transcendem. É um ser composto de fraquezas e de forças, de egoísmos e generosidades, possuindo entrelaçadamente como já referi, o intelecto, a vontade e sensibilidade, que se distinguem, mas não se separam, pelo contrário, ligam-se e completam-se numa maravilhosa unidade.


Para que está neste mundo?

O homem foi criado por Deus, inocente e puro. Mas caiu. Quando a mão de Deus o ergueu, pela misericórdia da Redenção, já não era o mesmo. A queda não apenas lhe arrebatara a graça santificante e os dons preternaturais, como também desequilibrou o seu próprio funcionamento natural. As paixões desordenam-se, inclinando-o para o mal. Ele ficou com a inteligência turvada, a vontade enfraquecida, tornando-o incapaz de praticar o bem. Mesmo reconduzido à graça, pelo batismo, pesam-lhe as consequências da queda. Correspondendo à graça, pode, com algum esforço, manter o equilíbrio, vivendo no bem e na virtude. Tendo sido criado para o Céu, vive desgostoso e insatisfeito na terra, de tal maneira inquieto que só sossega, quando descansa em Deus. Dir-se-ia que sente uma nostalgia da Casa Paterna, uma como saudade daquelas tardes em que o Senhor descia a passear com ele no Paraíso (Gn 3, 8). Na verdade, nunca se esqueceu que Deus é o seu primeiro princípio e o seu último fim.

Só com esta visão completa do homem, estaremos em condições de proporcionar às crianças uma educação integral. Encarando o homem como ele é, podemos torná-lo como deve ser. Deveria ser, portanto, dever do educador explicar e apresentar aos pequenos a multiplicidade das suas funções orgânicas e espirituais, no seu destino terreno e eterno, nas suas atividades individuais e sociais, a fim de que aprendam uma hierarquia de valores, que lhes dará um rumo certo à educação, não deformando o conjunto, nem perturbando a harmonia das suas finalidades.

A criança deve aprender que tudo existe em vista de um fim. Nas várias finalidades humanas, uma deve dominar a todas e é, por isso mesmo, o motivo primeiro e último da existência. Todos os fins particulares, importantes que sejam, devem subordinar-se e servir a este último fim, cuja consecução deve ser a maior preocupação da vida, o seu verdadeiro ideal. Isto é de tal modo vital, que a vida só tem sentido em vista deste fim: perdido ele, tudo fica perdido, mas se for alcançado, tudo se ordena, e até os fins secundários são mais facilmente atingidos.

Portanto, a salvação da alma domina e deve canalizar tudo. Temos um fim último eterno, que, por isto, constitui toda a nossa felicidade e cuja perda é para nós a suprema desgraça. Mas, nem por isso se desfazem os demais fins da vida. Pelo contrário, convergem e orientam-se todos para ele.

Este é o verdadeiro conceito do homem e da vida e, por ele, devemos educar os nossos filhos e netos: “Cuidar do corpo para servir à alma. Cuidar da inteligência para servir à vontade; cuidar da vontade para servir a Deus”.

Os fracassos da educação nascem do esquecimento do fim e dos meios sobrenaturais para atingi-lo. E aquele homem do dever, senhor de si, de vontade firme, em busca de perfeição, por mais que se façam esforços, não se consegue sem o ideal cristão, o amparo da oração, a força dos sacramentos. Na educação, como em tudo, é cabal a palavra do Divino Mestre: “Sem Mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

É pena que, em lugar de impulsionar as crianças para Deus, sejam alguns “educadores” os primeiros a extinguir neles o Espírito, penetrando-as de ideais errôneos e enchendo-lhes de terra o coração. A criança em sua recetividade generosa é campo fecundo para a impregnação cristã. Facilmente, poder-se-ia comunicar o conceito cristão da vida, uma vontade disposta a fazer o bem, na intenção de fazer sempre o agrado do Pai (Jo 20, 9-29).

sábado, 19 de outubro de 2024

O poder da oração


 

Onde, pergunto-me, encontrar um tesouro maior do que a oração? Onde podemos encontrar uma mina mais rica e fecunda? 

Ouçam, novamente, o que diz outro doutor, muito religioso e santo, ao tratar do mesmo assunto: 

“Na oração, a alma purifica-se do pecado, a caridade nutre-se, a fé enraíza-se, a esperança fortalece-se, o espírito alegra-se, a alma derrete-se de ternura, o coração é purificado, a verdade é descoberta, a tentação é vencida, a tristeza foge, os sentidos são renovados, a tibieza desaparece, a ferrugem dos vícios é consumida; desta prática surgem também faíscas vivas, desejos ardentes do Céu, e entre essas faíscas arde a chama do amor de Deus". 

São grandes, é preciso admiti-lo, as excelências da oração e os seus privilégios são admiráveis! A ela os Céus abrem-se, a ela revelam-se segredos, à sua voz o ouvido de Deus está sempre atento. Não direi mais nada. Isto é suficiente para termos uma ideia do fruto deste santo exercício.

São Pedro de Alcântara, Padroeiro do Brasil

quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Oração do Professor Dr. Plinio Corrêa de Oliveira ao Anjo da Guarda

 


Meu Santo Anjo da Guarda, sei que dentro dos planos divinos deveis, pelos desígnios de Deus, exercer especial papel na realização da minha vocação. Vós, com todos os Espíritos Celestes, possuís uma missão altíssima na luta contra a Revolução (do bem contra o mal no mundo). Dirijo-me a todos vós tendo presente a vinculação que estas circunstâncias estabelecem honrosamente de mim para convosco.

Em nome desse vínculo, suplico-vos: “Obtende da Rainha do Céu que a vossa ação se intensifique e tome toda a magnitude proporcionada com as minhas debilidades, infidelidades, fraquezas, com o meu desejo de servir inteiramente a Causa da Igreja Católica e da Civilização Cristã”.

Peço-vos, portanto, que intervenhais quanto antes sobre as pessoas e os acontecimentos de maneira que, libertos da ação do demónio, a qual hoje atingiu um auge, possamos pertencer-vos inteiramente e ser os vossos guerreiros na grande luta espiritual que se aproxima.

Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira

Oração de Santo Ildefonso a Nossa Senhora


 Ó doce Virgem, iluminadora dos corações, curai a minha cegueira, iluminai a minha fé, fortificai a minha esperança, ascendei em mim a caridade ... Como aurora brilhante que precedeu o Sol eterno, esclarecei o mundo com a luz da graça, iluminai a Igreja com o brilho das vossas virtudes.

Ó gloriosa Soberana, sois Aquela que a Escritura fala nos seguintes termos: “Deus disse: Que a luz exista, e a luz existiu”. Ó luz pura, luz encantadora, luz que ilumina o céu, fazendo tremer o inferno! Luz que traz de volta os perdidos, fortifica aqueles que desanimam, alegra os Anjos e todos os Santos da Corte Celeste! Ó luz reveladora dos mistérios que mostrai as coisas escondidas e dissipai as trevas! Fazei-nos ver os nossos pecados, reerguei o que em nós está em ruínas, dissipai as nossas trevas, curai os doentes, conduzi os pecadores às vias da penitência.

Santo Ildefonso, sermão 17 

Consagração ao Anjo da Guarda



Desde o século XVI, o Papa Paulo V oficializou o dia 2 de outubro como festa dos Anjos da Guarda. Solícitos e puros, os Anjos são fiéis mensageiros de Deus e da sua Palavra. Força de Deus, Remédio nas fraquezas da vida, guias e companheiros da nossa humana jornada. Os Anjos guardam os nossos passos, protegem-nos de todos os males e levam as nossas orações à divina presença.

Assim, para proteger-nos no combate contra o demónio, o mundo e a carne, peçamos ao nosso Anjos da guarda, invisível e forte defensor, que nos guarde hoje e sempre. Melhor ainda, consagremo-nos ao nosso Anjo da Guarda por meio da seguinte oração:

“Santo Anjo da Guarda, desde o início da minha existência, Deus Vos confiou a missão de me proteger e guiar. Na presença de Deus, meu Senhor e Mestre, de Maria Santíssima, minha Mãe Celeste, de todos os Anjos e Santos, eu, ........., pobre pecador, consagro-me hoje a vós.

Peço-vos que me tomeis pelas mãos e não mais me largueis. Por estas mãos, que agora são também vossas, prometo fidelidade e obediência constantes a Deus e à Santa Igreja.

Prometo venerar sempre Maria Santíssima, como minha Soberana, minha Rainha e minha Mãe e imitar a sua vida.

Prometo também venerar-vos sempre, meu santo protetor, e propagar, segundo os meus meios, a devoção aos santos Anjos, a fim de obter o socorro da vossa proteção, prometida especialmente nos momentos, como os nossos, em que se travam batalhas espirituais, a favor ou contra o Reino de Deus.

Obtende-me, eu vos suplico, ó Santo Anjo de Deus, que o amor de Deus me consuma e que a fé infalível me guarde de todo o desvio ou passo em falso. Pela vossa mão poderosa, afastai de mim os assaltos do inferno.

Peço-vos, pela humildade de Maria Santíssima, que me liberte de todos os perigos, para que, sob a vossa proteção, chegue às portas da Cidade Celeste e convosco louve a Deus pelos séculos dos séculos. Amém".

domingo, 29 de setembro de 2024

Nações-chave: França e países ibero-americanos

 


Sabemos que Deus criou uma nação-chave no Antigo Testamento: Israel. Haveria também no Novo Testamento alguma nação-chave? Com toda a certeza podemos responder afirmativamente. Porém, é necessário distingui-las em dois graus. No primeiro diríamos que as nações chave do Novo Testamento são os povos cristãos. Mas -- e aqui entramos no segundo grau -- dentro dos povos cristãos haverá alguma nação-chave?

São Pio X diz, numa de suas encíclicas, que Deus criou uma nação-chave, um povo eleito, entre os cristãos: a nação francesa. E' ela que, naturalmente, influencia o mundo inteiro. No campo das virtudes, por exemplo, quando são praticadas pelos franceses, irradiam-se pelo mundo inteiro com grande facilidade. Haverá culto mais difundido que o de Santa Terezinha do Menino Jesus?

Diante disto põe-se um problema penoso e pungente: como está esta nação-chave nos nossos dias? Haverá uma esperança para ela?

Com relação à França eu sou como o judeu em relação ao povo eleito. Amo o templo, amo as ruínas do templo, e se essas ruínas se desfizerem em pó, eu amarei o pó que resultou dessas ruinas.

Devo dizer, pois, que tenho a impressão de que a França continuará a ser a nação-chave. Mas, assim como outrora tivemos o império do Oriente e o império do Ocidente, assim como na própria Cristandade havia dois impérios, o Bizantino e o Romano-Alemão, assim também teremos ao lado do império francês para as nações antigas, o império, o domínio e a hegemonia cultural de outras nações, profundamente embebido daquilo que o espírito latino e francês tem de melhor, mas trazendo também consigo outras seivas. Estas nações, como todas as nações eleitas, são capazes de conhecer as piores misérias, piores do que qualquer outro, quando não correspondem à graça de Deus, mas são também capazes das maiores glórias, desde que correspondam à Sua graça. A meu ver, estas nações são as que constituem o mundo ibero-americano.

Plinio Corrêa de Oliveira, 15/10/1958

 

A oração é um impulso do coração para Deus

 


Como é grande o poder da Oração! É como se uma rainha tivesse livre acesso ao rei em todos os momentos e pudesse obter tudo o que pede.

Não é necessário, para ser ouvida, ler num livro uma bela fórmula composta para a circunstância. Aliás, fora o Ofício Divino, que sou indigna de recitar, não tenho coragem de me obrigar a procurar nos livros as belas orações. Mesmo que as recitasse todas, não saberia qual escolher. Faço como as crianças que não sabem ler, digo simplesmente ao Bom Deus o que Lhe quero dizer, sem usar frases bonitas. E Ele compreende-me sempre...

Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o Céu, é um grito de reconhecimento e de amor tanto no meio da provação, como no meio da alegria; enfim, é algo grande, sobrenatural, que me dilata a alma e une-me a Jesus.

Santa Teresinha do Menino Jesus 

 

“Há um chamado à fidelidade que é mais bonito do que qualquer outra coisa. Mas esse chamado à fidelidade é um chamado à cruz suprema, depois à glória. Mas, é preciso passar por uma crucifixão. Ou às vezes, em ponto pequeno e modesto, por várias crucifixões” (Plinio Corrêa de Oliveira).

Foi o aconteceu, por exemplo, com Santa Joana d’Arc. Ela ouviu as vozes do Céu, combateu para livrar a França dos invasores ingleses e proclamar Carlo VII como Rei da França. Apesar de várias vitórias, foi traída por generais e até pelo clero. Foi feita prisioneira e queimada viva na praça pública. Passou por várias crucifixões, mas foi reabilitada pela Igreja, beatificada por São Pio X e canonizada por Bento XV.


Não basta amar a Deus, é preciso procurar a salvação e o alívio dos outros



A nossa vocação, afirmava São Vicente de Paulo aos Padres da Missão, é a de ir incendiar o coração dos homens, fazer aquilo que fez o Filho de Deus, Ele que veio trazer o fogo ao mundo para o incendiar com o seu amor. Que outra coisa podemos desejar se não que arda e consuma tudo?

Portanto, é verdade que eu sou enviado não só para amar Deus mas para fazer com que o amem.

Não me basta amar Deus se também o meu próximo não o ama. Devo amar o meu próximo como imagem de Deus e objeto do seu amor, e fazer de tudo para que os homens amem o seu Criador que os reconhece e considera como seus irmãos e que os salvou; e, com a caridade recíproca, procurar que se amem por amor a Deus, o qual tanto os amou, ao ponto de, por eles, abandonar o seu próprio Filho à morte. Portanto, este é o meu dever.

Ora bem, se é verdade que somos chamados a levar, longe ou perto, o amor de Deus, se devemos incendiar as nações, se a nossa vocação é espalhar este fogo divino em todo o mundo, se assim é, e repito, se assim é, irmãos, quanto devo eu mesmo arder deste fogo divino!

Como daremos aos outros a caridade se ela não existe entre nós? Observemos se existe, não em geral, mas em cada um, se existe no devido grau, porque se não está acesa em nós, se não nos amamos uns aos outros como Jesus Cristo nos amou e se não praticamos ações semelhantes às suas, como poderemos esperar difundir um tal amor em toda a terra? Não é possível dar aquilo que não se tem.

O exato dever da caridade consiste em fazer a cada um aquilo que, com razão, queremos que nos seja feito a nós. Faço verdadeiramente ao meu próximo aquilo que desejo dele?

Observemos o Filho de Deus. Não existe ninguém para além de nosso Senhor que tenha sido de tal modo raptado do amor pelas criaturas, ao ponto de deixar o trono de seu Pai, para vir assumir um corpo sujeito a enfermidades.

E porquê? Para estabelecer entre nós, mediante a sua palavra e o seu exemplo, a caridade do próximo. É este o amor que o crucificou e que cumpriu a admirável obra da nossa redenção.

Se tivéssemos um pouco deste amor, permaneceríamos de braços cruzados? Oh! não, a caridade não pode permanecer ociosa, esta impele-nos a procurar a salvação e o alívio dos outros.

São Vicente de Paulo

O que é a doutrina católica?



É um conjunto de verdades. Se nesse conjunto, uma só verdade fosse adulterada, a doutrina católica já não seria ela mesma.

Assim, tentar acomodá-la, adaptá-la, ajeitá-la, é trabalhar para que Ela perca sua identidade consigo mesma: em outros termos, é tentar matá-la.

E achar que o apostolado não é possível sem essa adaptação é achar que a Igreja só pode vencer morrendo!

Plinio Corrêa de Oliveira

O grave tumor que converteu pai e filha: “Ajoelhei-me no passeio em frente à igreja e rezei”


Igreja de Nossa Senhora do Sagrado Coração, Sydney
Igreja de Nossa Senhora do Sagrado Coração, Sydney


Conversão ao catolicismo

Deus age das formas mais inesperadas e é capaz de estar presente de forma grandiosa mesmo nas situações humanamente mais complicadas. É precisamente nesta “fraqueza” e “fragilidade” que o amor de Deus penetra mais profundamente no coração das pessoas.

Prova disso, foi o sucedido com Stephen Lacey e a sua família, que se converteu ao catolicismo e foi batizado sendo marido e pai, precisamente pela forma como conheceu Deus durante o gravíssimo cancro de que a sua filha Daisy sofreu. Um homem que não só não acreditava, como não tinha uma boa opinião sobre a Igreja, viu-se ajoelhado e a chorar à porta de uma igreja católica na Austrália. Deus consolou-o, ouviu-o e para além de realizar o milagre da cura física, realizou outro de grande significado: a sua conversão sincera e depois a do resto da sua família.

Aconteceu quando, após meses de fortes dores de cabeça na filha, os médicos descobriram finalmente um enorme tumor na cabeça da menina. Fizeram-nos logo ir ao hospital infantil porque era urgente fazer uma cirurgia que, além disso, representava um grande risco para a Daisy. No entanto, não havia outras opções. Poucas horas antes da operação e enquanto a filha dormia, Stephen saiu do hospital tentando assimilar e dar sentido ao que de repente estava a viver.

“Estava a regressar pela Rua Avoca (em Sydney) em direção ao hospital quando vi uma grande igreja neogótica: Nossa Senhora do Sagrado Coração. Fui educado numa família da Igreja de Inglaterra, mas nunca fui batizado. O meu trisavô foi um ministro metodista que veio da Inglaterra na década de 1850 e estabeleceu-se em Hay, em Riverina. A minha avó e os meus pais eram do tempo em que os católicos eram vistos com desconfiança e chamados de “Tykes”. “O meu avô, o único católico da família, não foi aceite como membro dos Maçons de Gosford”, diz Stephen.

Apesar desta formação – recorda este pai – nessa noite não se importou com a história da sua família. “Não me importava o tipo de igreja, só precisava de rezar a Deus pela minha menina”, afirmou.

“Nunca esquecerá aquele momento” explica ao Catholic Weekly, o semanário da Arquidiocese de Sydney: “Como a igreja estava fechada, ajoelhei-me no passeio e rezei como nunca o tinha feito. Não tentei regatear. Não fiz promessas ridículas que não pudesse cumprir. Simplesmente orei em nome de Jesus para que Daisy sobrevivesse à operação.”

No dia seguinte à cirurgia, receberam uma chamada. Era o médico. A operação tinha corrido na perfeição. Ele e a sua mulher não paravam de chorar. Mas ainda tinham muitas provas e obstáculos a ultrapassar. O grande tamanho do tumor (um astrocitoma pilocítico), a sua posição no cerebelo e a própria operação fizeram com que Daisy tivesse de passar vários dias na unidade de cuidados intensivos. Além disso, sofria de síndrome da fossa posterior, um conjunto de sintomas que incluíam mutismo, irritabilidade e instabilidade (ataxia).

“É o pior caso que já vi”, disse o neurologista. A Daisy já não conseguia andar ou falar. Ela nem se conseguia mexer.

Depois de sobreviver à UCI, Daisy passou seis longos meses na unidade de neurologia. “A minha mulher e eu revezávamo-nos na enfermaria com a Daisy, dormindo num colchão no chão ao lado dela que eu ‘tomei emprestado’ de uma cama do corredor e para o qual as enfermeiras fizeram vista grossa”, conta.

Desta forma, Stephen acrescenta que “todas as manhãs, a Daisy tinha de suportar uma série de terapias e depois eu deixava-a descansar enquanto subia até Nossa Senhora do Sagrado Coração para rezar por ela. “Ali conheci o maravilhoso Padre Peter Hearn e tivemos muitas conversas enriquecedoras”.

A sua oração foi novamente atendida. Daisy recebeu o dom da voz. Por esta altura, ela já estava suficiente bem para que ele a levasse de carro até à igreja, onde rezava ao seu lado.

Quando finalmente conseguiram regressar a casa, Stephen começou a frequentar a igreja mais próxima, a St. Brandam’s, onde o padre John Milligan aceitou batizá-lo. Um ano depois, foi batizada e confirmada pelo próprio Arcebispo Anthony Fisher OP.

A Daisy tem agora 11 anos. As suas ecografias anuais estão bem e a sua ataxia é quase impercetível. “É o ser humano mais resiliente que já conheci. Eu e ela assistimos à missa várias vezes por semana”, diz o pai, orgulhoso.

“No ano passado, ambos organizámos uma festa para o artista Michael Galovic criar um ícone para a nossa igreja. Mostra São Brandam a lutar num oceano tempestuoso. À medida que as ondas sobem à sua volta, ele estende a mão a Jesus para o salvar. É algo que a Daisy e eu conhecemos muito bem”, conclui.

Catholic Weekly e Religion en Libertad, 29 de setembro de 2024

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Conselho de São Bernardo sobre os maus pensamentos


Rejeite o mau pensamento assim que ele se apresentar à sua mente. Se o rejeitar, ele deixá-lo-á, ou se não o abandonar, não o contaminará, enquanto tiver horror dele.

O pensamento que não é rejeitado causa prazer, esse prazer dá origem ao consentimento; o consentimento produz ação; da ação surge o hábito; do hábito segue-se uma espécie de necessidade, que conduz finalmente à impenitência e ao desespero. E assim como a víbora é morta pelas crias que carrega no seu ventre, assim recebemos a morte através dos nossos maus pensamentos, quando os alimentamos no nosso coração.

São Bernardo de Claraval

Conseil de Saint Bernard sur les mauvaises pensées

Rejetez la mauvaise pensée dès qu’elle commence, et dès qu’elle se présente à votre esprit. Si vous la rejetez, elle vous quittera, ou si elle ne vous quitte pas, elle ne vous souillera point, tandis que vous l'aurez en horreur.

La pensée qui n'est pas rejeté, cause le plaisir, ce plaisir fait naître le contentement ; le consentement produit l'action ; de l’action vient l’habitude ; de l'habitude suit une espèce de nécessité, qui entraîne enfin l’âme dans l’impénitence et le désespoir. Et comme la vipère est tuée par les petits qu'elle porte dans son sein, aussi nous recevons la mort par nos mauvaises pensées, quand nous les nourrissons dans nos cœurs.

Saint Bernard de Clairvaux

Em defesa dos princípios da Tradição e da Civilização Cristãs



Para que compreendamos bem como servir a Nossa Senhora, em nosso século, é preciso que tenhamos em bastante consideração as circunstâncias peculiares dele.

Vivemos, em nossos dias, num processo revolucionário que, tendo começado com o protestantismo e com o humanismo do século XVI, alcançou um triunfo universal pela Revolução Francesa no século XVIII, e pela extensão dos princípios desta ao mundo inteiro, no século XIX, e pelo comunismo. Nós estamos, portanto, no clímax de uma longa série de apostasias. Nisto está a marca dominante dos acontecimentos dos nossos dias e das circunstâncias dentro das quais a Igreja age, vive e luta atualmente.

Em outras épocas, a Igreja também tem tido adversários a enfrentar. Nunca, talvez (e nesse sentido são tão numerosas as citações pontifícias que eu me dispenso de as lembrar) teve ela que enfrentar uma tão profunda investida, que a ataque com tal furor em todos os pontos da sua doutrina, dos seus costumes, das suas instituições e das suas leis. Nunca os seus inimigos mostraram tanta coerência, tanta unidade de objetivos, e tanto rancor quanto em nossos dias. Assim, e seja qual for o ângulo do qual vejamos o panorama hodierno, é preciso que coloquemos no centro de toda a nossa perspetiva esse fenômeno: a investida multissecular das forças do mal, chegada hoje a seu paroxismo.

Vivemos, como há pouco afirmamos, dentro de um processo revolucionário que mina e corrói uma realidade gloriosa, luminosa e entretanto agonizante, isto é, a Civilização Cristã. Assim, portanto, temos um inimigo a atacar e um patrimônio a defender. O patrimônio é todo o imenso e inapreciável tesouro de tradições desses vinte séculos de Civilização Cristã que tivemos atrás de nós. Patrimônio esse que não deve ser considerado como um valor estático, mas ao qual pelo contrário, cada século foi dando o seu contributo. Também nós, pela nossa fidelidade e pela nossa luta, acrescemos este glorioso acervo. Em face de nós está essa revolução, que é justamente o contrário de tudo o que amamos. Nós a devemos atacar em todas as suas manifestações.

Assim se explica um dos aspetos essenciais de todo apostolado realmente adequado a nossos dias. Tal aspeto merece uma explanação conveniente para que compreendamos bem o que vem a ser "in concreto", e em sua plenitude, a perseverança na consagração a Nossa Senhora, em nossos dias. Com efeito, costuma-se dizer que o católico deve ser o homem do seu tempo, que deve ter a vista aberta para todos os progressos, que deve ser um homem que se acomoda tanto quanto possível às circunstâncias da época em que vive. Ninguém poderia dizer que em si mesmas essas expressões são falsas. Mas devemos saber distinguir uma aceitação inteligente e cheia de discernimento das condições da época, de uma aceitação simplória, impensada, fraca, tíbia, que abrange não só o que as condições da época tem de bom, mas o que o espírito da Revolução instilou veladamente até em muitas das boas condições da nossa época. De modo que há aceitações a fazer e deve-se ser homem do tempo. E é exatamente a linha divisória entre uma coisa e outra que deve ser por nós marcada com todo o cuidado.

Em que sentido um católico pode e deve ser homem do seu tempo?

Toda época costuma diferenciar-se da anterior por se ver nesta alguns defeitos, que lhe ferem a atenção e que deseja corrigir. Mas, ao mesmo tempo, acontece que muitas vezes uma época dissente de outra anterior porque discrepa, também, das qualidades desta. Em relação ao passado próximo de que provimos, nós não queremos, não devemos e não podemos aceitar tudo, mas devemos até rejeitar certos elementos com cuidado. A época passada apreciava, por exemplo, a oratória florida, farfalhante, verbosa e torrencial, que se manifestava em todas as ocasiões possíveis. Um aniversário, uma formatura, um casamento, o regresso de uma longa viagem, tudo era ocasião para um discurso. E tais discursos eram tão padronizados que já havia manuais que continham peças oratórias de circunstâncias, por exemplo para o moço que se forma em Direito. Essas peças podiam ser repetidas em todo o Brasil, desde o Amazonas até ao Rio Grande do Sul, em Portugal e nas Colônias. Evidentemente, para nós, que achamos que o tipo do homem romântico, que nos antecedeu, era pouco eficiente, tinha o espírito povoado de sonhos vácuos e uma imaginação em fogo, que ele nem primava pelo rigor da lógica nem pelo desejo de traduzir em fatos concretos aquilo com que sonhava, para nós, toda essa abundância de discursos se patenteia supérflua. Os poucos discursos que se fazem hoje devem ser rápidos, numa linguagem menos convencional, menos hirta, em uma linguagem viva e não numa linguagem morta. Para nós, todas as flores daquela retórica estão já gastas pelo uso e, portanto, devem ser relegadas ao museu.

Segundo os cânones do romantismo passado, por exemplo, o gosto pela tristeza era um atributo essencial do espírito. Um moço, segundo o estilo em voga, deveria ser doente e infeliz, deveria exalar a sua infelicidade e a sua doença numa guitarra, deveria trocar a noite pelo dia, deveria ser um daqueles sonhadores de garoa e de orgias tão típicas da velha Faculdade de Direito de São Paulo. A nós, hoje, nos parece que tudo isso está errado. Sem falar na orgia, parece-nos que essa glorificação da melancolia, esse amor à doença, essa mania de se sentir triste são antinaturais e ridículas.

Nenhuma época do passado pode ou deve ser intocada. É sempre possível, por um movimento verdadeiramente progressivo, abolir defeitos e melhorar qualidades. Mas isto não basta, é preciso também que nós nos lembremos de que muitas das transformações instituídas no presente não representam um trabalho inteligente para depurar e fazer progredir as tradições que recebemos, mas, pelo contrário, constitui um esforço de destruição clara ou de falseamento sub-reptício dos valores da Civilização Cristã. O mundo contemporâneo, por efeito do laicismo, perdeu quase completamente o senso cristão da vida. Chamo a atenção para estas últimas palavras. Sabemos que um homem não fica sem senso nenhum. Ora, se ele perde o senso cristão, substitui-o pelo espírito anticristão. Portanto quase todos quantos existem hoje estão marcados, em escala maior ou menor, pelo senso anticristão da vida. Somos, infelizmente, filhos do nosso tempo e estamos todos expostos ao risco de trazer em nós, insuspeitadas, muitas das infiltrações desse senso anticristão da vida.

Como são frequentes em torno de nós as pessoas que supõem que têm verdadeiro espírito católico, porque recebem uma ou outra vez os sacramentos e praticam alguns atos de piedade. Entretanto, os seus modos de pensar, de sentir e de agir são marcados por um espírito oposto ao da Igreja. Até mesmo entre as pessoas piedosas dá-se, em escala menor embora, o mesmo fato. Nessas condições, há razão para sentirmos uma verdadeira desconfiança até de nós mesmos. E devemos com suma diligência e um grande temor nos dedicar à tarefa de distinguir em nossa época aquilo que há de bem e de mal. Obriga-nos a tal o santo receio de renunciar a alguma coisa daquele depósito de tradições católicas que recebemos dos nossos maiores, e que devemos transmitir aos pósteros, não só intacto, mas até acrescido. Está bem corrigir judiciosamente o passado. Mas modificá-lo sem esse discernimento, levianamente, a todo propósito e às vezes pelo simples gosto da modificação, eis o que não se deve de modo algum fazer. Não se pode imaginar algo mais contrário à verdadeira consagração à Nossa Senhora do que esta falta de cuidado no proteger a tradição cristã. Porquanto, se alguém se entrega sem critério nem reservas ao século, serve a dois senhores, a sua consagração não é uma consagração efetiva. Assim, embora repudiando formalmente a ideia de que devemos conservar imóvel o passado, afirmamos que nunca na História da Civilização Cristã foi täo difícil a alguém fazer esta discriminação entre os valores verdadeiros do passado e aquilo que nele deve ser retificado em nossa época.

Muitos espíritos, mesmo sinceros, imaginam e creem que a tradição não seja mais do que a lembrança, o pálido vestígio de um passado que não existe mais, que não pode voltar, e que, quando muito, é com veneração, e com gratidão, relegado num museu.

Mas a tradição é muito diferente do que um simples apego ao passado já desaparecido!

Por força da tradição, a juventude iluminada e guiada pela experiência dos anciãos, avança com passo mais seguro, e a velhice transmite e entrega confiantemente o arado a mãos mais vigorosas que continuam o sulco já iniciado. Como indica o seu nome, a tradição é um dom que passa de geração em geração; é a tocha que o corredor a cada revezamento põe na mão e confia a outro corredor, sem que a corrida pare ou diminua de velocidade. Tradição e progresso reciprocamente se completam com tanta harmonia que, assim como a tradição sem progresso se contraria a si mesma, assim também o progresso sem a tradição seria um empreendimento temerário, um salto no escuro.

Assim, pois, a nossa consagração no século, a nossa consagração a nossa Senhora é realizada, em nossos dias, pela recondução das almas e de todos os valores da sociedade temporal, para darem glória a Deus dentro das sendas da Civilização Cristã, tendo em Deus a sua causa final, tendo em Deus a sua causa exemplar, dentro de um rumo que, se é um rumo de verdadeiro progresso, é por isso mesmo, e nisso mesmo, um rumo indicado pelos princípios magníficos da Tradição Cristã.

Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, Discurso, 01/11/1963

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Nunca estamos sozinhos! O Anjo da Guarda, o celeste alter ego, está sempre connosco, a proteger-nos!




Quanto conforto nos daria nas horas das tribulações, tentações, em que nos sentimos sozinhos, termos a certeza de que um anjo da guarda está junto de nós! Embora não o sintamos nem o percebamos, ele não nos abandona um minuto sequer, e se acha à espera de nossas orações para agir por nós. Muitas vezes ele atua sem que o peçamos, mas fá-lo-á ainda mais se implorarmos a sua assistência.

O anjo da guarda é nosso mediador e advogado junto ao trono do Altíssimo e roga continuamente por nós. Portanto, é de todo congruente pedirmos a ele que nos obtenha graças e afaste de nós os perigos.

Apresento uma reflexão, a qual submeto ao juízo da Igreja por se tratar de uma opinião pessoal, que me parece conveniente e razoável.

Deus tudo faz com conta, peso e medida, de modo ordenado, e não é provável que a designação de um anjo da guarda para atender uma pessoa se produza de maneira automática. De facto, não é possível imaginar uma espécie de ponto de táxi de anjos no Céu, à espera de que nasça um homem e, a um aceno de Deus, o anjo A ou o X se dirige à Terra e começa a proteger aquele novo ser humano… Essa forma de agir em Deus não nos soa como própria de sua infinita sabedoria.

Sou mais inclinado a pensar que Deus delega a cada pessoa um anjo da guarda cuja santidade tem relação com a luz primordial daquela alma. De maneira que o anjo é um celeste modelo das virtudes que ela deve praticar o longo da vida terrena. Se pudéssemos ver nosso anjo da guarda, contemplaríamos provavelmente a personificação da nossa luz primordial, ou seja, algo que seria de certo modo parecido connosco, mas num grau de beleza ontológica e sobrenaturalmente inconcebível.

Compreendemos, então, a simpatia, a afinidade e o desejo de servir que teríamos para com ele e, reciprocamente, o vínculo especial do anjo da guarda connosco.

Quer dizer, o anjo custódio é o celeste alter ego, o outro “eu mesmo” de cada protegido. Esta é uma razão particular para que, antropomorficamente falando, tenhamos ainda mais facilidade de compreender como o anjo da guarda nos ampara.

Imaginemos que encontrássemos alguém necessitado de ajuda, sumamente parecido connosco: não é verdade que nos apressaríamos em socorrê-lo, impelidos por essa semelhança? Assim é o anjo da guarda connosco!

Plinio Corrêa de Oliveira (Conferência 02/10/1964).

 

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Mortificação, tristeza e paz de alma

 


Quando se fala em geral em vida espiritual, de mortificação, de tristeza etc., as pessoas ficam arrepiadas. Elas não compreendem toda a alegria e toda a felicidade que o misto de amargura e de esperança, de tristeza e de paz, que faz com que a esperança valha muito mais que a amargura, e a paz valha muito mais do que a tristeza.

Essa terra é um vale de lágrimas! Se expiarmos os nossos pecados, se carregarmos a cruz verdadeiramente e com resignação, teremos nos nossos corações torrentes de paz, torrentes de tranquilidade, de estabilidade, de normalidade, de ordem, de cuja fruição, ninguém dentro do mundo completamente transviado pode ter a verdadeira noção.

A paz e a alegria própria às almas a quem Nossa Senhora dá a força de ver os seus defeitos completamente de frente já é um primeiro passo para se corrigir.

Mas é preciso ter esta lealdade interior por onde vemos o nosso próprio defeito de frente, não fechamos os olhos para ele. Só o eliminar dentro da alma o caos, a confusão, o mal-estar deste defeito que de vez em quando surge, com o qual nós temos cumplicidade, que nos causa horror, que depois some de novo, e que não sabemos como nos separar, que se agarra a nós, só ter a alma limpa disso e ver as coisas de frente como são, só isto é um oceano de paz existente na alma verdadeiramente católica.

Plinio Corrêa de Oliveira

Nossa Senhora e as almas do Purgatório





O Catecismo da Igreja Católica (1030,1031 e 1032) explica que a "Igreja denomina Purgatório esta purificação final dos eleitos, que é completamente distinta do castigo dos condenados". "Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após a sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do Céu.”.

"Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos e ofereceu sufrágios em seu favor, em especial o sacrifício eucarístico (DS 856), a fim de que, purificados, eles possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos".

As almas do Purgatório são caras à Santíssima Virgem; são almas predestinadas e santas, almas que muito A amam e que, em sua maior parte, A serviram com fidelidade durante sua vida sobre a Terra. Nas almas do Purgatório Maria vê as filhas bem-amadas do Padre Eterno, as esposas de seu Divino Filho, os templos do Espírito Santo, as imagens de Deus que brilharão um dia no Céu com maravilhoso fulgor. Ela vê nessas almas o preço do Sangue do seu adorável Jesus, as flores imortais que ornarão a sua própria coroa durante a eternidade. Nelas, Maria vê os seus próprios filhos.

Padre Jourdain

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A Igreja é a minha pátria e a minha família! Ninguém poderá afundar a barca de Jesus!


Muitas ondas e fortes tempestades nos ameaçam, mas não tememos ser submersos, porque nos apoiamos na rocha firme.

Por mais que o mar pareça enfurecido, nunca poderá quebrar esta rocha; por mais que as vagas se levantem, nunca poderão afundar a barca de Jesus.

Que havemos de temer? A morte? Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. O exílio? Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe. A confiscação dos meus bens? Nada trouxemos para este mundo e também nada daqui podemos levar. Desprezo as ameaças do mundo! Não me interesso pelos seus bens e favores. Não temo a pobreza nem ambiciono riquezas; não receio a morte nem desejo viver, senão para vosso proveito. Por isso, recordo-vos a situação presente e peço a vossa caridade para que tenhais confiança.

Na verdade, ninguém nos poderá separar porque aquilo que Deus uniu, o homem não pode separar. Pois está dito do homem e da mulher: Assim deixará o homem o seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e serão dois como uma só carne. Ora, o que Deus uniu, não o separe o homem. (cf. Gn 2,24; Mt 19,5-6). Se não é possível romper o vínculo conjugal, será ainda mais impossível separar a Igreja de Deus. Podem até combate-la, mas sem poder prejudicar aqueles com quem lutam. É assim com as ondas que não dissolvem a rocha, mas desfazem-se em espuma contra ela.

Nada é forte como a Igreja. Os seus inimigos deveriam deixar de lutar para não perderem as forças. Não entrem em guerra contra o céu. Se lutarem contra um homem, podem sair vitorioso ou derrotado, mas se lutarem contra a Igreja, não poderão vencer porque Deus é mais forte do que todas as coisas. Gostariam de competir com o Senhor? Seriam mais fortes do que Ele? (1 Cor 10, 22). O que Deus estabeleceu, quem tentará abalar? Não conhecem o seu poder!

A Igreja é mais forte que o céu. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão (Mt 24,35). Que palavras? Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18).

Se não acreditais na retórica, acreditai pelo menos nos factos. Quantos tiranos quiseram derrubar a Igreja? Que torturas foram utilizadas para tal: fornalhas, animais ferozes, espadas afiadas! E não funcionou. Onde estão os inimigos? Foram entregues ao silêncio e ao esquecimento. E onde está a Igreja? Ela brilha mais que o sol. As obras dos inimigos morreram, as obras da Igreja são imortais. Se os seus membros não foram vencidos quando eram poucos, como poderiam ser vencidos agora que a piedade encheu o universo?

Como a cidade recuperou a calma, o espírito maligno tentou abalar a Igreja. O demónio impuro e canalha, não conseguiu apoderar-se dos muros e pensa que vai abalar a Igreja! A Igreja seria constituída por muros? Não! Ela consiste na multidão de devotos, ligados não por ferros de uma coluna, mas estreitamente unidos pela fé. Não quero dizer que tal multidão exceda o ardor do fogo, mas que, se houver apenas uma pessoa fiel, ninguém será capaz de a vencer. Considere novamente as feridas que os mártires infligiram ao mal. Aconteceu muitas vezes que uma terna donzela, uma virgem, entrou na arena. Na aparência era mais frágil e maleável que a cera e tornou-se mais firme que a rocha. O corpo foi rasgado, mas não conseguiram tirar-lhe a fé. O corpo foi consumido, mas a mente foi revigorada. A substância foi removida, mas a piedade permaneceu. Não conseguiram vencer uma única mulher e pretendem vencer um povo tão numeroso! Não ouvis a palavra do Senhor: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, Eu estou no meio deles? E não estará presente o Senhor no meio de um povo tão numeroso, unido pelos vínculos da caridade? Estarei eu porventura confiado às minhas próprias forças? Não. Eu tenho a promessa do Senhor, tenho comigo a sua palavra escrita: este é o meu bordão, esta é a minha segurança, este o meu porto tranquilo. Ainda que todo o mundo se perturbe, eu tenho a sua resposta por escrito, leio a sua Escritura: esta é a minha muralha, esta é a minha fortaleza. Que diz a Escritura? Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo (Mt 28,20).

Cristo está comigo; a quem hei de temer? Ainda que se lancem contra mim as ondas do mar ou o furor dos príncipes, tudo isto para mim é mais desprezível do que uma teia de aranha. E se a vossa caridade não me retivesse aqui, não recusaria partir hoje mesmo para onde quer que fosse. Porque digo sempre: Senhor, seja feita a vossa vontade; não o que quer este ou aquele, mas o que Vós quereis que eu faça. Esta é a torre que me abriga, esta é a pedra firme que me sustenta, este é o bordão que não me deixa vacilar. Seja o que Deus quiser. Se Ele quer que eu permaneça aqui, fico Lhe agradecido. Se me chama para qualquer outro lado, sempre Lhe darei graças.

Onde eu estiver, ali estareis vós também; e onde estiverdes vós, ali estarei também. Somos um só corpo; e nem o corpo se separa da cabeça, nem a cabeça do corpo. Ainda que estejamos em lugares distantes, ficamos sempre unidos pela caridade e nem a própria morte poderá separar nos. Porque o corpo morre, mas a alma sobrevive; e a minha alma sempre se recordará do meu povo.

Esta é a minha pátria e a minha família; vós sois os meus pais, meus irmãos e meus filhos; sois membros do mesmo corpo; sois a minha luz, uma luz mais amável que a luz do dia. Que brilho pode haver para mim mais agradável que a vossa caridade? O brilho da luz do dia é-me útil na vida presente; mas a vossa caridade prepara-me uma coroa para a vida futura.

São João Crisóstomo, Homilia “Nada teme aquele que tem sua vida em Cristo".

 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

Tribunal de Justiça de São Paulo, Brasil, confirma sentença de extinção de processo contra os Arautos do Evangelho

 A decisão concluiu que não havia omissões na sentença original que exigissem a intervenção do Ministério Público como autor da ação.

 


O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por meio da Vara da Infância e da Juventude, rejeitou os embargos de declaração opostos pelo Ministério Público em relação à sentença que julgou extinta a ação civil pública movida contra a associação religiosa Arautos do Evangelho. A decisão, assinada pela Juíza Dra. Cristina Ribeiro Leite Balbone Costa, concluiu que não havia omissões na sentença original que exigissem a intervenção do Ministério Público como autor da ação.

Ação extinta por ilegitimidade ativa

O caso teve origem em uma ação movida pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, que foi extinta por ilegitimidade ativa, decisão fundamentada no Tema 607 do Supremo Tribunal Federal, em caráter de repercussão geral. A sentença original já havia determinado que não havia desistência infundada ou abandono da ação por parte da associação legitimada, nem irregularidades formais que justificassem a continuidade do processo.

O Tribunal destacou que o Ministério Público, responsável pela instauração do inquérito civil para apuração dos fatos, não solicitou seu ingresso na ação como autor e que o inquérito foi trancado definitivamente por decisão do Superior Tribunal de Justiça. Assim, a substituição do polo ativo da ação foi considerada inviável.

Decisão reafirma a ausência de irregularidades por parte dos Arautos do Evangelho

A rejeição dos embargos representa mais um importante passo no restabelecimento da verdade, encerrando um capítulo controverso que envolvia a associação religiosa e reafirmando a legalidade dos procedimentos adotados. Os pais dos jovens envolvidos expressaram alívio e satisfação com a decisão, que reafirma a ausência de irregularidades por parte dos Arautos do Evangelho. A decisão traz um desfecho claro e ampara a associação, permitindo que continue suas atividades sem o peso das acusações previamente levantadas.

Gaudium Press - 03/09/2024 

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A cidade de Deus de Santo Agostinho e a luta do bem contra o mal

 


Santo Agostinho escreveu um livro famoso intitulado “A Cidade de Deus” no qual defende a existência no mundo de apenas duas forças, dois princípios vitais, dois elementos ativos, dois Estados (a civitas de que fala é o Estado, e não “cidade” como se costuma dizer): o de Deus e o do demónio, numa perpétua, completa e irreconciliável luta entre si, a Cidade de Deus e a cidade do demónio.

Trata-se da concepção de que todos os factos do mundo reduzem-se numa luta entre o bem e o mal, entre a Igreja Católica e o poder das trevas, entre aqueles que dentro da Igreja representam o bom espírito, de um lado, e do outro, o poder das trevas. A luta entre esses dois princípios opostos resulta de dois amores e que a oposição desses dois amores constitui a fonte do ódio entre eles. A fonte desses amores e dos ódios é, na Cidade de Deus, o amor de Deus até o esquecimento de si mesmo; na cidade do demónio, cada um se ama a si próprio até o aquecimento de Deus. Ou seja, é o confronto entre a procura do absoluto e o egoísmo (cfr. op. cit. XIV, 28).

O ponto de partida da cidade do demónio e do mal espírito é o pensar em si, nos seus interesses, nos seus prazeres, nos seus deleites, nas suas coisinhas, o ter-se a si mesmo como minúsculo centro do universo, com o egoísmo todo voltado para suas satisfações.

Na Cidade de Deus vive-se para o Criador, não a pensar em si, mas todos estão voltados inteiramente para as realidades supra-terrenas que a Revelação nos indica, têm o espírito voltado para o metafísico, para o espírito religioso que se dirige para as mais altas coisas e que prepara as condições da alma para receber o dom inapreciável da fé católica.

Esses dois princípios estão numa oposição completa e a história do mundo é feita da luta entre eles.

Alguém dirá: “Mas essa concepção é muito intransigente!” São Luiz Grignion de Montfort escreveu que tudo quanto Deus cria é bem criado, porque Deus não faz nada de errado. E Ele só fez uma inimizade, mas que essa inimizade é bem feita, porque Ele faz tudo bem feito. A inimizade que Ele criou é esta: entre os bons e os maus, entre os filhos da luz e os filhos das trevas, entre Nossa Senhora e a Serpente.

Plinio Corrêa de Oliveira

Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova!


"Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração... Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava... Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.

Tu estavas dentro de mim e eu fora... "Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior". Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só me afastavam cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava... Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo...

Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e o Teu grito rompeu a minha surdez... "Fizeste-me entrar em mim mesmo... Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava". Em meio à luta, recorri ao meu grande amigo Alípio e disse-lhe: “Os ignorantes arrebatam-nos o céu e nós, com toda a nossa ciência, debatemo-nos na nossa carne”. Assim encontrava-me, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”... Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha... Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.

Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: "Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo" (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.

Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus... de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus... de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus... a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e dei-me conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.

Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo pela Tua Paz. "Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo". Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!

E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!...

Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora - e fora Te buscava, e lançava-me, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo.... Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou a minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, desejei-Te. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos pela Tua Paz!

Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

Comprovado o corpo incorrupto de Santa Teresa de Ávila

 


Hoje, 28 de agosto de 2024, foi novamente aberto o túmulo de Santa Teresa de Ávila e ficou comprovado que o seu corpo continua incorrupto desde 1582. 

A última vez que o túmulo tinha sido aberto foi em 1914.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

O prazer, a felicidade e o perigo do abuso


O prazer é como um tempero, é como um sal que dá à felicidade um certo sabor. São Tomás de Aquino diz que o homem, para existir, precisa ter algo, por menor que seja, que lhe dê algum prazer.

Se imaginássemos um homem que não tivesse nem um grão de felicidade, esse homem desapareceria. E a Providência Divina, que é materna e bondosa, permite duas coisas: Primeiro, que a grande maioria dos homens tenha pelo menos uma parcela de felicidade, não uma felicidade inteira, que não existe nesta vida; segundo, também faz com que aqueles a quem Ela mais ama passem por períodos dos quais a felicidade desaparece completamente. São os grandes períodos da vida de um homem. É quando se faz noite para ele e a felicidade desaparece, inclusive a consolação sobrenatural. E ele entra no túnel obscuro, plumbeamente pesado, de uma infelicidade grande.

Mas os males críticos, muito agudos, não duram. Ou conduzem à morte ou passam logo. Assim também, é preciso ver essas partes trágicas da existência como permitidas por uma disposição especial da Providência, em geral com pouca duração.

Por outro lado, o prazer é uma cilada. Ele facilmente convida para o abuso. Não quero dizer que se deva abster-se dele, mas sim que se deve tomar cuidado com o prazer; como em relação a certos remédios, que tomados em dose muito pequena podem ser úteis, e até indispensáveis; mas ai de quem errar a dosagem! Fica envenenado. É assim também com o prazer.

Plinio Corrêa de Oliveira

sábado, 27 de julho de 2024

Como nasce a devoção a Nossa Senhora nas almas?


Em geral, a devoção viva a Nossa Senhora começa quando alguém se vê em apuros espirituais ou temporais, ou os dois, e pede a Nossa Senhora para deles ser salvo.

Maria Santíssima ao mesmo tempo que salva a pessoa de tais dificuldades, opera algo na alma, na ordem imponderável e na ordem da graça, que ela adquire como que uma vivência da condescendência maternal, risonha, afável, bondosa de Nossa Senhora e com isso fica com a esperança viva de que em outras circunstâncias difíceis será atendida de novo.

Esse "pede-pede" de todas as graças – sobretudo a do amor a Deus, que é a que se deve mais suplicar – acaba indo num crescendo de tal maneira que Nossa Senhora vai se tornando mais exorável, mais materna, de uma assistência mais meticulosa, à medida que a pessoa vai crescendo nessa espécie de vivência, desta espécie de providência risonha e afável da Mãe do Céu para com cada um.

De tal maneira que as pessoas, às vezes, acabam pedindo a Nossa Senhora verdadeiras bagatelas, coisinhas que são insignificantes e que Ela dá como uma mãe deseja dar aos filhos coisas grandes e pequenas, e que tem um sorriso particularmente afetuoso para as coisas pequenas que se lhe pedem.

Há aí uma espécie de aurora da confiança, de aurora da verdadeira compreensão de quais são as nossas relações com Nossa Senhora, e ainda que a alma passe por provações muito longas, muito duras, períodos de aridezes, períodos de dificuldades, algo disso fica. É como uma luz que acompanha a pessoa a vida inteira, inclusive nos últimos e mais amargos transes da morte.

Assim também nós: ao apresentarmos os nossos pedidos a Nossa Senhora, por pequenos que sejam, devemos fazê-lo com inteira confiança de que Ela condescende com o que suplicamos.

Se não fizermos assim, a nossa devoção para com Ela nunca será perfeitamente verdadeira. Devemos ter para com Nossa Senhora uma espécie de à vontade, de desembaraço, de intimidade de filho que às vezes até quando Lhe contrista, se Lhe apresenta com toda a confiança, certo de obter o Seu auxílio e o Seu sorriso.

É este o ponto de partida inefavelmente suave de uma devoção viva a Nossa Senhora.

Cf. Plinio Corrêa de Oliveira, Conferência, 18 de maio de 1964