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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A Igreja é a minha pátria e a minha família! Ninguém poderá afundar a barca de Jesus!


Muitas ondas e fortes tempestades nos ameaçam, mas não tememos ser submersos, porque nos apoiamos na rocha firme.

Por mais que o mar pareça enfurecido, nunca poderá quebrar esta rocha; por mais que as vagas se levantem, nunca poderão afundar a barca de Jesus.

Que havemos de temer? A morte? Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. O exílio? Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe. A confiscação dos meus bens? Nada trouxemos para este mundo e também nada daqui podemos levar. Desprezo as ameaças do mundo! Não me interesso pelos seus bens e favores. Não temo a pobreza nem ambiciono riquezas; não receio a morte nem desejo viver, senão para vosso proveito. Por isso, recordo-vos a situação presente e peço a vossa caridade para que tenhais confiança.

Na verdade, ninguém nos poderá separar porque aquilo que Deus uniu, o homem não pode separar. Pois está dito do homem e da mulher: Assim deixará o homem o seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e serão dois como uma só carne. Ora, o que Deus uniu, não o separe o homem. (cf. Gn 2,24; Mt 19,5-6). Se não é possível romper o vínculo conjugal, será ainda mais impossível separar a Igreja de Deus. Podem até combate-la, mas sem poder prejudicar aqueles com quem lutam. É assim com as ondas que não dissolvem a rocha, mas desfazem-se em espuma contra ela.

Nada é forte como a Igreja. Os seus inimigos deveriam deixar de lutar para não perderem as forças. Não entrem em guerra contra o céu. Se lutarem contra um homem, podem sair vitorioso ou derrotado, mas se lutarem contra a Igreja, não poderão vencer porque Deus é mais forte do que todas as coisas. Gostariam de competir com o Senhor? Seriam mais fortes do que Ele? (1 Cor 10, 22). O que Deus estabeleceu, quem tentará abalar? Não conhecem o seu poder!

A Igreja é mais forte que o céu. O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão (Mt 24,35). Que palavras? Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt 16, 18).

Se não acreditais na retórica, acreditai pelo menos nos factos. Quantos tiranos quiseram derrubar a Igreja? Que torturas foram utilizadas para tal: fornalhas, animais ferozes, espadas afiadas! E não funcionou. Onde estão os inimigos? Foram entregues ao silêncio e ao esquecimento. E onde está a Igreja? Ela brilha mais que o sol. As obras dos inimigos morreram, as obras da Igreja são imortais. Se os seus membros não foram vencidos quando eram poucos, como poderiam ser vencidos agora que a piedade encheu o universo?

Como a cidade recuperou a calma, o espírito maligno tentou abalar a Igreja. O demónio impuro e canalha, não conseguiu apoderar-se dos muros e pensa que vai abalar a Igreja! A Igreja seria constituída por muros? Não! Ela consiste na multidão de devotos, ligados não por ferros de uma coluna, mas estreitamente unidos pela fé. Não quero dizer que tal multidão exceda o ardor do fogo, mas que, se houver apenas uma pessoa fiel, ninguém será capaz de a vencer. Considere novamente as feridas que os mártires infligiram ao mal. Aconteceu muitas vezes que uma terna donzela, uma virgem, entrou na arena. Na aparência era mais frágil e maleável que a cera e tornou-se mais firme que a rocha. O corpo foi rasgado, mas não conseguiram tirar-lhe a fé. O corpo foi consumido, mas a mente foi revigorada. A substância foi removida, mas a piedade permaneceu. Não conseguiram vencer uma única mulher e pretendem vencer um povo tão numeroso! Não ouvis a palavra do Senhor: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, Eu estou no meio deles? E não estará presente o Senhor no meio de um povo tão numeroso, unido pelos vínculos da caridade? Estarei eu porventura confiado às minhas próprias forças? Não. Eu tenho a promessa do Senhor, tenho comigo a sua palavra escrita: este é o meu bordão, esta é a minha segurança, este o meu porto tranquilo. Ainda que todo o mundo se perturbe, eu tenho a sua resposta por escrito, leio a sua Escritura: esta é a minha muralha, esta é a minha fortaleza. Que diz a Escritura? Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo (Mt 28,20).

Cristo está comigo; a quem hei de temer? Ainda que se lancem contra mim as ondas do mar ou o furor dos príncipes, tudo isto para mim é mais desprezível do que uma teia de aranha. E se a vossa caridade não me retivesse aqui, não recusaria partir hoje mesmo para onde quer que fosse. Porque digo sempre: Senhor, seja feita a vossa vontade; não o que quer este ou aquele, mas o que Vós quereis que eu faça. Esta é a torre que me abriga, esta é a pedra firme que me sustenta, este é o bordão que não me deixa vacilar. Seja o que Deus quiser. Se Ele quer que eu permaneça aqui, fico Lhe agradecido. Se me chama para qualquer outro lado, sempre Lhe darei graças.

Onde eu estiver, ali estareis vós também; e onde estiverdes vós, ali estarei também. Somos um só corpo; e nem o corpo se separa da cabeça, nem a cabeça do corpo. Ainda que estejamos em lugares distantes, ficamos sempre unidos pela caridade e nem a própria morte poderá separar nos. Porque o corpo morre, mas a alma sobrevive; e a minha alma sempre se recordará do meu povo.

Esta é a minha pátria e a minha família; vós sois os meus pais, meus irmãos e meus filhos; sois membros do mesmo corpo; sois a minha luz, uma luz mais amável que a luz do dia. Que brilho pode haver para mim mais agradável que a vossa caridade? O brilho da luz do dia é-me útil na vida presente; mas a vossa caridade prepara-me uma coroa para a vida futura.

São João Crisóstomo, Homilia “Nada teme aquele que tem sua vida em Cristo".

 

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