Deus quer almas que se Lhe entreguem inteiramente (...) para serem aventureiros da Virgem Maria, mas aventureiros de uma aventura singular, porque é uma aventura que tem consigo a certeza de que haverá risco, mas que haverá vitória! Não há dúvida sobre a vitória. Não há dúvida sobre o êxito inteiro da ação empreendida.
Sabemos que haverá muitos obstáculos. Mas, para além dos obstáculos, veremos a Santíssima Virgem, a Nossa Senhora dos Milagres, que pode fazer milagres, e que tem feito e que fará ainda. Ela pode fazer milagres para vencer. Mas a nossa aventura é tal que, ainda que se tenha que operar milagres, ela será conduzida a bom resultado.
Onde está Nossa Senhora não há derrotas possíveis, depois disso vem necessariamente uma pergunta de Deus, uma pergunta de Nossa Senhora: "Meu filho, pedi-te que entres nessa aventura. Tu entrastes na aventura porque te parecia boa, porque te parecia formosa. Foste atraído pela aventura. Mas Eu queria saber se o teu amor por Mim é tão grande, que mesmo que essa aventura não tivesse resultado, mesmo que não produzisse consequências, mesmo que tu e os teus companheiros de ação devêsseis ser derrotados, ignorados pela História, sob o riso dos Meus inimigos, esmagados para a Minha glória, para serdes heróis no Reino dos Céus e exclusivamente por amor a Mim, sem pensar nos resultados terrenos, Eu quero saber se o vosso entusiasmo, se a vossa dedicação iria bastante longe para aceitar também este risco. Aceitar também a possibilidade de um holocausto completo, de um oferecimento da vida, com a aceitação do insucesso. Ou seja, o oferecimento da vida, a aceitação da morte, sem ter a certeza da vitória".
Houve tantos e tantos que assim morreram pela Igreja. Pensem nos Cristeros do México no século passado. Pensem nos Chouans da França. Pensem nos carlistas da Espanha, pensem nos heróis da Reconquista castelhana, da Reconquista portuguesa. Esses heróis, na maior parte dos casos, morreram nos séculos da reconquista, durante os quais não tinham a certeza de que afinal os católicos venceriam os mouros. Não tinham certeza de que a guerra santa, na qual morriam, ia vencer.
Mas, eles aceitavam a morte com um olhar sobrenatural. Não lhes importava a vida, não lhes importava a glória terrena. Eles queriam o sacrifício, a integridade da sua dedicação a Nossa Senhora. E é porque a sua dedicação foi levada até este ponto que Nossa Senhora lhes deu a coroa. Porque a coroa da vitória final deve ser dada não aos que aceitam a luta para obter a vitória, mas para aqueles que aceitaram a luta, mesmo que não tivessem a vitória! Estes merecem a vitória.
Um que entra para uma luta olhando mais para a vitória que para o ideal, olhando mais a satisfação do amor-próprio de ser um vencedor, do que os direitos da Rainha destronada, pela qual é necessário morrer, este não tem condições de alma para ser uma pedra viva do Reino de Maria.
O Reino de Maria vencerá. O Reino de Maria será edificado, e será uma construção ainda mais magnífica do que a Idade Média! Mas, esta construção só terá sua força, se for edificada sobre homens absolutamente desinteressados! Homens capazes, na luta de todos os dias, de dizer duas coisas simultâneas a Nossa Senhora: "Minha Mãe, eu creio na vossa promessa e eu creio no sucesso, mas, minha mãe, mesmo que não me devesses dar o sucesso, eu igualmente lutaria por Vós, porque sois minha Mãe, e eu não quero o meu sucesso, mas o vosso. E se outros terão de colher o sucesso, eu terei semeado o sucesso pela minha dedicação, eu estarei contente, minha Mãe, porque terei vivido e terei morrido herói anônimo por Vós".
Esta é a prova de dedicação que Nossa Senhora nos pede. É de ter este estado de espírito, por onde ao mesmo tempo temos a certeza da vitória, mas sejamos completamente desapegados da vitória.
E qual é a maneira pela qual esta prova se dará? Ela dar-se-á pela vida de todos os dias. Há de suceder, necessariamente, que os senhores terão dificuldades. Há de suceder que rirão dos senhores. Há de suceder que em muitas ocasiões, os senhores comecem atividades apostólicas e não tenham o sucesso imediato. Há de suceder que algumas vezes, pela miséria humana, os senhores se entendam mal uns com os outros, e que haja dificuldades inclusive entre os senhores. Há de haver momentos em que não acontece nada de novo.
E os senhores veem então grandes forças internacionais, imensas que parecem furacões, que se levantam contra a Igreja Católica e a Civilização Cristã! E os senhores sentir-se-ão pequenos.
Nesse momento a vossa vocação vai ser posta à prova. E nesses momentos é preciso não ter indecisão, não ter nenhuma forma de dúvida. Ter uma dedicação completa. Vós deveis dizer: "Eu estou certo de que mais cedo ou mais tarde o sucesso virá. Eu esperarei o sucesso rezando, aceitando os insucessos parciais com coragem de um verdadeiro lutador, porque um dia Nossa Senhora me ajudará"!
Plinio Corrêa de Oliveira