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sexta-feira, 5 de abril de 2019

A recusa ao Sagrado Coração e o fim da dinastia Bourbon no trono francês


Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690), religiosa visitandina do Mosteiro de Paray le Monial, teve numerosas manifestações extraordinárias do Céu, onde Nosso Senhor Jesus Cristo, aparecendo-lhe, pediu para que fosse difundida a devoção ao Seu Sagrado Coração:  

“Eis aqui este Coração que tanto tem amado aos homens, que nada tem poupado, até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor; e em troca não recebe da maior parte deles senão ingratidão, irreverências e sacrilégios, tibieza e desdém para com este Sacramento de amor. (...)  Prometo-te que o Meu Coração se dilatará, para derramar com abundância o meu Divino Amor sobre os que lhe tributarem honras e procurarem fazer com que outros lha tributem”.

Numa destas aparições, Jesus pediu-lhe para fazer chegar ao Rei de França, Luís XIV (1643 – 1715) o Seu desejo de que a França fosse consagrada ao Sagrado Coração de Jesus.

No dia 17 de junho de 1689, Santa Margarida Maria enviou uma carta ao monarca nos seguintes termos: O Sagrado Coração de Jesus deseja, segundo me parece, entrar com pompa na casa dos Príncipes e dos Reis, para nelas ser honrado, tanto quanto nelas foi ultrajado, desprezado e humilhado durante a Sua Paixão. E que receba tanto prazer ao ver os grandes da Terra rebaixados e humilhados diante d`Ele, quanta amargura sentiu ao ver-Se aniquilado a seus pés.

"Faz saber ao filho primogénito do Meu Sagrado Coração que, assim como o seu nascimento temporal foi obtido através da devoção aos méritos da Minha Santa Infância, do mesmo modo obterá o seu nascimento para a graça e para a gloria eterna, pela Consagração que fará de si mesmo ao Meu Coração Adorável, que quer triunfar do seu e, por seu intermédio, do dos grandes da Terra. Ele quer reinar no seu Palácio, ser pintado nos seus estandartes e gravado nas suas armas, para fazê-las vitoriosas sobre os seus inimigos, dobrando aos seus pés essas cabeças orgulhosas e soberbas, para fazê-lo triunfar sobre todos os inimigos da Santa Igreja”.       

A 25 de Agosto de 1689, Margarida Maria insistiu com a Madre de Saumaise, pedindo-lhe, textualmente, que fizesse com que o confessor do rei, o Padre de La Chaise, levasse ao monarca o desejo do Sagrado Coração de Jesus. Esta carta continha dois novos pedidos importantes:

“O Pai Eterno, querendo reparar as amarguras e angústias que o Adorável Coração do seu Filho recebeu na casa dos Príncipes da Terra, entre as humilhações e os ultrajes da Paixão, quer estabelecer o Seu Império no coração do nosso grande monarca, do qual se quer servir para a execução do Seu Desígnio, que é fazer erigir um edifício onde esteja exposto o quadro deste Divino Coração, para aí receber a consagração e as homenagens do Rei e da Corte.

“Além disso, este Divino Coração quer tornar-se o protector e defensor da sua sagrada pessoa contra todos os seus inimigos. Por isso, escolheu-o, como Seu fiel amigo, para conseguir autorização da Santa Sé Apostólica para uma Missa e obtenção de todos os outros privilégios que devem acompanhar a devoção a este Divino Coração”.

Há indicações que confirmam o recebimento do pedido do Sagrado Coração pelo rei Luís XIV, não através do padre La Chaise que, provavelmente, era contrário a devoções que solicitassem uma fé maior do que aquela que um rei pouco religioso pudesse suportar, mas da princesa Maria Beatriz d’Este. Que se tornando religiosa visitandina, esteve em estreito contacto com Santa Margarida Maria.

Entretanto, Luís XIV, como os seus sucessores Luís XV (1715 – 1774) e Luís XVI (1774 – 1792) negaram-se a consagrar publicamente a França ao Sagrado Coração de Jesus, como lhe fora pedido pelo divino Salvador, apesar de Luís XIV ter apresentado à Santa Sé, em 1696, o pedido de uma missa ao Sagrado Coração de Jesus.

Como consequência desta recusa, no dia 17 de junho de 1789, festa do Sagrado Coração de Jesus, exatamente cem anos depois da data da carta de Santa Margarida Maria Alacoque, o Terceiro Estado instituiu a Assembleia Nacional, um rompimento com a estrutura social do Antigo regime francês, fundado na divisão de três ordens: clero, nobreza e povo.

Este acto despojou o rei da soberania, que segundo o regime monárquico vigente residida na sua pessoa. E este foi apenas o primeiro passo dos revolucionários. Em seguida, foi proclamada a República e Rei Luís XVI foi assassinado na guilhotina, no dia 21 de janeiro de 1793. 

Depois da Revolução Francesa, salvo os quinze anos da Restauração, a dinastia dos Bourbon foi expulsa definitivamente do trono da França.

domingo, 31 de março de 2019

A alegria não pode coabitar com o pecado


São João Crisóstomo, Patriarca de Constantinopla e Doutor da Igreja, afirma: “Nenhum bem terreno é capaz de mitigar a sede de paz e a felicidade do coração humano: nem a abundância de ouro, nem o poder soberano, nem a sumtuosidade dos banquetes, nem o luxo dos vestidos. Só a boa consciência é capaz de nos dar esta paz tão desejada. Quem conserva a consciência limpa de pecado, ainda que ande vestido de farrapos e atormentado pela fome, é mais feliz do que aquele que participa em todos os divertimentos possíveis e imagináveis mas que tem uma consciência torturada de remorsos” (cf. Homilia sobre as calendas).


Isto não quer dizer que a satisfação dos sentidos e os divertimentos do mundo não possam, pelo menos por algum tempo, entreter a alma numa certa letargia e fazer calar a consciência. Mas, este estado de coisas dura muito pouco tempo. E por mais que o homem tente, as consolações e alegrias deste mundo não são capazes de sarar completamente a ferida do coração.


O exemplo do poeta alemão Clemente Brentano

Clemente Brentano, um poeta alemão, depois de ter passado muito tempo no deleite de todos os prazeres que o mundo pode oferecer, lastimava-se dos erros da sua vida e esperava encontrar algum alívio e consolo com pessoas amigas, bem intencionadas e de confiança. Com todos se queixava, mas a paz do coração não lhe era restituída. Vinha-lhe sempre à memória os horrores da sua vida passada e um descontentamento geral tirava-lhe todo o ânimo.

Encontrava-se Brentano nesta disposição, quando no fim do ano 1816, encontrou uma piedosa senhora, a poetiza Luiza Hensel, que na altura ainda era protestante e que viria a converter-se ao catolicismo em 1819. Luiza conquistou rapidamente a sua confiança, pela inocência e candura. Assim, Brentano não tardou muito a explicar-lhe a triste situação em que se encontrava, remoído de remorsos. Depois de ter ouvido a sua história, Luiza respondeu-lhe, gravemente:

--“De que lhe serve manifestar tudo isto a uma jovem, como eu? O senhor é católico e tem a felicidade de ter a confissão. Exponha os seus erros ao seu confessor!”

Ao ouvir estas palavras, Brentano chorou e fez questão de dizer em alta voz para que os outros também ouvissem:

--“É incrível! Quem me diz isto é a filha de um pastor protestante...”

Deve ter sido uma enorme humilhação para Brentano ouvir, da boca de uma senhora de outra religião, que ele deveria fazer a confissão dos seus pecados e misérias a um sacerdote.

Aceitando o conselho de Luiza, tomou a resolução de fazer uma confissão geral. Foi ter com o Cónego Tauber e pediu-lhe para que ouvisse a sua confissão, assim que estivesse devidamente preparado. Já nesta ocasião, recebeu palavras de ânimo e de conforto, começando a derreter o gelo do seu coração sob o calor da graça divina. Após uma longa preparação, em meio a combates terríveis, Brentano fez, finalmente, a sua confissão. Aquela era a primeira depois de dez anos...

No dia seguinte, recebeu também a Eucaristia e encontrava-se muito feliz por ter encontrado a paz com Deus e consigo mesmo.

A Confissão é fonte de paz e consolo para o coração atribulado

Como Brentano, sempre que precisarmos, devemos recorrer à Confissão. Ela é o meio mais fácil e mais simples para nos reconciliarmos com Deus. Ela é uma fonte de paz e consolo para o nosso coração atribulado. Por uma boa e digna confissão, fechamos as portas do inferno e as do Céu são abertas.

Quantas graças não devemos dar a Deus por ter instituído para a nossa salvação o santo Sacramento da Penitência, no qual o sacerdote perdoa em nome de Deus os pecados – se o pecador arrependido os confessa sinceramente e tem a vontade de cumprir a penitência imposta.

A Confissão, porém, não é somente para nós uma felicidade inestimável, mas também um dever rigoroso.

O Divino Salvador disse aos seus discípulos:

Em verdade vos digo: Tudo o que ligardes na terra será ligado no Céu; e tudo o que desligardes na terra será desligado no Céu.” (Mt 18, 18). E pouco antes da sua Ascensão conferiu solenemente aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados, dizendo-lhes: “Assim como Pai me enviou, também Eu vos envio a vós. Recebei o Espírito Santo.  Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ficarão retidos” (Jo 20, 21-23).

Portanto, para todos os católicos que, depois do batismo, cometem um pecado mortal, torna-se necessária a recepção do Sacramento da Penitência.

Felizes somos nós, católicos, por termos este grande sacramento, que não só nos purifica do pecado, mas também nos protege poderosamente contra ele, ajudando-nos eficazmente a recobrar a alegria do nosso coração e, sobretudo, a alcançar a perfeição cristã.

terça-feira, 12 de março de 2019

Uma maneira especial de rezar o Rosário


O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, numa reunião proferida no dia 6 de julho de 1985, comentava como era a sua devoção para com Nosso Senhor e Nossa Senhora. Nesta ocasião explicou como rezava o terço e sentia a proximidade de Maria Santíssima.

“Há pessoas que, ao rezarem, têm toda a impressão de que estão falando com um Santo, ou com Nossa Senhora, ou com Nosso Senhor Jesus Cristo, e que eles estão ouvindo e considerando, como um de nós, o que dizem. Outras têm a impressão de que há um vidro entre elas e os Santos, e que não se podem pôr propriamente na presença deles.

“Comigo dá-se uma coisa curiosa: sinto uma superioridade muito grande dos seres celestes. E com Nossa Senhora nem se fale! Sinto-A como no alto de uma ogiva a uma distância colossal de mim, e que assim mesmo existe certo atrevimento da minha parte em me aproximar. Aquilo que São Luís Maria Grignion diz: “petit vermisseau et misérable  pécheur”, [vermezinho e miserável pecador], é bem a impressão que tenho.

"Estou certo de que Ela me ouve, mas numa impassibilidade de ícone, e aquilo que eu digo chega lá por um eco amortecido, fraco, distante. Maria Santíssima toma conhecimento completo, mas da parte d’Ela não procede nada para mim porque não sou digno disso. É a impressão. Eu sei, teologicamente, que não é assim, e rezo com a certeza de que não é, mas a impressão é esta. Numa ou noutra rara ocasião tenho a sensação de que Nossa Senhora, daquela distância, sorri com uma afabilidade muito grande. Mas não sei bem se sou eu que subo ou Ela que baixa. Mas sinto que a distância diminui e é como se eu falasse muito de perto com Ela. Mas é de relance. Depois restabelece aquela distância… Não é uma distância in obliquo, mas como se houvesse um vidro grossíssimo entre a Santíssima Virgem e eu.

“Contudo, gosto muito dessa distância, porque satisfaz o meu desejo de admirar e contemplar.

“A tendência da minha piedade é de imaginar Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus, Nossa Senhora, todos os Anjos e Santos enormes, com distância extraordinária, por assim dizer fabulosa. E, sentindo--me muito pequeno, de algum modo nessa separação sinto uma união. É o prazer de me sentir insignificante. Aquilo me enche de contentamento, de uma alegria, de uma dedicação, de espírito filial que corresponde a um modo de ser.

“Sei, teologicamente, que não há essa distância. Ela é Mãe de misericórdia, e se eu tivesse uma dúvida neste ponto, desintegrava-me na hora; porque então nada é nada na terra de ninguém. Mas, enfim, é o modo de ser de cada um.

“Outro dia eu estava rezando o Rosário e isso sobreveio assim: pela primeira vez, ocorreu-me rezar os mistérios do Rosário como quem estivesse junto a Nossa Senhora, comentando com Ela o que eu pensava de cada um daqueles factos que se passaram.

“Um pouco como quem pergunta o que Ela teria sentido naquela ocasião. Mas achei que essa era uma situação diferente das habituais. Rezei até muito bem o Rosário assim. Digo isso para mostrar como é uma coisa individual, que não deve ser tomada como padrão.

“Desde então tenho rezado o Rosário assim, com proveito. Neste caso, vem certa impressão de proximidade d’Ela, fazendo contraste com o que acabo de dizer”.

Revista Dr. Plinio, nº 211, pp. 8 e 9

segunda-feira, 11 de março de 2019

O sinal da Cruz, sinal do cristão



Todas as obras de Deus têm um cunho de grandeza. O Céu, os esplendores do firmamento, a pequena flor, o menor grão de areia, se forem examinados cuidadosamente em cada uma das suas partes, revelam a omnipotência, a sabedoria e a grandeza infinita do seu Criador.

Assim é, também, a religião católica. Ela saiu das mãos de Deus e é a manifestação, a revelação que Deus fez de Si mesmo a seres racionais, que Se dignou criar.

Se analisarmos atentamente os menores detalhes da religião, descobriremos belezas e sublimidades não menos admiráveis do que as belezas da natureza. Tomemos, por exemplo, o sinal da Cruz, esta pequena prática de Religião, tão universal, tão frequente no decurso dos nossos dias.

Todos nós fazemos o sinal da Cruz. Mas será que pensamos nos mistérios que ele encerra?!  Por falta de reflexão, não lhe damos a importância que ele merece.

O sinal da Cruz é um sinal exterior, que distingue os cristãos dos outros homens, um movimento que os cristãos fazem sobre si mesmos, normalmente com a mão direita e que se faz traçando a figura de uma cruz sobre o peito, sobre a teste, ou sobre, a boca ou sobre qualquer objeto exterior.
Foram os apóstolos, revestidos da autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que o instituíram e ensinaram esta prática religiosa aos primeiros discípulos do Evangelho.

Jesus Cristo, crucificado, a regra viva dos seus discípulos

Por que deram preferência a este sinal e não a outro? A preferência a este sinal está no fato de que ele lembra àquele que o faz, e aos que o vêem fazer, que Jesus Cristo é o Deus dos cristãos e o Senhor único das almas. Também, porque lembra que Deus, tão grande e bom, nos amou tanto que se entregou por nós ao suplício da Cruz e que devemos amá-Lo com toda a nossa alma.

O sinal do Cruz põe-nos sempre diante dos olhos Nosso Senhor crucificado, nosso modelo, cujas virtudes devemos imitar, se quisermos ser salvos nEle e por Ele. Jesus Crucificado é a regra viva de todos os seus discípulos e a Sua Cruz é o código da Sua moral. O sinal da Cruz de Jesus Cristo resume, portanto, toda a moral cristã, e recorda àquele que o faz com atenção a obrigação de imitar, na vida de cada dia, a penitência, a mortificação, a humildade, a doçura, a paciência, o desapego, a castidade, a obediência do Seu Mestre, seu amor para com o Pai celeste, para com a sua Mãe Santíssima, para com todos os homens, sua misericórdia para com os seus inimigos, e o seu amor pelo sofrimento.

Por que é ele o sinal do Cristão? Porque faz lembrar aos cristãos a eterna bem-aventurança. Com efeito, Nosso Senhor ressuscitou depois da sua Paixão e Morte e foi pela Cruz que entrou na sua glória. Assim, sucederá, também, com os seus discípulos. A glória no paraíso deve ser o fruto da vida crucificada, à semelhança da vida do Salvador. É por isso que Ele nos declara no Evangelho que quando vier, no fim do mundo, para julgar todos os homens, aparecerá com o sinal sagrado da Cruz, para servir de reconhecimento aos seus escolhidos, e de condenação para os réprobos.

Lembra os pontos mais importantes da nossa religião

O sinal da Cruz é também o sinal distintivo dos cristãos, porque ele faz lembrar os pontos mais importantes da nossa religião:

1)      Recorda o mistério da Santa e Indivisível Trindade, pois que, ao fazê-lo, se diz: “Em nome do Padre (ou do Pai), do Filho e do Espírito Santo, três pessoas; O Pai, o Filho e o Espírito Santo; mas num só Deus; em nome, e não em nomes.

2)      O mistério da Encarnação e da Eucaristia, isto é, o Filho de Deus que desceu do Céu à terra por nós, no seio da Virgem Maria, e continua descer nos nossos altares. Porquanto, é ao dizer: em nome do Filho, que se desce a mão da testa ao peito, viva imagem do aniquilamento do Filho de Deus, que repousa no coração dos seus fiéis como outrora nas castas entranhas de Maria.

3)      O mistério da Redenção, isto é, Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, feito homem, morrendo numa Cruz para apagar os nossos pecados, para nos fazer merecer o perdão e a salvação eterna, e abrir-nos as portas do Céu, fechadas pelo pecado.

4)      O mistério da Igreja, isto é, da sociedade, una, santa e católica dos discípulos de Jesus Cristo, dos filhos da Cruz. Sendo o sinal da Cruz o mesmo para todos, é o sinal da sua união num só corpo, o sinal exterior da sua sociedade. O sinal da Igreja, recorda admiravelmente a sua unidade, formando um só corpo, fora do qual não se está com Jesus Cristo; a sua universalidade, que Ela é católica (ou universal) estendendo-se a todos os países, a todos os povos, e chamando-os a todos à luz da verdade; que Ela é santa, tendo por chefe e por modelo o Santo dos Santos, Jesus crucificado, cuja imitação é o caminho único e mais seguro da verdadeira santidade; apostólica, isto é, fundada pelos apóstolos, instituidores do sinal da Cruz, os quais a governam sempre pelos seus legítimos sucessores, os pastores da Igreja Católica.

5)      Finalmente, o sinal da Cruz recorda aos cristãos que a verdadeira e única Igreja de Jesus Cristo é a Igreja romana, isto é, a Igreja governada pelo Papa, Vigário de Cristo e sucessor de São Pedro, Príncipe dos Apóstolos, o qual sofreu por Jesus Cristo, em Roma, o martírio da Cruz.

Ou seja, o sinal da Cruz resume tudo o que há de grande e de mais fundamental no dogma e na moral do Cristianismo.

Afasta os demónios

O sinal da cruz é também uma arma vitoriosa contra o inferno. O demónio, dizia Santa Teresa de Ávila no capítulo XXX da sua vida, tentou-a muitas vezes, com muitas provações interiores e secretas. Às vezes, ele a tentava quase em público, por uma ação visível. “Encontrava-me um dia num oratório quando ele me apareceu, ao lado esquerdo, sob uma forma asquerosa. Prestei muita atenção na sua boca: ela era horrível. Do seu corpo saia uma grande chama, clara e sem mistura de sombras. Ele disse-me com uma voz horrorosa que eu lhe tinha escapado das mãos, mas que voltaria a tentar-me. Meu medo foi grande. Fiz o sinal da Cruz e ele desapareceu. Contudo, voltou a aparecer. Fiz novamente o sinal da Cruz, e ele pôs-se em fuga, não tardando a reaparecer. Então atirei água benta do lado onde ele estava e ele não mais voltou".

Façamo-lo do fundo do coração

É pois com toda a razão que os Apóstolos no-lo deram como nosso sinal distintivo. É também a razão por que a Igreja o emprega na administração das coisas santas, nos Sacramentos, nas bênçãos, no princípio e no fim de toda as suas orações.

Façamos de hoje em diante com respeito e com a devida atenção este sinal tão venerável. Façamo-lo, não por hábito, e com as pontas dos dedos como quem sacode o peito, mas com espírito religioso, pausada e lentamente, do fundo do coração.

Façamo-lo com muita frequência, principalmente nas nossas tentações e amargura, antes e depois das refeições, e ao fazê-lo tenhamos cuidado de nos lembrar das santas verdades, que ele encerra, e das obrigações, que nos impõe, o nosso título tão grande de cristãos.

sábado, 9 de março de 2019

Nossa Senhora e o arrependimento de Santa Maria Madalena


Maria, que tinha por sobrenome Madalena, por causa de uma das suas propriedades situada na aldeia de Magdala, sobre as margens do Lago de Tiberíades, ou mar da Galileia, era a irmã mais nova de Lázaro e de Marta, que se conservaram sempre fiéis à lei de Deus. A sua jovem irmã, seduzida pelas vaidades do mundo, deixara-se arrastar numa vida mais do que dissipada.

Maria Madalena, no meio das suas loucuras, ouviu um dia falar de Jesus, dos Seus milagres, da Sua bondade, da Sua divina santidade, da Sua misericórdia para com os pecadores. Levada pela curiosidade, e também por um vago sentimento de arrependimento, a pobre pecadora foi ter com o Salvador, ouviu as Suas palavras austeras e suaves e recebeu dEle a primeira bênção, que preparou a sua conversão.

A conversão

Algum tempo depois chegou Nosso Senhor a Cafarnaum, próximo de Magdala, e ai se demorou durante alguns dias, pregando ao povo as admiráveis e muito santas verdades, resumidas no Evangelho sob o nome de sermão da Montanha. A Santíssima Virgem, santa Marta e outras piedosas mulheres, que acompanhavam Nosso Senhor, provendo às suas necessidades, conduziram Maria Madalena pela segunda vez à fonte da vida. As primeiras palavras de Jesus já a tinham, de um lado, abalado e, por outro lado, consolado. Neste segundo encontro, os divinos ensinamentos venceram-na. Contudo, ela não se atreveu, ainda, a lançar-se-Lhe aos pés. Mas, quando voltou a casa, mandou sair todos os homens, que a procuravam, pegou no seu vaso de perfume mais precioso e, com o rosto banhado em lágrimas, insensível ao respeito humano, foi a toda a pressa à casa de um certo fariseu de Cafarnaum, chamado Simão, que tinha convidado o divino Mestre para uma ceia na sua rica habitação.

Quando Madalena entrou na sala do banquete, achou Jesus cercado de fariseus, que espreitavam todas as Suas ações e todas as Suas palavras, procurando com perfídia um pretexto para O acusarem perante o grande conselho dos judeus em Jerusalém. Maria Madalena, já superior a todas as considerações humanas, não deu atenção senão ao seu Salvador. Lançou-se-Lhe aos pés, beijou-lhos com amor, regou-os com as suas lágrimas e enxugou-os depois com os seus cabelos. Jesus estava silencioso, e parecia não dar pelo que Madalena lhe estava fazendo, enquanto Simão e os seus amigos olhavam com espanto cheio de ironia, e diziam uns para os outros: “se ele fosse o Profeta (isto é o Cristo), ele saberia quem é esta mulher!” E Madalena, pegando no seu vaso de alabastro derramou todo o perfume, que ele continha, sobre a cabeça do seu Salvador.

Pecados perdoados porque grande era o seu amor

Jesus quebrou, afinal, o silêncio e voltando-se para o hospedeiro, disse com doçura e gravidade:

--  “Simão, tenho alguma coisa para te dizer.

-- Senhor, replicou o fariseu, falai!

E Jesus prosseguiu:

-- Um homem tinha devedores. Um deles devia quinhentos denários e outro cinquenta. O credor perdoou-lhes a dívida a ambos. Qual dos dois, julgas tu, lhe deve mais amor?

-- Certamente aquele a quem foi perdoada a maior dívida, replicou Simão.

-- Dizes bem, acrescentou o Salvador.

Depois apontando-lhe para a pobre pecadora, disse-lhe:

-- Vês esta mulher? Quando entrei na tua casa, tu não me deste o beijo da paz. Ela desde que aqui está, ainda não deixou de me beijar os pés. Tu não me deste água para lavar os pés (costume de hospitalidade entre os judeus naquela época) e ela banhou-mos com as suas lágrimas. Tu não deitaste sobre a minha cabeça nem bálsamo nem perfume, e ela derramou sobre a minha cabeça todo o que tinha no seu vaso de alabastro.

Em verdade, eu te declaro: grandes pecados lhe serão perdoados porque grande foi o seu amor.

-- O que está Ele a dizer? Resmungaram entre si os fariseus perturbados. Está blasfemando. 
Quem pode perdoar os pecados, senão Deus, unicamente?

Jesus, porém, sem se dignar dar atenção às suas murmurações, olhou para a Madalena com uma bondade divina e disse-llhe: “Todos os teus pecados te são perdoados: vai na paz do Senhor e não peques mais!”

E Maria Madalena, a pecadora escandalosa, a mulher mundana, frívola e dissoluta, levantou-se coroada com a graça de Deus, achando de novo na penitência e no amor de Jesus Cristo, um tesouro não menos precioso, do que o da sua inocência perdida.

Papel de Nossa Senhora na conversão de Maria Madalena

Qual terá sido o papel de Nossa Senhora na conversão de Santa Maria Madalena? O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, numa conferência do dia 22 de julho de 1965, comentou:
“Todos os que têm tratado deste particular dizem o seguinte: Judas com certeza não tinha devoção a Nossa Senhora. Se tivesse para com a Santíssima Virgem um mínimo de instinto filial, de simpatia, de amor, quando ele caiu inteiramente em si iria procurar por Ela; e ter-Lhe-ia pedido que arranjasse a situação dele. Mas Judas tinha antipatia por Nossa Senhora, e A detestava. O Evangelho diz, de modo taxativo, que o demónio tinha entrado nele. E o demónio afastava-o o quanto possível da Virgem Maria.

“Qual o resultado? Ele não se dirigiu Àquela que é o canal das graças, e isto ocasionou a sua perdição.

“São Pedro, depois de ter renegado Nosso Senhor, talvez tenha tido tentação de desespero. Mas é certo moralmente que ele procurou Nossa Senhora. Por isso, ele, que também tinha pecado muito, foi fiel, sendo o primeiro Papa da Santa Igreja Católica.

“Santa Maria Madalena sempre aparece fazendo parte do cortejo da Santíssima Virgem, intimamente unida a Ela em todos os momentos, sobretudo na hora régia da vida de Nossa Senhora, quando Nosso Senhor Jesus Cristo, com dores indizíveis, disse: “Consummatum est”, Tudo está consumado!

“Podemos imaginar Santa Maria Madalena junto a Nossa Senhora, na hora da piedade, quando a Mãe de Deus tinha Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o seu colo.

“Naquele momento tremendo, Nossa Senhora ficou inteiramente abandonada: Nosso Senhor no sepulcro, o Colégio Apostólico vacilante, a cidade de Jerusalém entregue a terremotos, e os justos da Antiga Lei andando de um lado para o outro. A Santíssima Virgem, nessa situação tão pouco conhecida, estava completamente só.

“Tenho a impressão de que não Lhe faltou a assistência de Santa Maria Madalena, a qual estava junto d’Ela. E porque permaneceu junto à Mãe de Deus, ela recebeu um rosário de glórias, cada uma mais extraordinária do que outra.

“Quando vemos tudo isto, é impossível não estremecermos com a nossa própria fraqueza. Mas é impossível também que não nos sintamos concertados com este ponto: por mais fraco que o homem seja, desde que ele se apegue muito a Nossa Senhora, peça-Lhe muito pela própria perseverança e para que Ela o ampare, nunca o abandone, ele encontra aí um ponto de firmeza e de solidez.

A última das pecadoras aproximou-se de Nossa Senhora e tornou-se uma penitente gloriosíssima. Um apóstolo, que era distante de Nossa Senhora e frio para com Ela, tornou-se o filho da maldição e da perdição, que Dante coloca no Inferno dentro da boca de Satanás, com as pernas para fora, o eternamente triturado. Enquanto podemos imaginar, no Céu, Santa Maria Madalena posta bem perto do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria, agradecendo os favores imerecidos de que ela foi repleta.

Bem-aventurados os penitentes sinceros

Bem-aventurados os pobres pecadores, que choram com confiança os seus pecados aos pés do Salvador e de Nossa Senhora! Bem-aventurados os penitentes sinceros e humildes, que vão ajoelhar-se no confessionário aos pés do sacerdote, que representa Nosso Senhor Jesus Cristo, continuador do Seu ministério pastoral, depositário do poder divino para perdoar os pecados!
Bem-aventurada a alma, que escuta, também, com atenção a celeste palavra do perdão, pronunciada sobre a sua cabeça: “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.

“Nunca fui tão feliz em minha na minha vida”, exclamava um dia, ao levantar-se perdoado, um senhor que acabava de confessar os seus graves pecados cometidos desde a sua adolescência.
As alegrias do mundo não podem ser comparadas a esta felicidade. Oxalá, que todos os que lerem estas linhas possam fazer esta experiência.

Estamos na Quaresma, aproveitemos este tempo de penitência para nos reconciliarmos com o nosso Pai celeste, que há de ser um dia o nosso Juiz!